quinta-feira, 27 de agosto de 2020

CARTAS DA PRISÃO - DONA ANA

 

DONA ANA

Antigamente, a casa da vizinha era a extensão da dispensa das outras donas de casa. Uma xícara de arroz, uma colher de banha, pó de café quebravam o galho. Dona Ana é nossa vizinha há cinco anos. Pela idade, chamada de risco, curte sozinha o isolamento determinado pela pandemia do vírus 19. Meses antes, seus netos a visitavam com moderada frequência. Outras pessoas da família têm visitado Dona Ana. Sei pelos sapatos que deixam fora da porta. Por discrição, nunca perguntei se são filhos, noras ou genros. Encontro-me esporadicamente com ela. Ela sorri.

Na véspera da Páscoa de 2020, Dona Ana tocou à nossa porta. Minha mulher e eu fomos atender. Trazia em mãos um trabalho em tricô colorido. Perguntou se tínhamos liquidificador.

- Sim, Dona Ana. Precisa dele?

- Eu fiz um chapéu para cobrir o liquidificador. Se é um Walita, vai servir.

- Quanto é?

- É um presente de Natal.

Ela sorriu ao saber que era Walita. Aceitamos o presente. Em troca dei-lhe um livro e dois pés de alface colhidos em nossa horta. Dona Ana não disse mais palavras. Sorriu e voltou a seu apartamento ao lado. Ela é de poucas palavras e muito sorriso. Dona Ana é dos tempos que, em criança, se aprendia a tricotar com a vovó. Nunca imaginei pôr chapéu em liquidificador.

Dias passados, em plena pandemia, sem máscara, Dona Ana bateu novamente à nossa porta. Tinha em mãos um tricotado amplo e colorido. Uma espécie de saia rodada. Sorrindo, perguntou se tínhamos bojão de gás.

A pandemia fez Dona Ana voltar aos tempos de menina.

Tricotar é preciso.

26.8.2020

domingo, 23 de agosto de 2020

CARTAS DA PRISÃO - ISOLAMENTO – DISTANCIAMENTO

 ISOLAMENTO – DISTANCIAMENTO

São palavras básicas do paradigma de convivência do novo normal. O dicionário do novo normal se restringiu a essas duas palavras. Despidas do floreio poético que lamenta a perda de um amor ou da pátria distante, elas propõem a fuga incessante de um vírus invisível que, para sobreviver, requer aproximação e ajuntamento. O isolamento é a vacina disponível. Estamos condenados ao isolamento por termos cometido atos antissociais contra a natureza. Isolamento, afastamento, apartamento, distanciamento. Longe, retirados, separados, excluídos, segregados, desagregados, ilhados, descasados, desterrados. Mascarados. Isolar-se de quem? Do quê? Por quê? O que os outros têm que eu possa receber de ruim ou de bom? A espécie humana é gregária. Adora ajuntamento. Carnaval. Futebol. Bar. Aniversários. Festas. Agora, não pode mais. A ordem é: isola o vírus! Há mais de 20 mil anos, o homem sapiente vem domesticando seres vivos: arroz, feijão, soja, boi, cão, cavalo, gato, cobra, periquito. Desorganizou a vida nas florestas e no mar. Agora, tem que fugir do vírus que se rebelou contra a desordem. Fugir do vírus. Fugir dos outros que fogem do vírus. Não basta isolar-se. Há que manter distância. A vizinhança sempre foi um fator de ajuda, de apoio, de companhia, de união. Agora, o novo normal é ficar longe. É arredar pé! É certo que a vizinhança, os ajuntamentos ocasionam fofocas. Mas a fofoca é o combustível da convivência. Afasta uns e une outros. O novo normal está marcado por mortes, sem o carinho dos amigos. O sepultamento sem a lágrima refrescante dos familiares. Uma separação, um isolamento definitivo e sem volta. O novo normal nos esconde a boca sensual, o belo nariz, o sorriso do rosto, o brilho dos olhos.
O novo normal. Cada um, por si. O vírus, por todos.

Nada melhor do que isolar-se em campo aberto. (Foto: E. G. Sítio das Neves)

23.8.2020

terça-feira, 18 de agosto de 2020

GLORIA E QUEDA DO HOMO SAPIENS

 

 

 GLORIA E QUEDA DO HOMO SAPIENS

 

 

 

 

 

 

 MENSAGEM AOS SOBREVIVENTES

 

 

 

 

Eugênio Giovenardi

Escritor e Ecossociólogo

2020

 

 

     

Há quatro décadas, observo as relações de convivência e de interdependência da espécie humana com milhares de outras espécies da biodiversidade, especialmente no Cerrado brasileiro.

Todos os caminhantes deixam pegadas de seus passos. Por caminhos abertos passam os que vêm depois. Nestas respostas, deixo minhas pegadas. Tenho certeza de que as medidas nem sempre servem a todos os pés. Vivo numa nova capital e na antessala de um novo mundo. Lanço um novo olhar sobre o planeta e especificamente sobre a natureza.

Estamos numa encruzilhada. Andamos muito. Cometemos afoitezas. Corremos, quando devíamos andar devagar. Atropelamos a natureza. Empobrecemos o planeta. A resposta ecológica do planeta está clara. A covid/19 é um alerta global

A água, os esgotos, o lixo matam vidas e, nessa onda, vamos nós, a insigne espécie sapiente. Há que ouvir a natureza. Ouvir as árvores e seus gritos silenciosos. Comover-se com os clamores dos pássaros e sentir-se culpados pelas mortes de animais nas rodovias.

Como sairmos desse labirinto ou desta prisão que construímos sem prever uma porta de saída? Temos riqueza contrabalançada com extrema pobreza. Não sabemos o que e como fazer com elas.

Nesta comunicação, em forma de entrevista, colecionei vinte perguntas que me fiz e que outros mais jovens me fazem diante das certezas, incertezas e alertas de nosso tempo às voltas com um vírus invisível.

 

-– Há milhares de anos, os hominídeos vêm enfrentando mudanças climáticas. Nossos antepassados próximos, os Neandertais, abriram caminho para o Homo Sapiens. Eles se extinguiram. Nosso destino poderá ser o mesmo?

 

O degelo no Hemisfério Norte, os desertos do Hemisfério Sul tenham talvez provocado o encontro entre Neandertais e Homo Sapiens, ao longo de séculos. Mudança de rumos na história da espécie humana. O homo sapiens se adaptou ao frio, ao calor, aos vales e às montanhas. Arriscou-se à travessia de rios e mares, por terra, mar e ar. Mudamos permanentemente, mesmo sem perceber que mudamos. O tempo é testemunho das mudanças, das adaptações, de êxitos e fracassos. Da GLÓRIA E QUEDA DO HOMO SAPIENS. Nossa época e nossa cultura são o resultado de contínuas mudanças. Saímos da coleta de folhas e frutos, da caça individual ou cooperativa, há 15 ou 20 mil anos. Domesticamos cereais, e animais. Construímos cidades, palácios, impérios, templos, universidades, bibliotecas, teatros, arenas para os mais variados esportes.

Parece que a tão almejada felicidade ou o paraíso prometido ficaram para trás ou se mantêm escondidos das elucubrações do cérebro humano.

Há fenômenos naturais ou a natureza das coisas que atropelam a rotina ou os planos da espécie humana. Somos o único mamífero cujo cérebro é capaz de perceber, compreender e acompanhar o funcionamento das leis físicas.

 - Fala-se, cientificamente, em mudanças climáticas com ênfase no aquecimento global. Como olhar esse tema? A espécie humana corre risco de extinção?

 Todas as espécies vivas que se originaram há milhões de anos podem desaparecer com a mesma naturalidade com que apareceram, ou por fenômenos naturais, ou por violenta e continuada ação depredadora da espécie humana. A vida depende grandemente das condições climáticas que podem mudar o ambiente favorável à reprodução dos seres vivos. A vida é um milagre que inclui seu desaparecimento. O milagre da vida é inexplicável. O universo não tem como objetivo servir à espécie humana. Ela é apenas um dos habitantes de um planeta.

 . – Que fazer para deter o esgotamento das riquezas do planeta?

 Todos os sinais acenam para um novo olhar compreensivo sobre a natureza. O planeta é conformado por ecossistemas e biomas. Neles se origina o milagre da vida que engloba a biodiversidade unida pela interdependência de todos os seres vivos. A chegada lenta e gradual do homem sapiente, neste planeta, introduziu uma nova maneira de tratar a interdependência de todos os seres da biodiversidade da qual ele faz parte. Seu cérebro e suas mãos tentam adaptar a natureza a suas necessidades essenciais e da forma como considera mais adequada a alcançar esse fim. Nesta trajetória, a espécie humana optou erroneamente a utilizar a natureza apenas como objeto de exploração econômica, rompendo os processos estruturais da regeneração ecológica dos ecossistemas.

 - Qual é nossa parte na devastação ou no esgotamento do planeta?

 A ação de todos os seres vivos sobre os ecossistemas e respectivos biomas modifica com maior ou menor intensidade, o ambiente externo. Os seres vivos, que se alimentam de vegetais ou de proteínas não vegetais, exigem da natureza uma energia contínua de regeneração. Parece claro que grandes animais necessitaram volumes proporcionais de alimentos. É razoável pensar que muitas espécies, ao longo de milênios tenham desaparecido no meio de mudanças climáticas que os deixaram sem comida. A ação do homem sapiente, graças a seu desenvolvimento cerebral, sua capacidade de intervenção, invenção e inovação, pode alterar drástica, contínua, e perigosamente as relações da interdependência dos seres vivos. A mão humana tanto pode extinguir espécies animais como florestas. Este comportamento incontrolado compromete a biodiversidade, rompe e retarda o ciclo da regeneração dos sistemas vivos.

 – A sobrevivência da espécie humana se baseia na busca permanente de alimentos. Como salvar a biodiversidade?

 As ações complexas da espécie humana sobre os ecossistemas, sobre a biodiversidade, definidas como econômicas, culturais, sociais, religiosas, políticas, tecnológicas, cibernéticas, se orientam a preservar, antes de tudo, sua sobrevivência e reprodução. A intensidade da exploração das riquezas do planeta pelo aumento da população nos cinco continentes está gerando efeitos globais que afetam basicamente a água dos rios e do mar, e o ar: elementos essenciais para a biodiversidade em todos os ecossistemas. Segundo o Atlas Mundial da Desertificação (2020), três quartos do solo do planeta estão degradados As mudanças climáticas assumem proporções incontroláveis diante dos efeitos maléficos da ação humana sobre a água que tomamos e o ar que respiramos. Os vírus, as bactérias e as doenças atacam e matam populações e espécies da biodiversidade por esses dois caminhos. Todos tendem a defender a própria vida, sejam seres visíveis ou invisíveis como os vírus. Nós pertencemos à biodiversidade e também defendemos nossa vida. Mas sempre há riscos nessas relações de sobrevivência. Busquem-se, nas águas sujas e nos esgotos ao redor do planeta, os restos mortais de muitos vírus.

 – Temos tecnologia, meios, instrumentos para prever mudanças climáticas. Terremotos, maremotos, altas e baixas temperaturas. Isso não é suficiente para nos defender?

 A espécie humana tem se adaptado aos mais diferentes ambientes do planeta. Nas regiões polares ou no equador. Sua experiência de mais de 300 mil anos lhe deu conhecimentos para resistir e se defender de grandes mudanças climáticas.

Temos, hoje, séries históricas de fenômenos climáticos. Produzimos sensores de grande alcance. Operamos cálculos matemáticos e estatísticos que permitem antever alguns eventos. Os animais também pressentem mudanças ou eventos perigosos e buscam abrigo. Uma coisa é prever a ameaça de fenômenos físicos, outra, muito diferente é prever nosso comportamento diante deles. Alguns, como inundações, são favorecidos pela urbanização em espaços inadequados, pelo desmatamento, pelo desvio de cursos de água, ou pelo esgotamento de lagos.

O planeta é sacudido desde sempre por fenômenos físicos e mudanças climáticas. A esses fenômenos naturais se associa a ação humana em seu afã de extrair do planeta mais do que ele pode dar. Arrasa montanhas, desvia cursos de rios, esgota aquíferos superficiais e profundos, destrói florestas, polui águas, o solo e o ar com a queima de combustível fóssil, petróleo e gás.

As mudanças climáticas, aquecimento local e global, cataclismos imprevisíveis, secas, inundações, tormentas, vendavais arrasadores, tornaram-se o pão de cada dia em todos os países e com frequência perturbadora. Perdemos vidas e o produto do trabalho, da técnica e da arte empregados.

 – O conhecimento cada vez maior da espécie humana poderia retardar ou evitar seu desaparecimento? A tecnologia não dará os meios para vencer os obstáculos naturais, especialmente as doenças?

 Há dois momentos em que o conhecimento pode prolongar nossa presença no planeta. Ciência preventiva e ciência curativa.

O que sabemos sobre a natureza? Sobre seus segredos? Sobre os riscos da rota do planeta no Sistema Solar? Sobre seu potencial positivo ou negativo para a manutenção da vida? Sobre terremotos ou maremotos? E, agora, sobre vírus? Ou bactérias? Se soubéssemos antecipadamente, pela via da ciência preventiva como parte da biodiversidade, não teríamos 100 mil mortes causadas por um vírus, no Brasil, até agora.

A ciência preventiva está ainda em cueiros. Os complicados caminhos no labirinto da biodiversidade e da interdependência de todos os microssistemas de vidas não foram devassados. Estultos os que acham que se pode criar um vírus.  Pode-se criar o ambiente favorável para que vírus e bactérias apareçam sem avisar. O vírus também defende a própria vida e busca seu espaço. O vírus tanto pode viajar de avião quanto na patinha de um canário. Com toda a tecnologia acumulada em 20 mil anos, ainda estamos na antessala do desbravamento da natureza que nos sustenta. Nossa corrida, no estágio atual, é apelar desesperadamente para a ciência curativa, no afã de vencer a força das calamidades, de guerrear vírus invisíveis, nos livrar de suas ameaças, de fugir delas ou de conviver com elas.

O vírus é um ser vivo, animado. E todos os seres animados assumem sua cota de predador para sobreviver. Os humanos também são predadores e lutam para se reproduzir. Atacam outros seres vivos e se defendem na luta pela vida. É a natureza das coisas. O vírus é um alerta da natureza.

 – Como mudar a forma de coparticipação da espécie humana na interdependência e na regeneração da biodiversidade?

 A lei da gravidade econômica nos lançou num abismo do qual teremos que sair para sobreviver. Por algum tempo ainda, estaremos sob o efeito da lei da inércia capitalista arrasadora que arrastou a espécie humana ao consumismo destruidor.

O fracasso do capitalismo, do crescimento econômico, do consumismo, das inversões no supérfluo para oferecer felicidade à espécie humana é um alerta para o homo sapiens. Se quiser sobreviver tranquilo no conjunto de vidas da biodiversidade terá que rever a maneira de se relacionar com a natureza.  Há que ter humildade para reconhecer o fracasso, as causas do fracasso, os efeitos do fracasso sobre os elementos vitais da sobrevivência, como água e florestas, poluição do ar e das águas. Mas também reconhecer o fracasso nas relações humanas, na distribuição de oportunidades, na repartição dos bens comuns da natureza para saciar a fome de milhões, no tratamento solidário e respeitoso a culturas milenares.

Os quarenta milhões de trabalhadores brasileiros que o crescimento econômico excluiu do bem-estar não terão mais lugar nas empresas que os demitiram.

Não serão, com certeza, os donos do poder que, hoje, ditam normas autoritárias e corporativas de convivência desigual, os que se apressarão a mudar de rumo. São os que enfrentarão a vida nos próximos cinquenta anos. Eles já estão gritando e exigindo o início de uma nova era. A era deles.  Preparada por eles. Nossa herança cultural é indefensável. Em todas as partes do planeta há demonstrações de que os jovens não querem propriedades industriais globalizadas nem contas bancárias sujas de sangue e de exploração das pessoas e da natureza.

 – Quem e quando, então, começará um movimento de mudança cultural tão global quanto as mudanças climáticas?

 O que e como se fará essa mudança faz parte de um processo de regeneração cultural que se inicia nas comunidades locais e se prolongará lentamente por toda a floresta humana. A globalização econômica, submetida ao poder dos detentores da riqueza acumulada, pasteurizou as diferentes culturas e lhe deu um caráter de modernidade à qual parece indispensável aderir. Há quem sugira uma nova glocalização, ou seja, trazer para o local a solução das dificuldades locais, com recursos locais proporcionais às necessidades da população e adequados à preservação do ambiente. A tecnologia da informação será o instrumento para dar vida às comunidades locais. Em vez de bancos centrais para explorar gigantescamente as riquezas globais do planeta, bancos de solidariedade poderão apoiar-se mutuamente para que o ambiente local seja preservado em favor da população.

 – A invenção, a criatividade, a ambição do poder cederiam ao gigantismo incontrolável da globalização?

 Descuramos e até afrontamos o princípio da precaução que orienta a não se tomar medidas que provavelmente trarão resultados negativos. Avançamos o sinal na ilusão de não sermos punidos com um tremendo acidente. O momento que vivemos não é de concertar o vaso quebrado, mas de criar novos instrumentos de trabalho e novos caminhos para a paz social e econômica no planeta.

As condições de vida que as novas gerações irão encontrar dependem do que se faz hoje. O que se deseja encontrar no futuro não acontecerá no futuro. O futuro começa a acontecer no presente. É o presente, com as lições do passado, o tempo de pensar, decidir e fazer.

Parece-me que três atitudes devem ser adotadas no presente:

a)     Conhecer e respeitar a força do funcionamento das leis da natureza e não atentar contra ela.

b)    Compreender a interdependência de todos os seres vivos para alcançar conhecimentos científicos preventivos que possam enfrentar fenômenos naturais repentinos.

c)     Preparar estruturas diversificadas para contornar os efeitos de fenômenos naturais físicos (terremotos, tormentas) ou de conflitos nas relações de interdependência dos organismos vivos (bactérias, vírus).

 . – Que podemos prever para o futuro, diante das dificuldades atuais e da urgência de enfrentar as mudanças climáticas e os fenômenos naturais imprevisíveis?

 Gostamos de números. O homem sapiente usa os números do passado e joga para o futuro como se eles fossem obedientes ao nosso raciocínio. Números não expressam a realidade. A realidade não tem compromissos com estatísticas. Números são apenas nossas referências, são convenções. Os números geraram uma doença intelectual incurável: os percentuais. Achamos que os percentuais explicam mais claramente do que um número inteiro para mostrar uma suposta realidade. Mil mortos são mil mortos cujo desaparecimento do convívio arranca lágrimas de pelo menos outras dez mil pessoas, entre parentes e amigos. Nada se acrescenta se esses mortos representam 5,79% de uma população. Claro que uns mortos têm mais amigos que outros. De que adianta buscar um percentual para saber quantos tiveram mais amigos ou parentes que outros? Cometemos diariamente esses absurdos.

 – Todos os sinais visíveis da natureza indicam que mudanças radicais se aproximam e outras já estão em curso. Teremos força e vontade para mudar nossas atitudes diante dessas mudanças?

 Acumulamos conhecimentos importantes durante 20 mil anos. Mais intensamente, nos 5 mil anos passados. E mais proximamente, nos últimos 200 anos. Mudanças não são novidade na existência dos hominídeos e do homem sapiente.

Mas, parece claro que as mudanças provocadas por nós e as que a natureza nos impõe serão enfrentadas de outra maneira pelas novas gerações.

O que muda no ambiente exterior que circunda a espécie humana a obriga a se adaptar às mudanças para não ser extinta por elas. A realidade é a sirene do alarme. A natureza não é virtual. É real. Tentamos fugir da realidade. Queremos transformar a realidade das coisas em realidades virtuais com as quais podemos lidar, mexer, trocar. Eis a ilusão que nos faz desviar do caminho.

Mudanças acontecem, no universo há bilhões de anos. Nosso planeta passou do fogo à água. Vulcões e terremotos frequentes atestam as mudanças climáticas de um remotíssimo passado.

Desde que a vida surgiu das águas, os seres vivos, ao se diversificarem, foram se adaptando ao meio, à alimentação necessária para a reprodução e sobrevivência. Mas a interdependência dos seres vivos é uma lei natural. Nossos antepassados nos deixaram esta herança: sobreviver às mudanças. Mudanças de clima, mudanças geológicas, nascimento e extinção de espécies, obedecendo ao processo de regeneração lenta, mas contínua, no conjunto da natureza.

 – Como conciliar cooperação e competição?

 Uma compulsiva tendência à cooperação, presente já no período coletor e caçador, levou a espécie humana a dominar energias naturais, a inventar meios técnicos para facilitar sua sobrevivência e reprodução. O princípio da cooperação conduziu os diferentes grupos, estabelecidos em distintos espaços geográficos, com variadas oportunidades de viver e conviver, para definir normas, códigos e leis com o fim de ordenar a convivência. A cooperação não elimina a energia da competição que pode servir de vitamina para novos movimentos ou germe para conflitos a serem resolvidos.

A energia das mudanças atinge a espécie humana pelo inestimável fato de ela possuir um cérebro capaz de perceber, compreender e acompanhar os fenômenos físicos, e o impacto das atividades do homo sapiens sobre eles.

Atingimos um ponto elevado na história da convivência humana, da ciência, da organização social, da exploração econômica dos bens do planeta. Esse ponto da escalada vertical parece indicar que as mudanças a serem enfrentadas, podem catapultar o homo sapiens para um patamar mais equilibrado e calmo, mas não sem sofrimento e pesadas perdas.

 .– Como avaliar as grandes conquistas que deram energia à espécie humana para tantas vitórias sem eliminar o risco da própria extinção?

 As revoluções parecem ser nossa glória e, ao mesmo tempo, nossa queda. Todos os impérios conhecidos tiveram sua glória. Pouquíssimos resistiram à queda. Convém dividir a espécie humana em dois tempos mais visíveis. O primeiro é o que, nos últimos 200 anos, parece ter achado o caminho do êxito, da glória, da felicidade, do paraíso por caminhos pedregosos com uma engenharia de labirinto. O segundo tempo é representado pela nova geração, por um novo homo sapiens, com células cerebrais cibernéticas que questionam todos os valores sociais, familiares, religiosos, culturais, econômicos, políticos, sexuais e raciais.

Os jovens, neste segundo tempo, atual e moderno, constroem um novo cenário de relações com um vocabulário tirado de um dicionário que a velha guarda tem dificuldades de interpretar.

A nova história da espécie humana não borra o passado. O passado será um museu histórico no qual se evidenciam as eras culturais da turbulenta convivência humana ao longo de milhares de anos.

Como a energia das mudanças, em nossa época, afetará a velha guarda do homo sapiens e a nova geração cibernética é a questão a ser respondida pelas duas partes ao mesmo tempo. Os conflitos durante esse lento e longo período de mudanças aparecerão e serão solucionados com as ferramentas de cada etapa.

No período de mudanças, ou no tempo em que elas se anunciam como fenômeno sociocultural irreprimível, de pouco adianta querer indicar rumos ou situações possíveis ou previsíveis. Há que ater-se à realidade dos fatos que as mudanças impõem no presente. O passado é indestrutível. O futuro se constrói no presente. O futuro são nossos netos e bisnetos quando completarem 50 ou 80 anos. O trabalho cerebral dos dois grupos, simultaneamente tocados, terá que se dobrar à realidade, sem deixar-se conduzir pela fantasia. O planeta, a natureza é real. Não virtual.

Num terremoto há mortos que serão enterrados. Há prédios destruídos que serão reerguidos com diferentes técnicas e engenharia. Num terremoto cultural, de abrangência universal, haverá perdas estruturais que sustentavam concepções afetadas pela obsolescência. Em compensação, longos e fatigantes esforços de regeneração das energias levarão as novas gerações para outras plataformas com novos paradigmas de convivência.

  – Não parece ameaçador o confronto entre mudanças e capacidade de adaptação?

 O que determinará a boa e racional adaptação às novas circunstâncias provocadas, simultaneamente, pelas mudanças climáticas e pelo esgotamento e obsolescência do modelo e do paradigma cultural, social e econômico vigente, estará condicionado a uma nova resposta verde, a um novo olhar sobre a natureza. Esse novo olhar significa melhor compreensão do sentido da interdependência dos seres componentes da biodiversidade nos diferentes ecossistemas do planeta.

As mudanças levam tempo. A reação contra a segregação racial se arrasta por mais de cem anos. A diferença no tratamento ou a discriminação de gênero avança a passos lentos. Quanto mais cresce a população mundial e quanto mais se criam grupos racialmente independentes, economicamente desiguais, regidas por leis discriminatórias, mais difícil será consolidar um novo paradigma para a mudança. Por isso, a globalização dos comportamentos estereotipados está ruindo.

O caminho em direção à mudança de paradigma da convivência humana é imposto pelo fracasso da exploração econômica que condena 2 bilhões de pessoas à pobreza, à miséria, à desilusão da vida. Pelo fracasso político das nações em guerras localizadas. Pelo fracasso ecológico revelado na destruição de ecossistemas favoráveis à vida. Pelo ataque sistemático à interdependência dos seres vivos.

O Brasil, hoje, parece estar na rabeira das mudanças estruturais para um novo caminho, pois algumas lideranças insistem em retrocessos éticos, morais, culturais e ambientais. A nossa geração arrisca de deixar aos descendentes uma dívida impagável.

 – A urbanização cada vez maior da população não torna mais difícil enfrentar as mudanças climáticas e culturais?

 A urbanização, a atividade de produção de alimentos e indústrias correlatas são elementos ou atividades que necessariamente serão cenários de mudanças. Essas atividades se atrelam ao crescimento da população. Maior população exigirá maior ocupação de espaços, maior invasão dos ecossistemas, tanto pelo desmatamento implacável, pelo uso diversificado e poluição das águas, desvio do curso de rios, alteração do ambiente pela poluição e produção sistêmica de lixo e esgotos.

Na década de 1970, demógrafos avaliavam a capacidade de suporte do planeta diante do risco da bomba populacional (The population bomb, Paul Eherlich, 1968). No começo dessa década, a população humana (3 bilhões) teria atingido o número adequado (ideal) para manter o equilíbrio das riquezas limitadas que o planeta dispõe para benefício equitativo da espécie humana. Ao mesmo tempo, estaria preservado o equilíbrio reprodutivo da biodiversidade e facilitaria a regeneração das espécies vivas.

A superlotação do planeta, estimulada por fatores econômicos, culturais ou religiosos, é um tema a ser tratado com seriedade, franqueza e urgência. A superlotação de um espaço inibe a cooperação entre as pessoas e a natureza, acirra a competição para o uso dos elementos essenciais à vida e dificulta a solução de conflitos sociais e ambientais. A racionalidade é uma das virtudes do homo sapiens que lhe permite ordenar o equilíbrio entre as limitações das riquezas naturais do planeta e a intensidade do uso dos bens essenciais: água, alimentos e energia físico-eletrônica. O controle do crescimento da população, em todas as regiões do planeta, é uma decisão racional e urgente, cujos efeitos abrangem a biodiversidade em todos os ecossistemas.

Somos, hoje, 7,8 bilhões de humanos a consumir as riquezas do planeta, a começar pela água. Em duas décadas, haverá cerca de 11 bilhões.

“Essa progressão, no entanto, vai terminar, afirma o sociólogo Jeremy  Rifkin (Denver Unv.). As razões para isso têm a ver com o papel das mulheres e sua relação com a energia. Na antiguidade, as mulheres eram escravas, eram provedoras de energia, tinham que manter o abastecimento de água e alimentar o fogo para cozinhar.”

As mulheres acumularam sabedoria e prudência para dar continuidade à vida, estimular e introduzir mudanças nas relações sociais e econômicas adequadas às limitações da casa comum que habitamos. Cabe a elas decidir.

 - Por que ainda se insiste em indicadores que dependem um do outro e não saímos do lugar: Produto Interno Bruto (PIB), Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), Índice de Felicidade Humana (IDFH)?

 Há alguns anos penso num Índice de Conservação e Regeneração da Biodiversidade e dos Ecossistemas a ser aplicado em comunidades locais sem contaminá-lo com médias nacionais ou globais.  Pode não ser um indicador ideal para os que insistem no crescimento econômico. Nos novos tempos, há que se medir a ação humana sobre a globalidade de seus efeitos em relação com a capacidade de regeneração dos ecossistemas e da biodiversidade com um paradigma de economia ecológica. A preservação racional do conjunto da biodiversidade propicia um ambiente de sustentação da vida. Esse novo olhar sobre a natureza dignifica a espécie humana e dá sentido universal ao milagre da vida.

A dita classe política, as empresas preocupadas com o crescimento econômico não perceberam nem ouviram o grito dos que enfrentarão o novo milênio. Os milenares, os jovens deste milênio já estão nascendo e deixando para trás seus antecessores.

Que sentido terá e que lugar ocupará o PIB numa era cibernética na qual os valores culturais, sociais, ambientais e econômicos serão reordenados e sustentados por novos códigos éticos? Como e até quando se sustentará a economia baseada em combustíveis fósseis, em consumo irracional de supérfluos, em urbanização massiva do planeta, em redução constrangedora da vegetação milenar e em esgotamento de mananciais aquíferos?

Vozes jovens, como a de Greta Thunberg e da brasileira Valentina Ruas, lideram outros milhões da geração deste milênio e reclamam por um novo cenário em que viverão nos próximos cinquenta anos. A geração que dominou no século 20 será substituída, mesmo a contragosto, pelos novos chegados a este milênio. Os 3 bilhões de pirralhos conscientes de hoje terão pela frente um novo mundo com outras decisões.

 – Quais são os pontos sensíveis para a biodiversidade em meio às mudanças climáticas atuais?

 Todo alerta deve ser respeitado para termos tempo de tomar medidas adequadas a compreender e adaptar-se às mudanças.

No ritmo das mudanças climáticas, cientistas consideram evidente o impacto da ação da espécie humana sobre o agravamento dos efeitos negativos, especialmente sobre a poluição do ar e das águas. Durante a pandemia provocada pelo novo Coronavírus, as medidas de restrição à circulação de pessoas, fechamento de fronteiras, interrupção de transporte por vias aéreas, marítimas e terrestres, constatou-se sensível melhora na qualidade do ar. No entanto, o volume de lixo não coletado para reciclagem continua comprometendo os ecossistemas. Os esgotos não tratados afetam a qualidade das águas superficiais e profundas e são uma reserva viva de bactérias e vírus.

A ação da espécie humana agride, ao mesmo tempo, o ventre, a pele e os pulmões do planeta: águas, solo e vegetação. Destruímos grande parte do passado do planeta. Imensas jazidas de material fóssil já não existem. Viraram combustível de máquinas poderosas e espalham CO2 na atmosfera. O planeta levará milhões de anos para se regenerar. Por isso, não são apenas ameaças de extinção de espécies e do próprio homem sapiente. É  uma lei da natureza. Por isso, o crescimento zero de nossa ação econômica destruidora é uma imposição da natureza.

 – Novos paradigmas, novas atitudes, novas soluções serão possíveis em pouco tempo ou teremos décadas de ansiedade para romper as estruturas que sustentam o insustentável?

 Nossos tataranetos, daqui a 60 anos, talvez não discutam mais aposentadoria, nem carteira de trabalho. Eles não compreenderão porque tentamos, durante décadas, guardar os dedos e os anéis.

Antes de 1800, ninguém falava em aposentadoria. Eram tempos de trabalho escravo e defendido por normas sociais e apelos filosóficos. Humanizou-se, depois, legalmente o trabalho. Essas leis, chamadas trabalhistas, já não se sustentam. Criar-se-á um novo paradigma a sustentar a criatividade humana, as iniciativas econômicas restritas à limitação do planeta.

Não houve um planejamento explicito para chegar à Revolução Industrial, nem à Revolução Tecnológica, nem à Revolução Cibernética Digital. A espécie humana foi levada pelos fatos, pelas necessidades de cada época. Hoje, os fatos são outros, as necessidades são outras. As soluções serão outras. A revolução será outra. A Quarta Revolução não é para derrubar governos. A Revolução do século 21 é proteger e plantar árvores para devolver ao planeta o que extorquimos dele.

A realidade indica que nossos métodos econômicos não conseguem resolver os problemas crônicos e cada dia mais presentes. É bom, e com urgência, lançar os fundamentos para que as futuras gerações encontrem novas soluções às dificuldades do relacionamento da espécie humana consigo e com todas as espécies da biodiversidade, que a natureza insiste em defender.

Os fenômenos da natureza não costumam se anunciar com antecipação, nem o lugar onde irão aparecer, nem escolhem ou discriminam possíveis vítimas ou expectadores.

A natureza é fatalista e, por isso, temos que estar preparados para eventuais cataclismos, infestações de vírus e bactérias. Há evidências de que a complexa atividade humana tem gerado pandemias porque alterou o ciclo da água e do ecossistema que mantém o equilíbrio ecológico do planeta. As mudanças climáticas, desde milhares de anos, provocam movimentos de populações humanas e de outras espécies. Atualmente, quase oito bilhões de humanos estreitaram, com outras vidas animais, suas relações de convivência e subsistência. Em consequência as mudanças climáticas atingem a saúde de todos os seres vivos. Vírus e bactérias viajam juntos no mesmo avião.

– Temos parte no empobrecimento do planeta. Qual é nossa parte na reconstrução e na regeneração dos ecossistemas?

 Na era do antropoceno, (como relata Eugene Stoemer, biólogo americano), parte importante das mudanças climáticas e ambientais sobre o ecossistema entra na conta da espécie humana.

Nos últimos 200 anos foi intensa a exploração da Terra. O solo se havia mantido quase intato até estriparmos o ventre do planeta para lhe roubar o gás, o carvão, o petróleo, além do ouro, da prata e do diamante.

Depende da espécie humana construir, no presente, infraestruturas que a levem a olhar a natureza e o planeta de maneira distinta. E isto é possível. As novas gerações revelam a necessidade de nova visão, uma visão distinta do futuro. Infelizmente, os líderes dos principais países não demonstram essa visão. A manutenção dos investimentos e da riqueza acumulada continua na mesa das decisões. São as novas gerações a pôr, sobre a mesa, novas formas de atuar. Elizabeth Kolbert alertou a humanidade sobre a sexta extinção silenciosa de espécies animais e vegetais, sequer percebida pela maioria distraída. A principal autora é a espécie humana. Milhares de espécies de animais se extinguem pela perda do habitat, das fontes de alimentação e de água. A cegueira e o sonambulismo anestesiam os consumidores, cada dia mais vorazes para ter mais e mais. Frente a essa anunciada catástrofe que atingirá a natureza, é animador ouvir milhares e milhares de jovens a bradar a declaração universal de uma emergência climática e pedem um novo olhar verde sobre o planeta. Sim, há esperança!

 (Nota: Ecossociologia é a observação crítica das relações entre todos os seres interdependentes da biodiversidade que habitam a mesma casa planetária.) WA: 9 9981 2807 -  Blog  eugeobservador

28.6.2020

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

COVID/19 - RESPOSTA BIOLÓGICA

 COVID/19 - RESPOSTA BIOLÓGICA

Notícias espantosas de mais de 100 mil mortes humanas pelo V19, mais de 100 milhões de árvores decepadas na Amazônia e Cerrado, mais de 100 milhões de animais selvagens abatidos no país fazem parte da resposta biológica e ecológica global da natureza. A interdependência indissociável dos seres vivos é um sistema rigoroso. Se alterarmos alguma parte do sistema, tudo entra em convulsão. Estamos todos os seres vivos numa só casa, num só planeta. Não temos para onde fugir. A natureza nos alertou há muito tempo. A devastação impiedosa de três quartos do planeta, o uso de igual volume de água, especialmente na agricultura comercial, a contaminação dos rios e oceanos e a disseminação do lixo estão na raiz dos patógenos que mais e mais se manifestarão com ou sem vacina. O paradigma econômico devastador que amamenta o PIB provocou essa contundente resposta ecológica e ambiental dos ecossistemas ofendidos. A realidade de hoje é um aviso aos administradores do planeta. Os administradores do Brasil não compreenderam que a Amazônia e o Cerrado são farmácias naturais preventivas para a saúde humana. Só uma economia que garanta a regeneração cultural da sociedade e das energias planetárias dará esperança às novas gerações. Mas os donos do poder parecem cegos ou não querem ver, ou não tem a sabedoria suficiente para perceber os gritos de socorro da mãe Terra.

Foto: Agosto é tempo da colheita de camomila (macela ou marcela) oferecida gratuitamente pelo Cerrado. Cura a insônia e... a ignorância. (Foto: Eugênio Giovenardi, Sítio das Neves, DF)

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

CARTAS DA PRISÃO ANTIFASCISTAS

CARTAS DA PRISÃO
ANTIFASCISTAS
Ouvi com desconfiança as respostas burocráticas do eminente senhor doutor Ministro da Justiça aos jornalistas Danuza Neri e Fernando Gabeira, na Rede Globo de TV, a respeito de uma lista de 590 (?) brasileiros, entre professores e militares acusados de antifascistas. Tudo indica que esta atividade faz parte da bisbilhotice de altos funcionários, pagos com o dinheiro dos impostos que toda a população recolhe aos cofres do governo. Quem é fascista no Brasil? Sr. Dr. Ministro da Justiça, por que meu nome, o de meus amigos mais próximos e o de milhares de brasileiros não constam dessa privilegiada lista de cidadãos de bom senso?
3.8.2020