sábado, 28 de janeiro de 2023

OURO, EM QUILO OU EM BARRA

 

OURO, EM QUILO OU EM BARRA

ENQUANTO MORREM CRIANÇAS YANOMAMIS

 

SÓFLOCLES (497-406 a.C.), em Antígona, alertou:

 

“Pois, nada de quanto impera no mundo

É tão funesto quanto o ouro, que derruba

E arruína as cidades e os homens,

E avilta os corações virtuosos,

Levando-os ao caminho do mal e do vício.

O ouro ensina ao homem a astúcia e a perfídia

E o faz, insolente, virar as costas aos deuses.”

 

“Ouro! Ouro precioso, rúbeo, fascinante?

Com ele se torna branco o preto

e o feio, formoso,

Virtuoso, o mal,

jovem, o velho,

valente, o covarde,

Nobre, o vilão.

Oh! Deuses! Por que é isto, oh, deuses?

E retira o cobertor a quem jaz enfermo.”

 

“E afasta do altar o sacerdote.

Sim, este escravo vermelho ata e desata

Vínculos consagrados, bendiz o maldito.

Torna agradável a lepra, honra o ladrão

E dá posição, privilégio e influência,

No conselho dos senadores:

Conquista pretendentes

À viúva anciã e já curvada.

  Oh! Maldito metal!

Vil meretriz dos homens!”

 

(Versão pessoal do texto em espanhol)

28.1.2023

 

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

A ÁRVORE EM MIM

 As árvores são a verdade da natureza.

A árvore em mim. (Arte de Corinna Luyken, 1978-)

As árvores são indivíduos e mantêm sua individualidade abraçadas pela floresta que as protegem e as unem com uma rede de comunicação e alimentação, no constante labor das raízes e no entrelaçamento de coirmãs de diferentes formas, tamanhos e espécies. As árvores são. Não aparentam ser. Autenticidade orgânica e social. Contrasta com a preocupação de dar a elas uma aparência fictícia à imitação dos hábitos culturais da espécie humana. As árvores são e conservam seu estado permanente de autenticidade. Não necessitam de beleza maquiada com insólitos modelos de manequins arbóreos em voga nas passarelas da administração pública do Distrito Federal.

As árvores não fingem. Elas são a verdade da natureza revelada em cada ecossistema. Elas são o que são: altas, finas, fortes, fracas, vestidas de verde, de vermelho, desnudas, galhos soltos ao vento, silenciosas, livres. A tendência da espécie humana é julgar o comportamento de seus iguais, a obediência ou desobediência dos hábitos culturais aprovados por leis não escritas. Julgar as árvores com essas regras e réguas perde-se o essencial. Impor regras às árvores é não as aceitar como são.
Janiero, 2023

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

SAÚDE DAS ÁRVORES

 

SAÚDE DAS ÁRVORES

                           As árvores são a verdade da natureza.
A árvore em mim. (Arte de Corinna Luyken, 1978-)

 Brasília, a cidade-parque, especialmente no Plano Piloto, é coberta por uma grande, majestosa e diversificada população de árvores. O sistema de manutenção e cuidado da arborização da cidade é precário. Pouca atenção se deu às orientações e projetos do premiado ambientalista Burle Marx. As árvores são geralmente aceitas como enfeites, como objetos de admiração, como coisas que se podem maltratar, cortar ou podar de maneira inculta. O racional e emocional é admirá-las como seres vivos, com identidade própria, ameaçados em sua saúde por predadores naturais, entre estes os humanos. Por isso, as árvores precisam ser monitoradas, auscultadas e tratadas para que se mantenham sadias e protejam a saúde da biodiversidade do ecossistema.

Os órgãos públicos do Distrito Federal encarregados da conservação do ecossistema no qual se encarta a identidade arquitetônica de Brasília, precisam ter a humildade de ouvir a comunidade científica e ecológica antes de tomar decisões administrativas que atingem a arborização da Cidade-Parque. Com referência à saúde das árvores que povoam Brasília, existem, no país, institutos e empresas de pesquisa que desenvolvem técnicas científicas para monitorar preventivamente seu estado clínico.

As árvores são indivíduos e mantêm sua individualidade abraçadas pela floresta que as protegem e as unem com uma rede de comunicação e alimentação, no constante labor das raízes e no entrelaçamento de coirmãs de diferentes formas, tamanhos e espécies. As árvores são. Não aparentam ser. Autenticidade orgânica e social. Contrasta com a preocupação de dar a elas uma aparência fictícia à imitação dos hábitos culturais da espécie humana. As árvores são e conservam seu estado permanente de autenticidade. Não necessitam de beleza maquiada com insólitos modelos de manequins arbóreos em voga nas passarelas da administração pública do Distrito Federal.


As árvores não fingem. Elas são a verdade da natureza revelada em cada ecossistema. Elas são o que são: altas, finas, fortes, fracas, vestidas de verde, de vermelho, desnudas, galhos soltos ao vento, silenciosas, livres. A tendência da espécie humana é julgar o comportamento de seus iguais, a obediência ou desobediência dos hábitos culturais aprovados por leis não escritas. Julgar as árvores com essas regras e réguas perde-se o essencial. Impor regras às árvores é não as aceitar como são.
Janiero, 2023

Menciono, como exemplo, a KERNO GEO SOLUÇÕES. É uma empresa paulista que utiliza métodos tecnológicos da geofísica, por meio de imagens tridimensionais de alta resolução do interior dos troncos e das raízes ocultas, para detectar o nível de saúde das árvores, de possíveis doenças ou ataques de fungos e bactérias que podem danificar e debilitar o corpo do indivíduo vegetal. A queda de árvores, por essas causas, pode ser evitada prematuramente. O importante na aplicação desses métodos tecnológicos é que seu uso distingue, de maneira cabal, a ação técnica de manejo dos indivíduos arbóreos com procedimentos de saúde preventiva, diferente da prática manual da poda indiscriminada de árvores por teorias exóticas, como a da Novacap, em Brasília.

Tem-se, portanto, duas práticas distintas que podem ser executadas: podas periódicas para obedecer a um manequim arbóreo ideológico ou a interesses mal definidos pelo órgão público responsável; ou, dependendo do diagnóstico, o manejo tecnológico preventivo com imagens de alta resolução dos indivíduos vegetais, especialmente em se tratando da arborização intensa e variada de Brasília, Cidade-Parque.

 

 (Fonte: PESQUISA FAPESP - JANEIRO 2023 - N. 323)

11.1.2023


quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

PODA DE ÁRVORES

 

PODA DE ÁRVORES

 É desagradável, no primeiro dia útil do ano, 2023, ser surpreendido com ruídos estridentes de motosserras em frente à janela do bloco T da SQS 406. Os funcionários da Novacap estão impondo um manequim arbóreo às árvores da Cidade-Parque. É tempo de a comunidade científica e ecológica reagir contra a indiscriminada poda de árvores. As árvores devem ser tratadas como seres vivos, sujeitos e não como coisas ou objetos de enfeite da cidade. Elas abrigam ninhos de pássaros que ainda sobrevivem. A função das árvores não é dar sombra aos carros. É limpar a poluição do ar que leva milhares de crianças e idosos aos hospitais com doenças respiratórias. É melhorar a umidade do ar. É facilitar a infiltração das águas pluviais para recarga dos aquíferos. Milhares de folhas e galhos derrubados são milhares de litros de água que se retiram do ambiente. Antes de plantar árvores é preciso conhecer a árvore e o solo que a alimenta.  Protejo, há 48 anos, uma área de 70 hectares de Cerrado, no DF, BR 060, km 26. Compreendi o valor das árvores e elas me compreenderam. Somos amigos.

Eugênio Giovenardi

Enviada ao Correio Braziliense, em 3.1.2023 e publicado em 5.1.2023.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

 

CHUVAS DE DEZEMBRO  ANOS 2012 a 2022–

Em milímetros ─ 1 mm = 1 litro/m2

ANOS      MÊS ▬             TOTAL ANO/ MM

2012 −     212.7                   ******

2013 –     311.1                   2.255,6

2014 –     323.2                    1.677,5

2015 –      404.2                   1.642,7

2016 -       264.9                   1.921,7

2017         298.7                   1.478,7

2018 –      133.8                   1.760.5

2019 –      189.1                   1.069.3

2020 –      336.7                   1.787,8

2021 –      329.7                   1.710.8

2022 –      309.9                    1.279,2  (neste ano)

 

Aos que seguem o movimento das águas pluviais durante o ano, ofereço os dados pluviométricos do mês de dezembro dos últimos 11 anos. Volumes coletados pelo pluviômetro instalado no Sítio das Neves pela Agencia Nacional de Aguas refletem a situação pluviométrica de parte da Bacia do Descoberto e Micro Bacia do Ribeirão das Lajes, DF. No Sítio das Neves, a vegetação e as nascentes mantêm boa umidade do solo e do ar. O acumulado dos doze meses de 2022 é de 1.249,2 mm, contra 1.710,8 mm do mesmo período em 2021, isto é, 461,6 litros (mm) a menos por metro quadrado. A média de chuvas mensais, nos ONZE anos registrados, foi de 283 mm. Como se observa no quadro, apenas em 4 anos houve precipitação mensal menor que a média. O DF depende da irregularidade das chuvas, mas o mês de dezembro é chuvoso em razão da passagem da primavera ao verão, período de fortes correntes aéreas e aquecimento de oceanos. Neste mês, as águas sobre áreas desnudas levam toneladas de detritos e lixo aos córregos, ribeirões e rios. Nas áreas densamente florestadas como o Sítio das Neves, as árvores administram com grande sabedoria a captação e a retenção das chuvas, mantendo a transparência cristalina das águas.

Os ecossistemas que mantêm vegetação densa resistem melhor às variações do tempo e às severas mudanças climáticas. A preservação das nascentes e o incentivo ao florestamento são ações prioritárias para a regeneração dos ecossistemas. Os 70 ha do Sítio das Neves, há mais de 20 anos, não emitem carbono de efeito estufa. As árvores estão felizes e transmitem felicidade a quem as respeita.

ESTÁ EM ESTUDO, NO IBRAM, PARA APROVAÇÃO, A PROPOSTA DE CONCESSÃO DE CERTIFICADO DE RPPN (RESERVA PARTICULAR DE PATRIMÔNIO NATURAL) OU SERVIDÃO AMBIENTAL, AO SÍTIO DAS NEVES, 70 HECTARES, COMO ÁREA NÃO CONSTRUENDA, PARA MELHORAR A SAÚDE DO CERRADO DO DISTRITO FEDERAL.