Passei 30 dias na França e aproveitei para aprofundar minhas observações de ecossociologia sobre a pressão da superpopulação e imigrações em relação com a oferta fixa de água no planeta.
Em Paris, cuidei de observar como vive a superpopulação sem água no alojamento. Eis alguns comentários.
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Você
conseguiria morar num cubículo de um metro e cinquenta e seis centímetros
quadrados (1,56 m2), sem água, nem janela? Em Paris, mais de 30.000 pessoas
se acomodam nesse tipo de alojamentos indecentes. Na capital francesa, 45% das
crianças são muçulmanas. A imigração é o pesadelo e a solução da economia.
A
superpopulação e o superpovoamento de grandes cidades já não encontram lugar
decente para descansar da luta diária. É nas cidades que o dinheiro rola. É nas
cidades que a oferta de trabalho e de infindáveis biscates atrai as pessoas de
qualquer idade. O emprego, o desemprego e o subemprego convivem. E todos
precisam morar.
O
decreto governamental de 30.01.2002 fixa critérios de “decência” para alugar um
alojamento e estabelece um mínimo de espaço de 9 m2 com 2,20 m de
altura e um volume habitável de 20 metros cúbicos. Nos países desenvolvidos
também há decretos que não pegam. Correm na justiça francesa 56 processos de
alojamentos indecentes.
A
prática, diante da procura por alojamento, é oferecer o mínimo de espaço pelo
máximo de aluguel possível de acordo com o “mercado” subterrâneo. Os 30 mil
pequenos studettes de menos de 14 m2
se espalham por todos os arrondissements
de Paris. Um quarto de 10 m2, dependendo do quarteirão, é oferecido
a 650 euros (2.000 reais), elevando o custo do metro quadrado a 50 e 60 euros
(150 a 180 reais).
A
superpopulação mundial deixou de ser uma preocupação. É um fato. Em grandes
cidades da Ásia, alugam-se gavetões, uns sobre os outros, para trabalhadores
que ainda querem dormir na horizontal. Uma sala com paredes ladeadas com
gavetas superpostas sem luz, sem água e sem ar.
A
lista das desigualdades é enorme e aumenta com a superpopulação. A causa mais
cruel é a exploração do homem pelo homem. A desigualdade de oportunidades
parece insanável. Em nossos programas de habitação popular de casas com 40
metros quadrados para famílias de cinco pessoas, o espaço se reduz a 8 metros
quadrados per capita. Para melhor
aceitar o fato da superpopulação e não agredir o tabu do planejamento familiar,
revistas de grande circulação sugerem medidas aos desiguais da sociedade para
viver com mais conforto em menos espaço. Arquitetos, entre outras dicas,
recomendam eliminar portas, juntar sala com cozinha, transformar camas em
armários. Os apartamentos e casas com 300 ou 500 metros quadrados não precisam
se preocupar com essas inteligentes formas de ocupar o espaço domiciliar.
Eugênio Giovenardi – Ecossociólogo