terça-feira, 30 de dezembro de 2014

À BEIRA DO CAMINHO


Caminhei e cansei.
Parei e sentei numa pedra
à beira do caminho.
Olhei de onde vinha.
Uma curva ao longe
escondeu o precipício.
Olhei para onde iria.
Outra curva tapou
um sonhado horizonte.
Levantei-me da pedra.
Indecisão fatal.
Seguir adiante?
Voltar atrás?
Sentar na pedra e
esperar o amanhecer?

30.12.2014

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

A NATUREZA DAS COISAS



A natureza é um conjunto de partes interligadas que formam um sistema operativo universal. Neste conjunto há elementos inanimados associados a distintas formas de vida com diferentes funções interdependentes. O conjunto dos seres vivos forma a biocomunidade.
Todos os seres da biocomunidade são dotados geneticamente de virtudes e energias para garantirem sua sobrevivência e reprodução. Uns têm mais virtudes e energias que outros, mas suficientes para desempenhar sua função no conjunto, desde a bactéria até o elefante, da ameba ao ser humano.
Todos os seres da biocomunidade vivem no mesmo espaço planetário sem fronteiras rígidas e intransponíveis. Todos os seres vivos se alimentam das mesmas proteínas e minerais disponíveis e, pela diversidade das funções, usam suas virtudes e energias para manter as partes do conjunto em funcionamento. Os pássaros comem frutas e disseminam as sementes para ter mais alimentos para si e para seus descendentes.
Cada elemento do conjunto tem geneticamente a virtude de manter o sistema natural funcionando para sobreviver e se reproduzir. A espécie humana é um dos bilhões de componentes do conjunto. E parece ser a única a usar sua virtude e energia para interferir nas funções dos elementos do conjunto a fim de submetê-los a seus interesses de sobrevivência e reprodução. Desenvolveu, ao longo de milênios, suas virtudes e energias para manipular o sistema da natureza em benefício exclusivo de sua espécie.
As trágicas consequências de sua desorientada compreensão do funcionamento do sistema natural, que o poeta romano Lucrécio definiu como “natureza das coisas” (De rerum natura), não só perturbam a natureza. Elas ameaçam a própria sobrevivência da espécie exploradora e imperialista. Umas das piores tragédias dessa desorientação é a guerra de extermínio movida pelo ser humano contra sua própria espécie. Fez da guerra uma irracional estratégia de controle da expansão demográfica e apoderamento soberbo das riquezas naturais destinadas à sobrevivência e reprodução de todos os seres vivos.
Há mais de quatro décadas, porém, em vários pontos do planeta, esboçam-se gritos de alerta e socorro diante da catástrofe provocada pela espécie humana contra si mesma. Esses gritos e alertas da consciência humana propõem a canalização de sua virtude e energia no sentido da preservação do sistema natural. A consciência de parte da espécie humana se reorienta para a compreensão de suas falhas no funcionamento do sistema natural e correção gradativa dos erros praticados. A ação autoritária da espécie humana sobre o conjunto da natureza se manifesta não só na destruição de espécies vivas para sempre, como na degradação de suas funções na manutenção da ordem natural das coisas.
A preservação do funcionamento do sistema natural, para que todos os seres vivos desempenhem suas funções interdependentes no conjunto de virtudes e energias, começa na compreensão do elemento fundamental gerador de vida: a água.
Não pode haver preservação ambiental e reorientação ecológica sem respeito à fonte de vida. Da água surgem todas as formas de vida. E as árvores (as espécies vegetais) que nascem das águas são as que preservam os mananciais, os lagos e os rios. A associação da água com as plantas é a mais sólida empresa da natureza para a preservação de todas as formas de vida do planeta.
A preservação ambiental depende da imprescindível associação das funções da água e das plantas. É nestes dois elementos do conjunto que, infelizmente, se concentra a desorientação das virtudes e energias da espécie humana.
Essa desorientação se manifesta mais desastrosamente nas práticas inadequadas de produção de alimentos, de desflorestamento e defaunação, de construção de abrigos, na urbanização desordenada, nos parques industriais e na queima de lixo fóssil.
A natureza guardou, bem guardado, durante milhões de anos, tipos de lixo que poderiam danificar a vida no planeta. A espécie humana os descobriu e os desenterrou. Primeiro, o carvão, no começo da era industrial contaminando o ar com fumaça tóxica. Depois, certo óleo que se refugiava entre pedras denominado petróleo. A espécie humana não só queima lixo fóssil em quantidades alarmantes, destrutivas das condições de vida, como produz diariamente perigosos volumes de lixo que infestam o ar, matam plantas e poluem as águas.
O grito da Revolução Industrial deve ser substituído pelo grito revolucionário Plantar Árvores. As árvores propiciam a formação de rios superiores. Preservam os rios de superfície. Garantem a recarga dos rios subterrâneos. É o consórcio água-plantas.
A espécie humana tem, hoje, tecnologias adequadas para compreender melhor a natureza das coisas e conduzir sua virtude e energia na inteligente obra de preservação de todas as formas de vida.
A natureza das coisas convida a espécie humana a integrar-se como elemento do conjunto natural e desfrutar da interdependência de todos os seres vivos da biocomunidade do planeta Terra.

21.12.2014


quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

BRASÍLIA E SUAS ENCHENTES





Foto:Shopping de Brasília



Brasília tão nova e tão inundada.
Há mais de dez anos venho insistindo que uma das atitudes inteligentes do homo brasiliensis é atender à imperiosa necessidade de captação da água da chuva e armazená-la para o período seco. Três medidas: plantio racional de árvores, redução de áreas asfaltadas, galerias subterrâneas de armazenamento de águas, a exemplo de Tóquio. As inundações em Brasília se dão sobre superfícies impermeabilizadas em atenção ao carro individual e mal construídas. 18.12.2014

domingo, 14 de dezembro de 2014

A TECNOLOGIA PERIGOSA DOS PRIMOS





Ontem, 13 dezembro, 2014, no Sítio das Neves, um mico fêmea de cor dourada, perdida, expulsa, inexperiente da tecnologia dos primos, saltou da árvore para o poste do transformador. Agarrou-se ao conector (chicote), recebeu um choque de 500 volts e despencou. Estirada no chão, acudi. Passei-lhe a mão na cabeça e acariciei-lhe as costas. Disse-lhe palavras de coragem. Ela me olhava aturdida. 
Em menos de cinco minutos, a prima se refez. Mediquei-lhe a ferida da mão direita. Chorava de dor. 
Corajosa, ela não acreditou nos primos e, passados dez minutos, quis sua liberdade.

Essa espécie dourada foi vista, no Sítio, pela primeira vez em 42 anos.

Fotos: Eugênio Giovenardi
Sítio das Neves


sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

PRAZER SATÂNICO



É incompreensível!
Estou muito pouco satisfeito com o funcionamento do telefone fixo e da banda larga da operadora OI. Na maior parte das vezes que pretendo falar com outro usuário de telefone fixo, dá ocupado ou uma voz indiferente e seca diz: este número de telefone não existe.
Pelo celular da Vivo é comum não terminar a conversa. O sinal se interrompe. A linha “cai”. Minha filha já se incomodou com a Net, com a GVT e com a TIM. Agora, migrou para a Vivo por razões de custo, mas com tecnologia insegura e vacilante.
Meu amigo André Rivola, do Rio de Janeiro, aconselhou-me a entregar minha paciência à NET porque o mundo é dos NET. Ele se aborreceu com a OI e com a VIVO.
Minha secretária eletrônica sumiu misteriosamente. Abandonou meu aparelho sem aviso prévio, segundo a OI, por incompatibilidade da convivência da Internet móvel com a caixa de mensagens!
Os planos que me oferecem para pagar menos por impulso e falar mais, resultam em conta mais cara mesmo falando menos. Sempre excede os limites do plano.
Dramática decisão é a de falar com a operadora. É uma liturgia satânica. Tenho a impressão de ser vítima da maldade tecnológica. Aquele Eduardo virtual é um serelepe de circo, filho do diabo, prestidigitador, malabarista de truques com nítida intenção de provocar um ataque de nervos. É tão sarcástico que, depois de oferecer opções de 1 a 9, sugere voltar ao zero para ouvir tudo de novo.
No momento em que parece haver um final feliz: “vou transferir para um de nossos representantes” o ouvido é bombardeado por uma infame música neurotógena, seguida de tuc, tuc, tuc. A linha caiu. Começa tudo de novo.
Essa é a tecnologia avançada das comunicações brasileiras aceita por 130 milhões de usuários anestesiados pela publicidade. No item mediocridade tecnológica somos uma referência para o “resto” do mundo.

5.12.2014