HOSPITAL TEM QUE DAR LUCRO
Hospital tem que dar lucro e, para isso, conta com doenças a
cada dia mais especializadas, com pacientes dispostos a enfrentar a magia do
hospital e, acima de tudo, com um aliado efetivo, o medo da morte. Tem que dar
lucro para suprir a irracionalidade de grande parte dos “serviços” prestados
por um exército descoordenado.
A
tecnologia tem estimulado os investidores de clínicas, laboratórios e hospitais
a “apostarem” nesses negócios. Chips, válvulas, safenas, marca-passos, cateteres,
implantes, órgãos artificiais, ultrassonografias, tomografias, aparelhos de
alta precisão, e especialistas em leitura e interpretação desses novos hieróglifos
se juntam solidariamente para atrair, sugestionar e convencer qualquer incauto
a se submeter a esse poder mágico da cura.
A operação
desse armamento não exige mais que uma preparação técnica e mecânica para
oprimir botões, observar as luzes azuis, vermelhas ou amarelas, agulhas que se
movem de um lado para outro num relógio numerado. A automação dos aparelhos
dispensa o conhecimento que o operador possa ter da engrenagem escondida. A um
dos operadores perguntei por que se acendia uma luz vermelha. A resposta: “é
automático”. Este parco, mas suficiente conhecimento determina também o salário
do operador.
Um
hospital, todos sabem, é movido por uma engrenagem complexa construída, hoje,
de partes terceirizadas. Vai da ultrassonografia ao estacionamento de carros. O
médico é pago a parte. Os serviços hospitalares, isto é a hotelaria, copa e
cozinha, idem. O anestesista, idem. O fisioterapeuta, idem. A UTI do hospital é
um serviço separado e com conta separada. O exército de faxineiras encarregadas
de limpeza, coleta de lixo, garçonetes vestem uniformes distintos e são
administradas por empresas distintas. O serviço de segurança, câmeras
espalhadas em todos os andares e elevadores, agentes uniformizados com seus
celulares e rádios, dia e noite circulando pelos corredores ou sentados nas
portas de acesso pertencem a empresas de vigilância. Cada uma dessas empresas
tem administração própria, com escalas, organização e treinamento militar “adaptado”
a um hospital. Um paciente tem que se submeter à disciplina de caserna. Parece
haver pouca coordenação entre todas essas empresas terceirizadas. Cada uma age
em faixa própria.
Um
diretor de uma rede hospitalar entrevistado pelo CB, de Brasília, ao se referir
à nova administração que seria implantada no H. Santa Luzia, adiantou que o
novo estabelecimento de saúde que será levantado na área hospitalar contará com
estacionamento subterrâneo. Isto quer dizer que uma nova empresa terceirizada
tomará conta da garagem, com seus computadores, rádios, celulares, guardas e
guichês de pagamento.
Não há
dúvida que um hospital é importante gerador de postos de trabalho graças à
multiplicidade de doenças novas, formas inéditas de tratá-las e pacientes
dispostos a não morrerem antes do tempo.
As diferenças
aparecem nos salários que vão do mínimo legal à remuneração do cirurgião de 28
SM, além das despesas hospitalares.
A
respeito destas despesas, qualquer paciente ou o responsável por ele são mais
impotentes do que um preso num calabouço da Idade Média. Como contestar o que
vem descrito como MATERIAIS DESCARTÁVEIS (um quarto do valor total), ou OPME
(outro quarto do valor total), ou INSTRUMENTOS ESPECIAIS, ou SALAS DE CIRURGIA.
Conclusão do acerto: ou o responsável paga ou vai para a lista dos devedores
contumazes.
Não
satisfeito com o atendimento e serviços prestados por esse exército de funcionários,
muitos humildes e alguns prepotentes, enviei à direção do hospital por intermédio
do Serviço de Atenção ao Cliente a mensagem que segue.
Prezados senhores,
Ao
mesmo tempo que agradeço o esforço, o conhecimento e a atenção dos médicos,
enfermeiras, seguranças, atendentes, funcionários da limpeza e demais
profissionais do H. Santa Luzia, aproveito a oportunidade para sugerir algumas
medidas de melhora no comportamento e atitudes que podem facilitar os momentos
angustiantes dos pacientes e seus acompanhantes.
1.
Minha esposa, Hilkka Mäki Giovenardi, foi internada no Hospital Santa Luzia,
pela primeira vez, no dia 23 de junho/2012, com entrada pela emergência, sob os
cuidados do Dr. Paulo de Andrade Mello. Submetida à cirurgia de implantação de
válvula para drenagem de liquor encefálico, no dia 24 de junho, permaneceu na
UTI do dia 24 a 25 de junho, ocupando, depois, o quarto 308, no dia 25, tendo
alta no dia 27 de junho.
Nesse
período, notei alguns comportamentos nada recomendáveis num hospital. Lixeiras
com distintos dejetos, plásticos, bolsas de soro, curativos, sonda urinária com
conteúdo na bolsa, copos. Demora na troca do paciente e do banho diário,
atrapalhando a hora das refeições e da fisioterapia.
À
noite, na hora da medicação e verificação de glicemia e temperatura, a
enfermeira abre subitamente a porta, acende as luzes de maneira intempestiva,
sem a natural delicadeza que caracteriza uma enfermeira de hospital.
O
sistema de cobrança dos diferentes atores, escassas vinte e quatro horas do
serviço prestado, é desagradável. Telefonam ao responsável pela senhora Hilkka:
"estou telefonando, porque está em aberto o débito da anestesia, ou da
UTI".
Quando
se processou a internação, ficaram nos registros todos os dados do paciente e
do responsável, seu endereço e telefones, sob os cuidados de médicos provectos.
Como
seria diferente se o anestesista se desse a conhecer, falasse com o
responsável, acertasse a soma que vai cobrar pelo serviço e determinasse um
prazo de cinco dias para o devedor visitá-lo e remunerá-lo. E assim, com todos
os demais.
Responsabilizei-me
como PARTICULAR, sem depender de convênios de saúde que teriam demorado 40 dias
para pagar o serviço. Fui instado a saldar o valor a vista. O HSL não aceita
cheque. Cartão de crédito ou dinheiro. No século XXI.
Devo
elogiar a Tesouraria do Hospital que, embora não tenha estimado o valor das
despesas, pelo menos aguardou 5 dias para me convidar a discutir a forma de
pagamento, realizado a vista, mediante transferência bancária de R$ 52.000.
Poderia,
creio, ter me alertado, o hospital, sobre o preço da válvula de hidrocefalia,
cujo valor o próprio Dr. Mello não sabia (ao redor de R$ 40.000).
2. Não
tendo funcionado a contento o sistema de drenagem, causando sérias dificuldades
motoras, de fala e audição, minha esposa voltou a ser internada no dia 14 de
julho, sofrendo, nesse mesmo dia, nova cirurgia, permanecendo na UTI nos dias
15 e 16, tendo alta, dessa unidade, às 15 horas do dia 16, ocupando, em seguida,
o quarto 226, onde permaneceu até dia 18, com alta às 18h.
Antes
da internação, fui convidado à Tesouraria para um pagamento antecipado de R$
15.000. Procedimento distinto do anterior.
O
atendimento, nesse período, foi pior do que o anterior. Tudo era mais lento. O
vaso do banheiro estava entupido, apesar do serviço de limpeza ter preparado o
quarto. As sessões de fisioterapia não foram totalmente realizadas, segundo orientação
do Dr. Mello. Curativos foram simplesmente jogados ao chão, ato que levei ao
conhecimento da enfermeira-chefe, convidando-a a ir constatar o fato, para que
não ficasse apenas na palavra. Fala-se em infecção hospitalar........
Imagino
que os atendentes, de qualquer função, recebem um treinamento técnico, prático
do que fazer. Falte, talvez, o COMO fazer.
Não
quero generalizar esse atendimento frio, mecânico, profissional que
equivocadamente é feito por algumas pessoas. Houve atendentes que souberam
humanizar seus gestos, suas atitudes. Afinal, um hospital é um refúgio em busca
de saúde. A impressão que tive, em certos momentos, é que os atendentes eram
mais doentes que os próprios pacientes.
Espero
que meus comentários não ofendam genericamente os profissionais que nos
atenderam durante esses 10 dias, mas sirvam para que o H. Santa Luzia, um dos
centros de saúde mais bem equipados de Brasília, aprimore seus serviços dando
um toque de humanismo e solidariedade aos que buscam nele o alívio de seus
males.