sexta-feira, 31 de maio de 2019

ESPECIALISTAS EM ÁGUA


ESPECIALISTAS EM ÁGUA


Não sou especialista no tema água. Apenas acompanho há mais 40 anos, no DF, o movimento das águas que vêm de cima, das que correm na superfície e das que brotam de baixo. As informações que me auxiliam a compreender as águas são as mesmas que dão diplomas a biólogos, hidrólogos, engenheiros e outros especialistas.
As informações dadas à população por funcionários de órgãos públicos e da imprensa sobre água são incompletas por diferentes motivos: não se sabe o volume real de água dos reservatórios, os instrumentos de medição não são adequados, não há interesse em informar a real situação hídrica.
Os reservatórios estão cheios, dizem representantes de órgãos oficiais. A linguagem é matemática: 100%. Esses cem por cento são suficientes para, a longo prazo, abastecer a população?
A represa do Descoberto foi concebida para reter 103 km3 de água. Um km3 é igual a 1 bilhão de metros3 ou a um trilhão de litros. Então, algum profissional, sem medo de perder o diploma, pode dizer que 100% da Represa do Descoberto contêm hoje 103 trilhões de litros de água? A barragem pode estar cheia e não conter 103 trilhões de litros. Quem mediu o assoreamento da barragem?
Estamos contando com 100% do nível da barragem para abastecer a população do DF ou com 103 trilhões de litros de água? Quando a barragem chegou a 5%, deveria dispor de 5.150.000.000.000 de litros, volume que não decretaria o racionamento. Isto significa que os cinco por cento eram apenas um número matemático, sem base na realidade hídrica.
Com minha experiência, sem ser especialista em água, pela observação cotidiana das nascentes da Biocomunidade Sítio das Neves, durante 44 anos, posso informar qual é a vazão delas nos diferentes períodos do ano.
Os funcionários de órgãos públicos deveriam informar aos usuários sobre o volume real contido nas barragens que abastecem a população do DF e alertá-la constantemente sobre a irregularidade das chuvas, a redução do consumo em todas as áreas, em razão do aumento anual da população e da consequente diversidade do uso econômico e social da água. O consumo de água aumentará sem que se possa determinar qual será o volume de chuvas.
Não estaremos livres de racionamento, mesmo com a entrada das águas retiradas do lago Corumbá IV. O truque dos poços artesianos é praticado livremente para livrar-se da possibilidade de restrição no uso da água. Não há controle sobre a fácil perfuração de poços.
Muitas nascentes de água estão secando por excesso de sucção de águas subterrâneas que constituem a poupança hídrica limitada.
2019

segunda-feira, 27 de maio de 2019

IMPOSTOS E APOSENTADORIA


IMPOSTOS e APOSENTADORIA

Pago, por mês, em benefício do sr. Leonildo Lima, caseiro, R$ 406,00 ou, no ano, R$ 5.684,00. Em 30 anos de contribuições, o sr. Leonildo Lima terá um crédito de R$ 170.520,00 (sem as correções). Em princípio, ele teria com esse valor, transformado em salário mínimo atual, 14 anos de aposentadoria paga pelos anos trabalhados. Uma conta de poupança social remunerada em nome do sr. Leonildo, por trinta anos, pode garantir sua aposentadoria, sem prejuízo de outros ingressos eventuais.
Mas o que impede os representantes do povo a tomar decisões sociais é a cruel desigualdade salarial, imposta e aceita, que constrói nossa sociedade baseada em privilégios defendidos por leis desumanas.

segunda-feira, 20 de maio de 2019

cA VIDA SOCIAL DOS CIPÓS




CIPÓS


O cipó é um liame singular. Encantei-me com seu bom humor e seus trejeitos de se enroscar no corpo das árvores vizinhas. Passo bons momentos a olhá-los, examiná-los e emocionar-me com suas acrobacias. São fascinantes. Têm uma variada capacidade trópica para subir e descer, se enrolar, abrir braços e gavinhas. Atravessam córregos e ribeirões sem se afogar. Formam desenhos admiráveis. Quando os cipós atingem alturas de 20 a 30 metros, geram ramificações e descem ao solo para alimentar-se, aguar-se e reproduzir-se. Têm vida própria.
Os cipós andam em círculos buscando espaços no alto. Preferem as linhas curvas às retas. São seres livres na busca do infinito. Não escolhem ombro amigo. A planta que estiver por perto é abraçada e para sempre. Os cipós são amantes apaixonados. Sem a vizinhança eles não prosperam. A mata precisa deles. Eles precisam dela. São  gregários. Têm o sentido do abraço, da conjugação, da junção sem perder a identidade. Pelas cordas do cipó sobem as térmitas para construírem no alto suas casas.
Vejo abraços apertados de felicidade amorosa. Aventuram-se. Não temem a grossa árvore nem desprezam o jovem e ainda imberbe arbusto. Sua presença artística produz pinturas e esculturas que o Sol ilumina e o céu as emoldura no espaço.

terça-feira, 7 de maio de 2019

QUADRAS 500


SOBRE AS QUADRAS 500 DO SUDOESTE

COMENTÁRIOS ECOSSOCIOLÓGICOS (Eugênio Giovenardi)

POLÍTICA AMBIENTAL

Desde a aprovação do início do empreendimento, nesses espaço, prevê-se a instalação de 22 prédios residenciais, seis comerciais e um institucional com a agregação de  4.000 pessoas e 3.000 carros.
Área física a ser urbanizada (141.654 m2/ 14,160 ha). Qual será o impacto sobre o Parque das Sucupiras.
Pergunta inicial: o pretendido equilíbrio arquitetônico da cidade deve se opor ao equilíbrio ecológico e ambiental? A Brasília Revisitada de Lucio Costa completa 30 anos. Em 1989, ele manifestou seu consentimento em “urbanizar” aquela área que pertencia à Marinha. Teremos que pensara da mesma forma 30 anos depois?
A biodiversidade local será preservada com a ocupação de mais 4 mil pessoas e 3 mil carros? Um milhão de espécies da flora e da fauna, dizem 145 cientistas, baseados em 15 mil fontes, estão prestes a desaparecer do planeta. O homo sapiens não resistira à extinção, apesar da tecnologia que deixará, até 2030, 2 bilhões de desempregados.
A compensação requerida pelos órgãos ambientais produzirá e manterá o mesmo equilíbrio ambiental no mesmo espaço urbanizado? A densidade espacial se justifica nessa área?
Repito o que venho insistindo há anos: um novo olhar sobre a natureza é necessário e urgente.
Falo com experiência de 44 anos, mais de metade de minha vida, acompanhando a regeneração de uma área degradada de 70 hectares. A área das previstas Quadras 500 é área degradada que requer humanização sem fauna e flora?
É desconcertante que decisões de administradores da coisa pública demonstrem não conhecer nem compreender o bioma Cerrado. Uma coisa é administrar os bens da natureza, outra é administrar os bens do PIB.
Parecemos inimigos de áreas verdes originais. Queremos maquiar o Cerrado com penduricalhos. Buganvílias, florezinhas de canteiros, são lindas, mas não terão a função natural de recompor o ambiente climático. Elas podem agregar beleza, mas não substituem o funcionamento de infiltração da vegetação nativa..
Uma área de vegetação nativa que combina gramíneas, arbustos e árvores pode deter até 70% da chuva, controla a umidade, facilita a infiltração e a recarga de aquíferos canalizando as águas aos córregos.
Uma área impermeabilizada não detém aguaceiros. Ao contrário, se transforma em rio que inunda prédios, matam pessoas e animais, canaliza ou desvia o curso dos ventos que derrubam árvores,
Processo de regeneração será extinto com a ocupação do espaço urbano. A regeneração de uma área requer anos e décadas soterrados por avenidas, estacionamentos, prédios e lixo.

 

POLÍTICA POPULACIONAL


Qual o escopo de um governo? Satisfazer necessidades essenciais de toda a população. Moradia é uma delas.
A população cresce no DF em 40 mil novos habitantes/ano.
O déficit habitacional estimado, por diferentes instituições, está entre 117 mil a 125 mil. Os 22 prédios do Sudoeste não reduzirão o déficit habitacional do DF. Ao contrário, vai-se aumentar o número de apartamentos vazios. Uma afronta à população.
A que classe de renda pertencem os 2.500 novos moradores previstos para os 22 prédios do Sudoeste? As 830 famílias pressionarão o aumento do consumo de água em 207.500 l/dia ou 207 m3.
A previsão de mais 3.000 carros em circulação significa ocupação permanente e exclusiva de uma área de 18.000 m2.
Qual o local de trabalho dos futuros ocupantes do Sudoeste? 
O que falta nessas discussões é o ingrediente transparência. Trata-se de mercado imobiliário de oferta de moradia a quem tem dinheiro para comprar ou os futuros moradores já foram incluídos no rol dos que precisam casa a preços justos?
Quantos desses apartamentos ficarão vazios?
Por que não oferecer moradias decentes onde os demandantes podem adquirir? Onde é possível construir para atender a faixa salarial? Por que não Pôr do Sol, Samambaia, Sol Nascente, Sobradinho, Recanto das Emas e outros lugares, transformando-os em parques saudáveis.
Então, quem é a demanda? A demanda deve ter nome e identificação. A procura habitacional dos sem-teto está dirigida para quais áreas? Onde estão eles? Quais são os espaços disponíveis para essa demanda? Qual é o impacto sobre o bioma?
Qual é o acervo de vegetação nativa e fauna residente? Ibram e Construtoras sabem? A Lei do Zoneamento Econômico-Ecológico está sendo respeitada? Os 22 prédios do Sudoeste atendem a essa demanda?
O número de trabalhadoras domésticas e diaristas, no DF, se aproxima de 90 mil e mais de 40 mil vêm diariamente trabalhar no Plano Piloto. Por que não reservar para elas o SUDOESTE? Elas sabem usar transporte público. Certamente, a discriminação social impede de se pensar em fatos óbvios.
O mercado imobiliário está distante de quem realmente necessita.
Estamos administrando as necessidades da população ou simplesmente prestamos adoração ao deus PIB?

POLÍTICA HABITACIONAL


A taxa de crescimento populacional se reduzirá na camada rica da população. Na periferia das cidades a taxa continuará maior. A média de crescimento da população é usada para encobrir interesses econômicos.
Em 2030, segundo a Codeplan, o impacto da faixa etária jovem na população cairá de 24% a 17%, enquanto os idosos representarão 16% da população. Há que se pensar, então, em abrigos, casas de repouso terminal para atender humanamente os velhos. O Sudoeste poderá ser uma área estratégica alternativa para a população que envelhece. Será mais fácil visitar pais, avós, parentes em locais adequados a pessoas necessitadas de apoio.
Uma das alternativas, além de outras já mencionadas, será deixar a área das quadras 500 do Sudoeste como área verde, pulmão urbano, um parque silencioso para pensar.
Finalmente, a conversão de áreas rurais em urbanas é uma afronta imperdoável contra o Cerrado. Até hoje, o Pdot não controlou a ocupação de áreas de proteção ambiental.

CAPTAÇÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS

I. Áreas cobertas de vegetação integrada – árvores e gramíneas – de 10.000 m2, frente a uma precipitação de 30 mm (30 litros por m2 ),  podem captar até 70% desse volume ou 21 mm (21 litros por m2 ), ou 210.000 litros, em 30 minutos (7.000 l/minuto).
Resultado: A vegetação detém a água, controla o fluxo, infiltra.

II. Uma área impermeabilizada de 10.000 m2 (5.000m x 2m), diante de mesmo volume de 30mm (30 litros m2 ), recebe diretamente 300.000 litros em 30 minutos (10.000 l/minuto).
Resultado: O asfalto não detém a água, arrasta lixo aos córregos, rios e lagos, arranca árvores e sem esgotamento eficiente inunda cidades.