quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

CARTA DA ÁGUA:

(Olho d'água, Biocomunidade Sítio das Neves, produz 40 m3/dia. Foto: Eugênio Giovenardi)


LIVRETO DISPONÍVEL  




CARTA DA ÁGUA:

DA ESCASSEZ À TRANSIÇÃO HÍDRICA


Newton Castro, Engenheiro Civil
 Eugênio Giovenardi, ecossociólogo e escritor



A história da água sobre o planeta Terra é complexa e está diretamente relacionada ao crescimento da população humana, ao grau de urbanização e aos usos múltiplos que afetam a quantidade e a qualidade. (José Galizia Tundisi, Água no século XXI)




O Oitavo Fórum Mundial da Água, que se realiza em Brasília, de 18 a 22 de março de 2018, mobiliza mais de uma centena de países, o governo brasileiro, os governos estaduais e municipais e um grande número de institutos acadêmicos e organizações não governamentais. As decisões que serão tomadas nesse evento terão efeito não só para o Brasil. Elas contemplarão os mais de 7,5 bilhões de habitantes humanos, além de muitos outros bilhões de seres vivos que constituem a biodiversidade do planeta.
As mudanças de comportamento climático, pelas quais atravessa o planeta, afetam o regime de chuvas e provocam situações extremas de longas estiagens ou inundações desastrosas. Esses eventos, com maior ou menor intensidade, se fazem sentir em todas as regiões do planeta.
Na organização da natureza, a água está disponível, indistintamen6te, para todos os seres vivos. Alguns deles, como as árvores, são protetores dos cursos de água. Com exceção da espécie humana, todos os seres vivos convivem harmoniosamente com a água. Não existe, no conjunto de riquezas naturais, uma oferta específica de água para a espécie humana. Ao se tratar do uso da água pela espécie humana, deve-se considerar que sua demanda é crescente e diversificada.



A intervenção humana no cenário natural, relacionada à reprodução e à sobrevivência, ocasiona distúrbios que podem ser danosos a todos os seres vivos que formam a biocomunidade de um bioma e seus ecossistemas.
Na administração da captação e retenção das águas disponíveis para uso humano há que se considerar duas questões fundamentais: quanta água há e quantos são os que precisam de água, incluindo todos os seres vivos de um bioma. Um terceiro elemento, não menos importante, se acrescenta aos dois anteriores: quanto custa satisfazer equanimemente a gama diversificada de necessidades da população humana.

1)    Situação atual

O Oitavo Fórum Mundial da Água, com a participação dos órgãos oficiais de todos os países envolvidos, órgãos governamentais e não governamentais brasileiros, se debruçará particularmente sobre as circunstâncias físicas do planeta e específicas do Planalto Central. Por ser o berço das águas, O DF requer uma sábia e gradual mudança de paradigma dos habitantes brasilienses a respeito da natureza.
A atual situação hídrica de escassez resulta do aumento da população, de sua demanda diversificada, da urbanização intensa, da malha rodoviária que favorece o uso individual do transporte e da devastação dos mananciais. Agrava-se com a irregularidade e diminuição das chuvas como efeito de mudanças climáticas. O conjunto desses fatores reduzem a capacidade de suporte geográfico do DF e conduzem ao empobrecimento da biodiversidade regional.



A inexistência ou o inadequado acompanhamento do balanço hídrico, o ineficiente gerenciamento de bacias hidrográficas, a consequente devastação de matas ciliares, a extinção de nascentes e pequenos cursos d’água obrigaram os gestores a decidirem, com atraso, pelo racionamento generalizado no fornecimento de água.
Outros aspectos importantes que provocaram a escassez hídrica se referem ao descontrole do uso de águas subterrâneas por meio de poços artesianos (mais de 40 mil no DF), a ações técnicas e políticas pouco significativas de captação de águas pluviais e ao escasso reuso de águas servidas.
Essas dificuldades são acrescidas pela pouca integração com as comunidades vizinhas que formam a Área Metropolitana de Brasília, pelas perdas significativas (mais de 30%) de água tratada e pela especulação imobiliária desenfreada. Esses fatores provocam demandas fora de controle.
Agregue-se que a paralização das obras de Corumbá IV (GO) afetou igualmente o fornecimento de água à população do DF. A construção da usina de tratamento fornece água retirada do Lago Paranoá com vazão inicial de 700 litros por segundo ou 60,5 milhões de litros por dia. É de se notar que a retirada de águas acumuladas pela chuva não significa aumento da capacidade natural dos poucos mananciais que ainda restam no DF.



2)    Situação desejável

O consumo responsável e racional da água, fruto da educação ambiental e da aplicação rigorosa da legislação pertinente, propiciará um volume diário democrático e igualitário à população. Órgãos de saúde pública nacionais e internacionais deveriam sugerir a cota mínima necessária para orientação dos organismos responsáveis pelo abastecimento de água a toda a população.
A irregularidade e a escassez de chuvas, segundo informações divulgadas, podem continuar por longo tempo. Esse alerta deve ser intensamente comunicado à população para despertar atitude consciente diante da escassez e gerar novos comportamentos. É prudente assumir que as mudanças climáticas afetam fortemente o Planeta e, particularmente, o Cerrado brasileiro, o que implica em mudança de costumes no uso da água, tanto na cidade quanto nas lavouras produtoras de alimentos.
Propõe-se para isso um processo salutar de transição hídrica.
A transição hídrica significa alteração de atitudes, substituição de hábitos, mudança de conceitos em relação à água, para a passagem do modo atual de comportar-se a outro mais adequado. Trata-se de mudança de paradigma que implica em olhar de maneira diferente a natureza.




Ainda que os reservatórios locais cheguem a 100% e novas retiradas sejam feitas de longas distâncias, é necessário que a população mude seu comportamento em relação ao uso da água.
 É imprescindível realizar o balanço hídrico do DF e Área Metropolitana tanto no uso pessoal quanto na produção agrícola e industrial cujos resultados devem ser apresentados, com transparência, à população.
Entre ações importantes e urgentes propõe-se:
·        investir fortemente no gerenciamento das bacias hidrográficas;
·        criar programa específico de proteção e repovoamento das matas ciliares com espécies nativas;
·        estabelecer, com a participação dos comitês de bacias, um monitoramento eletrônico da vazão das nascentes e pequenos cursos d’água para informação permanente à população;
·        estimular e promover forte integração da população do DF com municípios vizinhos para avaliar a variação do potencial hídrico dos cursos d’água;
·        fomentar ações de reuso da água e utilização da água da chuva;
·        reduzir as perdas de água tratada a níveis não superiores a 10% e, ao mesmo tempo, intensificar sistemas de controle de perdas de rede;
·        controlar, fiscalizar e impedir rigorosamente e sem tréguas a ocupação irregular e a especulação imobiliária;
·        orientar a população sobre a outorga e a finalidade do uso das águas subterrâneas e fiscalizar sistematicamente o volume utilizado através de relógios medidores.



3)    Transição Hídrica

Entre as ações para o êxito da transição hídrica e a mudança de paradigma, sugere-se, especialmente para o DF:
·        Mapear e divulgar amplamente todos os nascimentos de corpos d’água da região do Distrito Federal e adjacências.
·        Programar investimentos adequados a montante (águas acima) com a finalidade de proteção dos mananciais, mantendo uma linha intransponível para preservação da vegetação nativa.
·        Ampliar o sistema de captação de águas da chuva nos prédios urbanos e rurais que favoreçam, por um lado, a recarga dos aquíferos e, por outra parte, reduzam a pressão sobre os reservatórios.
·        Desenvolver tecnologias adequadas e divulgar informações para reuso da água de acordo com a modalidade de seu uso.
·        Informar a população sobre o consumo de água embutido na geração de energia elétrica. O consumo de dois quilowatts/dia por habitante necessita de 13 mil litros de água (6.600 litros para gerar um quilowatt). Não é de estranhar que as represas hidrelétricas se esvaziam.
·        Incentivar investimentos em alternativas de geração de energia elétrica. Poupar energia hidrelétrica é poupar água;



·        Universalizar a educação ambiental sobre a redução, seleção e classificação do lixo para proteger os cursos de água.
·        Avaliar o Zoneamento Econômico Ecológico (ZEE) no que tange ao uso da água nas diversas atividades humanas, urbanas e rurais.
·        Considerar os habitantes de municípios vizinhos afetados pela mesma situação da capital federal, pois pertencem ao mesmo ecossistema.
·        Buscar intensa Cooperação com os Estados de Goiás e Minas Gerais no que tange aos recursos hídricos.
·        Criar Comitês de Risco para as diversas atividades econômicas no sentido de buscar o ponto de equilíbrio entre o uso e a reposição do volume hídrico.
·        Elaborar planejamento de curto, médio e longo prazos para implementação de medidas econômicas de caráter permanente ao acesso à disponibilidade da água.
·        Cumprir a legislação que decreta a água como bem natural, de uso comum do povo, não sendo propriedade nem de órgãos públicos, nem de corporações ou pessoas físicas. Aos órgãos públicos compete o gerenciamento da água e não sua propriedade;



·        Criar o Fundo de Gerenciamento e Controle do Uso da Água, (Bolsa Água para agricultores) com a responsabilidade de propor ações especiais e apoiar iniciativas educacionais, científicas ou outras pertinentes ao uso e conservação dos corpos d’água. O Fundo será gerido pela sociedade civil, com participação de especialistas, empresas públicas, privadas e universidades.
·        Assumir institucionalmente o estado de Transição Hídrica estimulando ações continuadas e perenes.
·        Estabelecer, com urgência, metas consistentes para os próximos vinte anos.
·        Pôr em ação, com o apoio da mídia, um sistema de comunicação permanente sobre a escassez hídrica.
·        Criar PORTAL DE TRANSPARÊNCIA com a disponibilização de todos os dados, estatísticas, consumos, disponibilidade hídrica e demais informações necessárias à participação e fiscalização da população.
·        Incentivar a organização popular de grupos de observação e informação sobre ações de proteção de nascentes e da vegetação nativa realizadas no âmbito do DF.



A caracterização do estado de Transição Hídrica permitirá a todos, permanentemente, travar contato com a realidade da escassez de água e da necessidade de cada um fazer sua parte de forma consciente.
Tratando-se de uma situação muito grave, todos somos responsáveis: órgãos públicos e privados, pessoas físicas e jurídicas, centros de ensino e pesquisa, além de outros agentes que podem agir de forma positiva.
O objetivo é a discussão de medidas e soluções para a atual e as próximas gerações, que podem não encontrar água suficiente e adequada às suas necessidades.
A ênfase deve ser dada à mudança de comportamento dos diversos agentes sociais, desde o cidadão comum até os organismos de controle e execução.
A Transição Hídrica há que ultrapassar períodos de governos, pois a natureza do problema não comporta desvios em relação ao tema central. Requer reavaliações permanentes, sem mudanças de curso ou paralização de ações.



A transição necessariamente perpassa toda a sociedade. A comunicação adequada e transparente estimulará a participação da população sem empecilhos burocráticos às soluções propostas.
O estabelecimento de algumas metas de curto prazo, imediatamente propostas, poderá estancar problemas crônicos. As metas de médio e longo prazo deverão se estender, pelo menos, aos próximos 2 anos, de tal forma que as futuras gerações, por nossa desídia, não sofram consequências maiores.
Os meios de comunicação e a organização popular em defesa dos mananciais têm papel fundamental neste esforço de conscientização, divulgação e êxito da Transição Hídrica.









Esta Carta da Água resume os debates realizados no Terceiro Seminário Águas Acima, realizado em 30.3.2017, em preparação ao Oitavo Fórum Mundial da Água que se efetua em Brasília, no mês de março de 2018.
Promovido pelo Instituto Histórico e Geográfico/DF, contou com a inestimável participação do Conselho de Arquitetos Urbanistas/DF, do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia/DF, da Embrapa, da Emater/DF e da Ordem dos Advogados do Brasil/DF.



terça-feira, 30 de janeiro de 2018

OLHAR BRASÍLIA – ÁGUA

(Foto: Olho d'água, Biocomunidade do Sítio das Neves, Eugênio Giovenardi)


CONTAR PARA VIVER

OLHAR BRASÍLIA – ÁGUA


“O melhor é a água”, disse Riobaldo a Guimarães Rosa.
Sem água não há vida, não há governo, nem orçamento, nem previdência. Sem água não há liberdade, nem fraternidade, nem igualdade, nem democracia. Sem água você não estaria vivo. Compreenda que você é 70 por cento água. Sem água você não teria dado nem recebido um beijo de amor.
A folha da árvore é água. O tronco é água. As raízes são água e levam água aos aquíferos interiores. Cenoura, tomate, soja, carne, laranja são caixas d’água. Grande parte dessa água não volta ao mar. Por isso, secam nascentes, córregos, rios, represas.
Vida é água limpa. Água suja é doença. Cuide da água que está em você. Cuide da água que está nas plantas, que está nos bichos. Cuide da água que nasce limpa no olho d’água.
Um pequenino olho d’água lacrimejou durante milênios para se tornar o Amazonas, o São Francisco, o Paraná. Não olhe só águas abaixo. Olhe águas acima. É lá que está a origem da vida e da biodiversidade.
A falta de compreensão do que representa a água e sua relação com o conjunto de organismos vivos interdependentes deixa o governo sem política de preservação da água. Há leis, programas e projetos águas abaixo para explorá-las. A diferença entre você, todos nós e as plantas é que nós gastamos água. Elas preservam a água. A água é a base da felicidade de todos os seres vivos.
Não feche os olhos aos olhos d’água.

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Veja a trilogia de filmes sobre água:
INDELÉVEL, de Akashi e Minoti
ÁGUA, do arquiteto Frederico Holanda
PAZ, das meninas Luiza e Valentina
Você compreenderá como nasce a vida, como nascem o Amazonas, o São Francisco, o Paraná, e como tudo continua se houver água.
OITAVO FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA
Teatro da Thomas Jefferson, 706 Sul, Brasília

20 de março de 2018

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

UM PAIS MARAVILHOSO

CONTAR PARA VIVER

UM PAIS MARAVILHOSO


O Brasil é um país maravilhoso onde pipocam os contrastes e as contradições.
É uma terra generosa onde em se plantando tudo dá e, em não se plantando, tudo dão.
A natureza pródiga guarda reservas de água onde tem pouca gente e escassez onde há gente demais.
O território do país concentra 12% da água doce do planeta e mais de 200 cidades brasileiras estão inundadas de água doce.
40 bilionários brasileiros desfrutam de 80% da riqueza produzida no país e 100 milhões não são atendidos com saneamento básico.
Somos um povo cordial com 52 mil assassinatos por ano.
O Brasil festeja os 57 milhões de heróis que sobrevivem na guerra diária com os 30 reais por dia que lhes garante o SM de 954,00 reais.

Tudo isso combinado nos dá o mais alegre e colorido carnaval do planeta. Brasil verde com sorriso amarelo!

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

IGNORÂNCIA ECOLÓGICA

(Foto: Lixão à beira da rodovia BR-060. Eugênio Giovenardi)

CONTAR PARA VIVER

IGNORÂNCIA ECOLÓGICA

O Lixão da Estrutural acabou, mas o lixo continua espalhado pela cidade, em contêineres contaminados, nas ruas, à beira das rodovias, nos córregos.
O Lixão representou, por 60 anos, nossa generalizada ignorância ecológica. Planejadores urbanos que idealizaram nossa cidade, administradores descompromissados com a coisa pública, cidadãos da capital da república caímos na arapuca do crescimento urbano.
Sem contar o dejeto invisível que sai de 3 milhões de vasos sanitários, produzimos, no DF, 1.800.000 kg de lixo por dia, mais de 600 gr por pessoa Um terço desse lixo é comida jogada por restaurantes, hospitais, escolas, cozinhas familiares, equivalente a 600.000 kg por dia. Essa comida desprezada seria suficiente para alimentar 1.200.000 pessoas/dia. E queremos acabar com a pobreza. Sabe-se que os catadores do Lixão recolhiam parte da comida que os alimentava. Supõe-se que não comam mais os restos de comida, mas continuarão sendo os escravos de nosso lixo porque o valor agregado da reciclagem e a tecnologia industrial ficam em outras mãos.
Aponto três falhas estruturais da construção de Brasília: a) não se definiu a coleta de lixo urbano; b) não se previram alternativas de esgotamento pluvial e captação das águas da chuva; c) soterraram-se centenas de olhos d’água nos loteamentos urbanos com tremendo impacto sobre o abastecimento de água.

Pensaremos, agora, na seleção e classificação do lixo, na interdição de lixo à beira de rodovias, no vergonhoso desperdício de alimentos e na proteção dos mananciais?

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

DESCOBERTO, CORUMBÁ, PARANOÁ E CIA.



(Lixo na área da Bacia do Descoberto, Engenho das Lajes, BR-060. Foto: Eugênio Giovenardi)

CONTAR PARA VIVER

DESCOBERTO, CORUMBÁ, PARANOÁ E CIA.

As atenções políticas estão voltadas para a maldenominada “crise hídrica”. Um eufemismo para burlar a real escassez de água, consequência do crescimento descontrolado da população do DF, dos múltiplos tipos de uso de água na cidade e no campo e, não menos importante, do mal-uso geral da água.
Não se capta água de reservatórios formados por rios represados. Retira-se deles a água por meio de bombas de sucção. Capta-se água das chuvas por meio de calhas, tanques ou preservando a vegetação. A escassez continua mesmo com tubulações caríssimas propostas por administradores políticos para levar água às torneiras e aos campos.
Enquanto continuarmos a não olhar para os mananciais formados por pequeninos olhos d’água, seguiremos ouvindo e lendo sobre “crise hídrica”. Para retirar água da represa Corumbá IV, foram e estão sendo aplicados 1 bilhão e duzentos milhões de reais. Quantos centavos estão previstos no orçamento do DF para proteger a vegetação nativa ao redor das nascentes que formam os rios e que, menos e menos, alimentam os reservatórios?
18.1.2018


terça-feira, 16 de janeiro de 2018

FELIZ ANIVERSÁRIO

CONTAR PARA VIVER
FELIZ ANIVERSÁRIO

O racionamento imposto com atraso induziu grande parte da população consciente do DF ao uso racional da água. Essa medida inconfortável, que aniversaria hoje, não foi universal nem democrática. Talvez a população que melhor esteja aprendendo a usar com parcimônia a água escassa seja a dos bairros fora do Plano Piloto.
Nada aprenderam os que duplicaram ou triplicaram suas reservas com novas caixas d’água. Menos ainda, os que usam e abusam de poços artesianos. A desigualdade ecológica soma-se à cultural, social, econômica.
O governo não deve discutir nem enganar a população com a suspensão do racionamento. A escassez de água continuará mesmo com a retirada do Paranoá e do Corumbá. Deve, sim, estender o racionamento a toda a população urbana e rural de forma universal, eficaz, fiscalizada e controlada.
16.1.2018


domingo, 14 de janeiro de 2018

ÁGUAS PELA PAZ

(Lafoencia, sugere um novo olhar sobre a natureza. Foto: Eugênio Giovenardi, Biocomunidade Sítio das Neves, DF)

O cidadão paulista, hoje guru Sri Pren Baba, veio animar o evento Águas pela paz, nos dias 11 a 13 de janeiro/2018. Sua pregação aponta para a espiritualidade, um fenômeno cerebral que, segundo o pregador, pode provocar “o encontro do homem interior com o exterior, capaz de salvar o mundo da crise ambiental”. É uma receita que pode se aplicar à economia, à corrupção, à agressividade, ao abrigo de refugiados, ao consumo de drogas. É a reprise do conhecido conceito proclamado pelas ordens religiosas ao receber um novo candidato a monge: Dispa-se do homem velho e vista-se do homem novo. Essa transfusão leva anos e, muitas vezes, não acontece.
Até onde a crise ambiental é apenas uma “desconexão da dimensão subjetiva da vida” como sugere Pren Baba? E se a causa é “eminentemente espiritual”, o saneamento dessa falha metafísica estimularia atividades de proteção de olhos d’água? Como comprovar essa mudança na prática? Quanto tempo se levará para conectar as pessoas à “dimensão subjetiva da vida”?
Hoje, atitude sábia é lançar um novo olhar sobre a natureza e compreender as leis que regem as relações entre os ecossistemas, os biomas e a interdependência de todos os seres vivos. Buscar o equilíbrio entre a disponibilidade dos bens naturais e o uso deles pelos seres vivos, em particular a indispensável água, faz parte do salto qualitativo do cérebro humano. E, atenção, quanto mais seres dependem de água, menos dela cabe a cada um.
14.1.2018

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

POPULAÇÃO E ÁGUA




(Foto: Estadão)

CONTAR PARA VIVER

POPULAÇÃO E ÁGUA

Tenho insistido em meus escritos sobre a relação íntima entre crescimento da população e escassez de água. 
José Galizia Tundisi, um dos especialistas confiáveis no assunto, em seu livro AGUA  no século XXI, escreveu: “A história da água sobre o planeta Terra é complexa e está diretamente relacionada ao crescimento da população humana, ao grau de urbanização e aos usos múltiplos que afetam a quantidade e a qualidade.”
Todos nós usamos água para diversas atividades. As principais categorias que envolvem o uso de água em nossa vida econômica e social são: agricultura (irrigada e pecuária), consumo doméstico (residencial ou profissional), consumo industrial, comercial, urbano e geração de eletricidade.
A disponibilidade de água por habitante, no DF, para suas múltiplas atividades, diminui ano a ano. A vazão de água, no DF, informada pela Caesb, é de 9m3 por segundo, ou 7,9 bilhões de litros/dia.
Em 1970 a pop. era de 540 mil habitantes e, a disponibilidade de água, de 14.700 litros/dia/hab.
Em 2000, a pop. era de 2,0 milhões e, a disponibilidade, de 3.900 l/dia/hab.
Em 2018, a pop. é de 3,0 milhões e a disponibilidade baixou para 2.600 l/dia/hab. Sete vezes menos.
A cada ano, o DF recebe 40 a 50 mil novos habitantes que disputam o mesmo volume de água. Ou menos gente, ou menos consumo de água, sem deixar de protegê-la.

10.1.2018

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

CONTAR PARA VIVER

(foto: Eugênio Giovenardi - Ribeirão das Lajes,DF)

CONTAR PARA VIVER – RIBEIRÃO DAS LAJES 

Conheci, em 1974, o Ribeirão das Lajes, DF, afluente do rio Santo Antônio do Descoberto. Ainda desabitadas, ambas margens receberam, nas últimas quatro décadas, centenas de famílias dedicadas a diversas atividades agrícolas: bovinocultura, ranicultura, suinocultura, avicultura, reflorestação com pinus e eucaliptos, além de vários condomínios residenciais e casas de repouso.
A conformação geográfica da área forma belo vale de 20 km, ao Sul, alimentado por dezenas de nascentes perenes e centenas de fontes intermitentes que afloram no período chuvoso.
Durante mais de 40 anos, acompanho o fluxo do Ribeirão, no período de chuvas. A partir do ano 2000, o Ribeirão deu sinais de mudança no volume de água recebido das chuvas. As águas pluviais elevavam o nível do Ribeirão em até 8 metros. Ao longo de semanas, o nível se mantinha um metro acima do curso normal.
As chuvas ativavam as nascentes e, mesmo durante os veranicos de janeiro e fevereiro, o volume de água permanecia alto.
A ocupação humana das margens provocou o desmatamento e o uso inadequado do solo. O desnudamento da terra secou dezenas de nascentes. As águas se afundaram por falta de vegetação.
A partir de 2005, o Ribeirão revela, mesmo durante o período chuvoso, a escassez regional de águas. Longe dos oito metros de décadas anteriores, escassamente o nível do Ribeirão cresce dois metros e meio apesar de precipitações mensais de 300mm.
Lamentavelmente, com a ocupação inadequada da terra, o Ribeirão é um canal de múltiplos detritos, dejetos, sacos plásticos, garrafas, animais mortos e odor de esgoto. O bairro Engenho das Lajes (DF), 7.000 habitantes, recebe, via Caesb, águas do Ribeirão.
Em 2005, escrevi um libreto-manifesto bilíngue – O RETORNO DAS ÁGUAS – e previ a escassez e o racionamento de água que aflige, desde 2016, a população do Distrito Federal.
8.1.2018


 

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

QUANTO CHOVEU EM 2017


A Agência Nacional de Águas (ANA) tem pluviômetros em muitos pontos do Distrito Federal. Isto permite ter um balanço aproximado do volume de água em toda a área controlada. Milímetros a mais ou a menos, todas as regiões do DF recebem quantidades aproximadas. A leitura da água se faz às 7h da manhã e os valores do mês são repassados à ANA. No site da ANA, pode-se acompanhar essas informações. No Sítio das Neves, Engenho das Lages, Km 26 da BR-060, o pluviômetro nos deu as seguintes leituras comparativas:

Em 2016, a precipitação de janeiro a dezembro foi de 1.929,0mm
Em 2017, foi de 1.478,7mm. Houve uma redução de 450,3mm, isto é, 450 litros por metro quadrado. Segundo informações oficiais, a área de alimentação do reservatório Descoberto é de 460 km2 ou 460 milhões de m2. Em 2017, com a redução das chuvas, a área mencionada deixou de receber 207 bilhões de litros de água. A devastação da área, a impermeabilização urbana e o uso inadequado para a agricultura contribuem para agravar a recarga dos alimentadores do Descoberto. Diante destas circunstâncias, a ADASA e a CAESB não têm elementos suficientes para amenizar o racionamento, mesmo que o volume do reservatório chegue a 50% em março.
Em vez de iludir a população com perspectivas de boas chuvas, em janeiro e fevereiro, melhor será incentivar menor gasto de água uma vez que o número de consumidores do DF continua crescendo.

2.1.2018