sexta-feira, 30 de março de 2012

SAUDADE






Tenho saudade de tudo,

De todos,

De ti.

Tenho saudade das madrugadas,

Do sabiá laranjeira,

Da seriema,

Do bem-te-vi.

Tenho saudade da Charqueada,

do cavalo Moreno,

do riacho pequeno,

dos lambaris dourados.

Tenho saudade do sol poente,

do silêncio triste,

da mata escura,

do pio da jaó.

Tenho saudade do trem fumaça,

Do apito agudo na curva da morte

Da estrada de ferro que terminou.

Tenho saudade da árvore velha

Toda nodosa, enrugada

Como o rosto de minha avó

Que  me apertava

Com braços flácidos

No colo antigo.

Tenho saudade

Da saudade que eu tinha,

Que era só minha,

À tardinha,

Quando a alma se via sozinha.

Era saudade de uma amizade,

Da rua estreita de minha cidade,

Do caramanchão,

Da velha figueira

E da fogueira de São João.

Hoje, tenho saudade

De tudo,

De todos,

De ti.

11.3.2012

terça-feira, 27 de março de 2012

CANTAM AS SARACURAS




Nesta manhã, no Sítio das Neves,
cantaram as saracuras
e cantaram os jacus
no madrigal silvestre da passarada.
As saracuras no ribeirão
e os jacus no galho do cajá.
Aplausos ecoaram pelo vale.

quinta-feira, 22 de março de 2012

DIA MUNDIAL DA ÁGUA

Foto: Sítio das Neves, Área de Proteção Permanente, Distrito Federal. Captação de águas da chuva e recarga de aquíferos. Responsável: Eugênio Giovenardi.


Ouviremos, hoje, boas intenções, promessas, números e ameaças em torno da água.

A urbanização se expande sobre nascentes. A agricultura usa mais água do que capta da chuva. Os rios continuam sendo poluídos. Os córregos secam ou se transformam em esgotos condutores de germes. O preço do copo de água aumenta. Grandes investimentos se fazem rio abaixo e quase nenhum rio acima.

Um terço da humanidade tem sede e dificuldade de saciá-la. As águas da chuva caem abundantes e gratuitas, levam nosso lixo aos lagos e rios, quando não nossas casas. Vão-se as águas, fica a desolação.

Temos água abundante no Amazonas. Falta-nos a inteligência da água. Este Dia Mundial da Água deveria servir de ducha fria na cabeça de todos os cidadãos brasileiros para transformar a retórica burocrática em ações práticas de captação das águas da chuva e proteção de nascentes que levam água a nossas torneiras.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Como Tratar a Natureza

Slides das palestras proferidas por Eugênio Giovenardi, nos colégios Newton Freire Maia, Paulo Leminski e na FACINTER, em Curitiba, PR, no mês de março de 2012.

A utilização das imagens dos slides está autorizada.

Slides da apresentação

terça-feira, 13 de março de 2012

O SILÊNCIO DE UM HOMEM ENTRE RUÍDOS


João Carlos Taveira*

        O escritor Eugênio Giovenardi milita no verso e na prosa com a desenvoltura de quem sabe o caminho das pedras, em sua caminhada pelo mundo e pelos insondáveis mistérios da metafísica. Mas o seu forte, pelo visto, é o gênero em que melhor se acomoda dentro da linguagem: o romance de ficção, no qual já publicou cinco títulos dos onze que constam de sua bibliografia.    
Seu novo trabalho nesse campo saiu em meados de 2011, e se intitula Silêncio. É um romance que, pela proposta de conceitos e desmembramentos de significados, pode ser perfeitamente incluído naquela lista de obras ousadas e bem-sucedidas, embora não muito fáceis de assimilação. O volume, de 198 páginas, em formato 14X21, traz capa de Thiago Sarandy e editoração eletrônica de Cláudia Gomes, com acabamento bem cuidado da Thesaurus, e está disponível nas boas casas do ramo e também pela internet no site da editora.
Todo autor almeja escrever um livro perfeito, mas poucos o conseguem. A tarefa é árdua e espinhosa, por iniciar-se além do mundo real e materializar-se no plano consciente e palpável da natureza humana. Mas Eugênio Giovenardi, neste caso, busca alcançar a proeza do intento com bons resultados. Embora não tenha conseguido de todo livrar-se de referências autobiográficas, contidas, aliás, em seus romances anteriores, neste livro da maturidade o autor de As pedras de Roma se enveredou pelas florestas obscuras do inconsciente e trouxe à luz a história de seres díspares criados à nossa imagem e semelhança; portanto, personagens de carne e osso — em toda a sua extensão física e psicológica. Com exceção de Lídice, que surge como um anjo e, como tal, desaparece, para ao fim e ao cabo da narrativa juntar-se ao protagonista, mas que em momento algum se entrega ao jogo ou controle de seu criador.
A ação se passa em Brasília e arredores, em cenários físicos e extrafísicos, em que Pedro de Montemor é personagem principal e narrador. E ele, com frases curtas e domínio vocabular, descreve na primeira pessoa a sua experiência vivida e, até certo ponto, compartilhada, em flashes ou lampejos de consciência. São angústias e desassossegos a incomodar a visão de um ser atormentado pelas conquistas do progresso em contraste com os recuos de gestão numa administração arcaica, cada vez mais inapta e incompetente. E isso se dá no coração de uma das mais modernas cidades do mundo, ao lado, naturalmente, da insistência de tenebrosos fantasmas a perseguir o trajeto de quem já caminha meio de lado, devido ao peso excessivo de um viver entre as lembranças do passado e as incertezas do futuro. E mais: Pedro Montemor busca nos mistérios da própria vida uma certeza para seus questionamentos e, como faz com os personagens do romance, nos instiga a acreditar num mundo paralelo situado bem na rota de suas descrenças ou perquirições. Ao contrário de Hamlet, para ele, o silêncio é o limite.
Na construção do romance, segundo palavras do próprio autor, combinam-se episódios verídicos e ficcionais. Ao redor deles, o silêncio fala de maneira intemporal. “O cérebro, envolto pelo silêncio interior e exterior, fabrica associações intermináveis, superpostas e contrastantes de fatos, palavras, gestos, atos e pensamentos, expectativas e desejos produzidos no passado, memorizados no presente e lançados ao futuro.” O silêncio é desordenado. As vozes interiores se atropelam e nem sempre respeitam a ordem e a sequência de sua origem. “A liberdade do silêncio libera o inconsciente e exacerba o consciente.” Toda essa história pessoal é personificada e projetada nos indivíduos e grupos que intermitentemente formam os laços da convivência social.
Eugênio Giovenardi, além de escritor, é também sociólogo, e sabe que a vida se situa mais dentro da visão de um Guimarães Rosa que da de um Paulo Coelho. E que os perigos são numerosos, principalmente para aqueles que trazem, desde sempre, as marcas de uma formação baseada nos princípios da fraternidade entre os homens, da liberdade inalienável do indivíduo, da igualdade de todos os seres humanos e — mais forte que tudo — do respeito a todos os seres vivos deste planeta. E isso parece bastante, mesmo quando colocado de maneira não muito marcada nos entremeios de uma narrativa ficcional pouco linear. De forma insistente e quase obsessiva, o silêncio — que para Montemor é um fim em si mesmo — atravessa as páginas do livro, sem deixar vestígios.

Brasília, 31 de outubro de 2011.
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*João Carlos Taveira é poeta e crítico literário, e tem vários livros publicados.


segunda-feira, 12 de março de 2012

SILÊNCIO, UM ROMANCE INDIGESTO

Daniel Paese, poeta gaúcho, companheiro e amigo de juventude e de escola, escreve-me para contar reações sobre meu romance intimista – SILÊNCIO – publicado em 2011. Informa-me que emprestou o livro a cinco leitores. Quatro não entenderam ou não souberam interpretar as revelações do silêncio.
É revelador que apenas um quinto dos leitores tenha tido experiência de caminhar com seu próprio silêncio. O personagem – Pedro de Montemor – caminha o caminho da existência. Entra e sai do caminho. Ao longo desse caminho, dentro de sua cidade onde tudo acontece, participa como hospedeiro de um memorial desconexo, intermitente, interrompido por presenças não previstas. No silêncio dos passos, à sombra das árvores de sua rua, de seu quarteirão, lembra-se de um amigo que viajou, de cartas e mensagens que recebeu, circunstâncias que envolvem pessoas conhecidas, fatos políticos que mudam a cidade, surpresas urbanas, a loucura do trânsito, o livro que leu ou lê, os compromissos diários, o ontem, o anteontem. Tudo desfila, sem preocupação cronológica, apenas numa sequência de associações.
Em geral, as pessoas não dão atenção a esse desfile interminável de fatos que se sucedem em poucas horas de silêncio. O silêncio é perigoso e é comum fugir dele. Bate na memória sem descanso. A gente, em geral, resume essa sequência de forma telegráfica: “Ontem mesmo, lembrei de você, daquela viagem, do enterro de fulano, da bebedeira de sicrano”.
Quantos fatos e palavras, olhares e sorrisos, lágrimas e abraços se perderam. Só o silêncio solitário é capaz de pôr tudo isso num caminho em que os fatos vão ficando para trás e a gente vai com toda a bagagem para frente.
Pedro de Montemor caminha. Entra e sai do livro para continuar o caminho.
SILÊNCIO não é apenas um romance. É um memorial.

domingo, 11 de março de 2012

DEMOCRACIA

Há escritores que, se não soubéssemos de suas certidões de nascimento, diríamos que estão por aí, nos bares das esquinas ou em salões das bienais de livros.
Lima Barreto é um deles. Policarpo Quaresma parece viver seu triste fim em meio à corrupção generalizada de nossos políticos de direita, de centro e de esquerda. Eça de Queiroz, analista minucioso dos costumes políticos, ironiza o funcionamento da democracia como se convivesse com Sarneys, Jucás, Calheiros, Vaccarezas et caterva. Deixo aqui, para saborear, este pão de queijo literário:
“Nós vivemos numa democracia. E não há para exprimir a alegria simples, sólida e bonacheirona da democracia como largas poltronas de marroquim, e o mogno envernizado.” (Eça de Queiroz)

quinta-feira, 1 de março de 2012

Educação na Finlândia

FINLÂNDIA PODE ENSINAR AO BRASIL E AO MUNDO
Ofereço aos visitantes desta página uma sábia entrevista de Pasi Sahlberg, diretor de um centro de estudos vinculado ao Ministério de Educação de seu país.
A igualdade entre as pessoas começa na escola pública, universal e de qualidade para todos, graças à preparação e remuneração dos professores. A desigualdade começa na elitização das escolas privadas civis e religiosas. O país é que deve construir uma alternativa de educação capaz de dar aos cidadãos os mesmos conhecimentos, com a mesma qualidade e extensão.
A entrevista foi dada ao jornalista Leonardo Cazes do jornal O Globo.

Vejam a reportagem no link http://oglobo.globo.com/educacao/as-licoes-da-revolucao-educacional-finlandesa-para-mundo-4077243.