quinta-feira, 31 de março de 2022

CHUVAS DE MARÇO ▬ ANOS 2013 a 2022–

 

CHUVAS DE MARÇO ANOS  2013 a 2022–

  – Em milímetros ─ 1 mm = 1 litro/m2

 

ANOS       MARÇO        TOTAL ANO/ MM

 

2013 -        401.9                            2.255,6

2014 -        326.7                           1.677,5

2015 -        292.2                           1.642,7

2016 -        307.0                           1.921,7

2017 -        258.9                            1.478,7

2018 -        283.5                            1.760.5

2019          210.9                            1.069.3

2020 -        264.4                            1.787,8

2021 -        198.1                           1.710.8

2022 -          61.4                                486.8 (neste ano)

 

Aos que seguem o movimento das águas pluviais durante o ano, ofereço os dados de março dos últimos dez anos. Volumes coletados pelo pluviômetro, situado no Sítio das Neves pela Agencia Nacional de Aguas, refletem a situação pluviométrica de parte da Bacia do Descoberto e Micro Bacia do Ribeirão das Lajes, DF. No Sítio das Neves, a vegetação e as nascentes agradecem os 47,9 milhões de litros de água regeneradora no mês de março. O acumulado dos três meses de 2022 é de 486.8 mm, contra 750.7 mm em 2021 ou 263.9 mm (litros) a menos por metro quadrado. Situação preocupante.

A média dos dez anos, nos meses de março, no Sítio das Neves, é de 260,5 mm. Como se observa no quadro, desde 2019, o mês de março apresenta chuvas abaixo da média. Em 2022, março mostra apenas um terço do volume de 2021. As chuvas de março, nesta série, apresentam queda da precipitação, embora se tenham registrado fortes e rápidas (40 a 50 minutos) chuvas localizadas. Os ecossistemas que mantêm vegetação densa resistem melhor às variações do tempo e às severas mudanças climáticas em andamento e previnem inundações ou desmoronamentos. A preservação das nascentes e o incentivo ao florestamento são ações que precisam entrar na prioridade absoluta da população para a regeneração dos ecossistemas.

31.3.2022

sexta-feira, 25 de março de 2022

SADISMO ELETRÔNICO

 SADISMO ELETRÔNICO

Meu urologista solicitou um exame de ressonância magnética, com contraste, realizado no interior de um tubo sofisticado, para avaliar as consequências de uma obstrução do fluxo renal. O real propósito do procedimento é avaliar a capacidade de resistência do organismo humano. Saindo vivo daquele bueiro, o paciente está apto a aguentar qualquer ataque de nervos na turbulenta vida urbana.
Todos os ruídos da natureza e os inventados pelo HOMO SAPIENS são testados nos cinco sentidos durante uma hora ▬ explosão de bombas, motosserras arrasadoras, brocas de perfuração, britadeiras, buzinas desesperadas, freadas bruscas, marteladas seguidas, ronco de motores, sirenas de ambulâncias e de bombeiros, estrondos de trovões ▬ e, de repente, um aviso provocativo, zombeteiro e irônico, (já está quase acabando) seguido do estardalhaço de um prédio implodido. Ao final, tive a percepção de impotência, fragilidade e desânimo.
A diferença entre suportar uma metrópole dominada por múltiplos ruídos ou tolerar os buzinaços dentro de um tubo é de que, na cidade, compartilhamos o barulho socializado e, no tubo, o indivíduo aguenta sozinho e desamparado. Saí vivo!

OURO, EM QUILO OU EM BARRA


OURO, EM QUILO OU EM BARRA
SÓFLOCLES (497-406 a.C.), em Antígona, alertou:
“Pois, nada de quanto impera no mundo
É tão funesto quanto o ouro, que derruba
E arruína as cidades e os homens,
E avilta os corações virtuosos,
Levando-os ao caminho do mal e do vício.
O ouro ensina ao homem a astúcia e a perfídia
E o faz, insolente, virar as costas aos deuses.”
“Ouro! Ouro precioso, rúbeo, fascinante?
Com ele se torna branco o preto e o feio, formoso,
Virtuoso, o mal, jovem, o velho, valente, o covarde,
Nobre, o vilão. Oh! Deuses! Por que é isto, oh, deuses?
E retira o cobertor a quem jaz enfermo.”
“E afasta do altar o sacerdote.
Sim, este escravo vermelho ata e desata
Vínculos consagrados, bendiz o maldito.
Torna agradável a lepra, honra o ladrão
E dá posição, privilégio e influência,
No conselho dos senadores: conquista pretendentes
À viúva anciã e já curvada.
Oh! Maldito metal!
Vil meretriz dos homens!”
(Versão minha do texto em espanhol)

terça-feira, 22 de março de 2022

DIA MUNDIAL DA ÁGUA ▬ 22.3.21022

 

DIA MUNDIAL DA ÁGUA ▬ 22.3.21022

ÁGUAS DE MARÇO

 

A onipresença do precioso líquido, no dia a dia, indica ser ele imprescindível para sustentar a vida que nele nasceu.

 

Águas do planeta

Águas do verão

Águas do outono,

Águas do inverno

Águas da primavera

Águas do céu

Águas do mar

Águas da floresta

Águas da folha

Águas da flor

Águas da lagoa

Águas da fonte

Águas do riacho

Águas do ribeirão

Águas do rio

Águas da nuvem

Águas da árvore

Águas da lágrima

Águas do suor

            Águas de beber

Águas de lavar

Águas de esgoto

Águas de regar

Águas de dia

Águas da noite

Águas da chuva

Águas voadoras

Água no feijão

Água na fogueira

Água fria

Água gelada

Água limpa

Água barrenta

Água fervida

Água doce

Água salgada.

 

“O melhor é a água”. Riobaldo, em Guimarães Rosa, Grande Sertão.

quarta-feira, 16 de março de 2022

O NOVO NORMAL NO PATRIMÔNIO CULTURAL DA HUMANIDADE

 

O NOVO NORMAL

NO PATRIMÔNIO CULTURAL DA HUMANIDADE

 

Na porta do supermercado, 406 Sul, se aproxima um jovem cuidador de carro, “ôi, senhor, pode me oferecer um pacote de linguiça para o arroz das crianças?” Um cidadão, encostado na grade de proteção, acima do peso: “doutor, pode me dar alguma coisa, tenho 3 filhos, estou desempregado, não tenho comida em casa, pode ser uma bandeja de ovos?”  Joana, a senhora das 5 sacolas, única legítima pedestre de Brasília, me chama pelo nome: “Giovenardi, tem uma moeda? 50 centavos.” Respondo que há muito tempo não vejo moedas. “entao, me traz uma lata de cerveja bohemia”. No interfone do apto.: “Me perdoe a moléstia, senhor, o que que acontece, estou desempregado, por favor, me dê alguma coisa para comer, uma roupa, estou um mês com a mesma roupa, sem um banho, estou ‘em situação de rua’!”  Os pobres, os sem-casa, os desempregados (290 mil em Brasília, mais do que a população de Taguatinga) não são mais cidadãos brasileiros, nem contribuintes. Nova nomenclatura: BRASILEIROS EM SITUAÇÃO DE RUA. E eu, classificado pela Pandemia, um mero assintomático.

São as cenas do NOVO NORMAL de um país que produz comida para um bilhão de asiáticos, segundo a alegre ministra da agricultura e o enigmático ministro da economia.

 

À PROCURA DA BRASÍLIA PERDIDA, um grito de alerta, está na BANCA DE SERVIÇOS CULTURAIS 408 SUL, com Ubirajara Leandro. Das 10h às 18h.

quinta-feira, 10 de março de 2022

Heringuerianas

 

Heringuerianas

           Texto de Aylê-Salassié - Jornalista, professor, doutor em História Cultural.

                                            

 {Esta comunicação especial complementa generosamente aspectos do livro À PROCURA DA BRASÍLIA PERDIDA, de Eugênio Giovenardi)

            Este texto vem a propósito de uma grave omissão na reportagem escrita por Pedro Grigori, na edição de 6 de maio (domingo), do Correio Braziliense, com o título :  “[...Heróis do Cerrado”. Sequer foi lembrado o nome do botânico Ezechias Heringer , descobridor de várias espécies , criador do Parque Nacional de Brasília, de mais duas ou três reservas de proteção do ecossistema e um dos poucos a visualizar as potencialidades das terras do cerrado. 

 

         Cientista consagrado, foi   o maior estudioso da vegetação do Brasil Central,  e um dos últimos exemplares de uma  categoria chamada de “naturalistas”, marcada pelos estudos de Von Martius, Saint Hilaire, Peter Lund, e nativos como Carlos Rizzini, Murça Pires, Graziela Barroso, Guido Pabst, Pio Correa, Armando de Mattos e João Moogem .

           Esquecido pelas jovens  correntes da ecologia que se iniciavam na Universidade de Brasília nos anos 70/80, o professor,  emérito, agrônomo de formação, botânico e silvicultor por opção, morreu no Lago Norte, aos 80 anos . Deixou uma extensa obra sobre a flora do cerrado.  Foram trabalhos desenvolvidos, na sua maioria, juntamente com membros dessa desaparecida comunidade de naturalistas brasileiros.  Algumas pesquisas não chegaram a ser concluídas à tempo, e outras foram apropriados por estranhos, aproveitando-se da extrema modéstia de Heringer.

              Na condição de um dos primeiros guardas florestais do Parque Nacional de Brasília (Água Mineral),  e estudante do científico noturno do Elefante Branco, era convocado para acompanhá-lo nos estudos de campo. Tive verdadeiras aulas de Botânica e Sistemática, em pleno cerrado, com o material que ele acabava de coletar.  Sua avidez  era de um adolescente. Cruzando com tamanduás, lobos guará – chegou a encarar uma onça - enfrentava o desafio do tempo e das trilhas abertas no cerrado pelos bandeirantes e  carros de boi, à busca de material botânico desconhecido e original.

 Tornara-se conhecido por traçar o roteiro botânico  do Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa. Seguindo por esse caminho, descobriu e descreveu várias espécies do cerrado. Na área conhecida hoje como Parque do Guará, ele encontrou o fóssil de uma espécie extinta. Fez inúmeras experiências de reprodução com nativas e de introdução de exóticas  em terras do cerrado. Os plantios mais antigos de eucalipto na Região Centro-Oeste foram todos iniciados em projetos de pesquisas dele.  Administrou os viveiros que forneceram espécies da flora  para o paisagismo de Brasília. Criou o Parque Nacional e indicou a necessidade de mais duas ou três reservas naturais no Distrito Federal para proteção de ecossistemas ameaçados, propostas abrigadas, com entusiasmo, pelo prof. Paulo Nogueira Neto, então Secretário do Meio Ambiente.

                Nos fundos da casa do professor Heringer, na Avenida W-3, havia um quarto cheio de fragmentos botânicos, troncos retorcidos, flores secas, livros, microscópios, exsicatas e outros materiais usados para a classificação das plantas. Só ele entendia daquilo. Estudava carinhosamente cada amostra, repassando os registros para a arte pictográfica da habilidosa desenhista brasiliense  Maria Werneck. Ambos deixaram dezenas de  trabalhos apócrifos. Não tinham a veleidade de guardar informações sobre as  espécies ou  pesquisas  em desenvolvimento. Todas as coleções de orquídeas do cerrado, existentes hoje no Distrito Federal foram iniciadas pelo dr. Heringer. Coletava os exemplares, descrevia-os, e os reproduzia num viveiro particular, doado para o Parque Nacional, onde foi dilapidado.             

             É preciso enfatizar que a presença do dr. Heringer no Planalto Central precede à de todos os botânicos, biólogos e ecologistas. Como chefe da Horto Florestal de Paraopeba (MG), veio a convite do Presidente Juscelino Kubitscheck.  Em 1958, ele pediu ao  professor  Heringer um estudo detalhado sobre a flora e a fauna da área onde iriam ser iniciadas as obras de construção de Brasília. O dr. Ezechias veio, e não voltou mais para Minas Gerais. Aqui recebia naturalistas e pesquisadores de várias partes do mundo, e participava, com eles, de incursões pelo cerrado.

O reconhecimento da sua contribuição para o estudo botânico e a proteção do cerrado no DF está inscrito em vários trabalhos publicados em revistas já desaparecidas, e outros no exterior. Em sua homenagem, os naturalistas Pabst, Rizzini, Mattos  batizaram espécies novas do cerrado com o seu nome: são as heringuerianas.