quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

PRESERVAÇÃO, CONSERVAÇÃO E RECUPERAÇÃO


As grandes chuvas, as inundações de cidades, os deslizamentos de morros desmatados são avisos, sinais e fenômenos que devem acordar a população e pôr de sobreaviso as autoridades públicas. Com a natureza não se pode ser imprudente. As leis físicas funcionam permanentemente e desobedecê-las custa caro aos seres vivos.
Todas as áreas de um ecossistema, por menor que seja sua vegetação, devem ser preservadas, na cidade e no campo. Preservar, portanto, é a primeira letra do alfabeto ambiental. Para preservar é preciso conservar. Não se trata apenas de leis físicas. Trata-se de conhecimentos, de técnicas, de boa vontade, de amor à terra que nos abriga. Bosques, florestas e parques tem  legislação própria e tem que ser obedecida. É comum dizer-se que temos as melhores leis ambientais do planeta.
As leis para que tenham efeito é preciso que as pessoas as conheçam. Os órgãos responsáveis tem que estar equipados para fazer cumprir a lei, orientando as pessoas, notificando-as se não a cumprirem e as sancionando, se contumazes. Os administradores devem  comprovar a capacidade de sustentação do ecossistema da área a ser ocupada e determinar o número máximo de habitantes autorizados a habitá-la, reprimindo invasões de qualquer origem. A ocupação do solo, devidamente autorizada, precisa ser racional e inteligente, respeitando a biodiversidade local e a captação de águas da chuva. Um rígido controle da expansão demográfica precisa ser implantado, no DF, como unidade integrada ao Cerrado e ao Planalto Central. É imprescindível que se faça análise prévia do impacto da mão humana sobre a natureza e a da consequente reação do ambiente sobre a população.
Em razão do crescimento da população, das práticas de exploração agrícola, principalmente das monoculturas e da agropecuária, da exploração imobiliária, do inchaço das cidades, muitas áreas estão degradadas, pauperizadas, esgotadas e abandonadas. Todas essas áreas devem e podem ser recuperadas.
O primeiro passo é a decisão política de manter a área degradada intocável e inexplorável por um período de tempo que pode variar de um a trinta anos. O próprio ecossistema determinará o tipo de vegetação nativa original e atrairá a multiplicidade de fauna necessária e útil a seu desenvolvimento. Complementar a vegetação com plantio de espécies nativas nem sempre é necessário e depende das condições geológicas da área. Nos parques, a frequência dos visitantes deve ser limitada em numero de pessoas e horas. O Jardim de Luxemburgo, de Paris, fecha por doze horas durante a noite. Os parques também precisam de repouso, de manutenção e conservação a cargo de jardineiros treinados e especializados.
O segundo passo se refere à captação, contenção e detenção de águas da chuva, mediante construção, nos canais de esgotamento das águas ou grotas, de pequenas barragens adequadas ao volume e intensidade das precipitações da região. Existem técnicas simples e baratas para este efeito. Utilizam-se somente pedras ou madeiras secas e terra de cupim (barragens-castor), em sequência, de cinco em cinco metros. Reduz-se, assim, a velocidade das águas, retém-se as por alguns dias ou meses, em minúsculos lagos, o que permite infiltrarem-se e percolarem na direção das águas profundas, recarregando os mananciais interiores. (O Sítio das Neves, BR 060, Km 26, DF, é um modelo e um sistema comprovado de recuperação de 100 hectares de área degradada.)
O terceiro passo consiste em eliminar da cultura do povo a piromania, a tendência incontrolável de atear fogo no período seco. Placas, fiscalização intensa por meio de brigadas preventivas contra incêndios, avisos frequentes pelo rádio e TV, sanções severas contra incendiários devem ser ações diárias durante os meses de estiagem, especialmente nas áreas de risco, as quais todos os anos sofrem com o fogo.
O quarto passo é multar severamente os que depositam com caçambas, pick-ups ou carros de passeio, entulho de construções e toda sorte de lixo não degradável ao longo das rodovias. (Vide BR 060 e DF 290, como exemplos.)
O quinto passo e proibir a circulação de automóveis nos parques. A circulação de automóveis no Parque da Cidade deveria ser terminantemente proibida ou pelo menos, durante doze horas noturnas. A presença do automóvel é incongruente com a conservação de um parque de lazer.
O sexto passo é introduzir nas escolas o ensino do respeito à natureza, proporcionando às crianças contato com a fauna e a flora em escolas-parque, como portadoras de mensagens ecológicas à família.
A natureza agradece e o nosso bem-estar aumenta à medida que trocamos o habito do desperdício, da irresponsabilidade ambiental por atitudes de respeito às árvores, ao uso parcimonioso das águas e ao apreço pela limpeza, indicador de boa educação.

PEDESTRES CONTUMAZES


Os burgos medievais, castelos ou mosteiros, residências de nobres proprietários, eram cercados de muralhas fortificadas para protegê-los contra ataques de inimigos. Quem eram os inimigos poderosos que mereciam tanto respeito dos burgueses? Ninguém mais que camponeses pobres, armados de paus e pedras. Hordas de bárbaros de arco e flecha que fugiam das estepes orientais em busca de terras férteis. Gangues de salteadores com pretensão à nobreza. Chefetes regionais que faziam da pilhagem a base de suas fortunas. Apossavam-se do território como donos de vastas florestas e de gente inculta e escrava.
O crescimento da população mundial, as descobertas da ciência, o desenvolvimento da indústria e do comércio transformaram o burgo em cidades tecnológicas, metrópoles e megalópoles. Circunda-as um cinturão de bairros onde vivem serviçais do progresso, auxiliares da poderosa riqueza alheia, alvos permanentes de inclusão ao consumo.
O burgo moderno, metropolitano, como Brasília, trocou as muralhas por vias expressas, avenidas de várias pistas, viadutos e túneis para favorecer a horda de condutores de automóveis que nela circulam tresloucados 24 horas por dia. Onde estão as ciclovias? Reclama-se, então, a realização de “sofisticadíssimo estudo de engenharia de trânsito que agilize o fluxo de carros e, ao mesmo tempo, embeleze a cidade” (Correio Braziliense, 25.1.2011, Caderno Diversão e Arte ). Esse sofisticadíssimo estudo "deve partir do princípio que diminuir o número de carros é impossível”.
Assim deve ser porque um exército de consumidores, armados de automóveis velozes precisam chegar aos centros comerciais para as celebrações das compras urgentes e inadiáveis. As brigadas de funcionários públicos com seus carros individuais, a maioria deles com um único ocupante, apressam-se para conseguir vagas nos estacionamentos dos ministérios, bancos, hotéis, universidades e áreas comerciais.
Quem é, hoje, o inimigo da cidade desumanizada pelo automóvel, amuralhada de vias expressas? O pedestre. Não o ocasional, mas o pedestre contumaz. O cidadão que ousa andar em sua cidade sem a couraça de um automóvel é um pária invisível. É persona non grata, um intruso, invasor de pistas, perturbador do fluxo veloz de carros. Ao pedestre contumaz se concede o raro privilégio de ter, aqui e ali, uma faixa de travessia a contragosto do motorizado. E, para usar a passagem, dão-lhe a honra tecnológica de dispor de um botão eletrônico que o obriga a reverenciar a autoridade veicular e aguardar a permissão de atravessar uma rua de sua cidade.
Quem é esse pedestre contumaz? Os deltas menos da economia, os ipsilones da burocracia deste nosso admirável mundo novo, dominado pelo automóvel sagrado, divino, digno de respeito e adoração. São as empregadas domésticas, as diaristas, os garis, os contínuos dos executivos, os trabalhadores da construção, as crianças das escolas da periferia, os idosos iludidos de que a cidade se constrói para pessoas, para seres inteligentes.
Esses cidadãos  contumazes, segundo o sofisticadíssimo estudo, devem ser enterrados vivos em passarelas subterrâneas para não “causar entupimentos de pistas e congestionamentos a cada cruzamento de dois ou três pedestres”. A obsessão do automóvel e a ditadura divina da velocidade ensandecida desumanizam a convivência entre as pessoas e deturpam a harmonia da cidade.
Há que se conclamar uma revolução a pé a fim de libertar a cidade do império embrutecedor do automóvel. Pedestres contumazes de Brasília UNI-VOS!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

SUPERPOPULAÇÃO E SUPERPOVOAMENTO


A superpopulação se constitui de quantidade de pessoas aglomeradas num espaço físico acima da capacidade cabível em razão do ecossistema e do funcionamento normal de todos os serviços necessários à sobrevivência da população. Essa aglomeração deve garantir a preservação das condições de interdependência das espécies, fauna e flora, que constituem o conjunto ambiental mais amplo.
A equação é simples. Quanto maior a população, menor o espaço individualmente ocupado. Na ocupação do espaço não há que se computar apenas o número absoluto de pessoas comparado com a dimensão espacial dita vazia ou não ocupada. Ao redor da população constroem-se casas em linha horizontal ou adensa-se em edifícios verticais. Abrem-se ruas, avenidas, túneis, levantam-se viadutos para circulação de pessoas e de equipamentos de serviços. Os automóveis, a cada dia, impõem novos e mais amplos espaços para o tráfego e estacionamentos. Hospitais, escolas, áreas de lazer, parques, edifícios públicos para administração de serviços à população e dezenas de outros equipamentos sociais e da vida econômica requerem espaço.
A subsistência da população necessita de espaços para a agricultura e a criação de animais. A população bovina supera em número, a humana. Uma família, na maioria de nossas cidades, se contenta com 30 a 40 metros quadrados. Um bovino, via de regra, ocupa 10.000 metros quadrados. Os rebanhos suínos, avícolas e outras espécies menores são, em geral, esquecidos e também representam milhões de unidades. Os pouquíssimos lembrados pertencem à fauna nativa do que resta de nossas florestas e são tratados como intrusos ou meros figurantes do universo.
Todos os anos, proclama-se com orgulho a supersafra, vinda de milhões de hectares, para alimentar desigualmente a superpopulação. A desigualdade, em seus vários aspectos, é característica de uma superpopulação, no âmbito regional, nacional ou mundial.
O ponto mais importante ao analisar o crescimento da população não é o índice estatístico de sua reprodução. Há que se confrontar simultaneamente o aumento da população e a diminuição do espaço disponível na integralidade de seus elementos.
Há três aspectos essenciais a se considerar que permitem constatar a existência do superpovoamento de espaços, consequência da pressão da superpopulação. Esta pode estar empilhada num espaço que se torna cada vez mais incômodo e agressivo para as pessoas.
O primeiro aspecto se refere à capacidade física do espaço para suportar certa quantidade de população relacionada com todas as condições de sobrevivência e interdependência das espécies conforme se assinalou acima. Ultrapassando essa capacidade física do espaço, aparecem sinais de rejeição emitidos pela natureza através do funcionamento das leis geológicas. O esgotamento do solo é um dos alertas que, longamente desprezados, expulsa ocupantes de zonas rurais.
O segundo aspecto se relaciona diretamente com os fenômenos da natureza. Os ventos, as chuvas, os raios precisam de espaço para se expressar. Sua grandeza e imponência, ainda que previsível em parte, provocam efeitos incontroláveis. Tufões, tormentas, tempestades, tsunamis não dependem da vontade nem dos conhecimentos das pessoas para se manifestar. A população é que depende deles. Quando se antepõem obstáculos ou se alteram as condições espaciais pela ocupação desordenada e imprudente do solo, agredindo o funcionamento de leis físicas, produzindo danos ao ambiente, a natureza reage impulsionada por forças e energias incontroláveis.
O terceiro aspecto corresponde à incapacidade da própria população de se administrar por meio de organização e de planejamento preventivo dos serviços igualitariamente prestados às pessoas, respeitando a interdependência de todos os seres vivos de um conjunto ambiental.
A capacidade política instalada, no Brasil, de administrar grandes populações está a anos-luz de distância das necessidades humanas e dos requerimentos do ecossistema. As consequências dessa incapacidade política e administrativa, apesar de todos os equipamentos tecnológicos e conhecimentos acumulados, são registradas diariamente na desigualdade da educação, do atendimento à saúde, do controle da violência cidadã, do transporte público, da moradia, dos salários, do pagamento de impostos.
A superpopulação não causa apenas o superpovoamento de nossas metrópoles. Ela está consolidando a desigualdade social e provocando a reação nefasta do funcionamento das leis físicas contra a população.
A cada ação humana –mão do homem – na ânsia de dominar a natureza e desfrutar de suas riquezas corresponde uma reação dos elementos na mesma ou em superior medida. 

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

CATÁSTROFES


A Natureza é bela, atraente, sedutora. Mas não dispensa cautela e prudência de quem a quer esposar e usar. Os pretendentes à sua beleza e a suas riquezas têm tomado decisões às cegas.
A Natureza tem suas leis, regras, princípios. Para garantir um casamento feliz e duradouro, é necessário conhecer suas vontades, seu temperamento e seus segredos. No reino da Natureza, as leis funcionam, permanentemente vigiadas por milícias atentas e secretas.
Quando uma população ocupa um espaço da Natureza, impõe-lhe mudanças segundo critérios de interesse e necessidade imediatos. Modifica o ambiente. Corta árvores. Revira o solo. Abre vias e passagens. Redireciona o caminho dos ventos e das águas. Cultiva produtos estranhos ao local. Constrói áreas de lazer. Edifica seu sonhado paraíso. Não percebe ou ignora que violou as leis da Natureza. Ela acumulou, pacientemente, processos de transgressão. Deu avisos. Alertou. Chamou atenção para os perigos que se escondem no subsolo e para as ameaças que vêm de cima.
Há muito tempo, rompeu-se o diálogo entre população e Natureza. O superpovoamento, a imprudência dos ocupantes, a indiferença com as leis físicas, a necessidade e a presunção das pessoas impediram que ouvissem os alertas diariamente gritados aos ouvidos dos invasores.
Gradativamente, as leis da Natureza, comandadas por fenômenos físicos, se impuseram silenciosamente aos ocupantes cegos e renitentes. A beleza das montanhas, a sedução do verde, a leveza do clima, a pureza das águas que se lançam em cascatas alucinantes, após aguentar por longos anos os danos dos ocupantes, reagem com a fúria ingovernável da lei da gravidade. O peso que a Natureza suportou sobre suas costas, durante décadas, despencou serra abaixo.
Nunca ficará impune o desrespeito às leis físicas. A dor da morte não tem preço. O custo da recuperação das perdas soma-se ao tempo necessário para a restauração da paz entre as pessoas e a Natureza. O planeta Terra somos todos juntos: água, árvores, flores, montanhas, pássaros, seres humanos. Declarar guerra à Natureza é expor-se à derrota inevitável. A superpopulação e o consequente superpovoamento podem ser o começo de um conflito difícil de ser controlado.
No intercâmbio com a Natureza, é necessário certificar-se dos danos que se está causando a ela e dos prejuízos que ela poderá, cedo ou tarde, cobrar aos ocupantes, não importa onde estejam.
O custo da prevenção é infinitamente menor do que o da impossível recuperação.

COMISSÃO DA VERDADE


Aproveitei uma bela e contundente crônica de Affonso Romano de Sant’Anna sobre a instalação da Comissão da Verdade e lhe enviei o texto de minha provocação irônica “Anistia indenizatória”, já publicada neste blog.
Alguns amigos a quem submeti a leitura do texto, para minha surpresa e decepção, levaram a sério a ironia. Aconselharam-me a oficializar o pedido de indenização junto à Comissão de Anistia do Ministério da Justiça para obter o benefício. Obter vantagens, buscar privilégios, sentir-se superior ao comum dos mortais são tentações soltas na rua.
As pessoas que solicitaram e receberam a indenização pelos motivos alegados, as que eu conheço, sentem-se orgulhosas da recompensa por terem lutado contra a ditadura militar. Não sentem vergonha do privilégio recebido diante de centenas de cidadãos que se opuseram à impostura do autoritarismo militar e morreram nas sarjetas ou amargaram longas prisões.
Não foram suficientes a determinação ideológica, o heroísmo patriótico, a coragem dos enfrentamentos para lhes coroar a vitória revolucionária. Precisou haver recompensa econômica, aposentadoria gratuita e empregos perenes sustentados pela mão generosa da poupança nacional.
Quem fará parte da Comissão da Verdade? Pilatos, na hora do interrogatório sobre os fatos, há de perguntar atônito: mas, afinal, o que é a verdade? Que interessam aos beneficiados com a indenização polpuda as descobertas da verdade? De que lado estará a verdade? Ideologia é uma verdade ou interpretação de circunstâncias que orienta decisões. Consequências de uma guerra são fatos ou verdades? As torturas cometidas no período do regime militar, os sequestros praticados pelas facções em luta, os assaltos, as mortes pertencem a qual gênero de verdades?
E uma vez encontrada a verdade, se possível for, que fazer com ela? O filósofo pragmático anunciou: a verdade libertará a todos. Quem se atreve a compor a Comissão da Verdade?

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

APOIO POLÍTICO


Neste período de assalto ao poder pelos recém-eleitos, destaca-se uma expressão dita em todas as esferas do governo, do prefeitura municipal à presidência da república: defender os interesses do partido. Esses interesses explícitos se dirigem a abocanhar ministérios e secretarias que pela sua função administrativa têm maior orçamento, maior impacto econômico, maior perspectiva política de ganhar eleições graças à plena exposição nos meios de comunicação.
A coisa pública – a res pública romana – o bem comum, patrimônio de todos os cidadãos, fica em segundo ou último plano, atrás das cortinas e dos bastidores. No palco, sob os holofotes das imensas plateias, aparecem os interesses partidários incorporados a cargos para exercício do poder e da autoridade com o fim de levar os partidos, ato por ato, cena por cena, a buscarem os aplausos eleitorais.
A distribuição de cargos esfacela o governo e retalha o poder e a autoridade, desvirtuando os fins e os meios do exercício político dos eleitos, traindo a confiança dos cidadãos. O cuidado com a coisa pública se transforma em atos de mesquinhez de grupos, de chefetes, de apaniguados que administram os bens públicos do cidadão para benefício próprio.
A coisa pública – saúde, educação, habitação, transporte, serviços burocráticos são a segunda linha de prioridades. Na primeira linha estão os cargos e a influência partidária que eles possam demonstrar.
É humilhante e indignante para o cidadão ler, ver, e ouvir, durante meses, as escaramuças do assalto a cargos e a favores políticos, devastando, pilhando e espoliando o bem comum, a coisa pública. Não se percebe, nessa matilha política, o que antigamente se denominava espírito patriótico. Hoje, são devoradores de poder com doses maciças, não de programas de ação, mas de interesses partidários consagrados como apoio político aos donos do poder.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

SUSTENTABILIDADE



A revista Veja publicou edição especial (dezembro 2010) sobre sustentabilidade. Uma boa iniciativa e um bom começo de quem usa papel para estimular o consumo de produtos danosos à Natureza. Entre outros anúncios para a sustentabilidade está o do “carro verde do ano”. O termo se presta a contradições. Sustentabilidade está frequentemente associada a uma “estratégia” de negócio competitivo.
Petróleo ou etanol são, hoje, combustíveis antagônicos e competitivos, alternativos ou devem ser substituídos por outros? Quando? Em que tempo? Quem começa a substituição? Qual produz lucros imediatos? O tempo, o espírito do tempo. O tempo termina? E se não houver mais tempo?
São questões que Veja não pode responder. Mas adverte: A Terra está no limite. Apesar da publicidade incluída na edição especial de equipamentos que exigem mais e mais “recursos naturais do planeta”. E acrescenta: “uma Terra já não é suficiente”.
Estamos no vermelho desde o final da década de 1970. Em 2007, a população mundial exigia, de forma assimétrica, recursos de uma Terra e meia para satisfazer suas ambições de consumo. Devíamos, portanto, ao universo, meio planeta. Para pagar essa dívida estima-se a população mundial teria que diminuir o consumo de um terço até 2030. Assim, uma Terra só seria suficiente para a atual população. Quer dizer, em vez de gastar R$ 100, o cidadão sustentável deveria restringir seu consumo a R$ 65 e poupar R$ 35.
Quem? Eis a questão nunca definida. Quase dois terços da população do planeta são pobres, desempregados, miseráveis, sobreviventes da fome crônica. A ONU estimula projetos para minorar a miséria e a fome em quase todos os países do Hemisfério Sul. Os governos de países emergentes, para se manter no poder, sustentam suas campanhas políticas em programas de eliminação da miséria de milhões de pessoas. O alvo é levá-las a consumir mais e melhor para lastrear o crescimento econômico.
Quem, então, deverá reduzir o consumo em um terço? O primeiro passo será vencer as contradições que envolvem a sustentabilidade, isto é, garantir pão para toda a população mundial todos os dias do ano. Há que se escolher entre prioridades: alimento ou automóvel, moradia segura ou celulares. Todas ao mesmo tempo para todos, no ritmo atual, é trafegar na contramão da sustentabilidade.
Ao aceitarmos a presente forma de consumo africana, que implica explorar 1,4 hectares por habitante, o planeta pode sustentar 9,6 bilhões de pessoas. No modelo de consumo latino-americano, usando 2,6 hectares por habitante, a população mundial poderia atingir 5,2 bilhões. Mas, se o exemplo a seguir for o decantado padrão dos EUA e do Canadá, utilizando 7,4 hectares por habitante, só haverá lugar para 1,7 bilhões de cidadãos no planeta.
Quem? Eis a questão. Quem está disposto a reduzir em 35% o consumo de bens para garantir a vida humana e a de todas as espécies vivas no planeta Terra?
Veja aprecia os dez mandamentos. É um número fácil. Nele cabem as principais dificuldades e facilidades para enfrentar problemas. Para provar que o desenvolvimento é compatível com sustentabilidade, mesmo crescendo em ritmo chinês, Veja oferece em dez itens um novo jeito de viver. Repito, já é um bom começo para as intenções da revista e para manter seus negócios competitivos de informação semanal.
Então, entre outros, estão: Substituir sacolas de plástico pelas de papel. Fazer xixi no banho. Abolir a carne na dieta. Deixar de imprimir documentos (não a revista nem os cadernos de publicidade de automóveis ou da Petrobrás). Trocar o carro a gasolina por um elétrico. Quem se dispõe a seguir esta receita?
A revista arrola, depois, dez mitos que dificultam, comprometem e atrasam os efeitos benéficos sobre a sustentabilidade. Cito, entre outros, o que Veja considera mitos: Ninguém realmente sabe o que significa sustentabilidade. É sinônimo de verde. Significa reduzir o padrão de vida. Depende dos consumidores e militantes, não do governo. Custa muito caro. O cerne do problema é a superpopulação mundial. (Superpopulação não é mito. É realidade. Não se falaria em sustentabilidade se não houvesse população.)
Se o tema sustentabilidade chegou a uma edição especial de importante revista semanal, sustentada por cadernos de caríssima publicidade de itens que ameaçam os recursos naturais, conclui-se que a consciência ecológica e ambiental começa a despertar do sono de acomodação e indiferença.
Mas, enquanto não se estabelece na política econômica mundial, baseada em altas taxas de crescimento, QUEM deve reduzir o consumo, sustentabilidade ou desenvolvimento sustentável serão apenas palavras obrigatórias em documentos oficiais.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

2011




Nos primeiros dias deste ano que tem dois uns no fim, desfrutei da quietude do Sítio das Neves, meu refúgio onde o silêncio parece caminhar por entre as árvores. Fiquei algum tempo olhando para os números do ano 2011. Poucos de nós tivemos um número com dois uns ao final e poucos verão outro ano terminado assim. O próximo será 2111. Não estarei lá e desejo boa sorte aos que amanhecerem naquele ano.
Voltando ao Sítio das Neves, as águas caíram abundantes no começo deste ano. Milhões de litros de água pura sobre árvores limpas e sobre o chão coberto de flores amarelas, azuis e roxas. Descobri, caminhando pelos campos, o que todos querem e desejam para os outros neste 2011. Encontrei a felicidade vegetal. A natureza feliz, Eu, feliz.
Estou praticando um trabalho, em meu Sítio, cuja parceira é a natureza, fauna e flora. Barragens de pedra e barragens castor (com madeira seca e terra de cupim) para deter e conter as águas da chuva, em pequenos lagos, dentro do Sítio. Se houvesse uma política pública de preservação e conservação do Cerrado com base na contenção e detenção das águas da chuva com pequenas barragens de engenharia simples e barata, em poucos anos tudo se coabriria de verde e brotariam novas nascentes,.
Em vez disso, com o superpovoamento urbano, tolera-se e até se estimula a invasão e ocupação desordenada do solo, arrasando a terra e fazendo desertos em série ao longo dos cursos dos rios.
Os organismos públicos de meio ambiente poderiam criar milhares de empregos com pessoas sem profissão definida que aprenderiam essas técnicas fazendo barragens que os romanos ensinaram há 3.000 anos para transformar desertos em jardins.
No meu Sítio está dando certo. Por que não daria certo no terreno de meu vizinho e em milhares de propriedades sobre as quais cai chuva abundante e se perde porque ninguém sabe recolhê-la?