sexta-feira, 28 de junho de 2019

MEUS 85 ANOS


MEUS 85 ANOS

(85 ANOS DEPOIS)




Ah! Que saudades que  tenho
Do querido Sítio das Neves
Dos anos que desfrutei,
Das árvores que tanto amei.
Banhava os pés no regato.
Bem cedo, as brisas leves
Traziam o perfume do mato
E a dança das borboletas azuis.

Descia contente ao ribeirão
Pela trilha verde das mangueiras
Ouvia o gemido das cachoeiras
Por entre as pedras do paredão.
Como eram belas as noites,
O dormitar da natureza,
E o despertar da manhã,
Com o adeus de Aldebarã

Inda guardo na memória
As doces bagas do bacupari,
O passo lerdo do jabuti
A volta tímida dos animais
Da jararaca e da coral
Que nunca me fizeram mal
Pois sou parte da irmandade
E da biodiversidade.

Ah! Que saudades que sinto
Dos silêncios das tardes mortas
Dos troncos de árvores tortas
De quaresmeiras floridas
Caliandras de vermelho vestidas
Do gorjeio dos passarinhos,
Pintassilgos e canarinhos
Com filhotes nos fofos ninhos.






Ah! Que tristeza inda sofro,
Ao ver o fogo correr,
O velho Cerrado arder
E os gritos da passarada
Voando muito alarmada
Em volta de seus ninhos
Pra salvar os filhotinhos
Que acabavam de nascer.

E que doce ilusão me anima
Ao ver as águas correntes
Brotando de fundas nascentes
As plantas crescendo alegres,
Os bichos voltando ao lar
Cantando doces cantigas
Aliviando tantas fadigas
Ao longo de meu andar.

Ah! Tanto me alegra pensar
Que o manso e humilde regato
Correndo no escuro do mato,
Por vales, desemboca, no mar.
Que as plantas, as aves e as flores,
Sem fogo, sem cortes, sem dores,
Desfrutam da paz do Cerrado
Por gentes antigas amado.

JUNHO, 28, 2019


Caro confrade Giovenardi,
fazia tempo, muito tempo mesmo, que eu não lia uma poesia tão bonita.
E me fez lembrar, eu menino, passando férias ou fins e semana na fazenda do meu pai - sertão da Paraíba - preparando-me, de manhã e à tardinha, para, com meus irmãos, ir tomar banho no açude; ou ir para o engenho de rapadura para buscar caldo de cana, melaço e até fazer alfenim...
Ah, tempo bom e bonito que não volta mais...
Meus parabéns, por esta pérola de poesia. E muito obrigado por me tê-la enviado.
Tarcízio


quinta-feira, 27 de junho de 2019

MEUS 85 ANOS



MEUS 85 ANOS

Nasci no dia 28 de junho de 1934, quinta-feira, às seis horas da manhã.
Tinha todos os indícios para ser a criança dócil e obediente.
Aos dez anos, meus pais, orientados por frades capuchinos, decidiram me enviar ao seminário, uma espécie da fábrica de padres.  
Ali estudei humanidades, filosofia e teologia. Na Universidade Federal do RS, cursei Ciências Sociais.
Com 24 anos fui ordenado sacerdote da Igreja Católica.
Durante sete anos repeti aos fieis os dogmas católicos. A uns, apontei o céu, a outros, o inferno. Participei ativamente de movimentos políticos. Aos 31 anos, fui tomado por dúvidas metafísicas com poucas respostas.
Os dias e os anos passavam e percebi que devia enfrentar decididamente os desafios da liberdade de pensar.
Estando em Paris, como bolsista do governo francês, aproveitei do ambiente ideal para pôr em questão minha fé, meu sacerdócio, meu contrato com a Igreja Católica. Em 1968, por meio de carta dirigida aos superiores imediatos, comuniquei meu desligamento da Ordem dos Capuchinhos e da Igreja Católica. Pelas normas do Direito Canônico, tornei-me apóstata e livre.
O Movimento de Maio/68 contribuiu para um novo olhar sobre o universo e sobre a trajetória da espécie humana.
Esta trajetória está contada em meus livros -
O HOMEM PROIBIDO e NO MEIO DO CAMINHO.
Nessa encruzilhada, o destino pôs, no outro lado da rua, a jornalista finlandesa Hilkka Mäki, vinda dos extremos da Europa, para juntos construirmos a casinha pequenina onde o amor se refugia, com a alegria da filha Aino Alexandra e das netas Luiza e Laura.

No meio da vida, com um novo olhar sobre a natureza, encontrei o significado da vida, da biodiversidade, da convivência humana.

Hoje, aos 85 anos, alegro-me em dizer que mais da metade desse tempo foi dedicada a ouvir e compreender os gritos de uma área de Cerrado, no Distrito Federal, devastada pela mão humana.
Esses anos marcaram meu reencontro com a natureza. Mostraram-me, claramente, que o tempo da destruição de vidas é curto e o da regeneração e convivência é pacientemente longo.
Compreendi, nesse tempo, o milagre da vida no planeta. Milagre, porque a vida é inexplicável.
Compreendi a linguagem das árvores e sua estreita ligação com a água. Aprendi a pôr os pés na água e os olhos no céu de  Aldebarã.
Compreendi que somos água e que sou água que fala.
Compreendi que as árvores falam, os pássaros falam, os animais falam, os insetos falam.
Compreendi que faço parte da biodiversidade e que, entre os predadores saudáveis no âmbito na natureza, a espécie humana é a mais eficaz e também a mais perigosa.
Compreendi, nesse tempo, que toda vida morre e toda espécie viva tende a desaparecer. Não desejo que a espécie humana desapareça como os tiranossauros.
É lamentável que a espécie humana acelere a extinção de milhões de espécies e o próprio desaparecimento.
Compreendi, nesses quarenta e quatro anos da lenta regeneração da Biocomunidade do Sítio das Neves, que é necessário, para retardar nosso desaparecimento, um novo olhar sobre a natureza.
Esse novo olhar sobre a natureza está sendo clamado pelas crianças e jovens do planeta. Eles imploram à geração atual que mude seu comportamento demolidor.
Venho, neste dia, dizer aos que vivem o milagre da vida que é necessário um novo olhar sobre a natureza para salvar a biodiversidade e salvar a espécie humana.
A vida é um milagre a ser preservado.
A Biocomunidade do Sítio das Neves é uma congregação de vidas que sustentam o milagre.
Meu sonho, revelado a Aldebarã, é que as crianças e os jovens do planeta Terra, um dia, se levantem, alcem os braços, cerquem as florestas, as nascentes de água, os pequenos córregos e impeçam as derrubadas, os incêndios, e defendam todos os animais e aves que a natureza criou.
Sonho com o dia em que nenhuma árvore mais será derrubada e que todas se encham de vidas.

Por isso, concluo:
Sou a pedra, sou a terra,
Sou o arbusto, sou a planta,
Sou a flor, a íris, a caliandra,
Sou a aranha e a ameba,
Sou a serpente e o tatupeba
Sou o pântano e o olho d’água,
Sou o fruto da mangaba,
Do pequi e do bacupari,
Sou a ave, o gavião, o sabiá,
Sou o peixe, a tartaruga, o caracol,
Sou o gato, o cão, o rato,
Sou o cordeiro, sou o lobo-guará,
Sou você, sou o outro,
E ambos somos todos,
E todos somos a vida
Para um canto universal.

28.6.2019

domingo, 23 de junho de 2019

ECOMUSEU – COMUNICAÇÃO


ECOMUSEU – COMUNICAÇÃO

AMIGOS DO ECOMUSEU,

Aos 84 anos, alegro-me em dizer que mais da metade desse tempo foi dedicada a ouvir e compreender os gritos de uma área de Cerrado devastada pela mão humana.
Esses anos marcaram meu reencontro com a natureza. Mostraram-me, claramente, que o tempo de destruição de vidas é curto e o da regeneração é pacientemente longo.
Compreendi, nesse tempo, o milagre da vida no planeta. Milagre, porque a vida é inexplicável.
Compreendi a linguagem das árvores e sua estreita ligação com a água.
Compreendi que somos água e que sou água falante.
Compreendi que as árvores falam, os pássaros falam, os insetos falam.
Compreendi que faço parte da biodiversidade e que, entre os predadores saudáveis no âmbito na natureza, a espécie humana é a mais eficaz e perigosa.
Compreendi, nesse tempo, que toda vida morre e toda espécie viva tende a desaparecer. Não desejo que a espécie humana desapareça como os tiranossauros. É lamentável que a espécie humana acelere o desaparecimento de milhões de espécies e o próprio desaparecimento.
Compreendi, nesses quarenta e quatro anos da regeneração da Biocomunidade do Sítio das Neves, que é necessário, para retardar nosso desaparecimento, um novo olhar sobre a natureza.
Esse novo olhar sobre a natureza está sendo oferecido pelas crianças e jovens do planeta e imploram à geração atual que mude seu comportamento demolidor.
Vim, nesta ocasião, dizer aos que compõem e visitam o ECOMUSEU que é necessário um novo olhar sobre a natureza para salvar a biodiversidade e salvar a espécie humana.
A vida é um milagre a ser preservado.
A Biocomunidade do Sítio das Neves é uma congregação de vidas que sustentam o milagre.
Meu sonho, revelado a Aldebarã, é que as crianças e os jovens do planeta Terra, um dia, se levantem, alcem os braços, cerquem as florestas, as nascentes de água, os pequenos córregos e impeçam as derrubadas, os incêndios, e defendam todos os animais e aves que natureza criou.
Sonho com o dia em que nenhuma árvore mais será derrubada e que todas se encham de vidas. Por isso, concluo:
Sou a pedra, sou a terra,
Sou o arbusto, sou a planta,
Sou a flor, a íris, a caliandra,
Sou a aranha e a ameba,
Sou o pântano e o olho d’água,
Sou o fruto da mangaba,
Do pequi e do bacupari,
Sou a ave, o gavião, o sabiá,
Sou o peixe, a tartaruga, o caracol,
Sou o gato, o cão, o rato,
Sou o cordeiro, sou o lobo-guará,
Sou você, sou o outro,
E ambos somos todos,
E todos somos a vida
Para um canto universal.

19.6.2019

domingo, 2 de junho de 2019

ESPECIALISTAS EM ÁGUA


ESPECIALISTAS EM ÁGUA


Não sou especialista no tema água. Apenas acompanho há mais 40 anos, no DF, o movimento das águas que vêm de cima, das que correm na superfície e das que brotam de baixo. As informações que me auxiliam a compreender as águas são as mesmas que dão diplomas a biólogos, hidrólogos, engenheiros e outros especialistas.
As informações dadas à população por funcionários de órgãos públicos e da imprensa sobre água são incompletas por diferentes motivos: não se sabe o volume real de água dos reservatórios, os instrumentos de medição não são adequados, não há interesse em informar a real situação hídrica.
Os reservatórios estão cheios, dizem representantes de órgãos oficiais. A linguagem é matemática: 100%. Esses cem por cento são suficientes para, a longo prazo, abastecer a população?
A represa do Descoberto foi concebida para reter 103 km3 de água. Um km3 é igual a 1 bilhão de metros3 ou a um trilhão de litros. Então, algum profissional, sem medo de perder o diploma, pode dizer que 100% da Represa do Descoberto contêm hoje 103 trilhões de litros de água? A barragem pode estar cheia e não conter 103 trilhões de litros. Quem mediu o assoreamento da barragem?
Estamos contando com 100% do nível da barragem para abastecer a população do DF ou com 103 trilhões de litros de água? Quando a barragem chegou a 5%, deveria dispor de 5.150.000.000.000 de litros, volume que não decretaria o racionamento. Isto significa que os cinco por cento eram apenas um número matemático, sem base na realidade hídrica.
Com minha experiência, sem ser especialista em água, pela observação cotidiana das nascentes da Biocomunidade Sítio das Neves, durante 44 anos, posso informar qual é a vazão delas nos diferentes períodos do ano.
Os funcionários de órgãos públicos deveriam informar aos usuários sobre o volume real contido nas barragens que abastecem a população do DF e alertá-la constantemente sobre a irregularidade das chuvas, a redução do consumo em todas as áreas, em razão do aumento anual da população e da consequente diversidade do uso econômico e social da água. O consumo de água aumentará sem que se possa determinar qual será o volume de chuvas.
Não estaremos livres de racionamento, mesmo com a entrada das águas retiradas do lago Corumbá IV. O truque dos poços artesianos é praticado livremente para livrar-se da possibilidade de restrição no uso da água. Não há controle sobre a fácil perfuração de poços.
Muitas nascentes de água estão secando por excesso de sucção de águas subterrâneas que constituem a poupança hídrica limitada.
ÁGUAS DE MAIO 2013 A 2019

PLUVIÔMETRO DA ANA
SÍTIO DAS NEVES - DF
2013          25.3 mm
2014          26.0 mm
2015          42.0 mm
2016          38.9 mm
2017          64.2 mm
2018            9.1 mm
2019          16.3 mm
Em algumas áreas restritas do DF houve precipitações mais volumosas. Irregularidade das chuvas e mudanças climáticas andam juntas.