É histórico o que os ingleses fizeram na Índia, ou
os portugueses e o espanhóis nas Américas, ou os franceses no norte da África.
Podia-se encher uma enciclopédia de horrores ou uma enciclopédia de benefícios
para colonizadores e colonizados.
O imperialismo político, econômico e tecnológico
depôs governos locais. Impôs seu idioma. Abriu estradas. Perfurou minas.
Apossou-se de riquezas. Quantos milhões morreram de fome em Bengala, no Brasil,
em Biafra com ações de nossos antepassados?
Quando ocupamos uma área da natureza, como o bioma
Cerrado, poucos lembram que esse ato imperialista deve ter seu lado cientista
para conhecer os habitantes tão especiais que vivem nele há milhares de anos e,
assim, conviver com eles.
Por isso, levo biólogos, geólogos, geógrafos à
biocomunidade do Sítio das Neves para compreender, conhecer e conviver com o
complexo sistema de árvores, água e milhões de vidas. O Sítio das Neves conta,
hoje, com mapas de satélite, classificação de árvores e identificação de bichos
e aves, localização de nascentes, pluviômetros para medição de águas da chuva.
Antes de qualquer ação humana no Cerrado é preciso
conhecê-lo. A ocupação atual do Cerrado usa outro método. O modelo imperialista
cego. Como não se pode acabar com tudo o que há nele: plantas, animais,
nascentes de água, muda-se a cultura natural por uma cultura humana experimental.
Quantos milhões de árvores e de animais morreram com nossa chegada ao Cerrado? Quantos
milhares de nascentes de água e rios secaram? Há sempre justificativas
ideológicas para explicar a conduta do homo
sapiens: soja e bois para vender.
O fato grave é que, com a desarrazoada ocupação do
bioma Cerrado nossa capacidade de administrar os erros cometidos e em processo
custa cada dia mais caro e torna-se mais difícil.
O caos se avoluma na medida de nossa ignorância
contumaz.
27.8.2016