terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

CHUVAS DE FEVEREIRO 2023

 

CHUVAS DE FEVEREIRO  ANOS 2013 a 2023  

Em milímetros ─ 1 mm = 1 litro/m2

ANOS      MÊS ▬             TOTAL ANO/ MM

2012 −       ******                      ******

2013 –     132.7                    2.255,6

2014 –     173.0                    1.677,5

2015 –      223.2                   1.642,7

2016 -       288.0                   1.921,7

2017         203.8                   1.478,7

2018 –      165.1                   1.760.5

2019 –      238.7                   1.069.3

2020 –      276.4                   1.787,8

2021 –      417.2                   1.710.8

2022 –      200.3                    1.279,2 

2023 -       245.2                       467.1 (Neste ano)

 

SÍTIO DAS NEVES, BR 060, KM 26, DF, EM REGENERAÇÃO DESDE 1974. SOU IRMÃO DAS ÁRVORES. ELAS VIVEM EM MIM.

Aos que seguem o movimento das águas pluviais durante o ano, ofereço os dados pluviométricos do mês de fevereiro dos últimos 11 anos. Volumes coletados pelo pluviômetro, instalado no Sítio das Neves pela Agencia Nacional de Aguas (ANA), refletem a situação pluviométrica de parte da Bacia do Descoberto e Micro Bacia do Ribeirão das Lajes, DF. No Sítio das Neves, a vegetação e as nascentes mantêm boa umidade do solo e do ar, três terços da água da chuva e regulam o curso dos dois córregos que nascem na área. O acumulado de chuvas, neste ano, é de 467,1 mm/ ou litros por m2, na região da microbacia do Ribeirão das Lajes.

Como se observa no quadro, a média de chuvas mensais, nos ONZE anos registrados, foi de 245.2 mm ou 245.2 litros por m2. Como se observa no quadro, em 6 anos houve precipitação mensal menor que a média. O DF depende da irregularidade das chuvas e o mês de fevereiro não é exceção. Nos meses chuvosos, as áreas desnudas levam toneladas de terra, detritos e lixo aos córregos, ribeirões, rios e represas. Nas áreas densamente florestadas, como o Sítio das Neves, as árvores administram com grande sabedoria a captação e a retenção das chuvas, mantendo a transparência cristalina das águas.

Os ecossistemas que mantêm vegetação densa resistem melhor às variações do tempo e às severas mudanças climáticas. A preservação das nascentes e o incentivo ao florestamento são ações prioritárias para a regeneração dos ecossistemas, captura e retenção de carbono no subsolo. Esta função do Cerrado só acontece se mantida a floresta original. Os 70 ha do Sítio das Neves, há mais de 20 anos, não emitem carbono de efeito estufa. As árvores estão felizes e transmitem felicidade a quem as respeita.

ESTÁ EM ANÁLISE FINAL, NO IBRAM, PARA APROVAÇÃO, A PROPOSTA DE CONCESSÃO DE CERTIFICADO DE RPPN (RESERVA PARTICULAR DE PATRIMÔNIO NATURAL) OU SERVIDÃO AMBIENTAL, AO SÍTIO DAS NEVES, 70 HECTARES, COMO ÁREA NÃO CONSTRUENDA, PARA MELHORAR A SAÚDE DO CERRADO DO DISTRITO FEDERAL.

 

Pequenas barragens ao longo das grotas ajudam as gramíneas e as árvores a reter as águas da chuva por mais tempo favorecendo a regeneração do ecossistema. (Foto: Eugênio Giovenardi, Sítio das Neves – DF)

 

domingo, 26 de fevereiro de 2023

BINÔMIO DA FATALIDADE

 

BINÔMIO DA FATALIDADE

SOBREVIVER E REPRODUZIR A VIDA

(Fatalidade: conjunto de fatos ocorridos a um tempo.)

 

Trago à colação dos amigos, frequentadores deste bistrô do pensamento livre, uma percepção ecossociológica dos três ângulos de um triangulo atual ou três variações do mesmo tema.

MUDANÇAS CLIMÁTICAS acontecem no planeta desde seu nascimento. Com elas desapareceram, há 65 milhões de anos, os dinossauros e os tiranossauros, cujas carcaças repousam soterradas em vários continentes, inclusive no Brasil. A espécie humana foi a última a brotar da evolução.

OITO BILHÕES de insaciáveis e contumazes consumidores humanos, forçados a sobreviver e a se reproduzir, devastam florestas, poluem as águas de beber, contaminam o ar e promovem guerras irracionais.

CIDADES ULTRAPASSADAS, mal arquitetadas, antiecológicas, desafiadoras de fenômenos físicos, são arapucas de oportunistas para prender desatentos, empurram os discriminados para as margens de rodovias, beira de rios e sopés de montanhas imprecisas.

Para ajudar engenheiros e arquitetos urbanistas, administradores políticos, geógrafos, antropólogos, advogados, médicos, psicólogos, psicanalistas e psicoterapeutas a repensarem a sobrevivência e a reprodução da espécie humana, ofereço o desabafo do filósofo e matemático Thomas Hobbes (1588-1679): “Não temos nenhum conhecimento da face da Terra, da  Natureza”, e o grito do geógrafo inglês, em 2009, David Harvey (1937-), ao Le Monde Diplomatique: “Este é um momento em que podemos realmente parar e dizer: devemos remodelar a cidade de forma diferente para o conjunto da população”.

As imagens do resultado de nossa ignorância, ambição, cegueira, leniência e indiferença podem ser vistas em qualquer canal de TV.

A solidariedade no infortúnio é o preço da insociabilidade prévia.

 

25.2.2023

 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

CARNAVAL DAS ÁRVORES

 

CARNAVAL DAS ÁRVORES

 

As árvores dançam todos os dias do ano. Baladas frenéticas aos ventos de tempestades espetaculares. Valseiam à brisa suave das noites calmas do outono. Nas horas quentes do dia, na indecisão dos ventos do verão, ensaiam o pas-de-deux abraçando os galhos sensuais das companheiras. Foi nessa tarde, com prenúncios de chuvaradas, que me animei a agradecer às goiabeiras carregadas de frutas brancas e vermelhas, visitadas por milhares de insetos zoando a seu redor.

Colhi goiabas, lavei-as, cortei-as ouvindo os tsiu-tsiu em semicolcheias amorosas, os gritos alegres dos papa-goiabas. E as goiabas no processador, e demerara na panela, e as pequenas explosões da fervura, e o pó de canela para dar o ponto. As árvores carnavalescas, lá fora, dançam o samba vegetal que ouviram de Dorival Caymmi, Noel Rosa, Ataulfo Alves, Cartola, Carmem Miranda, Beth Carvalho, Zeca Pagodinho, Pixinguinha.

O samba da minha terra deixa a gente mole

Quando se canta, todo mundo bole

Quando se canta, todo mundo bole

O samba da minha terra deixa a gente mole…

 

22.2.2023

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

FATALIDADE

 

FATALIDADE

 

Acordei, como em milhares de manhãs, com a fatalidade irrecusável do nascer do Sol e humildemente aceita. A fatalidade obedece ao cumprimento das leis físicas. Não sou fatalista. Sou um usuário fiel da fatalidade. A maioria dos eventos agradáveis ou desagradáveis que marcaram minha existência teve o toque da fatalidade.

A fatalidade começou no dia de meu nascimento, previsto para 29 de junho, festa de São Pedro, mas antecipado para 28. O que seria Pedro Eugênio, foi registrado Eugênio Pedro.

Depois de uma longa viagem de trem, aos dez anos, atravessando sozinho dois Estados do Sul do país, fui internado num educandário (?) religioso. Não imaginava o que a fatalidade me reservava. Consciente e inconscientemente fui aderindo à fatalidade. Num belo dia, aos 24 anos, um bispo de mitra e báculo me introduziu na casta sacerdotal da Igreja católica.

Em 1967, a fatalidade chegou pelo Consulado da França, do Rio de Janeiro. A diligente funcionária, pede-me para preencher formulários que me dariam bolsa de estudos na Universidade de Paris. Uma fatalidade!

Movido por novas especulações filosóficas, renunciei aos dogmas católicos. A liberdade de pensar me levou ao mundo anárquico da natureza auto-organizada, onde a fatalidade é aceita e cumprida por todos os seres vivos, humanos e não humanos.

A fatalidade, em pleno Movimento de Maio/1968, me levou a contatar uma jovem jornalista finlandesa ─ Hilkka Mäki ─, na calçada oposta da Rue Vaugirard, Paris, com quem compartilho os dias por 52 anos.

A fatalidade me levou dos pampas ao cerrado, onde as leis da fatalidade me induziram a ouvir o idioma terno das árvores e o chuá incessante das águas cristalinas.

A última fatalidade inescapável, sem hora para acontecer, me deixará rodando pelo espaço azul recamado de estrelas, a 36 km por segundo, nas costas do planeta Terra.