segunda-feira, 25 de novembro de 2013

ELEIÇÕES 2014



Por que, dadas as circunstâncias atuais, nem Aécio Neves nem Eduardo Campos se elegerão em 2014? Porque Dilma será eleita. Com ou sem Lula. Lula será apenas o palhaço do circo. Mas por que Dilma será eleita? Ou por que os outros não serão eleitos?
Não serão eleitos os pretendentes candidatos porque não poderão ou não saberão contestar, entre outras decisões atuais, as concessões da administração dos aeroportos do Galeão e de Confins ou o poço de Libra a grandes empresas transnacionais ricas que se enriquecerão ainda mais aumentando a desigualdade entre os povos. Poderão eles até dizer que fariam melhor, que as entregariam a empresas nacionais, etc. Por coerência, tendo a ecologia e o aquecimento global como argumentos do futuro, eles deveriam explicar aos usuários de aeroportos e passageiros de aviões que a emissão de gases de efeito estufa é cada vez mais atribuída aos que queimam combustível fóssil, conforme relatório do IPCC, de 2013. No momento, poucos lhes darão ouvidos, como na recente COP 19, na Polônia.
Quem vai votar nesses alarmistas que dizem a verdade aos eleitores e querem deixar um planeta mais limpo para nossos bisnetos que ainda não nasceram?
Por coerência, os adversários de Dilma, diriam aos eleitores que a indústria automobilística, apoiada pelos estímulos do governo e incentivada por bancos públicos e privados, inunda nossas ruas de congestionamentos, de dióxido de carbono e que o carro não é solução para o transporte urbano.
Os adversários de Dilma não poderão prometer mais creches além das seis mil anunciadas. Não poderão projetar mais casas populares além dos dois milhões já orçados. Não poderão propor a abertura de mais 200 aeroportos, já definidos, de tamanho médio. Não poderão importar mais médicos além dos seis mil já contratados com Cuba.
A corrupção não é, no Brasil, motivo para não eleger este ou aquele candidato. Corrupção é assunto de tribunais superiores e de conversa no bar da esquina. Morre no último gole de cerveja. Corrupção não espanta urnas.
Saúde e educação não reprovam candidatos. Os que sofrem nas filas do INSS e os semianalfabetos são os mesmos milhões amparados pelo Bolsa Família, pelo Brasil Carinhoso e outros programas sociais indispensáveis e irrecusáveis da nova classe média. Os sindicatos prosseguirão, anualmente, em garantir melhores salários sem propor a democratização dos meios de produção.
A onda é consumir mais e mais toda a linha da nova oferta tecnológica, seja telefone, TV, computador, carro, minha casa, minha casa melhor, eletrodomésticos, jogos eletrônicos, motos e bikes garantindo a igualdade patrimonial sem diferenças de classes, de religião ou cor da pele.
Nesse concerto, a orquestra está afinada: o governo como diretor da sinfônica, os bancos públicos e privados como solistas, as grandes empresas, as universidades, as escolas públicas e privadas, as rádios e TV’s como trombeteiros de qualquer produto dentro ou fora do automóvel. Contam-se nos dedos da mão os que escapam dessas armadilhas. Por isso, poucos querem mudar o que parece estar muito bem. Teremos algumas eleições sem mudanças por mais alguns períodos.
Em 2030, quando todos os limites forem atingidos, quando a carga e sobrecarga ambientais já tenham sido ultrapassadas, quando nossas cidades estarão congestionadas e o trânsito engarrafado soará o alarme para despertar. Mas, por enquanto, as concessões continuarão a lógica da expansão dos aeroportos e do crescimento econômico dito sustentável. Haverá maior número de voos, de aviões, de queima de combustível fóssil, de emissão de gás de efeito estufa, de passageiros, de serviços auxiliares, de consumo de energia, hotéis, restaurantes, taxis, ônibus, estacionamentos. Vamos rumo à terceira potência mundial.
A expectativa do crescimento na pauta atual é eliminar todo preconceito, toda a discriminação de classes e garantir aviões e carros a 200 milhões de brasileiros.
O adensamento das cidades com o sacrifício das áreas verdes, com a poluição do ar, com o aquecimento dos espaços impermeabilizados, com as ruas sem saída, com a precariedade do transporte público, provocará o desabastecimento de água, cortes de energia, acúmulo de águas poluídas por esgotos. Montanhas de lixo se multiplicarão como as que já existem em todas as rodovias que cercam o DF e as cidades satélites.
A observar a obsessão do uso do carro particular e a pressão para investimentos rodoviários que o facilitem, o descaso na separação dos tipos de lixo nos edifícios, condomínios e habitações individuais, o desperdício de comida nos restaurantes e bares, o descuido de parques e jardins, o desinteresse pela preservação de mananciais e florestas nativas, presume-se que é minoria o número de brasileiros conscientes que atuam coerentemente para enfrentar os graves problemas que a espécie humana está criando para as décadas futuras.
A maioria se lixa e os outros, os que vierem depois, que se virem. Esses outros, muitos deles ainda estarão vivos e, em 2030, nossos bisnetos ainda não terão nascido.
Eu poderia lamentar a extinção de plantas, de pássaros, de toda sorte de animais que compõem a biodiversidade da qual fazemos parte. Mas começo por condoer-me diante dos dias sombrios que estamos preparando para a espécie humana.
Quando os americanos decidiram fabricar a bomba atômica (Robert Oppenheimer, ex-comunista, Los Álamos, México), haviam decidido também testá-la. A bomba atômica deu certo. Andamos no caminho já conhecido. Estamos inventando várias bombas ao mesmo tempo: carbono orgânico, metano, hidrogênio, xisto betuminoso, óxido nitroso e as estamos testando. Elas darão certo porque são tecnologicamente perfeitas, do celular ao Android, do carro ao avião, do desmatamento aos transgênicos.
Só não compreendemos ainda porque São Paulo para todos os dias em filas de centenas de quilômetros. Porque Brasília, com apenas 50 anos, tem um milhão e quatrocentos mil carros entupindo as ruas. Porque a Amazônia perdeu, em doze meses, 5.843 km2 de floresta. Porque nossas prisões estão superlotadas de negros e pobres.
Eis porque, dadas as condições presentes, nem Eduardo Campos nem Aécio Neves conseguem formular algo novo para apresentar aos eleitores em 2014. Neste ensaio sobre a cegueira generalizada, o mesmo continuará até que o mesmo não seja mais solução.


25.11.2013

terça-feira, 19 de novembro de 2013

A ROTINA DOS DIAS


 


Todos os salários de todos os funcionários do governo federal, estadual e municipal estão sendo pagos.
Todos os salários de milhões de trabalhadores de empresas privadas estão sendo pagos. Não quero fazer mau juízo, mas tenho certeza de que as centenas de bilhões de reais devidos aos funcionários e trabalhadores estão sendo depositados nos bancos oficiais e/ou privados.
Em consequência, todas as lojas, super e hipermercados, do quiosque à Internet estão abertos para os milhões de clientes.
Todas as companhias aéreas estão voando, independentemente do aumento da emissão de gases de efeito estufa.
Todos os aeroportos e rodoviárias estão lotados de passageiros e de ônibus.
Todas as cidades estão congestionadas de carros movidos a combustível fóssil.
Todos os bancos estão oferecendo, dia e noite, lucros e créditos para que a atividade econômica não pare.
Todas as construtoras e incorporadoras estão inaugurando casas populares e apartamentos de luxo.
Todas as cadeias do país continuam abrindo vagas para novos candidatos que se aventuram em malfeitos.
Todos os hospitais operam seus pacientes e as filas parecem não diminuir mesmo debaixo de ventos e chuvas.
Todos os cemitérios enterram diariamente seus defuntos e os crematórios reduzem a cinzas a matéria que sobrou da vida.
Todos os bares e restaurantes estão superlotados de clientela insaciável.
Todas as montadoras e todas as agências revendedoras de automóveis em todo o país entregam carros novos em maior número do que as estradas podem comportar.
Nenhum ministro de governo, diante da onda de corrupção que assola o país como os ventos que arrasaram as Filipinas, renunciou por incompetência ou desídia administrativa.
Os jornalistas e comentaristas lamentam que a riqueza do país não cresce com a velocidade dos ventos de um tornado.
Logo, logo, se tudo continuar com essa indiferença diante das mudanças climáticas que operam no planeta, o chão se cobrirá de uma riqueza supérflua que não servirá a ninguém.


Nota: Sou ecossociólogo, naturalista e escritor. Administro uma área liberada da opressão industrial e da tirania do consumo obsessivo, uma reserva natural de cerrado de 70 hectares (Sítio das Neves) para refúgio de variada fauna de ar e terra, reprodução espontânea da flora nativa (3.500 espécies), proteção de nascentes e recarga de aquíferos com captação de águas pluviais. Estudo a ocupação do espaço e a organização de algumas espécies da biocomunidade (mangabeiras, caliandras e catolé).


sábado, 2 de novembro de 2013

DITADURAS DEMOCRÁTICAS



Penso que haja distintas ditaduras em andamento que atuam fortemente sobre o pensamento e a emoção das pessoas. Todas ditam e impõem e, com sarcasmo, dizem que há liberdade para dizer e fazer: você faz porque quer.
As mais flagrantes são jornais, rádio, TV, câmaras legislativas, congresso, ministros, secretários, presidentes da República com suas Medidas Provisórias.
Uma das características da democracia é a farsa do processo eleitoral obrigatório que acontece de tempos em tempos, dominado pelas distintas ditaduras, acrescias por modelos pseudocientíficos de pesquisas eleitorais.
No Brasil (Cuba, ex-União Soviética, Chile) houve eleições oficiais durante as respectivas ditaduras. Eleição pode conviver com ditadura, não é?
A maior parte das decisões, em qualquer ramo da atividade econômica ou política é imposta por um grupelho de iluminados. Hoje, uns. Amanhã, outros.
Ao cidadão cabe ouvir, comentar, rir, contestar, manifestar-se. Não decidir. Às vezes, quando dois grupos se enfrentam, capital e trabalho, por exemplo, os mais fracos sempre perdem na certeza de que ganharam. Nesse caso, a ditadura dos donos do capital se impõe. O poder da grande fortuna acumulada pelo trabalho em nada é afetado pela concessão de parte do que foi reclamado.
Ouve-se diariamente que vivemos numa democracia, que há liberdade de imprensa, de ir e vir, de ter propriedade privada sem limites, que há eleições, câmaras legislativas e outras facilidades.
Na verdade vive-se numa ditadura econômica, administrava e política. Como assim? Então, quem decide os preços dos alimentos, dos medicamentos, das consultas médicas, dos seguros, das dezenas de impostos municipais, estaduais e federais, das passagens do transporte privado e público, dos combustíveis e outros itens do dia a dia?
Na verdade, vivemos numa democracia porque podemos ouvir sandices diárias de iluminados, rir, comentar à mesa de bar, indignar-se, manifestar-se em plena rua e eleger ditadores. A democracia só não nos permite decidir.
Somos livres e felizes rodeados de vulgares e pífios ditadores, do síndico do bloco ao presidente da República.
Alguém dirá: se não houvesse democracia você não escreveria isso. É possível que não, mas pensaria. A liberdade não está no regime. Está no cérebro
Felizmente, o cérebro me permite rir de nossa democracia que vive com eterna saudade da ditadura.
É o momento de todos gritarmos em uníssono:

CHEGA DE SAUDADE!