terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

PAÍS EMERGENTE I

O Banco Mundial, auxiliado por organismos da ONU, para não humilhar os países denominados francamente atrasados em aspectos essenciais como educação, saúde, comunicação, tecnologias, indústria e comércio, deram-lhes outras classificações: Terceiro Mundo, Subdesenvolvidos, Em Via de Desenvolvimento e, agora, Emergentes., candidatos às primeiras potências.
Visitei a Noruega, há poucos anos, percorrendo-a de norte a sul, em ônibus e trens confortáveis e pontuais, Não há primeira classe nos trens da Noruega. O Rei e o súdito têm os mesmos direitos ao conforto e à pontualidade. Aquelas montanhas com picos nevados olhando para fiordes belíssimos, não são fáceis de tratar. Perdi o número e o comprimento dos túneis abertos na rocha que ônibus e trens enfrentam durante as horas de travessia do país. Para qualquer lado que olhasse, a Noruega parecia-me uma casa terminada, com móveis por dentro e jardins por fora. Tudo parecia ter sido pensado, planejado e executado ou em execução com firme decisão de terminar. Cito apenas um serviço entre as dezenas que se necessitam e se usam constantemente num país. É um detalhe dos tantos que fazem parte do que se denomina a torto e a direito “qualidade de vida”. Em todas as estações de ônibus e trens, as escadas para uso dos passageiros foram substituídas por rampas a fim de facilitar o trânsito de crianças, mulheres, idosos, deficientes físicos e o deslocamento de bagagens.
Um país que emerge das profundezas obscuras da política, da economia, das normas jurídicas, não sabe se mostra as raízes silenciosas de seu povo ou a cabeleira desgrenhada de quem desperta sobressaltado de um sonho provocador. Ora expõe um braço pedindo socorro, ora o nariz para respirar as brisas que sopram de todos os quadrantes. A luz o fascina e ofusca, percebe mal o mundo exterior que se agita sobre sua cabeça. O mar em que flutua o mantém semi-submerso. Debate-se enfrentando ondas que suas forças ainda insuficientes não lhe permitem grandes avanços Um país emergente é um corpo indefinido, inacabado, não consegue mostrar-se por inteiro. Difícil adivinha se surgirá um monstro, um fauno, um Adônis ou um Davi. Precisa de um escultor que lhe defina os traços.
Num oceano coalhado de monstros, uns velhos e experientes, outros jovens e afoitos, um novo ente político pode ter a sorte ou o destino de agarrar-se a um deles, subsistir e até dominá-los. Ou permanecer indefinidamente a meio corpo, inacabado, com uma das partes submersa e invisível. Ou submergir à espera de escafandros que lhe deem em doses homeopáticas as pequenas pílulas da sobrevivência.

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