quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

LOU SALOMÉ

Leio a Biografia de Lou Andreas-Salomé, depois da leitura de Quando Nietsche chorou (Irvin D. Yalom). Uma sequência lógica.
Os primeiros passos na descoberta de si mesma originam-se, como eu também havia percebido, na consciência da perda e do abandono ao ser expelida com força, com dor, mas também com sentido maternal de apropriação da nova vida. Expulsão, por um lado, dependência, por outro. Ligação profunda à mãe, apego traduzido por amor. Expulsão à força, seguida do medo de perder a continuidade de si como mãe une-se ao medo do ser expulso de não sobreviver sem ela. O ser expulso e reapropriado se torna dependente do sustento, do poder do afeto, da ligação umbilical.
Mas alguém, superior e mais forte, um ser poderoso e absoluto, nasce no expulso, substitui a mãe e andará com ele o resto da vida. Sente necessidade dele e estará sempre temeroso de não encontrá-lo ou de não ser aceito por ele. Ter sido expulso do conforto seminal e jogado às incertezas da vida solitária provoca o nascimento do complexo de culpa como se tivesse recusado permanecer no paraíso. Esse sentimento de perda o induz a pedir perdão por nadas. Perdeu seu lugar original e leva essa perda como culpa original, base da religião cristã. Fomos simbolicamente expulsos do paraíso e teremos que ganhar o pão com o suor do rosto. A solução final é morrer e ressuscitar numa outra vida. Em outras palavras, libertar-se da culpa de ter sido expulso do ventre materno e aceitar o funcionamento das leis da vida que pulsa em cada ser de forma variada e singular.
A macieira produz maçã. A pessoa, a espécie humana produz palavras e sentimentos.\É o único ser que se realimenta dos próprios produtos e que podem levá-lo à convivência pacífica, à antropofagia social e ao desaparecimento.

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