quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

CHUVAS DE NOVEMBRO ANOS 2012 a 2022–

Em milímetros ─ 1 mm = 1 litro/m2

ANOS      MÊS ▬       TOTAL ANO/ MM

2012 −     278.3                   ******

2013 –     304.4                    2.255,6

2014 –     199.2                    1.677,5

2015 –      178.5                   1.642,7

2016 -       276.1                   1.921,7

2017         359.3                   1.478,7

2018 –      462.9                   1.760.5

2019 –      163.3                   1.069.3

2020 –      192.2                   1.787,8

2021 –      332.5                   1.710.8

2022 –      190.9                      943.3 (neste ano)

 

Aos que seguem o movimento das águas pluviais durante o ano, ofereço os dados pluviométricos do mês de NOVEMBRO dos últimos 11 anos. Volumes coletados pelo pluviômetro situado no Sítio das Neves pela Agencia Nacional de Aguas refletem a situação pluviométrica de parte da Bacia do Descoberto e Micro Bacia do Ribeirão das Lajes, DF. No Sítio das Neves, a vegetação e as nascentes mantêm boa umidade do solo e do ar. O acumulado dos ONZE meses de 2022 é de 943,3 mm, contra 1.381,6 mm do mesmo período em 2021, isto é, 438,3 litros (mm) a menos por metro quadrado. A média de chuvas mensais, nos ONZE anos registrados, foi de 262 mm. Como se observa no quadro, apenas em 5 anos houve precipitação mensal maior que a média. A média anual das precipitações dos nove anos (2013/2021) foi de 1.700 mm. Coincidentemente, só em cinco anos o volume de chuvas superou a média. O DF depende da irregularidade das chuvas.

O período de estiagem de 2022 mostrou que a secura do solo está aumentando, os aquíferos subterrâneos se aprofundaram e a vazão das nascentes foi menor, deixando os reservatórios abaixo do esperado.  Frio intenso, ventos constantes e Sol de dez horas comprometem o funcionamento normal das vias respiratórias, agravado pela fumaça e fuligem de milhares de queimadas registradas no Centro-Oeste e outros Estados da Federação.

Os ecossistemas que mantêm vegetação densa resistem melhor às variações do tempo e às severas mudanças climáticas. A preservação das nascentes e o incentivo ao florestamento são ações prioritárias para a regeneração dos ecossistemas. Os 70 ha do Sítio das Neves, há mais de 20 anos, não emitem carbono de efeito estufa. As árvores estão felizes e emitem felicidade a quem as respeita.

ESTÁ EM ESTUDO, NO IBRAM, PARA APROVAÇÃO, A PROPOSTA DE CONCESSÃO DE CERTIFICADO DE RPPN (RESERVA PARTICULAR DE PATRIMÔNIO NATURAL) OU SERVIDÃO AMBIENTAL, AO SÍTIO DAS NEVES, 70 HECTARES, COMO ÁREA NÃO CONSTRUENDA, PARA MELHORAR A SAÚDE DO CERRADO DO DISTRITO FEDERAL.

 

  

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

O DEUS EGÍPCIO

 

O DEUS EGÍPCIO

 

Os egípcios, há muitos mil anos,

Deram à divindade imaginária

Um nome único: ÁGUA!

Deus é água da fonte e da nuvem.

É na água que se origina a vida.

É ela que sustenta a vida.

É ela que assegura a sobrevivência,

A reprodução de todas as espécies vivas.

O deus Água escolheu as árvores

Para garantirem a perenidade dele.

As árvores abrigam sob o manto virginal

A divindade. O deus Água está em todos,

Em tudo e em todo lugar.

O deus Água é o criador e o protetor da vida.

As blasfêmias ecológicas contra essa divindade

São punidas com fome e sede,

Com endemias, epidemias e pandemias.

Só restam as árvores para nos livrar

Das penas e da morte prematura.

As árvores adoram o deus Água.

As árvores e a água são o lado feminino

Da regeneração universal do planeta Terra.

 

30.11.2022

 

terça-feira, 22 de novembro de 2022

UM DESERTO É RESULTADO DE AÇÕES ORQUESTRADAS E INTERDEPENDENTES

 UM DESERTO É RESULTADO DE AÇÕES

ORQUESTRADAS E INTERDEPENDENTES

 

Eugênio Giovenardi,

Ecossociólogo, escritor

 

A alteração drástica e prolongada de um espaço físico, de um bioma e seus ecossistemas, com intervenção múltipla da espécie humana, descontrola o funcionamento regular das leis físicas. Redireciona o caminho dos ventos, modifica o regime de chuvas. Elevam-se ou reduzem-se as temperaturas. Tornados e tempestades inclementes assolam florestas e cidades nos 5 Continentes.

É acertado dizer que a insegurança climática afeta o comportamento natural de toda a biodiversidade. Os seres humanos e não humanos se defrontam com limitações biológicas, genéticas e orgânicas. Todas as formas de vida, atacadas por bactérias e vírus, tentam adaptar-se às debilitadas condições da natureza para reconquistar a continuidade da vida e a regeneração da biodiversidade, que é imprescindível à reprodução das espécies.

Os eventos internacionais promovidos pela Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (Conference of de parties – COP) alertam sobre os riscos letais do aquecimento global para a biodiversidade e, em especial, para a espécie humana. “Caminhamos aceleradamente para o suicídio coletivo”, afirmou Antonio Guterres, Secretário Geral da ONU. Anualmente, na Conferência do clima, em razão do aquecimento do planeta, mencionam-se, reiteradamente, as consequências do efeito estufa. São elas:

- Derretimento de grandes massas de gelo das regiões polares, resultando em aumento do nível do mar, atingindo cidades e ilhas, forçando a migração de seus habitantes.

- Fenômenos físicos extremos como inundações, tempestades e furacões.

- Redução da biodiversidade com extinção de espécies vegetais e animais.

- Desertificação de extensas áreas comprometendo o funcionamento natural de biomas e ecossistemas.

-  Episódios mais e mais frequentes de secas em muitas regiões do planeta.

- Áreas de produção de alimentos, severamente afetadas, resultam no desabastecimento de bens a mais da metade da população mundial.

 

Múltiplas peças interdependentes de um sistema, movidas no tabuleiro de um espaço geográfico pela energia da espécie humana, ao longo de séculos, podem produzir um deserto inabitável, como por exemplo, do Saara. Entre as principais ações antropogênicas, executadas há alguns milhares de anos e agravadas nos últimos 200 anos, destacam-se: o desmatamento seletivo para uso da madeira em construção de casas e feitura de móveis; o desflorestamento arrasador para produção de alimentos, assentamentos humanos e suas adaptações para não humanos;  a destruição de mananciais e consequente eliminação de córregos; a drenagem de pântanos, utilização extrema de água de lagos, alteração do curso de rios; o represamento de águas para abastecimento humano e geração de energia elétrica; as queimadas indiscriminadas de florestas; as terraplanagens para rodovias e cidades; a impermeabilização de grandes áreas urbanas e  abertura de vias superficiais e elevadas, que favorecem o escoamento de águas pluviais, causam assoreamento de rios e impedem a infiltração e a percolação hídrica, necessárias à recarga dos aquíferos subterrâneos.

A diversidade do uso do solo e dos elementos físicos, requeridos para a execução de atividades referentes à sobrevivência e reprodução, em razão do crescimento numérico da população, impulsiona a espécie humana a ocupar todos os espaços úteis do planeta. O controle dos meios de produção está distante de alcançar o grau de solidariedade que propicie bem-estar a toda a população de 8 bilhões de humanos. As decisões administrativas e econômicas estão concentradas em poucos centros decisórios de acumulação de bens, em âmbito nacional e internacional, estruturalmente inadequados para oferecer serviços de sobrevivência digna a grandes populações. 

A terra e o solo, as águas superficiais e subterrâneas, o ar que humanos e não humanos respiram, estão contaminados e disseminam doenças nem sempre possíveis e factíveis de serem tratadas em hospitais disponíveis. A queima de combustíveis poluentes e a devastação de três quartos da área emersa do planeta somam-se às mudanças físicas naturais do clima planetário.

A desertificação sistêmica do planeta se produz com fatos inter-relacionados, provocados por fenômenos físicos incontroláveis e/ou por atividades concebidas, desejadas e executadas pela espécie humana. Nem todos os benefícios das inovações humanas são socializados com o mesmo ímpeto dos malefícios. A desertificação se torna incontrolável quando se associam ações humanas intensas, indiscriminadas e fenômenos físicos provocados ou naturais.

As consequências mais gritantes se manifestam em três cenários: aumento do número de humanos e não humanos com deficiência alimentar e privados de serviços sanitários; difícil acesso universal à água potável; intenso trafego de populações migrantes em busca de ambiente social de sobrevivência. Estes cenários não são apenas uma equação de inequidade das decisões políticas, mas também, se referem aos obstáculos reais de administrar a sobrevivência pacífica de bilhões de humanos e outros bilhões de não humanos. A interação e a interdependência de todos os seres vivos são características   estruturais e funcionais que garantem a preservação da biodiversidade num planeta limitado.

A população mundial, conforme informações da “World Population Prospects 2022” (ONU), é de 8 bilhões de pessoas (e outros tantos bilhões de bovinos, porcinos, ovinos, caprinos, equinos, caninos, felinos, galináceos etc.) para habitar um planeta devastado. Segundo o citado relatório da ONU, um décimo da população mundial (800 milhões), em áreas rurais e urbanas, sobrevive em estado de fome crônica ou morre prematuramente e a metade dos 8 bilhões de pessoas é mal alimentada em razão da dificuldade de acesso aos benefícios que privilegiam a outra metade. Conclui-se que os responsáveis diretos pela desertificação do planeta são os 4 bilhões que desfrutam diariamente das riquezas acumuladas.

Não é, portanto, uma simples equação de inequidade das políticas intra-humanas de produção e repartição de bens. É um sistema de ocupação do espaço geográfico do planeta comandado pela espécie humana, segundo seus interesses, necessidades, intenções e exercício de poder que, a longo prazo, conflita e colide com as leis físicas do universo. Consciente ou inconscientemente, a espécie humana cria e determina as condições de sua extinção. Sua capacidade técnica e tecnológica, por mais avançada que possa parecer, é freada pelos limites de opções disponíveis nas prateleiras do planeta.

A desertificação de um espaço geográfico pode acontecer em poucos anos. Mas a regeneração biológica dos ecossistemas, que propícia à recomposição de parte da biodiversidade, pode demandar dezenas ou centenas de anos para repor as condições favoráveis à presença de vidas interativas e interdependentes. Diante de um deserto concretizado, os seres vivos humanos e não humanos se defrontam com opções drásticas ─ migrar para outro espaço geográfico ou reduzir o número de ocupantes de áreas habitáveis.

É razoável e necessário, pois, diante das circunstâncias climáticas que afetam a biodiversidade no planeta, observar o princípio da precaução para orientar criteriosamente a reprodução da espécie humana. A alegria de viver e a confraternização social das pessoas e dos povos dependem da coparticipação no usufruto dos bens limitados do planeta. O princípio da precaução indica a possibilidade imediata de propiciar ao novo ser as condições físicas e humanas de dignidade requeridas pelo milagre da vida.

 

Para o Cerrado e, especificamente, para o território do Distrito Federal, as consequências diretas já estão percebidas, analisadas e sentidas ─ aprofundamento das águas superficiais e redução do afloramento de olhos d’água, morte de nascentes e córregos de ligação com rios receptores. Na ocupação crescente de áreas rurais e na periferia da Cidade-Parque proliferaram poços artesianos para usos múltiplos da água aos proprietários. A Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa) detectou 1.015 poços artesianos irregulares na Bacia do Rio Descoberto. Com o tempo, secam-se os lagos interiores e restam caixas de água vazias. A irregularidade das chuvas se junta às demais condições de insegurança climática.

O Cerrado, o território do Distrito Federal e a população de 4 milhões de cidadãos, há algumas décadas, dependem das águas da chuva para reabastecer temporariamente os reservatórios semivazios. As condições, já constatadas e anunciadas de desertificação do Cerrado e de redução do fluxo dos mananciais, são alimentadas simultaneamente por atitudes e comportamentos lenientes da administração dos ecossistemas e de grande parte da população.

As propostas sensatas para redirecionar o sistema de ocupação do solo e administração inteligente das riquezas naturais do bioma Cerrado, um dos mais diversificados do planeta, ainda não comoveram nem comprometeram os centros de decisão a adotar o princípio da precaução no uso prudente dos bens naturais e na construção de um convívio satisfatório de interação e interdependência de todos os seres vivos da natureza.

 

 

15.11.2022

 

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

EGITO ─ COP27 ─ 2022

 

EGITO ─ COP27 ─ 2022

 

O que ouviremos durante a Conferência do Clima no Egito:

·       Altas temperaturas dos últimos 8 anos e degradação florestal, por duas grandes razões: produção de alimentos e urbanização, ambos forçando a queima de combustível fóssil.

·       Alto consumo de combustível fóssil e de produtos industrializados.

·       Lixo e agrotóxicos cobrindo grandes áreas do solo, do ar e das águas.

·       O crescimento econômico não será afetado pelas decisões ecológicas. A concentração de riqueza e de poder financeiro não sairá das mãos atuais.

·       Não haverá discussão sobre o contínuo aumento da população mundial, fator ativo que empurra ao extremo o uso dos bens do planeta, para sobrevivência e reprodução da espécie humana. Só planos ecológicos, sem mudança inteligente do modelo econômico atual, não bastam.

·       A COP/27 está diante de um dilema: a) preservar o crescimento econômico globalizado com algum eufemismo; b) garantir a dignidade da vida humana e não humana do planeta (biodiversidade) observando a sabedoria do princípio da precaução.

·      O que podem decidir os participantes da COP27 diante de uma guerra ecológica tridimensional operada por dementes da espécie humana?

BRAS'ILIA, UM DESERTO EM DUAS DÉCADAS

 

BRAS'ILIA, UM DESERTO EM DUAS DÉCADAS

 

Há 60 anos as nascentes do Distrito Federal eram suficientes para abastecer a população, então existente, de 12.000 pessoas. Nestas últimas seis décadas se ampliaram reservatórios, buscaram-se águas a mais de 100 km e não são suficientes para manter um clima saudável para os 4 milhões de pessoas que ocupam, hoje, o degradado ecossistema.

Há pelo menos dez anos, Brasília depende das águas da chuva para irrigar o cerrado desertificado. Brasília não será inundada como as ilhas Tuvalu do Pacífico. Mas terá as características de um deserto em 30 anos. Estudos atuais, com o fracasso da COP26, estimam que o planeta está caminhando célere para um aquecimento catastrófico que intensificará o número de refugiados do clima.

Minha neta, daqui a três décadas, terá apenas 53 anos e testemunhará o fato de estarem semivazios nossos reservatórios.  Verá a triste fuga de milhares de brasilienses do deserto que se tornará a cidade-parque, Patrimônio Cultural da Humanidade.  

A tradicional política administrativa do DF se concentra na urbanização física da cidade e descura da interação e interdependência dos seres humanos e não humanos deste ecossistema sensitivo que abriga a mais rica biodiversidade do planeta.

 

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

ADVERSIDADES DO REFLORESTAMENTO

 

ADVERSIDADES DO REFLORESTAMENTO

 

 

Uma análise ecossociológica de relações possíveis entre comportamento de plantas introduzidas em ecossistemas degradados e vegetação nativa remanescente.

 

Três quartos da área emersa do planeta estão desflorestados. Os sinais se manifestam pelo aquecimento global, pela emissão de carbono de efeito estufa. As Conferências sobre Mudanças Climáticas (COP’s) se repetem anualmente e medidas são ensaiadas em todos os países do globo. O grito revolucionário do século XXI não é para derrubar presidentes de repúblicas. É para proteger o que resta de florestas e plantar árvores para reavivar a regeneração de ecossistemas ao longo e largo do planeta.

O reflorestamento de áreas degradadas por fenômenos naturais ou pelo uso inadequado do solo para agricultura ou bovinocultura é uma forma de contribuir ao esforço natural da regeneração de um ecossistema. O processo de regeneração é uma atividade natural dos ecossistemas, sem necessidade de intervenção externa programada. O tempo da regeneração natural ou sistêmica depende da gravidade da degradação e do comportamento histórico da vegetação original. A semeadura de sementes variadas, próprias dos ecossistemas, é uma das medidas que podem, ao longo do tempo, recuperar um habitat devastado. Vários agentes semeadores, além de pessoas ─ aves, roedores, vento ─, podem promover e ativar a regeneração de uma área devastada.

Outra forma de apoio à recuperação de terras cansadas é o transplante de mudas preparadas em ambientes artificiais e levadas a um novo solo. Esta modalidade de reflorestamento é estimulada por organismos públicos e organizações não governamentais. Milhões de mudas foram transplantadas com relativo sucesso e transformaram áreas devastadas pela agricultura ou bovinocultura em florestas artificiais. Reabilitaram parcialmente o habitat de antigos habitantes que voltam para se readaptarem ao novo ambiente de sobrevivência.

Têm-se observado em áreas de reflorestamento com espécies nativas e/ou alienígenas dois resultados distintos. O plantio de eucaliptos e pinos para uso comercial e industrial cobriram áreas contínuas, auxiliaram na retenção parcial de águas pluviais, sombrearam o terreno, mas o esterilizaram atraindo pouca diversidade de vidas que nessas terras virgens viviam. Esse tipo de reflorestamento altera o ecossistema original. Os benefícios podem ser econômicos, mas não essencialmente ecológicos.

O plantio de mudas diversificadas, nativas ou alienígenas, enfrenta algumas adversidades e nem sempre responde às expectativas dos reflorestadores quanto ao desenvolvimento das plantas e ao tempo de adaptação delas ao novo lar. A preparação de mudas se dá em ambiente artificial, previamente preparado, com técnicas de adubação e controle das condições ambientais favoráveis ao crescimento. O solo degradado que vai receber essas mudas bem alimentadas não apresenta as mesmas condições do ambiente artificial. O oferecimento de água e de nutrientes às mudas transplantadas não se repetirá com a mesma regularidade e intensidade nos novos procedimentos.

As mudas replantadas se ressentem das condições de que gozavam no berçário da estufa. Nasceram e prosperaram, durante meses, socialmente integradas na comunidade artificial. Com o transplante são individualizadas e separadas do convívio vegetal em que se desenvolveram. Seus vizinhos são desconhecidos e nem sempre dispostos ao diálogo vegetal.  A hostilidade invisível do solo, a presença de outros componentes da biodiversidade, como predadores vegetais (arbustos mais competitivos) e animais (formigas, cupins, roedores) podem dificultar o desenvolvimento dos novos habitantes. O controle dessas adversidades, quando a extensão da área é grande, se torna difícil e o tempo da regeneração e da integração de novos habitantes vegetais nem sempre é previsível. Agro é paciência e constância.

A adaptação das mudas ao novo solo, às características vegetais estabelecidas do ambiente desconhecido, às condições diferentes do clima vigente na área degradada, exigirá delas o consumo diário de energias acumuladas durante a primeira fase de crescimento. A sociabilidade compartilhada no viveiro se reduz à individualidade despida e solitária diante de inumeráveis vizinhos desconhecidos. As reações mais enérgicas da muda transplantada são gastas para sobreviver com alimentos diversificados que as raízes possam achar em sua nova aventura subterrânea.

As facilidades anteriores para transformar os ingredientes brutos em açúcares, graças à água oportuna e adequada então recebida, já não existem nas mesmas proporções e horários. O ecossistema artificial socializado se rompe para jovens plantas que enfrentam outro ecossistema, onde a luta pela sobrevivência é individualizada. A resistência do ambiente para recompor as condições ecossistêmicas anteriores à degradação se prolonga por anos ou décadas. O tempo da natureza não é o tempo de horário marcado. As adversidades que atingem as novas habitantes se agravam em face da competição vegetal, pois todas as plantas comem na mesma mesa armada com iguarias dispersas e em estado bruto. Este conflito vegetal entre os habitantes alienígenas transplantados e a organização do ambiente estabelecido pode se prolongar no tempo e até levá-los ao definhamento.

A aceitação ou rejeição às imigrantes inexperientes, manifestadas pela vegetação estabelecida e experiente, são comportamentos que exigem do transplantador percepção e cuidados, conhecimento e assistência, para integrar as novas plantas à organização social e vegetal do ecossistema alterado. A regeneração espontânea de um ecossistema é uma função orgânica estrutural permanente. Qualquer intervenção de caráter auxiliar há de colaborar com as energias do processo natural da auto-organização do ecossistema.

Um plano técnico de plantio impositivo rompe e altera a estrutura de relacionamento de um ecossistema em curso há milhares de anos. Um ecossistema pode ter sido alterado por diferentes fenômenos ou intervenções ─ desmatamento, queimadas, métodos de produção inadequados. É prudente, ao traçar um plano de reflorestamento, conhecer a história do ecossistema degradado. Este ecossistema está vivo e vem continuamente tomando medidas orgânicas para se recompor lentamente e dar guarida à biodiversidade que reflete sua identidade local e regional.

Há um diálogo silencioso e constante, no ecossistema, entre a experiência da comunidade arbórea estabelecida e a inexperiência das individualidades introduzidas, ainda infantes, abandonadas à própria sorte. O tempo será lento para a restauração do ecossistema. Os humores climáticos ao longo dos dias e das estações se revelam durante os períodos diurnos e noturnos. Dependem dos ventos e das chuvas e não têm compromissos com os planos humanos de intervenção utilitária nos ecossistemas para satisfazer necessidades e interesses econômicos. A espécie sapiente é a parte populacional menor da biodiversidade, mas importante nos resultados de suas ações e interações com o ecossistema.

Um dos aspectos determinantes do comportamento humano, no âmbito da biodiversidade, se refere ao conceito de sujeito e objeto. A interação e a interdependência dos seres vivos refletem a linha existencial que une os sujeitos e determinam sua sobrevivência e reprodução. Todos os seres vivos têm identidade. São sujeitos pertencentes a um ecossistema e não podem ser tratados como simples objetos pela espécie humana. A interação e a interdependência fazem parte do princípio da precaução que orienta inteligentemente as relações da espécie humana com todos os componentes da biodiversidade. 

O princípio da precaução é um princípio moral e político que determina que se uma ação pode originar um dano irreversível público ou ambiental, na ausência de consenso cientifico irrefutável, o ônus da prova encontra-se do lado de quem pretende praticar o ato ou ação que pode vir a causar o dano. (O princípio da precaução no Direito Ambiental)

 

terça-feira, 25 de outubro de 2022

UMA POPULAÇÃO DOENTE NAS CIDADES COMPROVADA PELA MATEMÁTICA

 

UMA POPULAÇÃO DOENTE NAS CIDADES

COMPROVADA PELA MATEMÁTICA

 

Hospitais lotados, SUS a meio vapor, farmácias repletas, remédios caros, um milhão e meio de carros e milhares de motos circulando diariamente pelas ruas, máquinas movidas a combustível fóssil (motosserras, roçadeiras), lixo amontoado nas quadras por meses, inseticidas poderosos contra mosquitos, baratas e escorpiões, dedetização obrigatória, detergentes disseminados em milhões de residências e banheiros, esgotos de limpeza a céu aberto, comida escassa, pedintes nas portas de supermercados, semáforos e esquinas. Qual é a razão de tanto sofrimento que poderia ser amenizado? Uma folha de árvore pode explicar e mostrar aos formuladores de políticas públicas uma fórmula ecológica de atenção à população e de respeito à biodiversidade de nossos ecossistemas.

Caminhando pela Quadra 407 Sul, Brasília, DF, colhi uma folha de mangueira, examinei-a com atenção e percebi uma lâmina de poeira que a cobria em toda sua extensão. Claro, concluí! As folhas das árvores recolhem o lixo do ar que respiramos. Compreendi o aviso das folhas das árvores e nele o serviço gratuito que elas nos prestam. Por que, então, podamos milhares de galhos e abatemos milhões de folhas de nossas árvores? Pensei na matemática e recorri a uma professora especializada em cálculos, pela UnB, Luiza Giovenardi, 24 anos.

Enviei-lhe foto da folha colhida (anexa a este texto). Reduzida a um quadrado, a folha examinada tem 87 cm². Examinando o quadrado de 87 cm, cada lado teria 9,33 cm, ou seja 93,3 mm. A espessura da poeira tóxica sobre a folha foi estimada em 0,01mm. O volume total do pó retido na folha será o resultado da multiplicação ─ comprimento × largura × espessura ─. Ou seja:  93,3mm × 93,3mm × 0,01mm = 87 mm³. O volume de pó retido na folha examinada seria de aproximadamente 87 mm³. Mil milímetros cúbicos é igual a um mililitro ou um milésimo de quilo. A folha examinada teria 0,087 mililitros de poeira. Mil folhas conteria 87 mililitros de poeira. Um milhão de folhas acumularia 87 litros ou quilos de poeira tóxica retirada do ar.

Como os podadores oficiais (Novacap) não contam as folhas que abatem com os galhos e não percebem que estão limitando a regeneração da árvore, ignora-se qual é o real efeito maléfico dessa atividade destruidora no ar que respiramos. As árvores são garis da natureza manifestando sua sociabilidade gratuita. Há que lembrar aos interventores oficiais da comunidade arbórea que um metro cúbico de madeira decepada das árvores contém um metro cúbico de água retirada do ambiente e do ar, agravando a baixa umidade. Retirar cem metros cúbicos de madeira das árvores significa eliminar cem metros cúbicos ou cem mil litros de água do ar aumentando o grau de toxicidade para humanos e não humanos. A derrubada de milhões de folhas verdes, pela prática da poda, elimina outro serviço gratuito essencial do ecossistema, o de reter parte considerável das águas da chuva no período invernal que se destina à recarga dos mananciais. Cada poda de árvore elimina milhares de folhas, intervenção que impede e retarda o prosseguimento normal da regeneração arbórea. Segundo entrevista eufórica de um funcionário graduado da Novacap, neste ano, haviam sido podadas ou retiradas 62.836 árvores (Correio Braziliense, 22.10.2022).

Em conclusão, com as podas de milhões de folhas, milhares de quilos de poeira tóxica ficam no ar que respiramos, intensificando a degeneração da saúde de crianças, adultos e velhos. A intoxicação é sistêmica, pois atinge humanos e não humanos, constituindo uma cadeia trófica de contaminação incontrolável. As podas, as queimadas, os milhares de carros e o lixo acumulado diariamente, nos contêineres ou no chão, durante horas a fio, desafiam o sistema público e privado de saúde urbana. As casas, as ruas, os ambientes de trabalho concentram grande parte dessa poeira tóxica. Nossas vias respiratórias, durante 24 horas por dia, em casa, caminhando por ruas desprotegidas, nos ônibus e automóveis, injetam nos pulmões da população um indesejável complexo de toxinas.

PLACE PETER GRAHAM

 


quarta-feira, 19 de outubro de 2022

SOCIABILIDADE DOS SERES VIVOS

 

SOCIABILIDADE DOS SERES VIVOS

 

Ao longo de dezenas de anos atuando como sociólogo, sou apresentado a meus colegas de academia do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal como filósofo. Continuo sociólogo. Sim, sou aficionado à sabedoria, como o eram os gregos e os chineses. As raízes da sabedoria se revelam quando as busco no íntimo da auto-organização da natureza geradora de vidas que se relacionam, interagem e interdependem. A sociologia, como a interpreto, é o estudo filosófico da sociabilidade congênita que se manifesta em todos e por todos os seres vivos humanos e não humanos. São cinco dezenas de anos dedicados a perceber, conhecer e compreender a essência da sociabilidade de todos os seres vivos, humanos e não humanos, comunicada pela interação e interdependência mútua num mesmo ecossistema planetário. Perceber, conhecer e compreender o funcionamento da auto-organização da natureza é a base da formulação política de atenção aos cidadãos e de respeito a todas as diferentes formas de vida de um ecossistema. Se a política da espécie humana falhar, todo o ecossistema se voltará contra ela. Os sinais deste possível cataclismo são visíveis na manifestação das mudanças climáticas agravadas pela contínua destruição de ecossistemas geradores de vidas. O princípio da precaução é a garantia da biodiversidade e da sociabilidade interativa e interdependente de todas as formas de vida.

17.10.2022


 

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

ARBORIZAÇÃO

ARBORIZAÇÃO

As árvores são necessárias para preservar as nascentes de água. Onde se cortam árvores, produz-se deserto. Quando se cortam árvores, as águas diminuem e as nascentes secam. As nuvens de areia que assolam cidades do Brasil são claros sinais do desmatamento. Quando se protegem os mananciais e se plantam árvores, acaba-se com o deserto e as águas voltam. O deserto do Saara está sendo contido com uma muralha verde de 10 mil quilômetros de extensão - do Congo à Tanzânia.
A riqueza da vegetação original suprimida pelas cidades foi comprometida com nossa arborização artificial. As árvores são sempre belas e sempre imponentes por sua arte natural. Mas foram privadas de um conjunto harmonioso de outras vidas vegetais ou animais que compõem a cadeia trófica e o controle de predadores.
A resposta que a natureza deu, através do ecossistema, foi diferente do desenho arbóreo disciplinado. A natureza achou acertado fazer nascer as gramíneas, a vegetação rasteira. Propôs juntar pequizeiros, buritis, jatobás, ipês, sucupiras misturadas com caliandras, chapéu-de-couro, pau-de-leite e marcelas douradas.
Se a arquitetura moderna tem em seus princípios o compartilhamento com o ambiente, o desenho de uma arborização artificial e estética não deveria conflitar com os caprichos milenares da natureza. Burle Marx revelou esse mistério em sua arte ecológica premiada, no Rio de Janeiro. A poda sistemática de árvores é uma atitude de desrespeito autoritário de quem trata esses entes vivos como objetos insensíveis. Antes de plantar uma árvore é preciso conhecê-la, compreender a complexidade de seu entorno, o espaço que necessita e o solo que a alimenta.
O tema “poda de árvores” deve ser discutido antes de plantá-las. Retirá-las de seu espaço nativo para simples embelezamento, sem respeito aos requerimentos biológicos ─ solo e espaço ─ é uma forma de exílio arbóreo. Ninguém gosta de exílio. Todos os exilados, dia mais dia menos, são podados. Melhor evitar o exílio ou abrir espaço social respeitando a identidade do exilado. Temos mania de melhorar a natureza e ensiná-la a produzir rosas.
(Trecho do livro À PROCURA DA BRASÍLIA PERDIDA, 2022, de minha autoria)

terça-feira, 4 de outubro de 2022

MANEQUIM ARBÓREO PARA A CIDADE-PARQUE

 

MANEQUIM ARBÓREO PARA A CIDADE-PARQUE

 

Os engenheiros modistas da Novacap se debruçaram sobre a prancheta iluminada para desenhar um manequim adequado a desvestir as árvores que desfilam nas passarelas do Plano Piloto. Os traços do genial manequim se inspiram na clássica nudez tropical para impedir a absorção do carbono venenoso, ressecar o ar e propagar molestos ruídos de dois milhões de máquinas automotivas e alaridos desesperados de implacáveis motosserras.

Galhos eretos no ar, másculos, desprezam os véus verdes que sombreavam os caminhos. As árvores da cidade-parque, despojadas de sua beleza feminina, humilhadas, com seus troncos nus, prestam continência aos ditadores ambientais. Nesta cidade-parque, onde a captação de águas das chuvas é escassa, os modistas ambientais preferem árvores seminuas, submissas, esquartejadas, empobrecidas, esterilizadas. A estética urbanizada tenta ludibriar os fenômenos físicos e remodelar as formas artísticas da natureza que se manifesta com o idioma singelo e pacífico das árvores.

2.10.2022

 

 

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

A DEGRADAÇÃO DO CERRADO E DA CIDADE-PARQUE

 

A DEGRADAÇÃO DO CERRADO

E DA CIDADE-PARQUE

 

Brasília e todas as cidades do Centro-Oeste contribuem para transformar o Cerrado em deserto. A concepção tradicional da arquitetura urbana se adapta com sutilezas de engenharia e arte ao crescimento da população. A degradação dos ecossistemas diferenciados do bioma Cerrado, atingindo a fauna e a flora, não poupa a cidade-parque. O sonho da cidade-parque despareceu sob os escombros de um assentamento humano desigual, caótico, destruidor. Centenas de nascentes desapareceram sob a irracional impermeabilidade das cidades, invasão de áreas protetoras, abertas a inundações e desastres. As árvores que embelezariam a cidade-parque, que propiciam umidade, captam águas da chuva e alimentam pássaros, são tratadas com a mesma insensibilidade administrativa da ocupação do espaço geográfico do Distrito Federal. A Floresta Nacional (FLONA) foi amputada por decreto e aprovada por ditos representantes do povo.

É preciso que os órgãos do Governo do Distrito Federal (Novacap, Zoobotânica, Adasa, Caesb) informem a população sobre as reais razões de podas incompreensíveis em áreas onde ninguém passa e nem há estacionamentos que pudessem ser atingidos por algum galho de árvore. Este ato irracional de poda de árvores, segundo explicou um dos comandados de uniforme verde-abóbora, obedece a um programa de proteção prévia a possíveis quedas de galhos sobre automóveis!!!

As fotos aqui publicadas (montanhas de verde abatido) indicam a irracionalidade da amputação de galhos e troncos de árvores que protegem os blocos vizinhos da poluição dos milhares de carros que correm pela L-2 e abafam o ruído da via. A saúde da população, o bem-estar ao caminhar pela sombra, o ar menos seco e mais puro não entram como razões de decisões meramente administrativas. Todas as energias da gestão da cidade-parque parecem dirigidas à presença ditatorial e impositiva de quase dois milhões de automóveis. A NOVACAP com seu exército de motosserristas parece ser inimigo do verde e amigo do lixo que invade o solo e polui as águas.

Seis fotos da Poda na L-2

29.9.2022

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

PROPOR O DECRESCIMENTO DA POPULAÇÃO MUNDIAL É AINDA UM TABU

 

                              PROPOR O DECRESCIMENTO DA POPULAÇÃO MUNDIAL É AINDA UM TABU                                                              Eugênio Giovenardi, sociólogo e escritor
A superpopulação humana do planeta seja, talvez, uma das principais dificuldades se não um forte obstáculo cultural para erradicar a fome que, no século 21, assola um bilhão de pessoas; para reduzir a devastação generalizada das florestas; evitar as guerras humanas abertas ou disfarçadas; enfrentar as mudanças climáticas em curso, fortemente provocadas pela ação irresponsável da economia gananciosa. A redução do crescimento demográfico em escala mundial é ainda um tabu político e ideológico de difícil discussão na busca de uma orientação universal em benefício da biodiversidade de seres vivos humanos e não humanos.
São necessárias medidas racionais, em escala planetária, que indiquem a redução drástica do crescimento populacional em favor da biodiversidade natural que garanta a interação e a interdependência de todos os seres vivos humanos e não humanos. É desumano esperar que as mudanças climáticas e seus incontroláveis fenômenos, as guerras de extermínio humano e não humano, fome e pandemias virais encham o mundo de dor, lágrimas e desespero.
A natureza não é de esquerda e nem de direita. A natureza se fez vida e habita este maravilhoso planeta. Fazemos parte ─ a espécie humana ─ desse milagre existencial. Ser ambientalista ou ecologista é compreender a auto-organização da natureza manifestada em diferentes ecossistemas. É participar da interação e interdependência de todos os seres vivos humanos e não humanos numa convivência social em busca do conforto natural universalmente desejado.
As vidas se alimentam de vidas ─ proteínas, sais minerais, açúcares, água, oxigênio ─. Viver é usar com parcimônia os bens necessários a todas as vidas, pois os bens são limitados e finitos. A precaução no uso dos bens da natureza é uma virtude basilar que orienta instintivamente os seres não humanos pela lei do controle natural e alerta racionalmente a espécie humana. O equilíbrio no uso dos bens da natureza depende fortemente do número de usuários e da intensidade do consumo necessário de cada espécie para se reproduzir e sobreviver. A superpopulação de uma espécie põe em risco todos os habitantes de um ecossistema natural, por mais rico e abundante que seja. Todas as formas de vida têm identidade. São sujeitos e não objetos dos quais se pode dispor, decidir seu destino ou levá-los à extinção pelo uso demolidor do mais poderoso.
Os seres vivos buscam naturalmente um relativo conforto para desfrutar a vida cercados de fenômenos físicos incontroláveis. O nível de conforto e o consumo dos bens naturais diferenciam o comportamento das espécies não humanas e o do homo sapiens. Ser ambientalista é propugnar por um limite racional de conforto para toda a espécie humana. É resistir à acumulação de bens pelo crescimento econômico a qualquer custo e dar tempo à regeneração de ecossistemas em benefício da biodiversidade. A extinção de espécies vivas ou a degradação generalizada dos ecossistemas pela ação humana dificultam a interdependência dos seres vivos e geram desigualdade no conforto e convívio da população humana.
O planeta que abriga o milagre da vida é uma casa com espaço limitado e bens finitos. Contrapõe-se fisicamente à ação acumuladora e destrutiva da espécie humana. A arte e a sabedoria do ser humano se tornam mais grandiosas quando imitam a força e a generosidade da natureza. Há, portanto, um limite a ser respeitado quanto ao número de usuários humanos e não humanos no planeta. A cadeia trófica tem uma lógica arrasadora para a sustentação da espécie humana. Maior população, maior consumo de água, mais urbanização, mais solo para produzir alimentos vegetais e animais pressionam e até destroem ecossistemas.
Duas atividades essenciais e necessárias ─ produção de alimentos e assentamentos urbanos ─ determinam manifestações culturais do comportamento humano nem sempre adequadas diante do funcionamento das leis orgânicas da natureza. A produção de alimentos, para bilhões de seres humanos e não humanos, sem restrições racionais ao crescimento demográfico dessas populações, impõe substituição de florestas, uso intensivo de água, nutrientes químicos ou industrializados, defensivos tóxicos e poluidores do solo, da água e do ar. A urbanização, ao longo e largo do planeta, se concentra ao redor de rios, mares e lagos, modifica drasticamente as paisagens naturais, expulsa ou elimina os habitantes naturais de ecossistemas e requer intensos serviços de limpeza e higiene, centros de recreação, de educação e saúde, de mobilidade e segurança social.
A redução racional do crescimento da população humana, embora sugerida por demógrafos desde a década de 1960 e sugerida por organismos internacionais, é ainda um tabu cultural e político. Propor a alegria da maternidade e o orgulho da paternidade, com um ou dois filhos por casal, será uma decisão política sábia e refletirá de maneira eficaz sobre a regeneração dos ecossistemas que abrigam generosamente o milagre da vida no planeta.
Nota: O artigo foi enviado à Diretora de Redação do Correio Braziliense, mas não encontrou guarida.

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

ANO DO CERRADO OU DIA?

 

ANO DO CERRADO OU DIA?

 

Ontem, festejei o Dia do Cerrado, visitando as nascentes e admirando a tenacidade das árvores, ouvindo a incansável sinfonia dos sabiás e os gritos alarmantes das curicacas. O Cerrado atravessa com paciente coragem a rigorosa estiagem, de mais de 140 dias (em maio, só houve um dia de chuva), açoitado por ventos constantes, madrugadas frias (10 a 12 graus), pouco orvalho e umidade máxima à noite, em 77%, baixando nas horas da tarde a 45% em plena mata de galeria. No dia do Cerrado, no Sítio das Neves, as temperaturas foram excepcionais: 27 graus à sombra de árvores a 31 graus no campo aberto.

As nascentes viram suas águas se aprofundarem. O curso dos córregos que abastecem o Ribeirão das Lajes e o Rio Descoberto chegaram ao volume mínimo, ao redor de três metros cúbicos/dia. Assoreamento e poluição, durante esses 62 anos de intensa ocupação desordenada do Cerrado, estão mostrando como se trata de forma ignorante e desleal o espaço de vida para a maior biodiversidade do planeta. Se fosse medido o efeito do assoreamento no reservatório do Descoberto, o brasiliense saberia que seu estoque hídrico atual não seria de 50% como propalado.

O Distrito Federal e todo o Cerrado está em situação de risco hídrico, como dizem os biólogos especialistas. Neste período, destinado ao descanso do Cerrado, a população do Distrito Federal o maltrata com duas pragas torturadoras: LIXO E QUEIMADAS.

E a NovaCap (Parques e Jardins) continua podando árvores, diminuindo a umidade do ar. O erro é original. As árvores, para a administração do GDF, são apenas embelezamento, não são proteção ambiental para fortalecer nascentes. As árvores são plantadas sem conhecer a genealogia da planta e sem conhecer o solo que mantinha vegetação natural arrasada.

Tenho certeza de que os funcionários da Novacap não pensaram nos resultados da poda de árvores. Vamos ajudá-los a pensar com um exercício sobre o volume de madeira cortada das árvores. Se cortaram, por ex. 100 metros cúbicos de madeira, significa 100 metros cúbicos de água. As chuvas que vão cair poderiam ser captadas por esses 100 metros cúbicos de galhos e folhas, mas já não estão nas árvores. Caem diretamente no chão e encontram o GRANDE ALIADO, a impermeabilização seca e as águas vão para o Lago e dali para o São Bartolomeu. E como nenhum rio vai sozinho ao mar, ele se junta a outros para levar solo brasileiro à baía platina. O Clima de Brasília será ainda mais seco no próximo ano e, certamente, com mais poda e mais impermeabilização. A cadeia da ignorância assola o país.

Não basta poupar água. É preciso proteger e respeitar a organização do Cerrado, cuidando das nascentes águas acima.

 

11.9.2022

domingo, 11 de setembro de 2022

SINUCA DE BICO

 

SINUCA DE BICO

 

As pesquisas eleitorais medem as tendências e intenções de voto dos eleitores. Todos os candidatos apelam para a democracia na qual se plantou a liberdade como fundamento da convivência política e da escolha dos administradores da coisa pública (res publica). Obrigação legal para cumprir um ato democrático e livre é uma contradição.

Invocar um deus para iluminar os eleitores é pôr essa divindade numa situação de constrangimento, numa sinuca de bico. Em qual dos candidatos votaria o deus invocado? O deus do papa, do pastor ou do eleitor pode não ser o mesmo. Até na eleição do papa os cardeais dispensaram o Espírito Santo.

Padres e pastores de todas as igrejas deveriam apresentar ao tribunal eleitoral a devida procuração assinada por uma divindade, registrada no cartório celestial. Em qual zona eleitoral votam os deuses invocados? Por muito menos, Sócrates foi condenado ao suicídio obrigatório em plena democracia ateniense. Anuncia-se, no Brasil, um suicídio eleitoral democrático.

terça-feira, 6 de setembro de 2022

CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO MUNDIAL ─ UM TABU

 

CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO MUNDIAL ─ UM TABU

 

Eugênio Giovenardi, sociólogo e escritor

 

 A superpopulação humana do planeta seja, talvez, uma das principais dificuldades se não o principal obstáculo cultural para erradicar a fome que, no século 21, assola um bilhão de pessoas; reduzir a devastação generalizada das florestas; evitar as guerras humanas abertas ou disfarçadas; enfrentar as mudanças climáticas em curso, fortemente provocadas pela ação irresponsável da economia gananciosa. A redução do crescimento demográfico em escala mundial é ainda um tabu político e ideológico de difícil discussão na busca de uma orientação universal em benefício da biodiversidade de seres vivos humanos e não humanos.

São necessárias medidas racionais, em escala planetária, que indiquem a redução drástica do crescimento populacional em favor da biodiversidade natural que garanta a interação e a interdependência de todos os seres vivos humanos e não humanos. É desumano esperar que as mudanças climáticas e seus incontroláveis fenômenos, as guerras de extermínio humano e não humano, fome e pandemias virais encham o mundo de dor, lágrimas e desespero.

A natureza não é de esquerda e nem de direita. A natureza se fez vida e habita este maravilhoso planeta. Fazemos parte ─ a espécie humana ─ desse milagre existencial. Ser ambientalista ou ecologista é compreender a auto-organização da natureza manifestada em diferentes ecossistemas. É participar da interação e interdependência de todos os seres vivos humanos e não humanos numa convivência social em busca do conforto natural universalmente desejado.

As vidas se alimentam de vidas ─ proteínas, sais minerais, açúcares, água, oxigênio ─. Viver é usar com parcimônia os bens necessários a todas as vidas, pois os bens são limitados e finitos. A precaução no uso dos bens da natureza é uma virtude basilar que orienta instintivamente os seres não humanos pela lei do controle natural e alerta racionalmente a espécie humana. O equilíbrio no uso dos bens da natureza depende fortemente do número de usuários e da intensidade do consumo necessário de cada espécie para se reproduzir e sobreviver. A superpopulação de uma espécie põe em risco todos os habitantes de um ecossistema natural, por mais rico e abundante que seja. Todas as formas de vida têm identidade. São sujeitos e não objetos dos quais se pode dispor, decidir seu destino ou levá-los à extinção pelo uso demolidor do mais poderoso.

Os seres vivos buscam naturalmente um relativo conforto para desfrutar a vida cercados de fenômenos físicos incontroláveis. O nível de conforto e o consumo dos bens naturais diferenciam o comportamento das espécies não humanas e o do homo sapiens. Ser ambientalista é propugnar por um limite racional de conforto para toda a espécie humana. É resistir à acumulação de bens pelo crescimento econômico a qualquer custo e dar tempo à regeneração de ecossistemas em benefício da biodiversidade. A extinção de espécies vivas ou a degradação generalizada dos ecossistemas pela ação humana dificultam a interdependência dos seres vivos e geram desigualdade no conforto e convívio da população humana.

O planeta que abriga o milagre da vida é uma casa com espaço limitado, bens finitos e contesta fisicamente a ação acumuladora e destrutiva da espécie humana. A arte e a sabedoria humana se tornam mais grandiosas quando imitam a força e a generosidade da natureza. Há, portanto, um limite a ser respeitado quanto ao número de usuários não humanos e habitantes humanos no planeta. A cadeia trófica tem uma lógica arrasadora para a sustentação humana. Maior população, maior consumo de água, mais urbanização, mais solo para produzir alimentos vegetais e animais que pressionam e até destroem ecossistemas.

Duas atividades essenciais e necessárias ─ produção de alimentos e assentamentos urbanos ─ determinam manifestações culturais do comportamento humano nem sempre adequadas diante do funcionamento das leis orgânicas da natureza. A produção de alimentos, para bilhões de seres humanos e não humanos, sem restrições racionais ao crescimento demográfico dessas populações, impõe substituição de florestas, uso intensivo de água, nutrientes químicos ou industrializados, defensivos tóxicos e poluidores do solo, da água e do ar. A urbanização, ao longo e largo do planeta, se concentra ao redor de rios, mares e lagos, modifica drasticamente as paisagens naturais, expulsa ou elimina os habitantes naturais de ecossistemas, requer serviços de limpeza e higiene, centros de recreação, de educação e saúde, de mobilidade e segurança social. 

A redução racional do crescimento da população humana, embora sugerida por demógrafos desde a década de 1960 e orientada por organismos internacionais, é ainda um tabu cultural e político. Propor a alegria da maternidade e o orgulho da paternidade, com um ou dois filhos por casal, será uma decisão política sábia e refletirá de maneira eficaz sobre a regeneração dos ecossistemas que abrigam generosamente o milagre da vida no planeta.

 

5.9.2022

 

domingo, 28 de agosto de 2022

REVISTA IDENTIDADES LUCIA HELENA

 

ÀPROCURA DA BRASÍLIA PERDIDA

REVISTA IDENTIDADES

Em edição especial por conter artigos exclusivamente do ecossociólogo Eugênio Giovenardi, fotografias de Evandro Torezan, o tributo a Brasília e o contributo ao seu bioma pelos artistas visuais Luiz Felipe Vitelli, Dionísio João, Valdério Costa, Nádia João e Gaia Aquarela, a Revista IDentidades 2022 aborda a Capital Federal e o Cerrado.

Ao completar 62 anos em 21 de abril de 2022 — inserida na “sociedade de riscos” que transforma em mercadoria tudo que toca e não deixando de ser uma versão moderna de Midas — a cidade sonhada por Dom Bosco e concretizada por Juscelino Kubitschek está, há tempos, sob riscos ecológicos do desmatamento, da crise hídrica e destituída de uma nova cultura não apenas no uso, mas na interação de todos os sujeitos do ecossistema.
Na concepção do projeto urbano de Brasília, faltaram propostas que garantissem, em simultâneo, a convivência humana com a biocomunidade e com a biodiversidade do bioma Cerrado, e, no ambiente compartilhado, a regeneração deste ecossistema.
A “ópera existencial” de Brasília, fundamentada sob a ostensiva realidade dos fatos, não se sustenta na interconectividade entre os seres vivos no meio ambiente do Cerrado. A ocupação dos espaços não preserva, não interage e não une a natureza à urbe.
O leitor perceberá que as decisões político-administrativas da cidade em nada contribuem para a convivência harmonizada entre ecossistemas e os serviços à população. De certo, sem vontade política há muito pouco lugar para a Capital da Esperança circunscrita apenas em sua área tombada como Patrimônio Cultural da Humanidade. Reduzida a sua cidade-parque ao Plano Piloto. Desfalcada de um modelo de administração capaz de aprimorar e consolidar relações de convivência: habitantes/cidade/natureza.
E à medida que cresce desordenadamente menos se desvelarão os segredos milenares do Cerrado. O colar de satélites dependurado no pescoço do Plano Piloto pouco embeleza o Cerrado. Estrangula-o lentamente e o sufoca sem piedade.
O Cerrado está sendo tratado a ferro e fogo como o eram os escravos em outros tempos não tão distantes. Libertar o Cerrado é preciso! Destrui-lo é criminoso! O Cerrado não é apenas para a espécie humana. É, pois, o cenário generoso da biodiversidade que abriga humanos e não humanos.
O Cerrado não se comove com as loas poéticas que sobre ele se fazem em datas especiais. A velhice do Cerrado se remoça quando escutamos o silencioso rumor de suas nascentes, a cantilena serena de seus córregos cristalinos e quando reverenciamos sua beleza pura, selvagem, grandiosa. Milenar.

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

UnB - ECOSSOCIOLOGIA

 

UnB – ECOSSOCIOLOGIA

Revista de Estética e Semiótica

EUGÊNIO GIOVENARDI – Sociólogo

 

 

INTRODUÇÃO

 

ECOLOGIA é o conhecimento e o reconhecimento da casa da natureza, de sua organização, suas leis orgânicas e físicas que regem todos os seres vivos, humanos e não humanos por ela gerados. As relações e interações complexas entre todas as espécies da biodiversidade as impulsionam a preservar a vida e reproduzi-la num tempo indeterminado. Cada espécie se relaciona e comunica no âmbito interno de seus componentes e com outras espécies das quais depende para sobreviver e reproduzir. O relacionamento interativo e interdependente entre os seres vivos abrange aspectos sociais e orgânicos formando uma corrente em que todos dependem de todos. As vidas se alimentam de vidas.

Os pássaros interagem com membros de sua espécie e dependem de outros seres vivos da natureza para se alimentar, sobreviver e reproduzir. Utilizam as árvores para fabricar seus ninhos, protegem-se de predadores, formam quadrilhas com outros pássaros para se defenderem de gaviões ou de espécies ovívoras ─ gralha-cancã, teiú e outros répteis. Espalham sementes de frutas de sua dieta e contribuem para o reflorestamento e a regeneração dos ecossistemas.

Quais e como se apresentam as relações de interdependência orgânica e de interação social e cultural da espécie humana no conjunto da biodiversidade? O filósofo e sociólogo Edgar Morin classificou o ser humano como integrante de uma parte específica da biodiversidade: “Quem somos nós? Somos animais da classe dos mamíferos, da ordem dos primatas, da família dos hominídeos, do gênero homo, da espécie sapiens.” 

Aparentemente, o homo sapiens é um estranho no ninho da biodiversidade. A evolução cerebral do ser humano, ao longo de milênios, lhe proporcionou capacidades especiais para se relacionar com os demais seres vivos da natureza. Impulsos de autonomia decisória o autorizaram a ter comportamentos autoritários a ponto de tentar transgredir a auto-organizacão da natureza, dominar os seres não humanos e até agredir os de sua espécie.

 A observação das relações orgânicas e da objetiva comunicação social entre todos os seres vivos se tornou um método adequado e eficaz para ampliar a compreensão do relacionamento e da interação da espécie humana com todas formas de vida geradas pela natureza. Durante mais de quatro décadas buscando, numa área de Cerrado devastada pela mão humana, minha origem existencial e as vinculações orgânicas com a natureza, percebi, com meridiana clareza, a sociabilidade de todos os seres vivos animais e vegetais. Senti-me apenas mais um ser social convivendo e falando com outros seres sociais.

Não há mudos nem surdos na natureza. Todos falam e todos ouvem. Todos têm direito à vida e lutam para mantê-la. Ao observar as árvores, ao ver o olho d’água manar e ouvir os pássaros cantarem, ocorreu-me o termo ecossociologia para expressar as relações sociais de todos os seres vivos. O termo me propiciou formular conteúdos de crítica do conhecimento relativo à natureza das coisas para a crítica do comportamento humano, frente ao conjunto de vidas compartilhadas num mesmo ecossistema. Comecei a utilizar o termo ecossociologia em 2015. Conhecia os termos ecobiologia e ecopsicologia.

A ecobiologia demonstra que a pele é um ecossistema em constante evolução. Interatua com o ambiente e, por isso, os bens e mecanismos naturais devem ser preservados.  A ecopsicologia observa e analisa o contato direto da pessoa com o ambiente natural, atitude que estimula a relação com partes menos conhecidas e mais vitais do ser humano. Todos os seres vivos se comunicam, se relacionam com membros de sua espécie e entre espécies. Percepções favoráveis e desfavoráveis perpassam o cérebro humano, situações agradáveis e desagradáveis nesses contatos com outros seres vivos que circundam a pessoa alimentam sua interação com o conjunto multiforme da natureza. A multiplicidade de vidas fala ao mesmo tempo. Os seres vivos perguntam e respondem, pedem e oferecem, doam e recebem. O conceito básico da sociabilidade dos seres vivos amplia a compreensão de como as vidas se inter-relacionam no universo. Todos os seres vivos são compostos dos mesmos elementos materiais: hidrogênio e carbono, oxigênio e azoto. Estas semelhanças físicas, sentidas e expressas pelo cérebro humano, auxiliam nossa imersão na natureza, vivificam a comunicação e a relação social com todos os seres vivos. Inclino-me a integrar o consórcio eco-bio-psico-socio-logia.

 

CONCEITUAÇÃO

 

A ECOSSOCIOLOGIA se propõe a observar, conhecer, identificar e descrever o cumprimento das leis orgânicas e físicas dos seres que compõem a biodiversidade, a interação social e a interdependência de todos os seres vivos em seus respectivos ecossistemas. A natureza é uma sociedade complexa, auto-organizada, fundamentada na sociabilidade e na comunicação orgânica de todos os seres vivos.

O propósito da ecossociologia é observar e estudar a organização das espécies, relacionar os comportamentos e interdependências de todos os seres vivos que habitam a mesma casa, num mesmo espaço físico, o ecossistema. A casa grande é o planeta Terra e a casa pequena é o ecossistema de um bioma que abriga uma parte diversificada de seres vivos. O processo metodológico da ecossociologia se fundamenta em ações de percepção da natureza para o conhecimento interativo e propicia comportamentos coerentes e orgânicos entre a espécie humana e os demais seres vivos. 

Ecossociologia é uma ferramenta metodológica de observação e estudo crítico das inter-relações, da interação e interdependência das espécies vivas, humanas e não humanas, que habitam um mesmo ecossistema. A intervenção de todos os seres vivos, em busca da sobrevivência e reprodução, modifica os ecossistemas e, se observadas as leis orgânicas da natureza, eles se regeneram ao longo do tempo.  

As intervenções mais agressivas aos ecossistemas são debitadas à espécie humana nos espaços da agricultura, urbanização e indústria química com forte incidência na poluição das águas e do ar.  A urbanização crescente, em nossa época, ao lado da agricultura extensiva, se tornou uma das ações mais impiedosas da espécie humana na intervenção e modificação de ecossistemas frágeis e indefesos. Montanhas, vales, margens de lagos e rios, com ocupações urbanísticas desordenadas, perturbam incessantemente a regeneração dos ecossistemas com efeitos perversos sobre todos os comportamentos dos seres humanos e não humanos. Ventanias, tempestades e inundações tem causado perdas de vidas e de equipamentos essenciais aos moradores dessas áreas. O confinamento, a expulsão, a morte e a extinção definitiva de espécies são consequências indesejáveis para todos os componentes da biodiversidade. Doenças, epidemias, sofrimento e morte atingem a todas as espécies ─ vegetais, animais e a nobre espécie humana ─ e mais duramente as de frágeis resistências com menos recursos para obter da natureza os remédios necessários à sobrevivência.

A sociabilidade é característica de todos os seres vivos. Torna-se, pois, imprescindível compreender a linguagem das plantas e dos animais, para expressar atitudes e comportamentos sociais da espécie humana no convívio dos seres vivos e responder a suas indagações. A auto-organização da natureza, a organização biológica das espécies vivas, sua evolução, reprodução e sobrevivência põem limites, ainda que nem sempre aceitos, à organização social e cultural da espécie humana. Configura-se, nessa interação social, a relação intersubjetiva, sujeito a sujeito, contrastando com a relação sujeito/objeto meramente econômica da exploração dos bens da natureza, denominados pragmaticamente recursos.

 

CONJUNTO ORGÂNICO

 

As relações sociais da espécie humana estão ligadas a todas as demais formas de vida da flora e da fauna, a elementos físicos e químicos do universo, unidos num imenso organismo de partes interdependentes. Astros da noite, rios, oceanos, lagos, cachoeiras, chuvas, neves, árvores, pássaros, animais selvagens e domesticados e bilhões de insetos afetam, com diferente intensidade e forma, a convivência dos indivíduos de um grupo e a da variedade de grupos no conjunto dos seres vivos.

A organização comunitária dos diferentes grupos vivos – a biocomunidade – obedece a leis biológicas comuns, especificamente às que regem a conservação da vida, isto é, a busca do alimento e a reprodução da própria espécie. É o traço indelével da igualdade de direito à vida de todos os seres vivos, não importa o tamanho, a forma ou sua função teleológica. A natureza dispõe de imensa variedade, embora limitada, de alimentos para a conservação de todas as espécies e, consequentemente, para sua reprodução, observados os limites do crescimento das populações.

Dois processos são inerentes à conservação e reprodução da vida: cooperação e competição. Esses dois processos, em ação permanente e contínua, são monitorados por controles genéticos, instintivos, sociais e culturais, no que tange a espécie humana. Os controles genéticos são inerentes ao sistema natural, administrados no âmbito de cada espécie e compartilhados por outros grupos de espécies que dividem o mesmo espaço. Todos cooperam e competem entre si para manter-se vivos, empurrados sem apelação por uma energia vital imanente.

A supremacia e a preponderância de espécies sobre outras ou de indivíduos de uma espécie sobre seu grupo, dependem da auto-organização e da aceitação de regras do jogo social que se estabelecem na convivência temporal dos membros. O crescimento populacional de uma ou várias espécies pode ser determinante para o equilíbrio ou desequilíbrio da conservação e reprodução de outras espécies de um mesmo bioma ou de um conjunto de biomas da casa grande. A casa comum a um determinado grupo de espécies pode se tornar pequena para abrigar uma espécie ou uma variedade competitiva de espécies.

Um dos fenômenos originados pela competição na busca de alimentos necessários para a reprodução é a migração sazonal ou definitiva de espécies vivas. As aves e a espécie humana são dois grupos susceptíveis de migração, especialmente quando o superpovoamento de uma região limita a coleta de alimentos. Muitas espécies são expulsas de seu hábitat por perderem a fonte de alimentação açambarcada por grupos invasores.

O sistema de controle populacional e a demarcação dos territórios ocupados são determinados pela imposição do mais forte e pela função predatória de uma espécie sobre outra. Os conflitos originados da conservação e reprodução no interior de uma espécie viva afetam sua segurança e coesão cujas consequências podem causar seu desaparecimento ou serem dominadas por outras espécies.

A função predatória no conjunto da natureza – controle e conflito entre espécies - pertence à dinâmica da perpetuação equilibrada da vida. A defesa contra os predadores pode reunir indivíduos de diferentes espécies. É comum observar-se a formação de uma brigada de pássaros de diferentes espécies, para expulsar gaviões e aves de rapina de seus territórios em defesa de seus filhotes.

O equilíbrio no crescimento de uma população viva se estabelece de muitas formas: escassez de alimento, aborto do embrião, suspensão temporária do acasalamento, mortalidade precoce, abandono dos nascidos, luta fratricida, doenças bacterianas, canibalismo, entre outras razões (aranhas fêmeas e louva-deus devoram os machos após a copulação). Para a espécie humana, além dos fenômenos físicos arrasadores, há milênios mencionam-se: pestes, epidemias, pandemias, guerras, agressões mortais entre grupos ou indivíduos do mesmo grupo, acidentes fatais em terra, mar e ar. A ampliação da promiscuidade entre a espécie humana e as espécies domesticadas e selváticas, compartilhando o mesmo ecossistema, intensifica a interação dos seres vivos e, consequentemente, a difusão quase incontrolável de endemias e epidemias.

 

 

INTERDEPENDÊNCIA

 

 

A lei biológica da conservação da vida no planeta estabelece a inevitabilidade da interdependência das espécies, como se todas elas fossem um único organismo em que uma parte alimenta a outra. Esse organismo vivo, subdividido em espécies, subsiste sob a inquestionável lei da natureza: a vida se alimenta de vidas. Esta corrente de perpetuação da vida por outras vidas embute, sutilmente, fortes doses de sofrimento físico e emocional compartilhado por todos os seres vivos. (A cobra come o rato, a seriema come a cobra, o caçador abate a seriema, o produtor se alimenta do animal que criou, ou do pé de alface que plantou).

O crescimento populacional da espécie homo sapiens não atingiu ainda o grau de racionalidade necessário, compatível com os limites da oferta de bens naturais dos diferentes biomas, que ele comparte com milhares de outras vidas. O salto mortal do crescimento da população humana pôs em risco sua sobrevivência. No começo da década de 1970 (The Population Bomb, Paul Ehrlich, 1968), a população humana era de 3 bilhões. Os 7, 9 bilhões de pessoas que, em 2022, consomem mais de três quartos da área do planeta insuficiente para alimentar toda a biodiversidade. A fome flagela um sétimo da população mundial em países ricos e menos desenvolvidos. Estudos da Organização das Nações Unidas (Relatório "World Population Prospects 2022”) estimam que a população mundial pode alcançar a espantosa cifra de 10,4 bilhões até o final do século 21, se métodos racionais de contenção e diminuição demográfica não forem praticados em todos os países. A ocupação dos espaços, ao longo de milênios, o desflorestamento para a produção de alimentos e formação de assentamentos urbanos avassaladores perturbaram severamente a biodiversidade, expulsando ou eliminando espécies vivas. A defaunação silenciosa de florestas é uma tragédia.

A alternativa da domesticação de sementes e animais deu à espécie humana uma sobrevida e uma perigosa percepção de domínio absoluto sobre a natureza. Sua caminhada, porém, se viu atribulada por imensas dificuldades de sobrevivência igualitária entre indivíduos de sua espécie e de diferentes espécies em todos os quadrantes do planeta. A surpreendente capacidade de adaptação climática da espécie humana e o desenvolvimento evolutivo do cérebro e das mãos a levaram a um equívoco de interpretação no uso dos bens naturais a ponto de alimentar convicções e certezas de que ela pode e deve dominar outras vidas. O planeta Terra não é propriedade de nenhuma espécie. É um espaço livre no qual viceja o milagre da vida. Os fatos históricos transmitidos de geração em geração, há milênios, se consolidaram em oráculos atribuídos a um ser sobrenatural que ordenou: “Crescei e multiplicai-vos. Dominai a Terra” (Gênesis).

A interdependência dos seres vivos não só está baseada no funcionamento cerebral e orgânico de cada forma de vida. Ela se fundamenta no parentesco evolutivo de todos os seres vivos pois nascemos todos da mesma semente vital. Cabe às espécies, com capacidade cerebral mais desenvolvida, compreender a vida no universo. Adequar comportamentos e atitudes em relação aos bilhões de seres que habitam a mesma casa comum. É o que se espera e se deseja da espécie homo sapiens diante do conjunto de habitantes da biocomunidade do planeta Terra. O princípio da precaução vige permanentemente, pois estamos ainda diante de uma incógnita sobre como sentem e pensam as árvores e os animais.

 

ATITUDES E COMPORTAMENTOS

 

A aceitação de alguns valores universais contribui para a compreensão da vida em cada bioma ou conjunto de biomas que, há milhões de anos, congregam biocomunidades em diferentes ecossistemas. Eles também auxiliam na avaliação do impacto da intervenção e da pegada da espécie humana em seus respectivos biomas e ecossistemas específicos.

Registram-se alguns valores sociais que as pessoas determinam ou aceitam para se relacionar com outros seres vivos não humanos, e cujas relações se refletem na convivência humana. Animais de estimação ou paisagens naturais preservadas criam relações entre pessoas e demais seres que pertencem a esse ciclo de convivência. Valores ecológicos refletem a interdependência de todos os seres de uma biocomunidade, com ênfase na água, nas plantas, nas aves e milhares vidas invisíveis que compões a dieta natural da biodiversidade. Valores econômicos, nascidos da administração e uso dos bens naturais destinados à conservação e reprodução de todas as espécies se manifestam com diferentes interpretações, nem sempre igualitárias, que favorecem uns em detrimento de outros. Sejam, talvez, os mais difíceis de serem aplicados, pois dependem quase que exclusivamente dos interesses e conveniências da espécie humana. Valores de cosmovisão com força conceitual para equacionar um sistema de compreensão universal e holístico sobre a preservação da vida no planeta. Estes valores dependem exclusivamente da consciência do homo sapiens sobre a interação e interdependência de todos os seres vivos.   

É necessária especial atenção aos processos de cooperação e competição, pois eles perpassam os comportamentos vitais de todos os seres vivos. Estima-se que a espécie humana (homo sapiens), há 40.000 anos apenas, apoderou-se autoritária e definitivamente das riquezas do planeta e as administra em seu proveito na qualidade de único proprietário e usuário, como se os elementos para sua sobrevivência fossem exclusivos, infinitos e ilimitados. É desejável que a espécie humana possa evoluir na compreensão dos conflitos diários entre sua sobrevivência e a de outras formas de vida. E, em consequência, praticar modos de convivência entre todos os seres vivos, compatibilizando os tempos da espécie consciente com a organização biológica e social de outras formas de vida.

 

 

ITENS METODOLÓGICOS

 

 

Nas visitas a locais escolhidos de um bioma e dos ecossistemas específicos, é desejável e conveniente que o passeio pela natureza se revista de uma postura de silêncio científico. A linguagem dos seres vivos se faz pela presença, pela forma e pela estética no local que ocupam. Os momentos de discussão serão posteriores aos de observação e registro dos fatos recolhidos.

 

Entre outros cuidados, sugere-se:

·                         Prestar atenção aos convites da paisagem ao penetrar em seu espaço.

·                         Deambular, parar, olhar, ver, ouvir, decodificar, compreender os distintos idiomas emitidos por entidades da natureza.

·                         Fotografar a área também com os olhos e perceber sua conformação geofísica e geográfica.

·                         Localizar possíveis afloramentos de água, identificar e relacionar o tipo de vegetação ao redor de nascentes perenes ou intermitentes.

· Distinguir espécies da flora e da fauna.

·                         Questionar a prática de produção de alimentos em áreas desprotegidas ou com escassez de águas.

·                         Inquerir sobre formação de cortinas vegetais contínuas ou corredores consorciados com áreas de produção.

 

 

SOBREVIVÊNCIA DA ESPÉCIE HUMANA

 

 

Os itens abaixo listados afetam de alguma forma as relações de convivência entre as entidades da espécie humana e as demais formas de vida. Erros e acertos são constantes. A interação e a interdependência de todas a vidas são o ponto essencial para a preservação da biodiversidade.

·         Circunstâncias, como fenômenos climáticos, predadores múltiplos, podem pôr em risco a vida das pessoas, o acervo histórico e cultural: casa, monumentos, jardim, pomar, horta, espaços de lazer.

·         Localização dos assentamentos humanos. Substituição de florestas, desvios de cursos de água por cidades e equipamentos facilitadores da atividade humana.

·         Água é o ponto essencial de referência para todos os seres vivos. Nascentes, córregos, rios, lagos. Qualidade da água. Acesso à água potável é desejável para todas as espécies vivas.

·         Área de coleta ou produção de alimentos de autossuficiência ou troca e relação com o tempo de regeneração do ecossistema. Sistemas existentes de compensação e regeneração do ambiente ocupado e modificado, considerando que o tempo regenerativo não se mede em dias, mas em anos ou décadas.

·         O habitat humano é também uma imposição da natureza e uma decorrência natural para a sobrevivência e a reprodução das espécies. Ninho, toca, abrigo fazem parte da intimidade de todas as formas de vida para a reprodução e a sobrevivência.

·         Áreas possíveis de inundações ou de incêndios (fenômenos naturais, chuvas, crescente de rios, vulcões) e suas particularidades regionais do país merecem anotação especial.

·         Redução de riscos previsíveis para a vida em razão de possíveis desastres inerentes à localização de pessoas e comunidades ─ inundações, períodos de estiagem ou secas prolongadas.

 

As relações sociais não têm como motivador primeiro a solidariedade pontual num cataclismo ou manifestação extrema de fenômenos físicos. Elas alimentam a solidariedade permanente e o aperfeiçoamento social e cultural integrado ao ambiente com a possível e necessária convivência entre todos os entes da biocomunidade.

 

 

TEMAS PARA ANÁLISE

 

 

 A ação humana (pegada ecológica) pode pôr em risco a saúde e a vida de uma coletividade, de um país, de um continente, do planeta.  Alguns cuidados podem evitar desconfortos, vicissitudes e desastres, como proteção de mananciais, bosques, vegetação nativa, lençol freático, áreas de recarga de aquíferos, perfuração de poços artesianos ou tubulares, escolha de áreas adequadas para despejo temporário de lixo séptico, detritos, plásticos, entulho de construção. A recarga limpa ou suja de aquíferos depende da ação e da intervenção do ser humano no ecossistema que o acolhe.

 

 RIQUEZAS ANTROPOLÓGICAS

QUE RELATAM A HISTÓRIA HUMANA

 

Uma gama extensa de vestígios da caminhada humana conta a história de seus dramas e tragédias ao longo de milênios. Cavernas, inscrições rupestres, monumentos históricos ou naturais, árvores típicas, refúgios florestais únicos e sensíveis, brejos, cascatas, belezas naturais são preciosos canais de relacionamento entre as pessoas e entre estas e as demais formas de vida.

 

INVASÃO E DESTRUIÇÃO DE ÁREAS VALIOSAS

QUE GEREM CUSTOS SOCIAIS DE RECUPERAÇÃO

E REGENERAÇÃO.

 

Mudanças estruturais com urbanização de encostas, margens de rios, lagos e mananciais sem prévio estudo da constituição geológica das áreas a serem ocupadas.

Habitat de vida nativa rara (Pantanal, Mata Atlântica, Cerrado, Amazônia) ou em extinção; paisagens, locais de recreação potencial.

Proteção do espaço necessário para a vida do bioma e da biota ─ vegetais e animais.

 

 INTERDEPENDÊNCIA DE TODAS AS ESPÉCIES VIVAS

 

Um dos mais importantes aspectos da vida no planeta é a interdependência de todas as espécies vivas que compõem a biodiversidade para sua sobrevivência e reprodução na biocomunidade. Vidas se alimentam de vidas para proteger a vida. Planejamento e controle inteligente da reprodução da vida humana. O homo sapiens chegou ao planeta milhões de anos depois das árvores. A sobriedade, a paciência, a lenta regeneração diante calamidades ou fenômenos físicos naturais e mudanças climáticas podem dar o ritmo da caminhada humana.

 

ORGANIZAÇÃO NATURAL DAS ESPÉCIES VIVAS

 

Preservação da auto-organização natural das espécies vivas frente à organização social e cultural urbana e rural da espécie humana.

O princípio da precaução da ação humana e a pegada ecológica do passo e do ritmo da evolução do homo sapiens. No último século, a pegada ecológica do homem destruiu mais que nos 10 séculos anteriores. A regeneração de uma área pode provocar o aparecimento de espécies temporariamente desaparecidas ou novas. O tempo da substituição das espécies nativas por outras domesticadas (soja, milho) não é o mesmo da regeneração de um bioma para recompor a fertilidade e garantir produção constante e permanente. O tempo da natureza não é o tempo do relógio. Há que se examinar a necessidade, a adequação e a conveniência de se introduzir máquinas no corpo do ecossistema.

O princípio da precaução recomenda prudência à ação humana ao interferir na organização natural das espécies vivas e no amplo espaço dos ecossistemas.

·         O maquinário, a intervenção autoritária, o desmatamento, a queima. Sabe-se que o arado foi a primeira agressão feita ao solo indefeso.

·         Os fertilizantes químicos, os pesticidas (agrotóxicos) se incorporam ao solo, à água, às plantas, à atmosfera e às pessoas.

·         Educação e saúde estão afetadas pela modificação do habitat vegetal, animal e humano.

·         Possíveis ações de cooperação entre a espécie humana e as condições necessárias à preservação da água e da vegetação nativa.

·         Plantar árvores e proteger florestas é o grito revolucionário deste século.

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CONCLUSÃO

 

 

A Ecossociologia é um método ou caminho alternativo para compreender o funcionamento da auto-organização da natureza e integrar a espécie humana na sociedade complexa formada pela biodiversidade. A natureza se expressa por meio de biomas e ecossistemas habitados por vidas humanas e não humanas que interagem e interdependem para a continuidade da vida em suas múltiplas formas de expressão. As decisões do homo sapiens serão mais sábias se executadas com precaução e comedimento no tratamento e uso dos bens comuns do ecossistema que o abriga na companhia permanente de outros milhares de entes da biocomunidade. A cultura humana, sob as mais diferentes formas de expressão, pode causar danos à biodiversidade se agir com atitudes e práticas impositivas e autoritárias. A cultura multifacetada da espécie humana pode dar o toque de sabedoria comunicativa ao conjunto de idiomas sutis da natureza em defesa da vida.


 

REFERÊNCIAS:

 

MORIN, Edgar, O enigma do homem, Editora Zahar, RJ, 1975.

SILVA, Agostinho, FIOLOSOFIA ENQUANTO POESIA, Realizações Editora, São Paulo, 2019.

SANTOS, Milton, O espaço dividido, EdUsp, São Paulo, 2008.

WOHLLEBEN, Peter, A vida secreta das árvores ─ o que elas sentem e como se comunicam ─ Editora Sextante, São Paulo, 2017.

CARSON, Rachel, A primavera silenciosa, Melhoramentos, São Paulo, 1964.

EHRLICH, Paul, The Population Bomb, Sierra Club, Kansas, EEUU, 1968.

WHAL, Christian Daniel, Design de Culturas Regenerativas, Bambual, União Planetária, Brasília, 2019.

PORTO GONÇALVES, C. W., Os (Des)caminhos do Meio Ambiente, Contexto, São Paulo, 1998.