sábado, 27 de fevereiro de 2010

USO DO CÉREBRO

Certos temas que entram em discussão pública se prestam a críticas, a planos econômicos, a propostas políticas, pragmáticas e a sonhos utópicos. Um deles é o do crescimento da população mundial e, outro, da eliminação da pobreza. Para ambos há soluções em perspectiva, críticas, análises, propostas, ações múltiplas de efeitos imediatos ou lentos. Esses temas envolvem, ao mesmo tempo, aspectos políticos, econômicos, ecológicos, psicológicos e humanos que dizem respeito às liberdades individuais e ao bem coletivo. Uma decisão sábia sobre esses temas, que afetam a todos os povos da terra, necessitaria de um maior e melhor uso de nossa capacidade cerebral.
Talvez por um processo evolutivo inacabado, o uso do cérebro é limitado, seccionado, restrito a pontos mais luminosos e pressionado para achar uma saída rápida. E sai-se rapidamente da complexidade de temas para não se embaraçar nas soluções mais racionais. Soluções que podem soar contraditórias, complementares. Umas mais difíceis de aplicar. Outras, mais fáceis. Contentamo-nos com pouco e com um pouco rapidamente conquistado.
Diz-se que, no dia a dia, usa-se mínima parte do cérebro, de um a três centésimos, suficiente para as decisões de sobrevivência mínima. A maior parte de nossas ações é comandada pelo aparelho automático, produto da rotina e das conveniências imediatas.
Um “por que” jogado a alguém que estivesse por atravessar a rua com sinal fechado receberia múltiplas respostas, além do choque cerebral de parar para pensar e responder. Andamos com o cérebro ligado no automático. Transferimos essa preguiça cerebral para a decisão dos grandes temas. Em torno de uma decisão imediata, na sala do palácio presidencial ou em ministério qualquer, há meia dúzia de justificativas que explicam o ato cerebral. Não é a solução do problema que importa. São as justificativas que dão à decisão tomada o grau de utilização do cérebro para sair do problema que se apresentou. Como nenhuma decisão pode ser tomada e trancada numa redoma de vidro, sua aplicação prática repercutirá em outras direções nem sempre pensadas.
Os efeitos de uma decisão direcionada a resolver uma situação extrema como a fome crônica, resultado de uma perversa segregação econômica, podem ser imediatos. A pergunta – por que essa decisão? − pode complicar o cérebro dos que decidem. A solução dada visa a extinguir a fome ou eliminar a perversidade da ordem econômica responsável pela existência dessa situação crônica de pobreza?
Para esse tipo de solução simplista, o uso mínimo do cérebro é suficiente. Para manter vivos outros estamentos da economia como bancos, indústrias de automóveis, taxas de juros, requer-se um pouco mais de massa cerebral. Digamos cinco centésimos da capacidade total. Mas para ir mais longe, ao encontro da grandeza do homo sapiens e alcançar um patamar onde o conhecimento se une à sabedoria, precisaremos, sem dúvida, de alguns centésimos a mais.

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