terça-feira, 30 de agosto de 2016

IMPERIALISMO E NATUREZA



É histórico o que os ingleses fizeram na Índia, ou os portugueses e o espanhóis nas Américas, ou os franceses no norte da África. Podia-se encher uma enciclopédia de horrores ou uma enciclopédia de benefícios para colonizadores e colonizados.
O imperialismo político, econômico e tecnológico depôs governos locais. Impôs seu idioma. Abriu estradas. Perfurou minas. Apossou-se de riquezas. Quantos milhões morreram de fome em Bengala, no Brasil, em Biafra com ações de nossos antepassados?
Quando ocupamos uma área da natureza, como o bioma Cerrado, poucos lembram que esse ato imperialista deve ter seu lado cientista para conhecer os habitantes tão especiais que vivem nele há milhares de anos e, assim, conviver com eles.
Por isso, levo biólogos, geólogos, geógrafos à biocomunidade do Sítio das Neves para compreender, conhecer e conviver com o complexo sistema de árvores, água e milhões de vidas. O Sítio das Neves conta, hoje, com mapas de satélite, classificação de árvores e identificação de bichos e aves, localização de nascentes, pluviômetros para medição de águas da chuva.
Antes de qualquer ação humana no Cerrado é preciso conhecê-lo. A ocupação atual do Cerrado usa outro método. O modelo imperialista cego. Como não se pode acabar com tudo o que há nele: plantas, animais, nascentes de água, muda-se a cultura natural por uma cultura humana experimental. Quantos milhões de árvores e de animais morreram com nossa chegada ao Cerrado? Quantos milhares de nascentes de água e rios secaram? Há sempre justificativas ideológicas para explicar a conduta do homo sapiens: soja e bois para vender.
O fato grave é que, com a desarrazoada ocupação do bioma Cerrado nossa capacidade de administrar os erros cometidos e em processo custa cada dia mais caro e torna-se mais difícil.
O caos se avoluma na medida de nossa ignorância contumaz.

27.8.2016

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

ÁGUAS DO LAGO PARANOÁ



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MARCOS GARZON, escritor e ambientalista, em seu livro, 2004, Tarde demais?, escreveu: “Na região do Distrito Federal, desde a inauguração da cidade de Brasília, mais de 60 nascentes foram destruídas”.Agonizam os córregos Vicente Pires, Cabeceira do Valo (Veado) e Cana do Reino. Estudos demonstram que mais de 300 córregos e riachos desapareceram. 

Nenhuma menção se faz ao superpovoamento do DF. Durante o período de estiagem não se faz menção à racionalidade do uso da água. Gasta-se até mais do que em outros meses. A oferta de água proveniente das nascentes não se altera e é insuficiente para satisfazer as múltiplas e diversificadas necessidades da população. 

O acréscimo de 105 bebês por dia, no DF, o que resulta em 38.000 novos habitantes, por ano, e os 20.000 imigrantes que a eles se somam parece não perturbarem os administradores públicos. Essa população acrescida gera um consumo adicional de 23,4 milhões de litros de água por ano. Se somássemos o volume de água necessário a gerar a energia anual consumida pela nova população que se agrega (2 KW por pessoa/dia), o que estranhamente nunca é mencionado, os números chegam a 280 bilhões de litros (para gerar um KW são necessários 6.600 litros de água). Esse é apenas o acréscimo de consumo anual de água. Não há aumento de um metro cúbico a mais no DF para oferecer a uma população que cresce explosivamente. Não se pode planejar chuvas nem a longevidade dos aquíferos. Pode-se, se os donos do poder acordarem, planejar o crescimento da população.

Se, em 2004, era tarde demais para pensar no futuro das águas no DF, hoje, está definitivamente encerrado o jogo. O Lago Paranoá nos dará água suja e cara. Investimentos que faltarão à saúde e à educação serão enterrados em tubulação, bombas, energia e órgãos de administração.
Vale lembrar um trecho do relatório do botânico e engenheiro Auguste Claziou, membro da Missão Cruls, entre 1882 e 1884, referente ao vale que depois se tornou Lago Paranoá: “...Cheguei a um vastíssimo vale banhado pelos rios Torto, Gama, Vicente Pires, Riacho Fundo, Bananal e outros. Impressionou-me profundamente a calma severa e majestosa desse vale.” Teria lembrado da majestade dos vales do Departamento de Auvergne, na França?
Essa imagem sumiu, como sumiram as Sete Quedas do Rio Paraná. Os cadáveres insepultos desses rios mencionados por Glaziou foram fisicamente soterrados pela invasão displicente de novos bandeirantes. Vive-se de contradições muito ao gosto do imediato, do útil, do fica melhor assim. Transforma-se a beleza e a grandeza da paisagem natural em estética fictícia que exige incansável esforço para defendê-la diante das dificuldades permanentemente apontadas.

Por que temos medo de falar sobre crescimento da população e não temos vergonha de gritar pela medalha do crescimento econômico?

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

CONCESSÕES E TERCEIRIZAÇÕES


Conceder a empresas privadas a administração de bens públicos é entregar a elas dinheiro de impostos e parte do poder de decisão. Nem sempre o poder de decisão é conduzido a atender a globalidade da população a ser beneficiada por serviços terceirizados. As empresas privadas terão as mesmíssimas dificuldades operacionais enfrentadas pelo governo: mão de obra, gestão, planejamento, execução. Como as concessões são pontuais e, nesses pontos se concentram as obras, a gestão e o trabalho, os resultados são normalmente mal avaliados.
No caso da concessão à Triunfo, no trecho Brasília/Goiânia da BR-060, observam-se melhoras em alguns pontos! Recorri à Triunfo (Ouvidoria 0 800), solicitando serviços de limpeza e saneamento da Área de Domínio do Dnit, em frente a meu Sítio das Neves, Km 26, por ser Área de Preservação Permanente – APP. Fi-lo por dois motivos: risco constante de incêndios e concentração de lixo depositado por cidadãos brasilienses. Meus três pedidos telefônicos foram reforçados por mensagem eletrônica. NÃO OBTIVE RESPOSTA!
Com o apoio de especialistas em preservação do Cerrado, iniciamos um projeto de limpeza, saneamento e arborização de 850 metros em frente ao Sítio. Será uma obra demonstrativa, de iniciativa privada, sem recursos do tesouro, para um vasto e desejável programa de arborização e ajardinamento de rodovias com o intuito de evitar inundações de cidades águas abaixo. Agricultores de SC e PR já fazem isso com araucárias que produzem o pinhão.
(Publicado do blog O OBSERVADOR)