quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

PAU SECO

Caminhava pelo Cerrado, entre as árvores grossas e intumescidas de águas, muitas delas retorcidas pelo flagelo do fogo, outras, eretas e elegantes, ainda não perturbadas pela mão ávida do homem.
Tocava nas folhas, examinava a casca escura sempre atento ao que as árvores diziam umas às outras. Os ramos sacudiam ao sopro do vento, outros vergavam ao peso do bem-te-vi ou riam das bicadas do pica-pau.
De braços desnudos, um pau-santo erguia-se no ar. Perguntei-lhe a que servia uma árvore seca no meio de tanto verde. Ele me respondeu:
−Pássaros apreciam pousar nos meus braços secos e nus. Lá de cima podem ver ao longe, acompanhar o voo do companheiro ou vigiar o gavião que lhe ameaça comer os filhotes. Debaixo de minha casca, há comida que alimenta o pica-pau e, entre os galhos, as aranhas armam suas tocaias para caçar insetos desprevenidos. Um dia, o vento me derrubará e, com os anos, vou sumindo nas raízes das árvores verdes. Eu serei elas amanhã.

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