OPINIÃO PÚBLICA
“É direito absoluto do Estado supervisionar a formação da opinião
pública”. Não foi Thomas Jefferson, nem George Washington, nem Winston Churchill,
nem De Gaulle e menos ainda o rei da Suécia que emitiram essa intrigante declaração.
Foi Josef Goebbels, ministro da propaganda nazista.
Ditadores e presidentes eleitos democraticamente aprenderam
a lição e a aplicam para adaptar os fatos históricos às realidades dos interesses
presentes do poder que exercem.
A opinião pública é o resumo dos programas oficiais, das declarações
das autoridades, dos comentários de âncoras dos noticiosos diários, das
manchetes dos jornais, da força indutiva das revistas semanais, reforçados por
estatísticas e percentuais incontestáveis.
Os fatos históricos são cadáveres do passado. Ao desenterrá-los,
parte deles apodreceu. A ossatura não se mantém de pé. Há que se lhe pôr
recheios, escoras e deitá-los cuidadosamente sobre um estrado protegido por
paredes de vidro.
A face do cadáver é a que os donos do poder apresentam. Não
importa que seja deformada ou embelezada. Em muitas ocasiões, para os donos do
poder, o cadáver sequer existiu. Ou dizem que não sabiam de sua existência. Ou
não querem saber para não se comprometer. Esse cadáver histórico que está
exposto é apenas um fantoche. E, num boneco de pano, quem há de crer.
Os fatos da história mudam rapidamente todos os dias e se superpõem
sem dar tempo a que se possa distinguir uns dos outros. Os atos de violência se
confundem com os de corrupção, os assassinatos com os acidentes de trânsito. Tudo
é resumido em percentuais.
Só existe e da forma como existe o que a mídia orquestrada
pelo poder ou cooptada por ele despeja em milhões de lares, nas ruas, nos
cinemas, nos estádios. Quem é a mídia?
O cidadão é bombardeado e socorrido pelos mesmos aparelhos e
pelos mesmos operadores e acredita na verdade dos fatos que lhe mostram como sua
história.
Essa mesma pedagogia de imposição de verdades passa da política
para a literatura, para a música e a arte, para a ética e a religião. Os que
resistem têm lugar assegurado no limbo social e entram para a categoria de
preconceituosos ou confinados na minoria de céticos cujo único prêmio é a
liberdade de pensar.
Por isso, em alguns momentos da história, forçada pelos
fatos, a mídia se volta para a minoria e assume a pretensa autoridade de mudar
a opinião pública em casos como o que hoje se apresenta espalhafatosamente
liderado pelo Supremo Tribunal Federal ao aplicar a justiça a criminosos
acobertados pelo poder.