quarta-feira, 30 de setembro de 2020

 

CHUVAS DE SETEMBRO – 2013 a 2020

 

EM MILÍMETROS – 1 mm = 1 litro/m2

 

ANOS       SETEMBRO          TOTAL ANO

                   Milímetros

2013          40.5                             2.255,6

2014            7.0                              1.677,5

2015          39.3                              1.642,7

2016          16.2                              1.921,7

2017          10.5                              1.478,7

2018          37.5                              1.760,5

2019          20.3                              1.068,7

2020          14.7                              1.057,8(até 30.9)

O registro de precipitações de oito anos, o mês de setembro se apresenta como antessala irregular dos meses chuvosos.

A partir de 2017 é evidente que os volumes de chuva decrescem.

O acumulado de 2020 será maior do que o de 2019, em razão das boas precipitações de fevereiro, março e abril, mas muito aquém dos anos de 2013 a 2016.

O  obscurantismo, a insensatez, a miopia, a insensibilidade diante de biomas queimados, do empobrecimento da biodiversidade, da contaminação das águas e do ar, estão entre as causas políticas da pobreza de mais de 70 milhões de brasileiros. O milagre econômico está em preservar os ecossistemas.

 

PLUVIÔMETRO

Índices registrados pela estação meteorológica digital instalada no Sítio das Neves, onde a mão humana é conduzida pela sabedoria silenciosa das árvores..

domingo, 27 de setembro de 2020

Cartas da prisão - PUDIM

 

 PUDIM

Amigos,

Chateado de andar com mascara até para levar o lixo no contêiner, tive um desejo infantil: comer pudim  Lembrei-me do pudim de dona Inez, minha mãe. De avental branco, cestinho na mão, ia ao galinheiro buscar ovos frescos. Abria o armário para pegar o leite condensado. O leite fervido da Estrela estava na leiteira. Batia tudo numa tigelona de vidro. Fechava a porta do forno do fogão a lenha e dizia: “pronto! Agora, é só esperar!” O pudim de dona Inez era famoso em toda a redondeza.

Nossa diarista Val, depois de meses, retornou ao trabalho semanal em nosso apartamento. Dei-lhe bom-dia, ao abrir a porta, e lhe disse: antes de ligar o aspirador, vou querer que a senhora faça um pudim. Nem terminei o pedido e Val, com tremenda autoestima, fez sua autopromoção. “Também na casa de Ligia Moreno (famosa pianista brasiliense, nascida na Ceilândia),  só comem do meu pudim”. A cozinha, em poucos minutos, cheirava a pudim, com aroma de baunilha. O pudim da Val é muito bom! Por que não pedi dois?

O terceiro pudimeiro de minhas lembranças, quem diria, é um arquiteto cearense, Fred Holanda, com receita não revelada. Segundo me informei com o sempre presente Coutinho, também arquiteto, o período de gestação desse incomparável pudim é de oito dias. Durante a maturação do excepcional pudim, o pudimeiro cearense executa ao piano peças de Villa-Lobos. É um pudim de alta musicalidade e, principalmente, super-super suculento.

Pudim, um presente da pandemia!

 

27.9.2020

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

ICARTAS DA PRISÃO - IGNORÂNCIA

 

IGNORÂNCIA

Amigos,

A pandemia revelou minha generalizada ignorância sobre os mais variados temas. É verdade que, em matéria de coronavírus, literalmente todos: médicos, políticos, filósofos, teólogos ignoravam o bichinho da gripezinha. Ninguém sabia o que era, de onde veio, se do morcego, da girafa ou do pandolino (tatu) e aonde ia. Mortes, covas em série, enterros apressados, choros à distância foram realidades tão incômodas que os do andar de cima preferiram ignorá-las e negá-las.

A novíssima linguagem dos aplicativos digitais é a mais moderna tortura mental. Internará  a espécie humana no manicômio planetário. Levei três dias de pesadelo para achar os números necessários, nos sites do Ibraim e do Ibama, para validação de informações que ofereci à Receita Federal referentes ao pagamento de dez reais do Imposto Territorial Rural anual.  

Confesso envergonhado que não sabia que o planeta Terra é plano. Mesmo com a autoridade científica dos planistas, mantenho minha tênue e já ultrapassada convicção de um planeta redondo ou quase.

Vivo num país que abriga as mais variadas nuances religiosas, de extração cristã, anunciando milagres pelas TV’s e rádios. Confesso que ignoro a existência de adeptos da Cristofobia, religião denunciada pelo Presidente da República do Brasil, na 75a Assembleia da ONU, 2020. Quantos cristófobos existem neste país demonofóbico?

Inesperadamente, recebi uma ligação intersideral de Millôr Fernandes que habita, há alguns anos, uma avenida virtual na belíssima e fosfina Vênus. Seguindo as indicações do filósofo humorista, fui à estante de meus livros. Ler é indicado aos ignorantes. Em geral, os sábios chegam a tal estágio por aceitarem humildemente sua ignorância. Todo livro é a confissão humilde do escritor ao relatar a experiência de sua trágica ignorância.

Foi essa lucidez que inspirou Millôr a me revelar suas descobertas metafísicas no livro Lições de um ignorante (Ed. Paz e Terra, 1977). São apenas 43 lições. Fáceis de assimilar. Uma por dia. Ao final de gostosas gargalhadas, já me sentia um erudito, quase sábio.

Posso, agora, compreender a linguagem cifrada da alta cúpula do governo, dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado e, especialmente, a dos ministros do STF. Num país cronicamente ameaçado pelo comunismo, “os homens públicos falam sem nenhuma propriedade”, disse-me o mestre. Percebo também com mais clareza a acusação de pedófilo feita ao lobo-mau que devorou Chapeuzinho Vermelho. Meninas não devem andar sozinhas pelas florestas urbanas.

Indico algumas das Lições de um ignorante que me ajudaram a compreender o novo Brasil, Pátria Amada.

- Num acesso de ignorância eu acreditava “nas crônicas oficiais que mostram um país com uma sociedade absolutamente sem classe”. (Brasil, Pais Comunista)

- Colecionei algumas frases ditas pelo presidente da república: E daí? Quem manda é a caneta Bic... É uma gripezinha... Não sou coveiro. Ficar em casa é para fracos. Brasil é um exemplo de cuidados ambientais. Estamos vencendo a pandemia. (Frases que ficam e que vão)

- Aprendi que a regra do indiciado é negar os fatos até a última instância do trânsito em julgado. (A máquina da justiça e suas peças principais)

 -“O Brasil é maior do que os menores e menor do que os maiores. É o País do Futuro.(O Brasil)

- Na última lição (Resumo – 1963), olhando as árvores pela janela de minha prisão, no silêncio metafísico de meu isolamento, cumprindo a sentença do juiz invisível, li o derradeiro conselho sábio de Millôr Fernandes aos ignorantes:

Estejam certos porém de que a Justiça será igual para todos”.

21.9.2020

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

QUEIMADAS, INCÊNDIOS,

 

QUEIMADAS, INCÊNDIOS,

O Grupamento Especializado em Proteção Ambiental (Gepram), entre maio e setembro de 2020, registrou, no DF, 4.858 queimadas de diferentes proporções. Uma delas foi de 602 hectares. O risco de incêndios, nesse período, é amplamente divulgado. Alertas são dados por todos os meios de comunicação a uma população que parece surda e insensível. Os incêndios anuais se dão quase sempre nos mesmos locais, com mais frequência à beira das vias.

Um dos efeitos maléficos das queimadas é o desnudamento das áreas, antes das chuvas. Os incêndios retardam a regeneração vegetal, dificultam a captação das águas pluviais e favorecem a lavagem do solo ao levar areia e sedimentos aos córregos e rios. Empobrecem o solo e assoreiam os rios. Tornam mais lenta a regeneração vegetal e arrasam milhões de vidas que formam a diversidade quase invisível de insetos que constituem o alimento de outras vidas.

É de se notar, com preocupação, que, nos últimos 30 anos, a região do Centro Oeste registrou 30 dias a menos de chuvas anuais. A redução de dias chuvosos, registrada pelo Inmet, passou de 137 dias de chuva, nos anos 1970, para 113 dias em 2019. A relação desmatamento-queimadas-escassez de chuva deveria sugerir medidas públicas não só de planejamento ambiental, como de comportamento ecológico da população.

Essas condições ambientais, poluição do ar e das águas, associadas á baixa umidade e ao calor, reduzem as energias vitais e favorecem um sem número de enfermidades. Entopem-se os hospitais e enchem-se as farmácias que se multiplicam em Brasília.

É um ingrediente a mais em tempo de pandemia.