Em doze horas, 29 e 30 de novembro, choveu 60mm ou 60 litros de
água por metro quadrado. Informa-se que o Reservatório do Descoberto ganhou
dois pontos na régua. Passou de 6 para 8 por cento da capacidade. Desses dois
pontos provocados pela enxurrada que correu sobre asfalto e áreas desnudas,
quanto é água e quanto é terra, pedra, pau, plástico e dejetos? Teria sido
muito mais útil ao reservatório do Descoberto se essa água toda tivesse caído
sobre os mananciais que havia nas cabeceiras. Qualquer veranico de 5 dias
invalida esses pontos atribuídos à enxurrada que levou água e terra ao
reservatório. Não me enganem, que eu não gosto. Quem não tem árvores, não tem água.
COMENTÁRIOS SEMANAIS SOBRE MEIO AMBIENTE, POLÍTICA, LITERATURA E OUTRAS SUTILEZAS DO COTIDIANO.
quinta-feira, 30 de novembro de 2017
sábado, 25 de novembro de 2017
PLANTAR ÁGUA PLANTANDO ÁRVORES
(Foto, Eugênio Giovenardi, barragem-castor de contenção de águas da chuva para recarga no manancial)
O Terceiro
Seminário Águas Acima, realizado em março de 2017, promovido pelo Instituto
Histórico e Geográfico do DF, com vistas ao Oitavo Fórum Mundial da Água, que
acontecerá no mês de março de 2018, em Brasília, lançou o GRITO REVOLUCIONÁRIO
DO SÉCULO 21 – PLANTAR ÁRVORES.
No dia da
árvore é praxe o governador de turno, rodeado de assessores e fotógrafos,
plantar simbolicamente uma muda. Escolas públicas e privadas, organizações
ambientais compreenderam a relação entre água e plantas, entre plantas e tempo
de crescimento. Sem água não há plantas. Sem plantas não teremos água. As
plantas são captadoras e infiltradoras de água da chuva e garantem a vida dos
mananciais de onde brotam as nascentes que formam os córregos que enchem os
reservatórios. A maior parte dos mananciais do DF está invadida e, mesmo com
boas chuvas os reservatórios recebem pouca água. Mais de 40 anos protegendo
nascentes e a participação no Programa ADOTE UMA NASCENTE me indicam que, ao redor
dos mananciais de onde elas brotam, se deve manter dois a três hectares de
vegetação nativa intocável. A recuperação de áreas degradadas pelo desmatamento
ou pela urbanização pode levar dez, vinte ou mais anos. As crianças que aprendem
a plantar árvores e respeitar os mananciais terão água no presente e no futuro.
Em março de 2010, no dia Mundial da Água, fui honrado com o primeiro Prêmio criado pela Adasa - GUARDIÃO DA ÁGUA - pelos benefícios da recuperação das nascentes da Biocomunidade Sítio das Neves.
terça-feira, 14 de novembro de 2017
EM 56 ANOS
Em 1957, ano da decisão do
presidente Juscelino Kubitscheck de construir Brasília, a população local era
de 12.700 almas, cerrado espeço, águas cristalinas.
No ano da inauguração, a população
já era de 141.720. Quarenta anos depois, no ano 2000, ultrapassamos os 2
milhões. Hoje, a população do DF é de 3 milhões e as cidades vizinhas colaboram
com mais 1,5 milhão de pessoas.
Quantos de nós conhecíamos o
ecossistema que iria nos acolher? Que ideia tínhamos do bioma Cerrado? O que
fizemos nesses 56 anos?
Construímos uma cidade para
morar, ser felizes, trabalhar, gerar filhos para a pátria. Avançamos sobre um
ecossistema desconhecido. Ignoramos as 11 mil espécies vegetais, com 60 milhões
de anos de experiência em guardar água da chuva para sobreviver aos seis meses
de seca. Em seu lugar cultivamos soja e trigo irrigados acompanhados de agroquímicos e emissão de gases de efeito estufa com intensa
modificação no ecossistema e no espaço geográfico da região.
O Cerrado abriga 5 por cento
da biodiversidade do planeta. Ignoramos
as mais de 800 espécies de aves e 200 tipos de mamíferos. Muitos dos que restam
estão ameaçados por caçadores, por condutores de automóveis insensíveis, pela
urbanização desregrada, pelas técnicas ainda primitivas de produção de
alimentos sem preservação dos ecossistemas que nos acolheram.
Destruímos mais de 60 por cento da vegetação.
Arrasamos mananciais que alimentavam centenas de nascentes, dezenas de córregos
e ribeirões, hoje agonizantes, mal chegam em nossos esgotados reservatórios.
Há 70 mil anos, ao sair da
África, a espécie humana ocupou a Europa e Ásia e mudou, com sua presença, a
ecologia do planeta. Há 12 mil anos, com a descoberta da domesticação de grãos
e animais milhões de hectares de florestas desapareceram. A população mundial
se expandiu graças a abundância de grãos, porcos, cabras, vacas, galinhas. E
mais e mais terras foram ocupadas para alimentar bilhões de humanos.
Em 56 seis anos, construímos
uma cidade-metrópole, capital da república, Patrimônio Urbanístico da
Humanidade, ocupamos o interior do país com todos os sotaques regionais. Elegemos
governadores, garantimos a democracia e a ineficiência administrativa na gestão
dos elementos essenciais à convivência, como a água, a saúde e o transporte
coletivo.
Nesses 56 anos, olhamos para
nosso umbigo antropocêntrico e descuidamos do ambiente no qual viverão nossos
netos e bisnetos. Os 56 anos pouco nos ensinaram sobre o bioma Cerrado, nem nos
acordaram para a variedade de ecossistemas e, de repente, despertamos sem água.
56 anos depois, é hora de
acordar a sociedade, comprometer o governo distrital, seus funcionários, a câmara
legislativa e mobilizar todos os que vieram ocupar este singular espaço do
Planalto Central, feito de silêncio, amplitude, beleza e um imenso céu
estrelado.
14.11.2017
segunda-feira, 6 de novembro de 2017
CONFUSÃO ENTRE RETIRAR E CAPTAR
(Foto, Eugênio Giovenardi: Biocomunidade Sítio das Neves)
CONFUSÃO ENTRE RETIRAR ÁGUA DE RESERVATÓRIOS E CAPTAR ÁGUAS DA CHUVA.
Dizem os administradores que estão captando água do Lago Paranoá, do
Bananal e, futuramente, do Corumbá para levá-la em maior volume à população. Retirar
é remover, tirar, deslocar
alguma coisa de um lugar e levá-la para outro. Captar é colher alguma coisa
para guardar e usar oportunamente.
O que se faz atualmente é retirar águas represadas de rios
e transferi-las às torneiras dos usuários. Ou seja, mais água na torneira e
menos água no reservatório. Retirar não é captar.
Confunde-se a tecnologia, desinforma-se e deseduca-se o cidadão. Captar
água da chuva é recolhê-la com técnicas simples, como a reflorestação, para aumentar
o estoque de água disponível nas raízes das árvores e nos mananciais que
alimentam nascentes e córregos. Ou com técnicas de engenharia para acumulá-la em
reservatórios e posterior distribuição à população. Com técnicas adequadas pode-se
captar água da chuva em prédios, em cisternas, em espaços de condomínios e telhados
de casas.
O uso alternativo da água da chuva reduz fortemente a pressão sobre os
aquíferos, nascentes, córregos e rios que alimentam os reservatórios. Um
edifício de seis andares com uma superfície de 2.400 m2
pode recolher 240.000 litros com uma precipitação de 100 mm na temporada chuvosa
(a média de chuva por temporada é de 1.600 mm), quantidade suficiente de água
para o uso alternativo. Alguns prédios, em Brasília, adotaram essa prática com
reservatórios de 60.000 litros para limpeza, irrigação e outros usos.
Captação da água da chuva é uma atividade essencial que pode levar anos
até os resultados serem considerados satisfatórios. Os administradores da água, com a colaboração de universidades, deveriam patrocinar estudos, promover incentivos financeiros e disseminar
práticas adequadas para criar um sistema de captação ampla de águas da chuva em
comunidades, no campo e na cidade. A captação inclui a preservação da vegetação
nativa de grande extensão em volta das nascentes. A vegetação do Cerrado tem 60
milhões de anos de experiência no ramo da captação, retenção e infiltração da
água das chuvas. Há algo errado nos céus da nação brasileira. Temos tecnologia,
temos engenheiros, temos dinheiro descendo pelos ralos abertos. Por que não
temos uma política pública para captação de águas da chuva?
Chuva é a principal fonte de água para dessedentar
seres vivos, reavivar nascentes, formar rios e alimentar reservatórios.
domingo, 5 de novembro de 2017
CONSUMIR MENOS ÁGUA
Eugênio Giovenardi
Para
Pedro Grigori
(Publicado no Correio Braziliense, 5.11.2017)
As chuvas, ainda que atrasadas e irregulares,
chegaram. Elas não irão aos reservatórios nem de repente, nem todas. As
primeiras chuvas escorrem sobre o chão ressequido, quente, impermeabilizado. Sobre
telhados sujos, empoeirados de fuligem de queimadas e da fumaça dos carros. Arrastam
lixo e terra para os córregos e lagos. Os reservatórios, no início das chuvas,
recebem água suja que descem das enxurradas, dos córregos, das sarjetas. À
medida que a chuva se espalha sobre uma área e o solo se umedece, com a
colaboração das plantas a água se infiltra lentamente até alcançar os
aquíferos. Quando a chuva é irregular ou pouco abundante, pode levar meses para
se infiltrar no solo e abastecer as reservas subterrâneas que se esgotaram pelo
contínuo uso durante o período seco. As áreas intensamente reflorestadas,
especialmente em volta de nascentes, captam mais rapidamente e guardam mais
água aumentando o curso dos rios. Por isso, é importante cuidar da vegetação. A
relação humana com a água não começa na torneira nem no reservatório. Ela se
inicia na proteção da vegetação nativa do olho d’água. A água não está sendo tratada como prioridade, nem pelo governo, nem
pela sociedade. Nem basta ser prioridade, tem que parecer prioridade. Medidas
urgentes: reduzir drasticamente o uso de água voluntariamente, ou por controles
administrativos, ou por racionamento generalizado. Captação da água da chuva é
uma atividade essencial que pode levar anos até os resultados serem
considerados satisfatórios. Estudos, incentivos, técnicas adequadas podem criar
um sistema de captação de água no âmbito da comunidade, do condomínio, do
prédio, da quadra, da rua. Ampliar a área de proteção de nascentes, captar água
da chuva não é para consumir mais e, sim, para tê-la suficiente ao consumo
diário de todos os seres vivos. Nas circunstâncias atuais, em Brasília, é
prudente preparar-se para a redução do consumo diário de água e para a
probabilidade de racionamento severo nos próximos anos.
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