quarta-feira, 28 de junho de 2023

MEUS 89 ANOS

 

MEUS 89 ANOS

O caminho me levou aos 89,

Passo a passo, amando a vida

E todas as vidas, com liberdade,

Respeitando com precaução

A velocidade da via.

 

Aos 89 anos, compreendo que a vida é o alvo. Vida vegetal, vida animal, vida sapiente. A vida surge da água e toma a forma de um ser capaz de se reproduzir. Cuidar das águas é, portanto, garantir a sobrevivência de todos os seres segundo suas espécies. O essencial, então, é estar vivo. O importante é manter a vida. O caminho da vida, como um rio, é feito passo a passo, gota a gota. “Golpe a golpe, verso a verso”, disse o poeta. O caminho se abre fácil ou difícil ao avançar. É o que percebo convivendo, por 49 anos, com as vidas do singelo Sítio das Neves, hoje regenerado, no coração do Cerrado, no Planalto Central do Brasil. Interajo, como hóspede na biocomunidade, com todos os seres vivos de todas as espécies. Sinto em mim a vida deles. Estou rodeado de vidas e cada vida tem seu caminho. Gostar da própria vida é colher felicidade. No meio do caminho há pedras e flores. Mais flores que pedras. Flores sobre pedras.

Dediquei largos anos a compreender e a aceitar os limites da enigmática contradição do agir irrefreável do homo sapiens que, para viver, destrói vidas. Entristeço-me com o comportamento humano. Em 300 mil anos, o sapiens ainda não compreendeu nem aceitou os limites dessa contradição. Minha intuição é que o fascínio da tecnologia e os arroubos da inteligência artificial sem limites provocarão amargos tempos à espécie sapiente. Viver é preciso! Viver!  

Registro meu testemunho. Amo as árvores porque as vejo nascer, sorrir, cantar, dançar ao sol e ao vento, abrigar ninhos de pássaros, dar sombra ao tamanduá solitário e repousar à noite admirando estrelas. Amo as árvores porque elas protegem as águas que garantem a vida. Se alguém lembrar de mim, quando minhas cinzas estiverem ao pé da Guapeva, à beira do Córrego da Mata Azul, no Sítio das Neves, diga apenas: ele amou as árvores!

                          PARA VOVÔ

Senhor Tempo grandioso

Como ele é valoroso.

Misteriosa arte fina

Simplesmente engenhoso.

 

Tem minuto infinito

Tem milênios num piscar

É como o mar em uma gota

Sendo uma gota do mar.

 

Laura Giovenardi Goretti (Senhor Tempo)

segunda-feira, 26 de junho de 2023

CHUVAS DE JUNHO 2023

 

CHUVAS DE JUNHO  ANOS 2013 a 2023  

Em milímetros ─ 1 mm = 1 litro/m2

 ANOS      MÊS ▬             TOTAL ANO/ MM

2012 −           ******                        ******

2013 –        23.8                 2.255,6

2014 –          7.0                 1.677,5

2015 –          0.0                 1.642,7

2016 -           0.0                 1.921,7

2017 -           0.0                  1.478,7

2018 –          0.0                  1.760.5

2019 –          0.0                  1.069.3

2020 −          0.0                  1.787,8

2021 –         39.0                  1.710.8

2022 –           0.0                  1.279,2 

2023 -            0.0                     680.3  (Neste ano)

 

SÍTIO DAS NEVES, BR 060, KM 26, DF, EM REGENERAÇÃO DESDE 1974. SOU IRMÃO DAS ÁRVORES. ELAS VIVEM EM MIM E FALAM COMIGO.

Aos que seguem o movimento das águas pluviais durante o ano, ofereço os dados pluviométricos do mês de junho dos últimos 11 anos. Volumes coletados pelo pluviômetro, instalado no Sítio das Neves pela Agencia Nacional de Aguas (ANA), refletem a situação pluviométrica de parte da Bacia do Descoberto e Micro Bacia do Ribeirão das Lajes, DF. No Sítio das Neves, a vegetação e as nascentes mantêm boa umidade do solo e do ar, detêm três terços da água da chuva, contribuem para a recarga dos aquíferos e regulam o curso dos dois córregos que nascem na área.

O acumulado de chuvas, neste ano, é de 680.3 mm/ ou litros por m2, na região da microbacia do Ribeirão das Lajes. O Sítio das Neves não foi agraciado com chuvas, no mês de JUNHO..

Como se observa no quadro, a média de chuvas dos meses de junho, nos ONZE anos registrados, foi de 6.3 mm ou litros por m2. Como indica o quadro, em 8 anos não houve chuva (a irregularidade ocorreu em 2021). Nos últimos anos, chuvas no mês de junho são bem-vindas, mas excepcionais. Entre  os dias 16-18, houve chuvas localizadas no DF, mas pouco contribuíram para a recarga dos aquíferos. Nos meses de junho sem chuva, agravados pela grande área urbana impermeabilizada e por falta de um sistema inteligente de captação das águas pluviais para infiltração no solo, a tendência é o rebaixamento das águas subterrâneas do DF. Nas áreas densamente florestadas, como o Sítio das Neves, as árvores e os murundus (cupins) administram com grande sabedoria a captação, a retenção e a infiltração das águas da chuva.

Os ecossistemas que mantêm vegetação densa resistem melhor às variações do tempo e às severas mudanças climáticas. A preservação das nascentes e o incentivo ao florestamento nativo são ações prioritárias para a regeneração dos ecossistemas, captura e retenção de carbono no subsolo. Esta função do Cerrado só acontece se mantida a floresta original. Os 70 ha do Sítio das Neves, há mais de 22 anos, não emitem carbono de efeito estufa, pois os retêm no solo. As árvores estão felizes e transmitem felicidade a quem as respeita.

OS FENÔMENOS EL NIÑO E LA NINÃ, neste ano, estão ativos e já causaram e continuarão causando dificuldades nas regiões do sul e nordeste. esses fenômenos se mostram mais ativos de sete em sete anos, tempo que permitiria ao poder público e à sociedade prepararem-se para enfrentar a fúria dos ventos e a densidade das chuvas.

 

Imagem: o lixo continua exposto ao longo das rodovias do DF e em contêineres abertos ao longo das superquadras do Plano Piloto e bairros de Brasília.



sexta-feira, 16 de junho de 2023

MURUNDUS

 

MURUNDUS

 

Deambulando pelo Sítio das Neves, nas partes altas e baixas, tenho notado grandes formações de murundus sobre o solo e casas de cupins presos ao tronco de árvores ou em galhos mais altos. Os do chão servem de mesa aos tatus e tamanduás. Os ninhos suspensos em árvores alimentam caturritas e outros pássaros.

Uma de minhas contribuições ao processo de regeneração da área degradada pelo fogo, pisoteio de bovinos, corte de árvores para transformá-las em carvão, consistiu em construir pequenas barragens nas grotas e canais de esgotamento que se formaram durante centenas de anos, para contenção e detenção de águas da chuva.

Nas áreas mais altas, onde a disponibilidade de pedras era quase nula, passei a usar, como os castores, madeira seca e folhas de catolé como base da barragem e sobre ela uma camada de terra de cupim em blocos para preservar a vida dos insetos. A intuição precedeu ao conhecimento que se consolidou com a observação dos resultados. Sobre essas barragens e ao redor delas cresceu a vegetação, graças à detenção das águas por mais tempo.

Os cupins se tornaram meus sócios, tanto na captação de águas da chuva, quanto na regeneração vegetal. Não teriam os murundus outras funções, especialmente os que povoam as cercanias das áreas em que brotam nascentes de água perenes ou intermitentes? Depois de uma queimada, em ambos lados da BR 060, aparecem inúmeros murundus expostos ao Sol cáustico de setembro e outubro. Qual seria o segredo da sobrevivência dos cupins ao fogo? Estariam eles protegidos pela espessa camada que reveste suas casas graças à mistura da baba que produzem e a umidade que eles mantêm no interior? A vegetação densa, os arbustos frutíferos como os mirtilos, cajuzinhos (Anocardium humile), marolo (Annona classiflora), mama-cadela, árvores endêmicas do Cerrado e manacás floridos teriam a ver com a existência de murundus nas cabeceiras dos mananciais?

Busquei a ajuda de biólogos para comprovar as funções dos cupins relacionadas à água. Consultei pesquisas realizadas sobre o tema. Minha intuição estava no caminho da ciência, da pesquisa e do conhecimento. Os ambientes povoados por murundus “funcionam como grandes esponjas, retendo águas da chuva, filtrando-a e liberando-a lentamente para abastecer os corpos d’água na estação seca”, relata a bióloga Bruna Helena Campos, Universidade Estadual de Campinas (Unicampo).

Devo agradecimentos aos cupins, meus sócios, que me despertaram para a sabedoria embutida na silenciosa natureza, cujo princípio básico não escrito, mas explícito, é unir todos os seres vivos para a manutenção da vida no planeta Terra. Quanto agrotóxico foi despejado sobre os murundus pelo homo erectus, faber e sapiens. Ficamos sem água da fonte e com a água dos rios, o solo e o ar contaminados.




segunda-feira, 12 de junho de 2023

ÁGUAS EMENDADAS - DF

 ÁGUAS EMENDADAS -

CONDENADAS AO DESAPARECIMENTO!
Proteger as fontes de água, como propõe o Grupo Águas Emendadas, deve ser parte importante das ações conscientes e diárias da cidadãos responsáveis. É também uma ação paciente de longo prazo, em colaboração com as chuvas, em razão do aumento da população, da drástica ocupação do solo para urbanização e produção de alimentos. Um estímulo e incentivo para conservação de nascentes é declarar oficialmente essa área ─ ÁGUAS EMENDADAS ─ como Patrimônio Hídrico Nacional. Essa declaração deve ser proposta pela comunidade de AE à Câmara Legislativa do DF. Em apoio mais amplo de nossas riquezas, propor à Unesco a declaração do bioma CERRADO PATRIMÔNIO HÍDRICO E VEGETAL DA HUMANIDADE, como contribuição dos brasileiros à preservação da biodiversidade do planeta Terra.
Atenção! O desmatamento do Cerrado, nos primeiros meses deste ano, 2023, foi superior ao da Amazônia.


sexta-feira, 2 de junho de 2023

MARCO TEMPORAL

 

MARCO TEMPORAL

 Um crime de lesa-humanidade.

A Amazônia, desde a Bolívia, atravessando o Brasil até o México, abriga uma generosa floresta há milhões de anos. Povos chegaram a essa densa mata há 15 mil anos. Os maias, astecas, incas e amazonenses se estabeleceram sob essa vasta manta verde há milênios.

Em apenas 523 anos, os congressistas brasileiros, os bovinocultores, os produtores de soja e os mineradores do ouro proclamaram, no dia 30.5.2023, a sentença de morte aos habitantes originais da Amazônia. Destruímos, em 523 anos, a ferro e fogo, uma parte sensível de nossa espécie sapiens. Luto e lágrimas!

 Imagem: Assim se acabaram nossos primos neandertais. (Foto: Eugênio Giovenardi, Atapuerca, Burgos, Espanha, 2019)



CHUVAS DE MAIO 2023

 

CHUVAS DE MAIO  ANOS 2013 a 2023  

Em milímetros ─ 1 mm = 1 litro/m2

ANOS      MÊS ▬             TOTAL ANO/ MM

2012 −           ******                        ******

2013 –      25.3                    2.255,6

2014 –      21.0                    1.677,5

2015 –      42.0                    1.642,7

2016 -       38.9                    1.921,7

2017 -        64.2                    1.478,7

2018 –         9.1                    1.760.5

2019 –       16.3                    1.069.3

2020 −        17.7                   1.787,8

2021 –         0.0                    1.710.8

2022 –         6.3                     1.279,2 

2023 -         0.0                       680.3 (Neste ano)

 

SÍTIO DAS NEVES, BR 060, KM 26, DF, EM REGENERAÇÃO DESDE 1974. SOU IRMÃO DAS ÁRVORES. ELAS VIVEM EM MIM E FALAM COMIGO.

Aos que seguem o movimento das águas pluviais durante o ano, ofereço os dados pluviométricos do mês de abril dos últimos 11 anos. Volumes coletados pelo pluviômetro, instalado no Sítio das Neves pela Agencia Nacional de Aguas (ANA), refletem a situação pluviométrica de parte da Bacia do Descoberto e Micro Bacia do Ribeirão das Lajes, DF. No Sítio das Neves, a vegetação e as nascentes mantêm boa umidade do solo e do ar, detêm três terços da água da chuva, contribuem para a recarga dos aquíferos e regulam o curso dos dois córregos que nascem na área.

O acumulado de chuvas, neste ano, é de 680.3 mm/ ou litros por m2, na região da microbacia do Ribeirão das Lajes. O Sítio das Neves não foi agraciado com chuvas, no mês de maio.

Como se observa no quadro, a média de chuvas dos meses de maio, nos ONZE anos registrados, foi de 22.2 mm ou litros por m2. Como indica o quadro, em 6 anos houve precipitação mensal menor do que a média e, em dois anos, não houve chuva (2021 e 2023). O DF depende da irregularidade das chuvas e o mês de maio não é exceção. A irregularidade das chuvas não é apenas no volume, mas também na distribuição geográfica. Nestes meses de maio sem chuva, agravados pela grande área impermeabilizada, a tend6encia e o rebaixamento das águas subterrâneas do DF. Nas áreas densamente florestadas, como o Sítio das Neves, as árvores administram com grande sabedoria a captação e a retenção das chuvas.

Os ecossistemas que mantêm vegetação densa resistem melhor às variações do tempo e às severas mudanças climáticas. A preservação das nascentes e o incentivo ao florestamento nativo são ações prioritárias para a regeneração dos ecossistemas, captura e retenção de carbono no subsolo. Esta função do Cerrado só acontece se mantida a floresta original. Os 70 ha do Sítio das Neves, há mais de 20 anos, não emitem carbono de efeito estufa, pois os retêm no solo. As árvores estão felizes e transmitem felicidade a quem as respeita.

Imagem: o lixo continua exposto ao longo das rodovias do DF e em contêineres abertos em ao longo das superquadras do Plano Piloto e bairros de Brasília.