sexta-feira, 28 de abril de 2017

ÁGUA - DEBATE LIMITADO


(Buritis e água, importância das plantas)


     Informações científicas relativas às mudanças climáticas e aos efeitos da atividade humana sobre a natureza foram reveladas na Conferência de Estocolmo em 1972 e nos alertas do Clube de Roma, em 1974. Depois da Conferência Rio/92, essas preocupações constituem a pauta dos Fóruns Mundiais da Água. A população humana atual, 7,4 bilhões, previsão para 10 bilhões em 2050, está no centro das atenções nos debates sobre acesso à água. Diante das circunstâncias regionais que dificultam o fornecimento de água: aumento da população, urbanização galopante e intensa produção industrial e de alimentos, é raro mencionar os milhares, se não bilhões de vidas que também dependem de água para sobreviver. Na recente diminuição de chuvas, no DF, a população chiou contra o racionamento. Ninguém mencionou os efeitos da escassez de água para árvores, animais, insetos, pássaros que também são habitantes da biocomunidade de seres vivos. Todas as medidas propostas são para o conforto humano.
Fixou-se em quase todas as culturas, ao longo de milênios, a concepção de privilégio e de precedência da espécie humana sobre o uso da água. Para que serviria a água senão para os múltiplos usos da espécie humana? Diversificam-se as atividades das pessoas e consequentemente os distintos usos de água. Esgotam-se rios. Transpõem-se e represam-se cursos de água. Extrai-se água de aquíferos profundos. O propósito é atender às variadas necessidades da espécie humana. Falta, porém, transparência nas informações sobre a diversidade de usos e o volume de água a serviço da população. Conflitos, governança, economia, qualidade de vida são aspectos que se referem aos interesses humanos, sem que os demais seres vivos da biocomunidade possam interferir nas decisões administrativas em benefício da natureza.
Hoje, sabe-se calcular em litros ou metros cúbicos, o volume de água necessário e suficiente para uma pessoa, para produzir um quilo de carne ou um quilo de soja, para fabricar um carro, uma geladeira ou gerar um quilowatt de energia. Raramente se divulga a quantidade de água contida nas plantas e sua relação com aquíferos. Cortar ou podar árvores é eliminar água. As árvores trabalham ininterruptamente e suas raízes bombeiam água a vinte ou quarenta metros de altura, enfrentam a lei da gravidade e repartem água a cada galho e a cada uma das folhas, sejam elas milhares. O que provocou a quebra da safra de alimentos há alguns anos não foi a falta de adubos nem de agrotóxicos. Foi a falta de chuvas. Os bosques vizinhos às plantações, porém, se mantiveram vivos por pouparem suas reservas de água.
Vale recordar que, nos 200 milhões de hectares do Cerrado, por mais de 12 mil anos, viveram dois a três milhões de pessoas desfrutando da grande diversidade de alimentos e água abundante. É evidente que 4 milhões de habitantes, um milhão e meio de automóveis, mais da metade da área de 580 mil hectares do DF ocupada pela urbanização e agricultura, mudanças de clima e irregularidade das chuvas tornam difícil a gestão da água.
Ao se discutir o tema água é necessário um olhar global que ultrapasse as fronteiras dos requerimentos da espécie humana. Das mais de 8 mil espécies vegetais do Brasil, o Cerrado oferece mais de 100 espécies medicinais identificadas. Estima-se que 5% da fauna e flora do planeta vivem no Cerrado. Há nele 150 espécies de mamíferos, 550 de aves, mais de 1.000 de peixes, 4.000 de aranhas, 35 mil de besouros. Essa enorme biodiversidade que forma a cadeia nutritiva deveria fundamentar a educação em todos os níveis para se compreender a dimensão das coisas da natureza e a natureza das coisas.
Há que se responder honesta e cientificamente a duas perguntas que soam fundamentais: quanta água temos e quantos somos. Não são apenas os representantes da espécie humana que formam a biocomunidade do planeta e que necessitam de água. De mais a mais, a espécie humana é apenas consumidora de água. Quantas árvores ainda cairão, quantas espécies de animais nativos serão extintas para que a espécie humana tenha mais conforto? Enquanto as árvores grandes ou pequenas garantem, com truques naturais, a água que bebemos, nossa tecnologia criadora ou devastadora, além de cara, é gastadora de água.
Enquanto as discussões pontuais sobre escassez de água põem a espécie humana como centro das atenções nosso olhar sobre a natureza estará distorcido, estrábico, se não cego. O Distrito Federal é o berço das águas. Pode tornar-se o berço da educação para uma escola da natureza.


segunda-feira, 24 de abril de 2017

O RISCO DA TECNOLOGIA


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(Zero casualidades. É para valer)


As ameaças à vida humana e, por consequência, a grande parte da biodiversidade vegetal e animal, vêm da criatividade tecnológica da espécie homo, há milhares de anos, e de seu uso. Da invenção da roda ao chip, os problemas que essas inovações nos armam nem sempre têm soluções adequadas à felicidade humana.
Os adoradores da tecnologia creem que essa divindade resolverá indefinidamente todos os problemas que a espécie humana cria ao longo do tempo. Ouve-se que não faltara comida nem água para os 11 bilhões de pessoas que estarão vivas em 2100. Mais de cinquenta cidades e o DF têm o fornecimento de água racionada em 2017. Os dados da fome, conhecidos hoje, nada asseguram sobre a futura abundância.
Estamos perdendo o controle no uso da tecnologia. A começar pelo aumento da população humana. Máquinas de todo tipo para todas as necessidades e desejos criados pela propaganda engenhosa estimulam a reprodução. A tecnologia supõe educação e evolução na escolha de comportamentos para a convivência humana.
Sexo não é sinônimo de maternidade ou paternidade. É um mecanismo de reprodução, mas a procriação dos seres vivos está relacionada a alimentos existentes ou em potencial na natureza. E esses bens serão sempre limitados. Portanto, não é a tecnologia que resolverá o uso de bens limitados se o número de consumidores não for contido.
Quem e quantos são os consumidores? Bilhões de árvores, bilhões de animais de terra e água, bilhões de insetos e pássaros e 7, 4 bilhões de humanos a caminho dos 11 bilhões.
Já não temos controle sobre os aparelhos que a tecnologia projetou. Nem os pais controlam seu celular nem o dos filhos. Quem projetou as redes de comunicação não tem controle sobre elas. Quem decide quando e como os aparelhos eletrônicos devem funcionar responde pelo nome de doutor sistema. Sai e volta quando quer.
Quem projetou bombas, metralhadoras e tanques não controla seu instinto assassino e o número de mortos se conta aos milhares por dia. O descontrole irreprimível no uso da tecnologia levará a espécie humana à extinção. Provavelmente o córtex cerebral não tenha tempo suficiente para abrigar os novos passos da evolução.
A tecnologia não tem solução para deter os fenômenos naturais com bilhões de anos de experiência e constância. Raios, tornados, tempestades, ventanias, secas desafiam nossa criatividade tecnológica. Não é com mais gente que enfrentaremos os fenômenos da natureza. Nem será com mais alguns bilhões de seres humanos que aumentaremos os bens limitados do planeta.

Ou tomamos consciência de que nossa grandeza de seres vivos consiste em nos adaptar à realidade de bens limitados à sobrevivência ou desapareceremos sem causar prejuízos ao planeta e ao universo.