quinta-feira, 28 de junho de 2012

78 ANOS

 78 anos se completaram, hoje.
Vejo o casarão de Casca, cidade gaúcha onde nasci, tão distante e tão presente. O mesmo menino que corria em volta do poço coberto, no varandão de casa, passeia, hoje, à beira do precipício. O mesmo perigo de ontem está presente neste dia.
Nada mudou no complexo humano. Despertaram, no correr dos anos, anjos e demônios. Cada qual buscando sua cadeira para apreciar a evolução do menino, as esperanças do jovem, as desilusões do adulto, as certezas da velhice.
Andei pelo planeta. Giro com ele no espaço, entre astros, estrelas, galáxias. Vou rodando com as duas mãos presas nas alças das leis físicas. Só elas sabem quando não precise mais delas.
Tive, até hoje, à minha disposição, o universo, a grandeza das árvores, o canto dos pássaros, a claridade das águas, o sussurro dos ventos, a luz do sol e o amor daqueles que me acolheram como parte de si mesmos.
Vou até onde o planeta me suporta numa alegre caravana de amores transformados em pessoas. Se você for um desses amores, compreenderá que não há nada mais grandioso do que estar junto, lado a lado, nesta trajetória interplanetária.


terça-feira, 19 de junho de 2012

BIOMA OU TECNOMA



(Tecnoma: vocábulo não dicionarizado, inventado por mim e que se contrapõe a bioma.)

            
De todos os seres vivos do planeta, o único que discute a sustentabilidade de seu comportamento de explorador da natureza é o ser humano como se não fosse parte do mesmo universo e não trouxesse nos genes o DNA da ameba ou dos protozoários. Se me permitem, é preciso desconstruir essa lógica reveladora da desorientação filosófica da inteligência. Há algo de errado no pensamento humano para propor discussões sobre o irracional. A forma pela qual tratamos a natureza como se ela fosse um bem a ser usurpado, consumido e destruído indica o desvario do bom senso.
Proponho, aos que esbanjam retórica sobre a sustentabilidade do consumo obsessivo, do crescimento com desenvolvimento ou sobre o desenvolvimento sustentável, algumas questões básicas sobre o tema da sustentabilidade dos biomas.
1.   Qual é a capacidade de cada bioma, do qual tiramos a alimentação e ao qual nos adaptamos, para se recompor, refazer e se reconstituir com o fim de reoferecer os meios de sobrevivência a todos os seres vivos que o habitam?
2.   Que conhecimentos se têm da oferta e da composição das potencialidades dos biomas para alimentar e garantir a sobrevivência de todos os seres vivos neles existentes?
3.   Na disputa pela sobrevivência dos seres vivos que o bioma comporta, quais são os limites das diferentes populações que obtêm dele o sustento e outras condições de conforto para sua reprodução?
4.   Todos os seres vivos, no processo de interdependência, eliminam outros seres vivos e os absorvem. Quantos desses seres vivos do bioma podem ser eliminados, e em que tempo, para assegurar a capacidade natural de se recompor e se sustentar? Trata-se da sustentabilidade dos biomas para a vida e a reprodução das espécies vivas e não do planeta sujeito às leis cósmicas.
5.   As relações humanas dependem da forma como eliminamos parte dos seres vivos do bioma, no tempo, e do número de seres vivos que ele pode sustentar. Os tempos de eliminação de seres vivos não são simetricamente iguais aos da recomposição do bioma natural. O homem elimina em dias o que o bioma demorou bilhões de anos para construir.
6.   Água, vegetação, fertilidade do solo, produção de proteínas e vitaminas ou sua coleta e apreensão representam os elementos essenciais para determinar os limites de população humana e da saúde física do bioma.
7.   Enfraquecido, exaurido, destruído o bioma, resta a alternativa tecnológica frequentemente mencionada. No lugar do adubo orgânico, o elemento químico. As águas subterrâneas, reservas da natureza, substituem as que vinham dos mananciais, dos córregos, rios e lagos. Substitui-se o bioma pelo tecnoma. O natural pelo artificial. O sabor da natureza pelo gosto químico e pelo agrotóxico. Chega-se, com o apoio de grandes laboratórios, de poderosas empresas comerciais, de medidas financeiras e protecionistas de governos desenvolvidos e emergentes, à eficiência e à eficácia do tecnoma salvador da humanidade solitária no meio de um deserto urbano. A sustentabilidade do tecnoma estará assegurada pelo consumo obsessivo de parte da população mundial. A outra parte continuará sem água, sem florestas mendigando favores aos que podem esbanjar.
8.   A Conferência Rio+20 está eivada de discussões, diálogos e propostas referentes à ética ambiental, à moral, à política da inclusão social, à ideologia do consumo e do anticonsumo, à religião da natureza e da imprevisibilidade do universo. Para estabelecer normas de comportamento humano para com a natureza seria suficiente, por exemplo, comparar o impacto da indústria automobilística sobre os biomas com as técnicas simples de coleta e processamento de centenas de toneladas da castanha-do-pará, na Amazônia, e o reflexo e as consequências de ambos sobre a saúde de todos os seres vivos.

2012-06-17

quarta-feira, 13 de junho de 2012

CONTRIBUIÇÃO À RIO+20



O termo sustentabilidade e suas variantes, do verbo ao advérbio, na Conferência Rio+20, serão repetidas milhares de vezes com sentidos diferentes, sem sentido e com muitas interrogações. Uma das recomendações que ouvi, ontem de um ambientalista convicto, na TV, fez-me refletir: “Para desenvolver a consciência ambiental, ao comprar um produto, é preciso perguntar se essa mercadoria foi produzida de forma sustentável”.
Em outras palavras, se o consumidor quiser comprar um kg de carne, em cuja produção foram usados 16 mil litros de água e o cidadão chegou ao supermercado de carro, em cuja construção foram despendidos 380 mil litros de água, o próspero contribuinte terá que se perguntar se o boi é sustentável e se a natureza pode continuar sustentando o animal e o carro.
A alternativa para a sustentabilidade da vida no planeta pode estar, entre outros casos, na compra de um litro de leite que necessita de mil litros de água para que a vaca o produza e, evidentemente, ir a pé à padaria. Alternativa que pouparia 379 mil litros de água por habitante, multiplicados por 200 milhões de brasileiros, em apenas um dia. Alternativas, em todos os ramos da atividade humana, dariam sentido ao que se denomina de sustentabilidade.
Com medidas de consumo humano inteligente, adequado, necessário e suficiente, a natureza será capaz de sustentar todos os seres vivos do planeta por milhões de anos.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

LIXO A CÉU ABERTO


 
No fim de semana passado, em frente ao meu sítio, Área de Preservação Permanente, à beira da Rodovia BR-060, recolhi trezentos quilos de lixo contendo garrafas plásticas e de vidro de vários tamanhos, latas de refrigerantes e cervejas, uma centena de lâmpadas queimadas, um kit completo de piquenique (pratos, colheres, garfos, facas, guardanapos, papel alumínio, fraldas, restos de bolo e churrasco), embalagens de óleo de motor, compressores de caminhão, pneus, onze cascos de bactericida mata-barata, moscas e mosquitos, entulho de reformas, pinceis, galões de tinta, material elétrico, sacos de cimento.
Tudo isso acabaria nas nascentes, nos córregos e rios. A quantidade e a qualidade do lixo revelam cidadãos bem informados, de boas posses, pilotando carros de luxo. A ineficácia dos órgãos ambientais de educação e fiscalização e o descaso dos cidadãos favorecem a multiplicação de depósitos de lixo sem atentar para a contaminação das águas e dos bosques.
Os biomas se sustentam sobre dois pilares essenciais: água e vegetação. Sobre eles floresce a vida animal em sua variedade quase infinita, da minhoca ao homo sapiens. A mão do homo sapiens pode preservar esses dois pilares e os pode destruir. O Brasil hospedará, nos próximos dias, 150 presidentes de outros países e milhares de estudiosos com o fim de propor medidas para a perenidade da vida no planeta. Penso que todas as forças mentais devem dirigir-se a esses dois pilares. Sem eles não há sustentabilidade e continuaremos a falar dela sem saber o que realmente seja.
Um dos ataques frontais aos biomas, além do fogo e das práticas agrícolas inadequadas, é o lixo que grande parte da população joga em qualquer lugar empesteando a água e a vegetação e contaminando os seres vivos. A população do Distrito Federal produz ao redor de três milhões de quilos de dejetos por dia e apenas uma parte é tratada e reaproveitada. O maior volume ainda fica nos lixões, amontoado às margens de rodovias ou jogado diretamente aos córregos, ribeirões, rios e lagos. O lixo é, em grande extensão, fruto do consumismo exacerbado e compulsivo.
A preservação da riqueza do bioma Cerrado depende do comportamento de cada cidadão, do conhecimento das leis da natureza, da educação e do carinho para com a água e a vegetação. Compete à Semarh, ao Ibram, ao Conselho de Recursos Hídricos, à Caesb e ao Dnit a determinação de se construírem pequenos pavilhões cobertos, em pontos bem sinalizados ao longo das rodovias do DF, para habituar o cidadão a depositar adequadamente o lixo. Os canais de rádio, TV e jornais diários deveriam, por iniciativa própria, repetir e reiterar aos ouvintes e leitores o hábito de depositar o lixo em seu devido lugar. Há, em algumas cidades e áreas agrícolas, esforços e iniciativas relevantes de preservação ambiental que servem de exemplo aos cidadãos.