sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

ÉPOCA FÉRTIL

Os últimos anos da política brasileira têm sido férteis de motivos e temas. Tão abundantes que as canetas, os computadores e jornais, revistas e canais de TV não têm tempo de recolhê-los à medida que aparecem. Uma safra de escândalos, de mentiras ditas como verdades, de bravatas, palavras chulas em eventos públicos, estatísticas manipuladas, crises escondidas sob um rosário de regalias não deu descanso a analistas, jornalistas, cronistas, chargistas de todos os matizes. Tudo isso se soma ao farto noticiário de país do terceiro mundo, milhares de mortes no trânsito, assassinatos e carnificinas nas favelas, desaparecimentos e roubos em série.
Houve época em que os dias corriam chatíssimos. Raras notícias, tempos sisudos, silêncios longos e, de repente, um escândalo grosso, um desvio monumental de dinheiro público escorrendo do INSS, da Receita Federal, do Banestado. Levava-se meses digerindo essa mesma feijoada, rançosa, enjoativa, até esquecida por falta de interesse e apetite.
Hoje, não é assim, como lembra Pedro de Montemor. Mensalões de todos os ideários políticos atacaram as esquerdas mais severas, ideológicas e revolucionárias. Mancharam os sisudos representantes do centro equilibrista e os moralistas impolutos e verticais da direita.
Nosso Presidente é o condutor dessa orquestra de bumbos, trombones, pratos e trombetas. De um estrado aéreo, movimenta as platéias de Porto Alegre, do Vale do Jequitinhonha, do Cariri e do Cazaquistão, auxiliado pela viradora de páginas às vezes confundida com o pianista.
É uma época fértil de mentiras, de blefes, de explicações sibilinas, de distinções maquiavélicas na constante tentativa de justificar erros como se fossem acertos premeditados. Há uma compulsão para a mentira que nasce da prática da negociação em que os negociadores mentem para chegar a um acordo. Mente-se na apresentação de números, escondendo parte deles. Mente-se nos dados do currículo profissional, na informação de obras programadas, no montante do dinheiro aplicado, confundindo-o propositalmente com o deferido. E a safra de anedotas continua sob um tempo favorável, enchendo ruas, estradas, portos, aeroportos, centros comerciais, jornais, revistas, TV.
Alhos e bugalhos entopem os celeiros mentais do eleitorado nacional. Não há que estranhar se estamos comendo gato por lebre,, sapo por rã e caviar de bagre. Somos uma sociedade mentalmente obesa à força de engolir sofisticadas receitas de pratos caros e malcozidos.
Depois de voltar de um périplo por países de cozinhas exóticas, o chefe do restaurante Bodinho de Ouro, farto de tantas iguarias de nomes esquisitos, desejou ardentemente voltar ao prato de feijão e arroz com salada de tomate e sabor de culinária verdadeira.

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