sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

AS CINZAS DE ERNESTO SILVA

Lá se foi um de nossos guias de Brasília. Silva temia mais a bomba da explosão demográfica do que a da bomba atômica. Pressentia e receava que o intumescimento de Brasília arrastasse atrás de si o descontrole da administração de um projeto urbano artisticamente monumental e marco de uma nova civilização.
Primeiro presidente da empresa Novacap, se fosse desonesto, teria palácios no Lago Sul ou apartamentos de cobertura. Sóbrio e sábio, contentou-se com o necessário conforto de um apartamento na 105 Sul, no Plano Piloto.
Amigo de Juscelino Kubitschek, de Lúcio Costa e Oscar Niemayer, nunca pleiteou posições e cargos. Cumpriu com dedicação e até com devoção sua função de servir à cidade e aos cidadãos, promovendo escolas para todas as crianças do Distrito Federal.
Educação era o alvo. Silva insistiu no aprimoramento das escolas e dos professores para manter lúcida a história da saga brasiliense. E o Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal se tornou o laboratório desse aperfeiçoamento. Fê-lo com a convicção de que a educação consolida a cultura, a civilização e a democracia participativa, elementos que dignificam o cidadão.
As vozes vão se perdendo no tumulto e sumindo na multidão alienada. Os gritos voam entre montanhas de prédios e se escoam por avenidas estéreis. E as bocas dos que ainda podem gritar se paralisam abertas esperando o eco.
Ernesto Silva preferiu as cinzas à podridão do túmulo. Das cinzas, ele e nós renasceremos.

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