domingo, 24 de janeiro de 2016

INUNDAÇÕESXDESMATAMENTO


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O volume de chuva de 1 milímetro quer dizer que caiu 1 litro de água em cada metro quadrado numa região.
Se a região tem 100 mil metros quadrados (10 ha), 1 mm, nessa área, equivale a 100 mil litros, ou 100 mil kg, ou 100 metros cúbicos.
Tudo ao mesmo tempo.
Então, são 100 toneladas de água que começam a correr e vão se encontrar com outras várias 100 toneladas mais adiante que estão nos outros metros quadrados.
E juntos correm morro abaixo. Se tiver asfalto, a velocidade aumenta. Essas toneladas de água, somadas à velocidade, derrubam árvores, pontes, casas, matam pessoas, levam carros, invadem ruas e destroem o que estiver pela frente.
Quando a chuvarada cai sobre vários municípios ao mesmo tempo e cobre 10 milhões de metros quadrados 1 mm significa 10 milhões de litros, 10 milhões de kg ou 10 mil toneladas.
100 mm, se a água não corre, equivale a 10 cm de altura.
1.000 mm significam um metro de altura. É água na cintura, como se vê nas ruas de centenas de cidades de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná. 
Se as florestas estivessem de pé, 2 terços desses milhares de toneladas de água da chuva ficariam lá e não causariam dano algum a ninguém.
A inteligência humana quase sempre chega atrasada.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

RECONQUISTA


A primeira das três etapas da recomposição do Cerrado

1.    1.  RECONQUISTA

Quando me tornei hóspede do Sítio das Neves, em 1974, encontrei uma área devastada, vítima do machado, do fogo e do pastoreio extensivo.
Dez anos passaram e me acordaram. Comecei a ouvir e compreender o Cerrado (ver erros cometidos no A Saga de um Sítio). Antes de mim houve invasores, predadores, devastadores. Não poderia comportar-me como eles. Essa área clamava por paz. E a condição posta nesse grito para obter a paz era minha retirada, meu afastamento. Deixar o espaço livre.
Depus as armas e me retirei do campo de batalha. Fora da fronteira, olhei para trás e vi flores. Experimentei, nesse instante, um sentimento duplo: orgulho de dominador ferido assinando um armistício imprevisto, e grandeza da reconciliação. Um novo olhar, um diálogo existencial, uma convivência generosa surgiu entre nós espécies vivas habitantes da mesma casa. E, ao passar dos dias e dos anos, percebi as mudanças que se manifestavam por toda a parte e em mim.
Deixada livre a zona, a reconquista do espaço é o primeiro movimento da vegetação nativa nas três dimensões: vertical, horizontal e em profundidade pela atuação das raízes em busca da água. A vegetação se reinstala. Ocupa mais espaços. Cobre o chão. Garante seu lugar. A distância do invasor facilita a reconquista. Há, em poucos dias, mais vida. Mais flores. Mais folhas. Mais pássaros. Mais insetos. A diversidade se manifesta. A interdependência dos seres vivos busca o equilíbrio. É uma fase de grande sensibilidade. O ponto de equilíbrio será sempre tênue, frágil e temporário, mas constante.
No período da reconquista, outras espécies oprimidas por falta de condições ambientais, recobram espaço. As mudanças climáticas das distintas estações, como nos meses chuvosos, produzem um intercambio cooperativo entre as espécies e o crescimento vegetal é “homogêneo” segundo a estrutura individual das plantas. As maiores guardam água nas folhas, nas galhadas e dão intensa umidade ao ar. As menores, como as gramíneas e arbustos formam um lençol de água no chão e a distribuem às vizinhas. A competição entre elas não se interrompe, mas sem romper o processo de cooperação.
A busca da comida é permanente. Em cada fase do crescimento e a cada variação do clima as plantas e os animais têm funções próprias, determinadas pela estrutura do poder orgânico: brotar, rebrotar, abrir flores para os fecundadores (vento, abelhas, pássaros), mostrar o produto e pô-lo à disposição de outras espécies, sorver a água da terra. Ou, do lado animal, localizar o alimento, agrupar-se a um bando, acasalar-se, nidificar, pôr ovos, chocar ou aguardar o parto, cuidar da prole, alimentá-la, defendê-la, transmitir-lhe a cultura de sobrevivência, ensinar-lhe a linguagem, os gritos de alerta e perpetuar os sons musicais que facilitam os encontros, as reuniões, a convivência.
Caturritas, araras, tucanos, cancãs, sabiás, como tantos outros, têm seus pontos de encontro, marcam territórios, viajam em grupo, migram e retornam às mesmas árvores.

Toda essa vida manifestada pelas plantas e pelos bichos compõe a biodiversidade e o equilíbrio da floresta, mas passa despercebida da grande maioria da espécie humana. A atitude cultural da espécie humana é apropriar-se das riquezas materiais e usufruir de todos os bens a seu alcance como se a natureza fosse apenas um supermercado gratuito à sua disposição.
(Capítulo do livro, em preparação, sobre a regeneraçào vegetal)

domingo, 17 de janeiro de 2016

ECOSSOCIOLOGIA


  
As relações sociais da espécie humana estão ligadas a todas as demais formas de vida da flora, da fauna e a elementos físicos e químicos do universo unidos num imenso organismo de partes interdependentes. Astros da noite, rios, oceanos, lagos, cachoeiras, chuvas, neves, árvores, pássaros, animais selvagens e domesticados, bilhões de insetos afetam com diferente intensidade e interesse a convivência dos indivíduos de um grupo e a da variedade de grupos no conjunto dos seres vivos. Os resultados metodológicos da ecossociologia provêm de ações de percepção para o conhecimento interativo que propiciam comportamentos coerentes e orgânicos entre a espécie humana e demais seres vivos.
O propósito da ecossociologia é observar e estudar a organização das espécies, e relacionar os comportamentos e interdependências de todos os seres vivos que habitam a mesma casa, num mesmo espaço físico. A casa grande é o planeta Terra e a casa pequena é o bioma que abriga uma parte diversificada de seres vivos.
A organização comunitária dos diferentes grupos vivos obedece a leis biológicas comuns, especificamente às que regem a conservação da vida, isto é, a busca do alimento e a reprodução da própria espécie. É o traço indelével da igualdade de direito à vida de todos os seres vivos, não importa o tamanho, a forma ou sua função teleológica.
A natureza dispõe de imensa variedade, embora limitada, de alimentos para a conservação de todas as espécies e, consequentemente, para sua reprodução.
Dois processos são inerentes à conservação e reprodução da vida: a cooperação e a competição. Esses dois processos, em ação permanente e contínua, são monitorados por controles genéticos, inerentes ao sistema natural, administrados no âmbito de cada espécie e compartilhados por outros grupos de espécies que dividem o mesmo espaço. Todos cooperam e competem entre si para manter-se vivos empurrados irresistivelmente por uma energia vital imanente.
A supremacia e a preponderância de espécies sobre outras ou de indivíduos de uma espécie sobre seu grupo, dependem da auto-organização e da aceitação de regras do jogo social que se estabelecem na convivência temporal dos membros.
O crescimento populacional de uma ou várias espécies pode ser determinante para o equilíbrio ou desequilíbrio da conservação e reprodução de outras espécies de um mesmo bioma ou de um conjunto de biomas da casa grande. A casa comum a um determinado grupo de espécies pode se tornar pequena para abrigar uma espécie ou uma variedade competitiva de espécies. Um dos fenômenos originados pela competição na busca de alimentos necessários para a reprodução é a migração sazonal ou definitiva de espécies vivas. As aves e a espécie humana são dois grupos susceptíveis de migração, especialmente quando o superpovoamento de uma região limita a coleta de alimentos. Muitas espécies são expulsas de seu hábitat por perderem a fonte de alimentação açambarcada por grupos invasores.
O sistema de controle populacional e a demarcação dos territórios ocupados são determinados pela imposição do mais forte e pela função predatória de uma espécie sobre outra. Os conflitos originados da conservação e reprodução no interior de uma espécie se espalham de forma cooperativa e competitiva para o conjunto de espécies. A função predatória – conflito entre espécies - pertence à dinâmica da perpetuação equilibrada da vida. A defesa contra os predadores pode reunir indivíduos de diferentes espécies. É comum observar-se a formação de uma brigada de pássaros de diferentes espécies para expulsar gaviões e aves de rapina de seus territórios e defender seus filhotes.
O equilíbrio no crescimento de uma população viva se estabelece de muitas formas: escassez de alimento, aborto do embrião, suspensão temporária do acasalamento, mortalidade precoce, abandono dos nascidos, luta fratricida, doenças bacterianas, canibalismo, entre outras razões (aranhas fêmeas e louva-deus devoram os machos durante a copulação). Para a espécie humana acrescentam-se fenômenos físicos arrasadores, pestes, epidemias, guerras, agressões mortais entre grupos ou indivíduos do mesmo grupo, acidentes em terra, mar e ar.

A lei biológica da conservação da vida no planeta estabelece a inevitabilidade da interdependência das espécies como se todas elas fossem um único organismo em que uma parte alimenta a outra.

Esse organismo vivo, subdividido em espécies, subsiste sob a inquestionável lei da natureza: a vida se alimenta de vidas. Esta corrente de perpetuação da vida por outras vidas embute sutilmente fortes doses de sofrimento físico e emocional compartilhado por todos os seres vivos. (A cobra come o rato, a seriema come a cobra, o caçador abate a seriema, o produtor se alimenta do animal que criou.)
O crescimento populacional da espécie homo sapiens não atingiu ainda o grau de racionalidade necessário compatível com os limites da oferta de bens naturais dos diferentes biomas que ele comparte com milhares de outras vidas. A ocupação dos espaços, ao longo de milênios, e o desflorestamento para a produção de alimentos perturbou severamente a biodiversidade, expulsando ou eliminando espécies vivas. A defaunação silenciosa é uma trag A alternativa da domesticação de sementes e animais deu à espécie humana uma sobrevida atribulada por imensas dificuldades de sobrevivência igualitária entre os indivíduos e diferentes grupos.  
A surpreendente capacidade de adaptação climática da espécie humana e o desenvolvimento evolutivo do cérebro o levaram a um equívoco de interpretação no uso dos bens naturais a ponto de alimentar convicções e certezas de que ela pode e deve dominar outras vidas. Os fatos históricos transmitidos de geração em geração, há milênios, se consolidaram em oráculos atribuídos a um ser superior que ordenou: “Crescei e multiplicai-vos e dominai a Terra”.
A interdependência dos seres vivos não só está baseada no funcionamento cerebral e orgânico de cada forma de vida. Ela se fundamenta no parentesco evolutivo de todos os seres vivos pois nascemos todos da mesma semente vital. Cabe às espécies com capacidade cerebral mais desenvolvida compreender a vida no universo, adequar comportamentos e atitudes em relação aos bilhões de seres que habitam a mesma casa comum. É o que se espera e se deseja da espécie homo sapiens diante do conjunto de habitantes da biocomunidade do planeta Terra. O princípio da precaução vige permanentemente, pois estamos ainda diante de uma incógnita sobre como sentem e pensam as árvores e os animais.

ATITUDES E COMPORTAMENTOS:

Penso que a aceitação de alguns valores contribui para a compreensão da vida em cada bioma ou conjunto de biomas que congregam biocomunidades há milhões de anos. Eles também auxiliam na avaliação do impacto da intervenção e da pegada da espécie humana em seus respectivos biomas.
Existem alguns valores sociais que as pessoas determinam ou aceitam para se relacionar com outros seres vivos não humanos e cujas relações se refletem na convivência humana. Animais de estimação ou paisagens naturais preservadas criam relações entre pessoas e demais seres que pertencem a esse ciclo de convivência. Valores ecológicos refletem a interdependência de todos os seres de uma biocomunidade, com ênfase na água, nas plantas e nas aves. Valores econômicos frutos da administração e uso igualitário dos bens naturais destinados à conservação e reprodução de todas as espécies. Valores de cosmovisão com força conceitual para equacionar um sistema de compreensão universal e holístico sobre a preservação da vida no planeta.  É necessária especial atenção aos processos de cooperação e competição, pois eles perpassam os comportamentos vitais de todos os seres vivos. Estima-se que a espécie humana (homo sapiens), há 40.000 anos, apoderou-se autoritariamente das riquezas do planeta e as administra em seu proveito na qualidade de único proprietário e usuário como se os elementos para sua sobrevivência fossem exclusivos, infinitos e ilimitados.

Creio que a espécie humana possa evoluir na compreensão dos conflitos diários entre sua sobrevivência e a de outras formas de vida. E, em consequência, praticar modos de convivência entre todos os seres vivos compatibilizando os tempos da espécie consciente com a organização biológica e social de outras formas de vida.

CONTEÚDOS DE CRÍTICA DO CONHECIMENTO
PARA A CRÍTICA DO COMPORTAMENTO

O Núcleo de Pesquisa Ecossociológica do Cerrado (Ver anexo), idealizado para o exercício das observações da Ecossociologia é uma ferramenta de estudo das formas de vida nesse bioma, as relações entre os diversos elementos naturais, como árvores, animais e água, que possam orientar atitudes e comportamentos do homo cerratensis na preservação da biodiversidade.
São questões que aprofundam os conhecimentos sobre a constituição das formas de vida e reorientam os comportamentos da população humana em relação a elas.
Algumas perguntas parecem fundamentais para a crítica do conhecimento que pode levar à crítica do comportamento:
– Quanto do ecossistema é necessário para nossa sobrevivência e reprodução?
– Que prioridade se pode e deve dar ao planejamento demográfico para conciliar os limites de bens da natureza com o crescimento populacional humano e consequentemente a preservação da biodiversidade?
– Que espécies vivas e que processos ecológicos são essenciais para a sobrevivência da espécie humana?
– Quantas espécies, das quais dependerá a existência da espécie humana já foram extintas e ainda o serão com os métodos arrasadores de sua presença, especialmente o desflorestamento e a defaunação?
– Como preservar e ampliar os elementos essenciais a todas as formas de vida: água e árvores?
A preservação da espécie humana, acima de tudo, precisa evitar o caminho da própria monocultura com a extinção gradativa de outras espécies, com a diminuição perigosa da biodiversidade rompendo os laços da interdependência de todas as vidas existentes no planeta. A monocultura vegetal ou animal é danosa. Presumo que o planeta, sem árvores, sem pássaros, sem animais, habitado apenas pela espécie humana seria monótono e estéril rodeado de alta tecnologia.

Para maior compreensão dos conceitos aqui propostos sugere-se a aplicação da Metodologia de Imersão Peripatética mediante observação e registro dos fatos ecológicos da interdependência dos habitantes de um mesmo bioma e da relação com a espécie humana. O método oferece ferramentas a serem usadas em campo e em painéis de discussão do grupo envolvido.






ITENS METODOLÓGICOS

Nas visitas aos locais escolhidos do bioma, o passeio pela natureza requer postura de silêncio científico. A linguagem dos seres vivos se faz pela presença, pela forma e pela estética no local que ocupam. Os momentos de discussão serão posteriores aos de observação e registro dos fatos recolhidos.
Sugere-se:

·        Prestar atenção aos convites da paisagem ao penetrar em seu espaço
·        Deambular, parar, olhar, ver, ouvir, decodificar, compreender os distintos idiomas da natureza
·        Fotografar a área com os olhos e perceber sua conformação geofísica e geográfica
·        Localizar possíveis afloramentos de água.
·        Identificar e relacionar o tipo de vegetação ao redor do afloramento de nascentes
·        Distinguir espécies da flora e da fauna
·        Questionar a prática de produção de alimentos em áreas desprotegidas, desertas, impermeabilizadas
·        Inquerir sobre possíveis cortinas vegetais ou corredores consorciados com áreas de produção.

Sobrevivência da espécie humana.

Os itens abaixo afetam de alguma forma as relações de convivência entre as entidades da espécie humana e as demais formas de vida:
·        Circunstâncias, como fenômenos climáticos, predadores múltiplos, podem pôr em risco a vida das pessoas e o acervo histórico e cultural: casa, monumentos, jardim, pomar, horta, espaços de lazer.
·        Localização dos agrupamentos humanos. Substituição de florestas por cidades e equipamentos facilitadores da vida humana.
·        Água, um ponto essencial de referência. Nascentes, córregos, rios, lagos. Acesso. Qualidade da água.
·        Área de coleta ou produção de alimentos de autossuficiência ou troca. Sistema de compensação e regeneração do ambiente ocupado.
·        O habitat humano é também uma imposição da natureza e uma decorrência natural para a sobrevivência e a reprodução da espécie. Ninho, toca, abrigo fazem parte da intimidade de todas as formas de vida para a reprodução e a sobrevivência.
·        Áreas possíveis de inundações ou de incêndios (fenômenos naturais, chuvas, crescente de rios, vulcões) e suas particularidades regionais (Centro-Oeste, Sudeste...).
·        Redução de riscos para a vida e o temor de desastres inerentes à localização de pessoas e comunidades.
·        As relações sociais não têm como motivador primeiro a solidariedade no cataclismo e, sim, a segurança do desenvolvimento social e cultural adequado e integrado ao ambiente.

Temas para debate

– A ação humana (pegada ecológica) pode pôr em risco a saúde e a vida.

Alguns cuidados podem evitar desconfortos, vicissitudes e desastres:
·        Proteção de mananciais adjacentes, bosques, vegetação nativa, lençol freático, áreas de recarga de aquíferos, poços artesianos ou tubulares, áreas inadequadas para despejo séptico, detritos, lixos diversos, entulho. A recarga de aquíferos pode ser limpa ou suja.

– Riquezas irrecuperáveis que relatam a história humana.

·        Cavernas, inscrições rupestres, monumentos históricos ou naturais, árvores típicas, refúgios florestais únicos e sensíveis, brejos, cascatas, belezas naturais, são preciosos canais de relacionamento entre as pessoas e entre estas e as demais formas de vida.

– Invasão irregular de áreas valiosas que provoquem custos sociais de recuperação.

·        Urbanização de margens de rios, lagos e mananciais.
·        Habitat de vida nativa rara (Pantanal, Mata Atlântica, Cerrado) ou em extinção, paisagens, locais de recreação potencial.
·        Proteção do espaço necessário para a vida do bioma e da biota, vegetais e animais.

– Interdependência de todas as espécies vivas.

·        Um dos mais importantes aspectos da vida no planeta é a interdependência de todas as espécies vivas que compõem a biodiversidade necessária à sua sobrevivência e reprodução na biocomunidade.
·        Vidas se alimentam de vidas.
·        Planejamento e controle inteligente da reprodução da vida humana.
·        O homo sapiens chegou mais tarde ao planeta.

– Organização natural das espécies vivas

·        Preservação da organização natural das espécies vivas frente à organização social e cultural urbana e rural da espécie humana.
·        A ação humana e a pegada ecológica do passo e do ritmo da evolução do homo sapiens. No último século, a pegada ecológica do homem destruiu mais que nos 10 séculos anteriores.
·        A preservação de uma área pode provocar o aparecimento de espécies desaparecidas ou novas.

– O tempo da substituição das espécies nativas por outras domesticadas (soja, milho) não é o mesmo da regeneração do bioma para recompor a fertilidade e garantir produção constante e permanente.

·        O maquinário, a intervenção, o desmatamento, a queima.
·        Os fertilizantes químicos, os pesticidas (agrotóxicos) se incorporam ao solo, à água, às plantas, à atmosfera e às pessoas.
·        Educação e saúde estão afetadas pela modificação do habitat vegetal, animal e humano.
·        Possíveis ações de cooperação entre a espécie humana e as condições necessárias à preservação da água e da vegetação nativa.
·        Plantar árvores é o grito revolucionário deste século.

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Eugênio Giovenardi é escritor. Sociólogo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, criou o termo ecossociologia para referir-se à organização de espécies vivas comparada com a da espécie humana. Iniciou estudos de ecossociologia há 40 anos na universidade da natureza, na biocomunidade do Sítio das Neves (DF) da qual é membro, situada no Planalto Central do Brasil. Água, árvores e animais, no amplo laboratório da natureza, constituem o objeto de suas observações. Didaticamente, esses elementos revelam as relações de interdependência entre a vida da espécie humana e a de todas as vidas que habitam a casa grande. Autor de romances, crônicas, ensaios e lampejos poéticos a investigação filosófica e sociológica permeia sua obra.
Ecossociólogo e escritor
30.10.2015

NÚCLEO DE ESTUDOS ECOSSOCIOLÓGICOS DO CERRADO

(NEEC)

A criação do NEEC se integra ao Projeto Olho d’Água do Sítio das Neves. As ações decorrentes de seu funcionamento se referem à proteção ambiental e ao conhecimento dos valores ecossociológicos.
Tem-se observado, no comportamento cultural dos alunos egressos do ensino secundário e universitário, preocupante distância entre os conhecimentos adquiridos no período letivo e a prática profissional.
O objetivo das ações do NEEC é ampliar o conhecimento dos visitantes, alunos, professores e estudiosos do Cerrado sobre ocupação espacial, cooperação, convivência e reprodução de árvores, plantas, arbustos, animais e insetos da biocomunidade.
A ampliação do conhecimento propiciará melhor uso do solo, definição mais adequada de atividades agrícolas, formas de preservação ambiental, captação de águas pluviais, proteção dos mananciais e recarga dos aquíferos para garantir o equilíbrio da biodiversidade.
O objetivo específico do NEEC é adequar os conhecimentos escolares e universitários adquiridos em sala de aula à realidade da organização, localização, cooperação e reprodução dos seres vivos da biocomunidade do Cerrado.
Entre as principais atividades coordenadas pelo NEEC, citam-se:

1.    -    Formação e abastecimento de biblioteca de temas ambientais e ecológicos do Cerrado, junto à escola local CEF/EL.
2.     -                 Mapoteca de áreas do Cerrado junto à escola local CEF/EL.
-                 Publicação de livro teórico e prático ilustrado sobre economia ecológica e preservação ambiental (350 p.) em dois volumes 
4.                       Estágio de estudantes e pesquisadores


Fone: 61 9981 2807


Endereço:
SÍTIO DAS NEVES – Rodovia BR 060, Km 26 – DF

Registros Institucionais:
Código do imóvel rural (INCRA) - 9410180282315
Código da pessoa (INCRA) - 014353407
Certificado de Cadastro de Imóvel Rural (CCIR) - 04132124057
Número do Imóvel na Receita Federal (Nirf) - 3407896-7
Certificado de Reserva Legal e APP – No 105/2012
CNPJ PROJETO OLHO D'ÁGUA: 21.563.011/0001-50

Obras do autor sobre o tema ambiental:
1)    Os pobres do campo, Tomo Editora, 2004, Porto Alegre.
2)    O retorno das águas, Editora Ser, 2005, Brasília
3)    A saga de um Sítio, LGE, 2007, Brasília:
4)    As árvores falam, Movimento, Porto Alegre
5)    Ecologia, uma nova forma de prosperidade, Kiron, Brasília

6)    Uma obra em verde –– (em revisão editorial)

ECOSSOCIOLOGIA


ECOSSOCIOLOGIA

Eugênio Giovenardi é escritor. Sociólogo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, criou o termo ecossociologia para referir-se à organização de espécies vivas comparada com a da espécie humana. Iniciou estudos de ecossociologia há 40 anos na universidade da natureza, na biocomunidade do Sítio das Neves (DF) da qual é membro, situada no Planalto Central do Brasil. Água, árvores e animais, no amplo laboratório da natureza, constituem o objeto de suas observações. Didaticamente, esses elementos revelam as relações de interdependência entre a vida da espécie humana e a de todas as vidas que habitam a casa grande. Autor de romances, crônicas, ensaios e lampejos poéticos a investigação filosófica e sociológica permeia sua obra.


Ecossociólogo e escritor

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

DUAS IMAGENS


Resultado de imagem para calo-da-campina



Das diferentes paisagens do cerrado ao longo das estações, guardo duas imagens na retina da memória visual. Uma, a que vem depois do fogo, capaz de dilacerar a alma, se compõe de pretume e de cinzas da queimada. Paisagem lúgubre de enterro. Cadáveres de plantas ainda de pé como soldados romanos surpreendidos pela erupção do Vesúvio. Cobras estiradas e lagartixas tostadas disputadas por gaviões e carcarás. 
E entre essas tumbas abertas e enegrecidas, a natureza do cerrado, uma semana após a queimada, como a perdoar a ignorância dos que “não sabem o que fazem”, oferece a caliandra, os besourões amarelos, mimosas, flores brancas, azuis e roxas. O cerrado rebrota das cinzas. Colhe das profundezas a água retida nas raízes e recobre seus galhos de folhas, de flores e frutos. O cerrado volta mais pobre. Mas se o grande predador se afastar e o deixar em paz, a outra imagem substitui a primeira. É esta a outra imagem que, há mais de trinta anos posso contemplar e observar, ver e ouvir.
A reconquista do espaço, as tarefas intencionais de captar águas da chuva para transferi-las aos aquíferos, a captura do gás carbônico, a devolução de oxigênio às vidas que respiram, a oferta de alimentos e o abrigo a milhares de pássaros e insetos é um espetáculo a céu aberto.
Quantas vezes entrei nesse anfiteatro majestoso para olhar, ver e ouvir as árvores! Cada uma delas fala em monólogos, em diálogos, canta em duetos e dança em revoluteios de dar inveja aos mais habilidosos dançarinos. Mas foi num momento especial, ao tocar um cacho de flores amarelas brotado entre folhas grandes e rígidas, que emitiam sons de tambor ao dedilha-las, que a direção de meus pensamentos mudou de rumo.
Perguntei à planta: quem é você? O ser vivo tem nome, tem identidade. Está inscrito nos livros da natureza. Tem direitos e cumpre tarefas descritas na biodiversidade. Nesse dia, o “quem” se tornou mais importante do “que”. Quem é o ser vivo? O que faz o ser vivo? Concluí que não há “que” sem “quem”.
Surpreendeu-me essa percepção de que a baliza inicial para a compreensão dos seres vivos e de suas mensagens era “quem é você”. Tudo o que parecia o marco de chegada transformou-se em ponto de partida. Acostumado a aterrissar sobre as coisas, fui empurrado a levantar voo. Não era o objeto apenas que se erguia à minha frente com suas utilidades aparentes. Era o sujeito animado pela vida que tinha algo a me dizer e que eu precisava ouvir. As relações de convivência entre sujeitos que se comunicam dependem de os interlocutores serem capazes de ouvir.
Ainda atônito diante da simples pergunta à planta bate-caixa, pousado num galho seco, a poucos metros de mim, cantou um pássaro. Os pássaros falam cantando. Olhei para ele. Ele virou a cabeça e mirou-me fixamente com o olho direito e novamente cantou interrogativamente. Foi sua vez de me perguntar: quem é você?
Nosso cérebro diante de um objeto ou de um sujeito cumpre sua função de associar o que vê com o que ouve e, ao mesmo tempo, busca descobrir o que esse visitante faz, como faz, quando faz, onde faz. Pela plumagem, pelo formato do bico e o tamanho do leme, o livro dos pássaros me deu sua identidade: galo-da-campina.
Sem livros a consultar, o galo-da-campina, mesmo não ouvindo minha resposta, me identificou pelas diferenças. O pássaro tem cérebro como eu. Sou como ele. As funções do cérebro são as mesmas no pássaro, na cobra, no macaco, no lagarto, no ser humano. O cérebro associa o que vê com o que ouve e se expressa em defesa de sua vida e liberdade. O galo-da-campina diferenciou-me do gavião, do cavalo e das plantas. Voou para um lugar mais seguro porque nosso diálogo estava cheio de ruídos. Sua memória atávica guarda o som de tiros, lembra de grades das gaiolas. As queimadas assassinas têm tudo a ver com esse bípede vestido, cujas intenções não são, na maior parte das vezes, transparentes.
O galo-da-campina quis saber quem era eu e quais minhas intenções em relação à sua vida. Ele precisa construir o ninho em lugar seguro, namorar, acasalar-se, chocar os ovos, buscar comida para os filhotes, defendê-los de predadores, transmitir-lhes a cultura da liberdade na floresta. Ele cuida da vida que essencialmente é a mesma vida minha e de meus descendentes.

A espécie humana não só aprendeu a escravizar pássaros e animais como a torturar e assassinar seus semelhantes. Quem é você? Essa pergunta pode fazer a diferença no jogo de relações entre os seres vivos.

domingo, 3 de janeiro de 2016

ÁGUA E CRESCIMENTO URBANO



Em 1989, a plataforma urbana do Distrito Federal (não incluída a ocupação rural) alcançou 30.962 hectares. Em 2006, estendia-se sobre 64.690 hectares, correspondendo a 0.1 por cento da área do Distrito Federal.
Quase um quarto (24,5%) dos domicílios do DF estão localizados em terrenos não legalizados, em áreas de risco ambiental e Áreas de Proteção Permanente.
Jorge Werneck (Comité da Bacia do Paranoá) indica que a qualidade da água é afetada pela proximidade do agrupamento urbano. “Em rios com mais de 20% de área urbanizada ao redor, a água tende a ser menos potável e mais restritiva ao abastecimento humano. No DF, das 41 unidades hidrográficas, 11 estão nesse contexto”.
O Rio Melchior, o Ribeirão Ponte Alta, o Ribeirão Sobradinho e o Rio Santa Maria se incluem nessa circunstância de desabastecimento com altos custos de tratamento. Um número não determinado dos 36 mil poços artesianos está contaminado pela urbanização, por agrotóxicos e lixo à beira de rodovias.
A disponibilidade hídrica no DF por habitante/ano é, segundo a ANA, de 1.752 m3. Volume menor do que 2.500 m3 por habitante/ano é considerado deficiente para a pessoa e para a satisfação de necessidades relacionadas à produção de alimentos e demais serviços urbanos. Portanto, já estamos em déficit hídrico. O volume atual corresponde a 4,8 m3 por pessoa/dia. Computando-se todo o consumo diário embutido no uso direto e indireto de água (consumo de energia), a escassez tende a aumentar.
A disponibilidade total calculada para a população do DF, seja ela do tamanho que for, é de 5,168 bilhões de m3. Para os atuais habitantes há uma disponibilidade, conforme se disse, de 1.752 m3 por pessoa/ano. Quando a população do DF, em dois ou três anos, alcançar os 4 milhões, a cota por habitante cairá para 1.292 m3, e com maiores dificuldades de acesso por razões administrativas do governo e do custo da água.
Se toda a população da Área Metropolitana de Brasília participar dessa disponibilidade, nos próximos cinco a dez anos toda a população enfrentará ondas de racionamento. Poços artesianos às centenas serão perfurados juntando-se aos mais de 36 mil atualmente existentes no DF. Há que se considerar, ao mesmo tempo, a irregularidade e a diminuição das águas da chuva. Isto poderá reduzir a disponibilidade virtual e real de água para a população. A precipitação pluvial de 2015 comparada com a de 2014 sofreu uma redução de 34 mm ou 34 litros por metro quadrado em regiões do DF. Para avaliar essa redução de chuvas de um ano para outro, multiplique-se o déficit de 34 litros pela área do DF (5,7 bilhões de m2) e se compreenderá, que ano a ano, o céu pode nos negar um volume de 199,5 bilhões de litros de água, numa região onde estão localizadas as principais nascentes de nossos rios que correm para o Sul, para o Norte e para o Nordeste.

Acrescente-se que a disponibilidade hídrica virtual nem sempre é acessível e está, por isso, relacionada ao crescimento da população. Mais uma vez, o cálculo se faz apenas em relação à espécie humana. Deixa-se em aberto a disponibilidade para todos os demais seres vivos. Qual seria a disponibilidade de água por vaca/ano? Sabe-se quanto consome um bovino em sua função de produzir carne ou leite. Não se determinou o quanto está disponível e nem qual dever ser o limite do rebanho regional, nacional e mundial. Se para produzir um quilo de carne, o boi precisa consumir 15 mil litros de água, ao final de três anos, com 400 kg, terá consumido oito milhões de litros de água. Um cidadão, que viva 80 anos e consuma 200 litros diários, alcança o montante de 5,8 milhões de litros, consumindo um quarto a menos do que o bovino em seus três anos de vida. Compare-se também o espaço necessário para uma manada de 1.000 bois com o que pode abrigar 1.000 pessoas. Dez milhões de metros quadrados para eles e 200 mil metros quadrados para elas. Isto indica o absurdo do conceito e do foco econômico baseados no crescimento dos investimentos em razão do aumento da população humana.