sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

ESTE É O CARA

Barak Obama ( O Obama − na intimidade informal de nosso Presidente), ao cumprimentar Lula, numa reunião de presidentes do grupo dos 28, disse: this is the man. Nosso Presidente, que não distingue inglês, recebeu a tradução simultânea em linguagem popular − este é o cara − frase que os jornais do Brasil estamparam com euforia e orgulho.
Por que Obama o definiu tão curta e cabalmente? De todos os presidentes de países capitalistas que se congregaram na Inglaterra para salvar o capitalismo global das trapaças financeiras, o mais sincero e convicto defensor do regime capitalista era o cara Lula.
O capitalismo, dizem os cardeais da economia, não quer e não gosta de pobres. Não! Ele gera pobres, mas tem solução para eles: dar-lhes as sobras do capitalismo de mercado ou de Estado. Os pobres, com essas sobras, podem ajudar o capitalismo comendo pelas bordas.
Um dos princípios elucidativos difundidos por gestores do regime da iniciativa privada empresarial que justificam as relações de convivência entre o capital e o trabalho é que os pobres se contentam com algo mais que nada. O ponto de referência é o zero. Um salário mínimo dividido entre cinco membros de uma família é igual a três reais por dia, muito mais que zero. Comem mais, não importa o quê. Endividam-se para comprar artefatos da moda, melhorar o telhado da casa, pôr a geladeira na cozinha e a TV na sala. Não há porque privar os pobres dessa felicidade de ter o que todos têm. Não ter é uma condição humana demasiado cruel. Os créditos impagáveis, no entanto, dão lucro aos bancos que receberam dinheiro gratuito dos depositantes particulares e oficiais, isto é, tutu dos impostos, sabiamente gerenciado pelas financeiras.
A indústria e o comércio se expandem. As estatísticas cooptadas informam milhares de contratações com carteira assinada - um dos sonhos do brasileiro − mas não deduzem os outros milhares de demissões para não revelar que é esse o jogo do capitalismo: manter os salários baixos.
Lula é o cara, diz Mailson da Nóbrega, que soube astutamente, contra seu partido e as forças renovadoras, preservar e manter, estimular e aperfeiçoar as instituições capitalistas rumo à quarta potência mundial.
Lula é cara, posto na condução do governo, em conchavo com Bush, para desmontar as organizações populares que poderiam construir a democracia participativa e garantiriam o controle da máquina pública e privada de prestação de serviços à pátria e a seus cidadãos.
Lula é o cara que, em conseqüência desse desmantelamento das forças organizadas, abriu as portas à corrupção agressiva e insaciável, aos compromissos e alianças com grupos retrógrados e corrompidos. Agita bandeiras próprias do capitalismo, jogando sobras às multidões famintas, mas mantendo-as incultas e fora do poder das decisões democráticas. As multidões comovidas agradecem fielmente. Elas, hoje, tem mais do que nada.
Lula é o cara que, astuciosamente, soube ser bafejado pelos de cima e amado pelos debaixo.
Lula é o cara que construiu seu próprio pedestal solitário, erguido no deserto político de areias movediças.
Lula é apenas um cara.

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