sexta-feira, 20 de setembro de 2013

QUALIDADE DA ÁGUA


Foto 1: fogo destrói nascentes



As atenções dos organismos da administração pública brasileira se voltam, com razão e propriedade, para preservar a qualidade das águas que servem ao uso humano e de outras formas de vida. Como o Brasil é conhecido por sua abundancia de água onde há pouca população e menos água e de baixa qualidade nas proximidades das metrópoles e regiões densamente habitadas, tem-se uma atitude de quase indiferença sobre a quantidade da água disponível. E, mais que tudo, ignorância geográfica sobre as nascentes de água.
Poucas vezes e raros são os especialistas em hidrologia e geografia que relacionam a quantidade de água disponível e a demanda crescente em vista da expansão demográfica. Com timidez se anota, quase pedindo perdão aos ouvintes, a real e física incapacidade de suporte de um espaço para abrigar número de habitantes cuja densidade esgota definitivamente as energias naturais disponíveis. A tendência generalizada dos especialistas é minimizar os índices de crescimento demográfico e maximizar a capacidade humana e sua curiosidade tecnológica para contornar futuras dificuldades no acesso à água.
É bom lembrar que, pela média do consumo humano e sua necessidade essencial, pequena ou grande, cada pessoa precisa de 110/120 litros de água por dia. É uma cota pessoal. Mas em volta da pessoa há outras atividades que exigem o uso da água. Cálculos aritméticos simples dão a cifra do imenso volume de água que uma cidade como Brasília que abriga quase três milhões de habitantes. Outro aspecto pouco levado em consideração pelos órgãos de planejamento urbano e administração dos serviços públicos é o ingresso anual de novos habitantes na área urbana, por nascimento ou imigração, e o impacto sobre a quantidade e a qualidade da água. Segundo informações da Codeplan (DF), 40 mil novos habitantes por ano se somam aos existentes. Essa nova população anual afeta todos os órgãos vitais do corpo urbano: água, alimentação, escola, saúde, trabalho, mobilidade, moradia, lazer.
As atividades de produção de alimentos, especialmente na região do Planalto Central, consumem imenso volume de água e descarregam nos córregos e rios toneladas de elementos poluidores. Cálculos sobre o consumo de água de um bovino até chegar a seu ponto de abate indicam a proporção de 5 a 15 mil litros de água por quilo de carcaça. Mais uma vez, uma simples operação aritmética (peso x no de cabeças x litros de água) dá uma assombrosa soma de litros de água para um rebanho de mil cabeças. Milhões e bilhões de litros de água são engolidos pela população bovina do Brasil, estimada em mais de 190 milhões de cabeças. E esse rebanho deixa, no solo, outros bilhões de quilos de dejetos que acabam contaminando as águas de córregos e rios.
Um plano de gerenciamento da distribuição e uso da água representa a superestrutura de mecanismos, cuidados e ações humanas para garantir que seus efeitos sejam benéficos à saúde da população. A infraestrutura desse plano reside nos aspectos físicos, geográficos e geológicos das nascentes e em tudo o que ocorre a seu redor, incluída a capacidade natural de captação das águas da chuva para recarga dos aquíferos.
Conhecem-se, graças às fotos de satélites, todos ou quase todos os cursos d’água da região do Distrito Federal. Mas suspeito que haja centenas ou milhares de olhos d’água desaparecidos pela invasão agressiva do homem e seus processos produtivos e, outros tantos, ignorados.
Hoje em dia, raramente o uso da água pela espécie humana é feito colhendo-a na fonte. É do meio do rio que tiramos a água ou das represas que o detêm. As formas de manter a boa qualidade da água que brota pura da nascente são variadas. Mas, entre todas, por hábitos culturais da civilização moderna, confia-se naquelas de limpeza da água por processos químicos.
A ocupação do solo, seja pela expansão urbana, seja pela atividade produtiva, agrícola ou industrial, afeta a qualidade da água pela inumerável variedade de dejetos que chegam direta ou indiretamente aos córregos e rios.
As formas mais simples e menos onerosas para manter a qualidade da água foram ensinadas por gregos e romanos há milênios. Os aquedutos romanos monumentais colhiam as águas para uso da população, de longas distâncias, diretamente dos mananciais que jorravam das rochas.
O respeito à vegetação nativa ao redor das nascentes e cursos d’água, pequenos ou grandes, é a forma natural de preservar a qualidade da água. A ênfase necessária que se está dando ao enquadramento dos cursos d’água superficiais (classe 1 a 4), da menos poluída à mais imprópria, revela, em diferentes regiões, o grau de ignorância e irracionalidade do homo sapiens na densa ocupação do solo e no uso inadequado das águas. Perdeu-se a sabedoria natural e instintiva de servir-se da natureza.
Uma das consequências é, necessariamente, o custo crescente das tecnologias usadas pelos órgãos públicos para manter a qualidade desejável do uso da água pela população que a natureza oferece gratuitamente a todos os seres vivos.
Pagamos caro o que poderíamos ter de graça.


segunda-feira, 16 de setembro de 2013

DEPOIS DA VIAGEM

Amigos frequentadores deste Blog,
Estou de volta de um périplo por países do norte da Europa e escala em Paris.
Tenho visto, ouvido e lido, durante 45 dias, interessantes e importantes coisas sobre ecologia, ecofobia, proteção ambiental, recuperação de áreas degradadas, respeito à natureza, crescimento zero ou decrescimento gradativo da economia e da demografia.
Assim que o fuso horário se estabilizar, terei o prazer e o dever de conversar com quem já esta convencido de que estamos no caminho certo e atrair os reticentes para um pensamento alternativo rumo a um planeta acolhedor.
Em todas as partes, o homo sapiens se revela destruidor, mas há sempre o contraponto dos que usam o cérebro para pensar. Pensar faz bem à saúde do corpo e do planeta.