A
Secretaria de Agricultura-DF, com recursos da Fundação Banco do Brasil, aplicará
um milhão de reais na “revitalização” da Bacia
do Descoberto. A Bacia está morta. São 224 áreas de preservação e 222 nascentes
mortas. Quarenta anos depois de enterradas sob o pisoteio de 940.000
consumidores de água de quatro cidades, propõe-se a revitalização. A proposta
de revitalizar não é ruim. O dinheiro e o tempo propostos é que se revelam
inadequados. É impossível ecologicamente revitalizar 224 áreas (não se menciona
o tamanho) e 222 nascentes, no Cerrado, “até o fim do
próximo ano”, conforme anunciado. É inacreditável. Minha experiência na
recuperação de duas nascentes, na biocomunidade do Sítio das Neves - DF (70 ha),
indica que a consolidação de um manancial, em área degradada, leva de 10 a 15
anos. A Agência Nacional de Águas (ANA), a Adasa e o Ibram acompanharam a
realização dessa atividade, iniciada em 1974. A natureza tem suas leis, seu
ritmo, seu tempo e não se submete a decisões pessoais ou institucionais. A
escassez atual de água é uma resposta inequívoca da natureza a nossa imprevidência
e presunção. Teremos o que dizer ao Oitavo Fórum Mundial da Água, em 2018, aqui
em Brasília?
COMENTÁRIOS SEMANAIS SOBRE MEIO AMBIENTE, POLÍTICA, LITERATURA E OUTRAS SUTILEZAS DO COTIDIANO.
quarta-feira, 25 de outubro de 2017
FAIXA VERDE
Dias
passados, ao dizer que superpopulação também tem a ver com escassez de água,
alguém me tachou de neomalthusiano.
Em
1974, quando se inaugurou o Reservatório do Descoberto,
Brasília
toda tinha 600.000. Criou-se, em torno do Descoberto, uma prudente área de faixa verde para garantir a proteção da
bacia. Hoje, a FAIXA VERDE está ocupada por Brazlândia, Taguatinga, Ceilândia e
Águas Lindas com uma população de 940.000 habitantes. Juntando mudanças
climáticas, irregularidade das chuvas, urbanização desertificadora,
impermeabilização do solo, produção agrícola superirrigada, fogo no cerrado, imprevisão
administrativa e 4 milhões e meio de consumidores temos necessariamente
escassez de água. Como ninguém produz água, racionar é sobreviver enquanto as
nuvens não chegam.
sábado, 21 de outubro de 2017
O CAMINHO DA ÁGUA
( Foto: Nascente Água Azul, Sítio das Neves, DF. Por que esta nascente tem água.)
Antes de sair pela torneira, a água percorreu um
longo caminho. Do ventre da Terra ao olho d’água e dali ao chuveiro são muitos
quilômetros. Na manutenção da vida humana, vegetal ou animal, há três
requisitos essenciais: ter água, preservar a água e usá-la com moderação. Esta
ordem determinada pela natureza das coisas e pelas coisas da natureza está
sendo invertida, há alguns séculos, pela espécie humana. Usamos mal a água, não
temos compromissos com a preservação da água e acabamos por não ter água. Culpa-se
o Estado como se um país não tivesse gente. O racionamento imposto aos cidadãos
é uma punição ao mal-uso da água, à falta de compromisso dos cidadãos em
preservar as nascentes para ter água. A água não nasce nos reservatórios que o
Estado constrói com nosso dinheiro. O reservatório, águas abaixo, contava com o
olho d’água que destruímos com o mal-uso. O caminho da água, em tempos de mudanças
climáticas no planeta, é preservar os mananciais, águas acima, captar as águas
da chuva e usá-la com moderação.
terça-feira, 17 de outubro de 2017
DISPONIBILIDADE E USO DE ÁGUA NO DF
Informações
da Caesb indicam que a vazão disponível de água para o uso dos brasilienses é
de 9,5 m3 por segundo ou ao redor de 782.080.000 litros por dia. Ao se aplicar a
simples aritmética da água e relacionar com o aumento da população no DF
chega-se aos resultados que seguem. Vamos calcular a reposição de água no
organismo humano de 3 litros por dia.
No
ano 1970, a população do DF era de 537.000 e consumia por dia 1,601 milhão de
litros, 0,20% da vazão diária.
No
ano 2000, a população do DF era de 1.927.800 e já consumia, por dia, 0,24% da
vazão.
No
ano 2010, a população era de 2.086.700 e consumia 0,26%.
Em
2017, a população de 3.000.000 consome 0,34% da água diária disponível no DF,
apenas com a reposição de 3 litros no organismo.
Se
aplicarmos a aritmética da água ao volume mínimo de consumo recomendado pela OMS
de 110 litros diários, no ano 2000 a população consumia 2,7% da disponibilidade
diária; em 2010, 2,9% e, em 2017, estamos dobrando o consumo estritamente
pessoal, por dia, 4,2% da vazão estimada. A população cresce, a urbanização se
expande e com elas a diversidade do uso da água para o lazer, a produção de
alimentos, a indústria e comércio, a limpeza urbana causando a impermeabilização
de grandes áreas. O fato concreto da diminuição das águas é fisicamente
revelado pelo nível das represas.
Construíram-se
reservatórios ignorando a preservação dos mananciais. Contou-se passivamente com
as chuvas abundantes que o DF recebia em décadas passadas. Agora, temos chuvas
irregulares e menos abundantes. E, o que é vergonhoso, não podemos contar com
nossos antigos mananciais descritos pela Missão Cruls nem com nossos humildes e
velhos córregos. Hoje, humildemente, dependemos das chuvas e das mudanças climáticas
que as regulam.
A
transição hídrica se faz necessária: da escassez à sobrevivência. Da produção
agrícola fartamente irrigada a culturas poupadoras de água. Da urbanização
arrasadora de nascentes à contenção da avidez dos lucros imobiliários. Da
economia capitalista e do crescimento a qualquer custo à economia humana e
ecológica. Governar é administrar populações, prestar-lhes serviços essenciais,
preservar a biodiversidade e respeitar os limites dos ecossistemas.
De
onde vem essa estranheza de escassez de água no DF?
Por
que essa indignação contra o racionamento? O controle do uso da água é tarefa
pessoal monitorada pela consciência do cidadão. Nem Caesb nem Adasa controlam o
uso da água. Somos todos responsáveis, os eleitos e os eleitores.
quinta-feira, 12 de outubro de 2017
RESERVATÓRIO DO DESCOBERTO: 14%
TRANSIÇÃO HÍDRICA
Nossa república é atraída por extremos: ou tem inundações ou vai ao racionamento de água. Nem por isso deixa-se de produzir soja irrigada ou um kg de carne com 15 mil litros de água.
Transição hídrica foi o alerta que a reunião sobre clima na Suécia, reforçada pelo grito do Clube de Roma, em 1972, lançou à espécie humana. Transição hídrica quer dizer novas atitudes, novos comportamentos no uso da água diante de dois fenômenos incontestáveis: mudanças climáticas no planeta e aumento linear da população mundial, regional e local.
Medidas ainda possíveis: preparar-se para captar águas da chuva, proteger mananciais que abastecem reservatórios, restringir o uso de água às necessidades essenciais, investir em obras águas acima na preservação de nascentes.
Brasília partiu mal desde o começo soterrando nascentes, urbanizando e impermeabilizando áreas de domínio das águas.
Temos água. Água suja que custa caro limpá-la.
Nossa república é atraída por extremos: ou tem inundações ou vai ao racionamento de água. Nem por isso deixa-se de produzir soja irrigada ou um kg de carne com 15 mil litros de água.
Transição hídrica foi o alerta que a reunião sobre clima na Suécia, reforçada pelo grito do Clube de Roma, em 1972, lançou à espécie humana. Transição hídrica quer dizer novas atitudes, novos comportamentos no uso da água diante de dois fenômenos incontestáveis: mudanças climáticas no planeta e aumento linear da população mundial, regional e local.
Medidas ainda possíveis: preparar-se para captar águas da chuva, proteger mananciais que abastecem reservatórios, restringir o uso de água às necessidades essenciais, investir em obras águas acima na preservação de nascentes.
Brasília partiu mal desde o começo soterrando nascentes, urbanizando e impermeabilizando áreas de domínio das águas.
Temos água. Água suja que custa caro limpá-la.
segunda-feira, 9 de outubro de 2017
BRASÍLIA, NÍVEL DOS RESERVATÓRIOS
BRASÍLIA, NÍVEL DOS RESERVATÓRIOS
A gestão das águas
não basta ser prioridade. Ela tem que parecer prioridade em atitudes,
comportamentos, inteligência e investimentos águas acima na direção das
nascentes. Os investimentos águas abaixo não resolvem o estado de escassez.
O reservatório do DESCOBERTO, DF, inaugurado em
1974, foi projetado para armazenar 103 trilhões de metros cúbicos de água. Hoje
está com 14,9%. Perde 81,10% de sua capacidade de armazenar. O SANTA MARIA foi
projetado com capacidade de armazenamento de 58 milhões de m3 está hoje
com 27,9%. Perde 72,1% de sua capacidade. O LAGO PARANOÁ, do qual se retiram 2,520
milhões de litros/dia, se alimenta, em parte, das águas do Santa Maria e de
outros tributários agonizantes. Consequentemente deve ter perdido volume.
O que está acontecendo? Chuvas escassas, quase zero
captação de águas pluviais, população aumenta mais de 40 mil habitantes/ano, a urbanização
galopante arrasa APPs, impermeabiliza o solo e as águas se afundam.
quinta-feira, 5 de outubro de 2017
ÁGUAS DO PARANOÁ
(Nascente Água Azul, Sítio das Neves, DF, Foto: Eugênio Giovenardi)
O
Lago Paranoá recolhe as águas da extensa bacia que lhe dá o nome. É formado por
dezenas de córregos que vinham dar, antes da construção de Brasília, ao rio
Paranoá que descia pela cratera formada há milênios. O Ribeirão Santa Maria, os
córregos Vargem Grande, Milho Cozido e Três Barras formam o lago Santa Maria,
inserido no Parque Nacional de Brasília, área de 101 km2 com capacidade
de armazenamento de 58 milhões de m3 , 45,7 milhões de m3
de volume útil e vazão de 1,26 m3/s. Esse conjunto de águas se une
aos córregos Bananal, Torto, Riacho Fundo, Gama, Urubu-Sagui, Palha, Jerivá,
Taquari, Vicente Pires, Guará, Águas Claras, Cabeça de Veado, tributários do
Rio Paranoá e constituem o Lago Paranoá, com 510 milhões de m3 de água
acumulada, 38 milhões de m2 de extensão (3.800 ha), 38 m de profundidade, com
média de 13m, e perímetro de 80 km. (Geração máxima de 30 MW/hora de energia, um
MW = 1.000 KW x 5.760 litros por KW gerado. Hoje, reduzida para 13 MW/hora ou 13.000 KW/h =
74.880.000/l/hora). Um dos principais tributários do Lago, com chuva ou sem
chuva, são as torneiras de nossas casas que, de todos os quadrantes, despejam nele
mais de 1 bilhão de litros/dia de água suja. Tirar água do Lago Paranoá para
alimentar nossas torneiras não significa aumentar o volume de água da Bacia do
Paranoá. O que pode aumentar o volume de água, ao lado da captação de águas
das chuvas periódicas, é proteger as nascentes e aumentar as margens ciliares dos
cursos de água, acima mencionados, que contribuem para a formação do Lago
Paranoá. Quase todos esses córregos estão agonizando e despejam águas poluídas
no Lago. A ocupação desrespeitosa das margens de recarga, a urbanização
impiedosa, a impermeabilização desastrosa, as queimadas mortíferas, o lixo
disseminado ao longo de rodovias, a poluição do ar provocada pelo tráfego de
milhões de automóveis é a receita eficaz da escassez de água do Distrito
Federal. Desprezam-se os princípios básicos da gestão das águas. Há que se
conhecer e acompanhar os índices de vazão de cada nascente e de cada córrego
para tomar as medidas oportunas que garantam a saúde do bioma e de seus
habitantes. As nascentes do meu Sítio das Neves, DF, mantêm vazão de 30 m3/dia
durante o período seco graças à preservação da extensa vegetação nativa e
original com 60 milhões de anos de experiência e sabedoria. Antes de Brasília,
todos esses cursos d’água eram saudáveis. A bacia do Paranoá foi a inspiradora
da construção da nova capital do país.
Publicado no Facebook em 3.10.2017
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