sábado, 27 de fevereiro de 2010

TU, ESCRITOR

Há um sentimento de frustração permanente para quem escreve sem leitores. É como andar no escuro, compondo um monólogo no qual o escritor imagina um leitor ouvinte a seu lado. Muitas vezes, o escritor é seu principal leitor. Lê para si e para o leitor imaginário. O consolo é que o leitor passa e o livro fica.
Há escritores que têm vitrina, coluna diária ou semanal em jornais, TV ou revistas. São convidados a proferir palestras por serem conhecidos. Repetem quase sempre as mesmas ideias. Isto pouco importa aos leitores que os ouvem. A presença deles é mais que o livro e mais do que dizem. É o fascínio da pessoa que escreve pensamentos muito próximos dos do leitor. O leitor não disse, mas pensou. O escritor disse o que o leitor queria dizer e, agora, com o livro na mão confirma sua afinidade com o escritor.
Quem são os milhões de leitores que não disseram, mas pensaram o que Paulo Coelho escreve?
Quem são os leitores de Machado de Assis que se enamoram da voluptuosa Capitu e querem saber se ela traiu o escritor ou os leitores.
Quem são os leitores de Clarice Lispector que esperaram a vida inteira pela Hora da Estrela ou não tiveram tempo e ânimo para escrever o Livro dos Prazeres maldesfrutados?
Quem são seus leitores, meu caro e desconhecido escritor? Descubra-os. São poucos talvez, mas eles pensaram o que você disse em nome deles.
Dias passados, um de meus 40 leitores telefonou para comunicar-me que acabara de ler um capítulo _ VISTO DE CIMA − de meu livro A Saga de um Sítio. Comentário do leitor: “parecia-me estar ouvindo uma sinfonia de Tchaikovsky”.
Por isso, caro escritor e poeta, não estranhe se algum leitor desconhecido ou anônimo o tome por músico.
As palavras, surpreendentemente, se disfarçam de notas musicais.

Nota: Meus livros (romances) A saga de um Sítio, O Homem proibido, Em nome do sangue e As pedras de Roma, estão disponíveis a preços módicos no eugeniogiovenardi@gmail.com

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