sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

A PODA DE ÁRVORES

 

Uma pergunta fundamental. Por que plantar árvores?
Para produzir alimentos ou urbanizar, destruiu-se o habitat das árvores nativas. Em lugar delas, nas cidades, plantam-se espécies que vão ocupar duas ou mais vezes o espaço das que ali nasceram. As árvores nativas não tinham prédios ao seu redor. Nem calçadas. Nem ruas. Nem estacionamentos.
As árvores são dotadas de organização genética consolidada há milhares de anos. As nativas são inundadas de sol pelos quatro pontos, arejadas pela brisa da noite, regadas pelo orvalho da noite e, graças ao período chuvoso, alcançavam a estatura que o bioma lhes permitia.
Essas árvores monumentais que hoje embelezam os espaços libertos da mão dominadora do homem são escravas dela. Estão sempre ameaçadas por motosserras. É de sua espécie, de sua organização crescer para o alto e para os lados. As grandes árvores sabem de equilíbrio. Não raramente, equilibram-se umas nas outras. Por isso, põem galhos em todas as direções e em diferentes alturas do tronco.
Por que os administradores de parques e jardins, em Brasília, transformam uma canafístula em palmeira? Sabem eles que estão desequilibrando as árvores? Sabem eles que essas mutilações abrem caminho para fungos e doenças que sacrificam a árvore? Sabem eles que uma árvore pode conter cem por cento de seu peso em água? E que, durante a chuva, uma árvore pode deter metros cúbicos de água no colchão de suas galhadas?
Ontem, 27.2.2014, os operadores de motosserras deitaram ao chão centenas de quilos de galhos e troncos por motivos irracionais. Com a ajuda de cálculos de especialistas, os operadores tiraram das plantas, dessa rua, mais de 10 metros cúbicos de água (10 mil litros). Uma perda definitiva para a umidade do ar.
Os moradores da SQS 407, Asa Sul, perderam para sempre 10 mil litros de água que umedeciam o ambiente todos os dias. Todos os dias.
Os operadores de motosserras, infelizmente, cumprem a função de carrascos com a anuência da sociedade, sob a ordem de administradores obtusos e, lamentavelmente, a pedido de egoístas e temerosos proprietários de lojas.
Então, antes de plantar árvores onde outras já existiam, há que conhecê-las para saber onde plantá-las sem precisar, depois, mutilá-las.


Meus novos livros:
SUTILEZAS DO COTIDIANO e
ECOLOGIA -- catecismo da austeridade ou nova forma de prosperidade –
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61 34437363 ou 61 99812807.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

TERCEIRIZAÇÃO



O truque burocrático denominado terceirização de serviços públicos à população pode ser uma ampla avenida de corrupção administrativa e de exploração econômica do trabalhador.
No início da semana, sem qualquer aviso da Caesb e, menos ainda, do síndico do bloco T da SQS 406, estacionou uma Kombi com seis trabalhadores de macacão azul. O zelador, ao interfone, solicita aos moradores que retirem seus carros do estacionamento, pois uma obra iria começar no local.
Uma retroescavadeira monumental se aproximou com a ferocidade do ictiossauro, acolitada por uma caçamba desproporcional com inscrições da Caesb nas portas.
No meio do ruído infernal das contrações epilépticas da retroescavadeira e do zunido ensurdecedor da furadeira mecânica, a loucura tomou conta dos moradores. Que barulho é esse? Que é isso? Que estão fazendo? Por que não avisaram os moradores?
Soube-se, enfim, que a ordem de serviço da Caesb determinava remover e reinstalar a rede de abastecimento de água ao condomínio que passava dentro da tubulação de esgotamento de águas pluviais. O prédio em questão foi construído na década de sessenta. Nunca houve interrupção no fornecimento de água.
Ao longo de três dias, as máquinas perfuraram a crosta de concreto de 20 cm em várias direções à procura do encanamento. Surpresa das surpresas! O encanamento procurado estava desativado. Essa mesma obra havia sido feita há mais de 20 anos, quando a Novacap revestiu o estacionamento de concreto.
A Caesb não tem mapa da rede de encanamento de água que abastece os edifícios? Quem é o proprietário da empresa terceirizada? Quem, na Caesb, contratou a empresa para executar ficticiamente uma obra já realizada? Quanto custa à população uma empresa terceirizada? Qual é a proporção do valor do contrato que se destina ao proprietário e aos trabalhadores? Quem controla a contabilidade, a qualidade dos serviços e o tempo de execução? Quem é responsabilizado, na Caesb, por um serviço fictício? Qual será a empresa terceirizada especializada em tapar buracos abertos por outra?
Por enquanto, as feridas de uma obra inútil esperam os curativos burocráticos a serem providenciados por ordens de serviço. O suor dos trabalhadores e a indignação dos moradores ficam na conta social gasta pela indiferença, incompetência e deboche de servidores públicos e empresas terceirizadas.
Ainda há quem se espante e pergunte por que a população desesperançada sai às ruas gritando por socorro.

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Nota: Sou sociólogo naturalista, especializado em ecossociologia e escritor. Administro uma área liberada da opressão industrial e da tirania do consumo obsessivo, uma reserva natural de cerrado de 70 hectares (Sítio das Neves) para refúgio de variada fauna de ar e terra, reprodução espontânea da flora nativa (3.500 espécies), proteção de nascentes e recarga de aquíferos com captação de águas pluviais. Estudo a ocupação do espaço e a organização de algumas espécies da biocomunidade (mangabeiras, caliandras e catolé).

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

AUGUSTO CESAR




É nome de imperador romano. Tem estatura de imperador. Voz de imperador. Caminha com o garbo dos césares.
Discursa para as plateias indiferentes. Saúda os passantes com largos sorrisos. Interpela os caminhantes com autoridade de cidadão livre e autodidata. Pede um café em plena rua, subentendendo que se pague o preço da bebida.
Tem patrocinadores para a cerveja. Entra no supermercado a passos largos. Vai, sem perder-se, ao endereço da Bavária, da Schin, da Polar.
Faz charme com a moça do caixa. Recita um verso de Vinicius e deixa um rastro de simpatia.
Aos cuidadores de carros levanta um brinde, insinuando que a loura é mais sensual do que o baseado.
É saudado por vendedores de banca de frutas. Tem a banana, a manga, o cajá. Senta no degrau da entrada do Banco do Brasil. É cliente de dezenas de clientes da instituição financeira e tem crédito sem juros.
Tem retórica própria sobre a indiferença de governantes que não melhoram o trânsito.
Imperador também é atacado pela solidão, pela angústia e pela miséria dos dias que passam e pintam de grisalho seus cabelos. Augusto Cesar reclama de abandono.
“Minha família me expulsou de casa. Não tenho ninguém, nem mãe nem pai. Não tenho casa e sou sozinho no mundo. Mas tenho quem me paga um prato de comida e me alcança um cigarro. Não sei viver sem fumar.”
A falta de dentes não o embaraça. Olha a pessoa no rosto e com fulminante análise dispara: “já vi que esse não vai dar, mas tem quem dê”.
Em profunda meditação, animada pelo estado etílico, pontifica: “O CDI hoje é Criação Destrutiva Inteligente. Tudo é porcaria e o tempo há de enterrar o rico e o pobre”.
Augusto Cesar, imperador da rua. Reina na avenida comercial da 406 Sul da Brasília deslumbrada.
Tem trono cativo na porta do palácio bancário. É beneficiário da conta conjunta da clientela anônima frequentadora dos caixas eletrônicos.
“Cada um que cuide de sua morte. O impossível não há!”

VIVA O IMPERADOR AUGUSTO CESAR.

DEVASTAÇÃO NO DISTRITO FEDERAL

Aos jornalistas,
Thais Paranhos
Almiro Marcos

Estou acompanhando as reportagens e análises publicadas no CB.
Excelente iniciativa jornalística. A degradação ambiental no DF é de entristecer os que compreendem o bioma Cerrado, frágil, belo e castigado pela invasão descontrola e pela indústria da construção sem rumo.
Segundo o plano de ocupação regional do DF, descrito no projeto urbanístico de Brasília, da área total dos 582.200 hectares, 80% (450.000 ha) seriam reservados às atividades rurais, reflorestamento, preservação de nascentes e cursos de água, e 20% (132.000 ha) à urbanização (serviços, habitação, educação, comércio, lazer, rodovias).
Atualmente, segundo dados oficiais, a urbanização e áreas agregadas absorvem 60% (348.000 ha), restando para a rural, 40% (234.200 ha), com tendência galopante a se reduzir nos próximos anos. Parques, APAs e APPs não foram considerados pelo IBGE como área rural, fato que distorce a informação sobre área urbana e rural.
Essa inversão gradativa da destinação do uso do solo desencadeou um processo de desertificação do Cerrado, com eliminação de nascentes, desmatamento indiscriminado, perturbação dos aquíferos subterrâneos por meio de poços tubulares, impermeabilização de grandes áreas, causando assoreamento do Lago Paranoá, de rios e córregos na imensa área adjacente ao Distrito Federal.
As reportagens mostram essa tendência inversa pela mudança de destinação de áreas. Seria oportuno comentar sobre áreas de preservação permanente, mantidas por iniciativas individuais ou familiares, com a precípua finalidade ecológica de manter espaços de cerrado originais, rústicos, de vegetação nativa e cursos de água protegidos.
O CB publicou, em 8 de janeiro de 2013, boa matéria sobre captação, contenção e detenção de águas pluviais em meu Sítio das Neves que mantenho há 40 anos. Há, felizmente, outros cidadãos que adquiriram áreas de cerrado para preservação radical, usando mínima parte para horta e frutas, aves domésticas livres para atrair outras aves e animais selvagens em harmonia relativa.
Creio que valha a pena dar alguma ênfase a esse trabalho ecológico e ambiental para contrabalançar essa desertificação coordenada pela ignorância e ganância irracional.
Meus livros RETORNO DAS ÁGUAS, A SAGA DE UM SÍTIO, AS ÁRVORES FALAM e ECOLOGIA – catecismo da austeridade ou nova forma de prosperidade – vão nesse rumo.

Parabéns pela iniciativa.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

SUICÍDIO DE FORMIGAS


Acompanho há mais de quarenta anos a organização das formigas cortadeiras. Um extraordinário vídeo da BBC, preparado durante anos por biólogos, mostra a organização do trabalho e a divisão das tarefas na comunidade mirmecológica.
Alguém já ouviu falar ou teve notícias do rei das formigas? Formigas só têm rainha. Come do bom e do melhor. Põe ovos. É pajeada por elegantes cortesãs e dorme.
Ao redor da rainha estão as servidoras-garçonetes que lhe servem o prato preparado por centenas de formigas cozinheiras que temperam com sua baba especial a mesma especiaria de sempre. As folhas chegam até a cozinha. São trazidas por carregadoras que levantam sobre a cabeça os retalhos preparados por formigas especialistas em desenho. Estas cortam as folhas que caem das plantas, graças à tesoura das que subiram nas árvores indicadas pela categoria de formigas biólogas conhecedoras do paladar da rainha.
Ao longo das trilhas, há vigias, polícias de trânsito que orientam as que, na confusão do vai e vem, perdem o caminho de casa.
Formiga é igual na forma e na estrutura, mas não na função. Sempre tive admiração pelas formigas. No entanto, hoje, tenho inquietação pelo que vi. E o que vi na trilha, que vai da árvore escolhida para produzir comida para a rainha até a porta de entrada do formigueiro, foi surpreendente. Centenas de formigas mortas no meio do caminho. Folhas recortadas e abandonadas. Folhas inteiras murchas e secas ao lado dos cadáveres. Quantas estariam mortas nas galerias subterrâneas?
Hipóteses. A primeira hipótese é de suicídio coletivo por cansaço existencial. 
A segunda hipótese é que existem árvores que produzem veneno para se proteger e outras que se fecham à noite, como a mimosa sensitiva, para despistar os predadores. Teriam morrido envenenadas? 
Terceira hipótese: teria a rainha sido vítima de formicídio culposo pelas cozinheiras, sem intenção de matar, misturando a baba com o líquido venenoso das folhas?
Qual das hipóteses se aplica à mortandade das formigas no caminho que leva à casa onde mora a rainha? As formigas biólogas que escolheram essa árvore para desfolhá-la desconheciam o laboratório vegetal que prepara veneno para as plantas?
O caso está sendo investigado pela turma da primeira delegacia de tamanduás. Não se conhecem os motivos das mortes e não há suspeitos até o fechamento desta edição.

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Correio eletrônico: eugeniogiovenardi@gmail.com


terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A ESCASSEZ BATEU À PORTA



A família de dona Lúcia, moradora de bairro paulistano, até ontem, gastava 2.400 litros de água por dia. Refrescava varandas da casa, dava banhos às crianças esfogueadas pelo calor. Enchia piscinas infláveis e regava as plantas e as flores.
Teve que reduzir o consumo diante da escassez e pôde reduzi-lo a 240 litros diários sem morrer. A escassez de água bateu à porta de milhares ou milhões de cidadãos paulistas e mineiros.
Os grandes rios e lagos do continente brasileiro são motivo de orgulho e ufanismo. O Brasil guarda ao redor de 12% da água doce do planeta. Outros países se contentam com escassos 50 litros diários por pessoa. Dependendo do país, esses 50 litros se dividem entre os membros de toda a família.
Diante de tanta abundância em nosso país, a última preocupação do brasileiro é poupar água. Lavam-se calçadas e automóveis. Enchem-se, em Brasília, milhares de piscinas particulares. A rede de água nos edifícios públicos, nas casas e apartamentos oferece inesgotável volume de água com a débil restrição de uma conta mensal. A água goteja sem parar nos chuveiros, no vaso, na pia, no lavabo, nas torneiras espalhadas pelos condomínios.
Continuamos sendo o país com milhares de km3 de água doce, cujo volume ninguém calcula por ser da ordem dos bilhões de metros cúbicos. Ao mesmo tempo, o racionamento, em várias cidades de São Paulo e Minas Gerais, se impõe pela natureza e não por atos governamentais de sabedoria e prudência política. Por quê?
Sabemos cosumir água. Não sabemos ou não acordamos para as técnicas simples e milenares de produzir água. Quarenta anos de cuidados com as nascentes de meu Sítio das Neves, no DF, ensinaram-me a produzir água.
Os governos, inspirados pela megalomania das gigantescas represas, investem rio abaixo. No meu Sítio, eu invisto rio acima protengendo com pequenas barragens as nascentes que formam os grandes rios e abastecem as imensas represas.
Na longa estiagem de janeiro e fevereiro, mais de 20 dias, com menos da metade da precipitação esperada para esses meses as águas fluem vindas de aquíferos profundos e sistematicamente recarregados.
Em São Paulo e Minas Gerais, o desmatamento, a invasão das áreas protetoras das nascentes, a impermeabilização do solo, o desvio dos fluxos de água e da direção dos ventos mataram as fontes e destruíram as barragens naturais de captação e de detenção das águas da chuva.
Para onde foram as águas que alagaram São Paulo e muitas cidades de Minas Gerais? Para onde foram as águas da chuva que arrasaram cidades pacatas do Vale da Ribeira?
Atrevo-me a dar um conselho gratuito aos sábios administradores do orçamento construído com dinheiro alheio: estimulem e aprovem pequenos projetos de produção de água rio acima para garantir a eficácia dos megaprojetos rio abaixo.
Difícil é convencer organismos públicos a financiar ou subsidiar pequenos e baratos projetos que garantirão o abastecimento de água aos cidadãos sem espasmos administrativos.
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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

PERGUNTAS BÁSICAS SOBRE SUSTENTABILIDADE


NA PERSPECTIVA DE MUDANÇA DE MODELO DE ADMINISTRAÇÃO DO PAÍS, VALE PERGUNTAR O QUE É SUSTENTABILIDADE PARA COMPREENDER O QUE NÃO É SUSTENTÁVEL. 

Qual é a capacidade do bioma, do qual tiramos a alimentação, e ao qual nos adaptamos, para se regenerar, renovar e reoferecer os meios de sobrevivência para todos os seres vivos que o habitam?

Que conhecimentos temos da oferta e da composição das riquezas e potencialidades do bioma para alimentar e garantir a sobrevivência de todos os seres vivos nele existentes? Quais são as capacidades do bioma?

Na disputa pela sobrevivência dos seres vivos que o bioma comporta, quais são os limites matemáticos do tamanho das diferentes populações que tiram dele seu sustento? Seres humanos frente a todas as formas de vida da biocomunidade, nativas e/ou estimuladas (produção de proteínas animais),

Assim como todos os seres vivos, no processo de interdependência, eliminam outros seres vivos e os absorvem, quantos ou que número desses seres vivos do bioma podem ser utilizados, sem sua extinção, para não comprometer a capacidade natural de se recompor e renovar a biodiversidade?
Trata-se de regeneração ou sustentabilidade das capacidades dos biomas.

As relações humanas dependem da forma como se utiliza parte dos seres vivos do bioma no tempo e no espaço e do número de seres que o bioma pode alimentar. Qual é a capacidade humana de administrar os tempos de uso ou absorção mútua de seres vivos uma vez que a velocidade do consumo não é simetricamente igual ao da recomposição e regeneração do bioma?

Água, vegetação, fertilidade do solo, produção de proteínas e vitaminas, ou coleta e apreensão representam elementos essenciais para determinar os limites da população humana, de populações coadjuvantes e da saúde física do bioma. Como determinar e controlar o crescimento dessas populações? O Brasil, hoje, tem 196 milhões de habitantes e o mesmo número de bovinos que partilham o mesmo espaço, Quais são as ameaças à biodiversidade dos biomas?

Como dosar a energia que modifica o bioma e absorve parte dos seres vivos para uso humano: produção de alimentos, indústria, serviços burocráticos, saúde, pesquisa, conhecimentos, educação, transporte humano, de bens e produtos?

Qual é o impacto local, regional e nacional da rede de infraestrutura de transporte urbano e rural (rodovias, aeroportos, portos, estacionamentos), de energia elétrica e de comunicações sobre a regeneração dos biomas?


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

ÁGUAS SUBTERRÂNEAS


Aquíferos, lençol freático, mares interiores, como os denomina Euclides da Cunha (Os sertões), são reservas de água limpa pela profundidade em que se encontram, mas ameaçadas pela variedade de elementos poluidores que a ação humana pode lançar ao solo. O período chuvoso no Centro-Oeste é a época de acumular com inteligência as águas que a natureza gratuitamente oferece.
Os aquíferos compõem um sistema subterrâneo que se comunica com os oceanos e com a superfície por meio de olhos d’água. Numa microbacia hídrica pode haver um ou mais olhos d’água que brotam da mesma reserva subterrânea. As águas subterrâneas se comunicam através dos veios das rochas e sua erupção se faz em lugares distintos segundo a conformação geológica.
Para a recarga dessa reserva é mais eficiente uma ação de preservação em todas as nascentes que se ligam ao aquífero. O sistema subterrâneo sugere um sistema coerente na superfície. O mapeamento das nascentes e canais de esgotamento de águas pluviais é necessário para que todos esses pontos cooperem ao mesmo tempo para captar e deter o volume de precipitação durante o período de chuvas.
O mapeamento das nascentes e canais de esgotamento é uma ação necessária que precede o planejamento das barragens e sua localização. O planejamento obedece ao sistema subterrâneo do aquífero e à ordem de baixo para cima. A captação e detenção da água da chuva se fazem em toda a extensão das águas subterrâneas a partir das nascentes. O sistema de barragens de captação e detenção que implantei no Sítio das Neves (700.000 m2) cobre toda a área hídrica na qual, no período chuvoso, brotam nascentes. A construção de barragens ou açudes não deve ser aleatória no sentido de acumular água para necessidades produtivas ou de uso doméstico. Fazer açudes, poços tubulares ou artesianos em qualquer lugar, sem atentar para o sistema subterrâneo do lençol freático tem as desvantagens de exaurir as reservas, de acumular uma mínima parte da precipitação e favorecer a evaporação da água exposta a horas de sol.
A acumulação de águas da chuva, especialmente em regiões de longas estiagens, três a seis meses, tem a função de regenerar a vegetação nativa e facilitar a infiltração e a percolação que realimentam os aquíferos.
A quantidade de água que aflora nas nascentes não é homogênea. Umas nascentes são ou podem ser mais volumosas do que outras. Umas jorram por mais tempo mesmo após o término das chuvas. Outras cessam com um curto período de estiagem. É possível reviver uma nascente que se esgotou por degradação do solo, por efeito de queimadas ou processos produtivos inadequados. Há que se criar condições para que uma nascente reviva: devolver a quietude à área devastada, construir barragens ao longo do curso de água, dar tempo à regeneração vegetal. A Vertente do Meio em meu Sítio começou a reviver depois de uma década e meia de cuidados e paciência.
A água da chuva e a que jorra das nascentes são captadas e retidas ao longo do curso d’água e nos canais de drenagem (grotas) que se formaram há milhares de anos. Corrige-se com as barragens a erosão milenar. Detêm-se volumes de água em toda a extensão da área. A umidade que se alastra no solo favorece a regeneração e a reprodução vegetal contínuas em todo o espaço.
A cadeia água, vegetação, aves e animais terrestres se expande. A biodiversidade garante a sobrevivência e a reprodução das espécies na biocomunidade preservando a lei biológica da interdependência dos seres vivos do bioma.
A precipitação de apenas um milímetro significa, para o Sítio das Neves, um volume de 700.000 litros de água limpa. Ao contrário de áreas vizinhas degradadas, esses 700 metros cúbicos de água se armazenam na vegetação. A vegetação é uma das principais barragens de captação e detenção da água da chuva. Infelizmente, quase nenhuma atenção se dá a ela e, com a maior indiferença e ignorância, queima-se ou arrasa-se o solo com gigantescas rodas e pesados discos de tratores.

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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

LIXO: A MODA DA REFORMA


Parece haver uma relação estreita entre a produção de lixo sólido proveniente de reformas de prédios e o uso intensivo de material tanto de minério de ferro quanto de materiais não metálicos como o cimento, tintas e suas respectivas embalagens.
A descarga do entulho de construção e reformas de casas, prédios e apartamentos, misturado a lixo indiscriminado, se faz em grandes quantidades, no DF, à margem das rodovias. A BR-060, do quilometro zero ao quilometro dez, é um exemplo degradante.
Há vários aspectos a serem considerados. O primeiro se refere ao conceito de crescimento econômico refletido no PIB manejado por políticas erráticas do governo. Estímulos epilépticos são dados ao setor da construção civil em caráter global, em apoio à aquisição da casa própria (40 m2), à aquisição de equipamentos, seguidos de reformas ou ampliações (minha casa melhor). O déficit habitacional anunciado nem sempre merece crédito. Há milhares de apartamentos desocupados pelo país.
O segundo aspecto inclui uma extensa gama de linhas de crédito para aquisição de material de construção e equipamentos domésticos. Essas linhas de crédito se vinculam a vários programas de injeção de dinheiro diretamente no consumo como Bolsa Família, Brasil Carinhoso, Bolsas de estudo para jovens universitários e outros artifícios para manter a economia estável.
O terceiro aspecto, talvez o que mais afeta o ambiente, é a utilização intensiva de material extraído de alguma forma da natureza de forma indiscriminada. Olhando-se para algumas áreas do DF, como Águas Claras, Sudoeste, Noroeste, Taguatinga e, hoje, Ceilândia e Samambaia, é raro que alguém pergunte: de onde veio todo o material transformado em prédios que abrigam mais de um milhão de pessoas e seus respectivos automóveis? A impermeabilização do solo, a extensão arrasada da vegetação nativa, a destruição do habitat da fauna regional, a mudança climática provocada pelo superpovoamento urbano, a produção de dejetos líquidos e lixo sólido dão ao DF um cenário de caos e de ingovernabilidade.
O quarto aspecto que se relaciona aos anteriores indica uma forte adesão generalizada à moda das reformas, ampliações e puxadinhos. O crédito fácil, rendas provenientes de várias fontes, não necessariamente do trabalho produtivo e até de variado leque da corrupção e sonegação, conjugado com a publicidade e estímulos psicológicos ao consumo, induzem as famílias a aderir à moda de reformas prediais. Como adquirir o freezer, forno elétrico, micro-ondas, fogão de seis bocas, lavadora de louças, batedora de bolo, multiliquidificador etc. sem ampliar a cozinha?
Do ponto de vista ecológico e ambiental, qual é o custo-benefício do crescimento e da expansão urbana no DF? Qual é, em números, o impacto das emissões de gases estufa provenientes da intensa construção, da expansão urbana e da poluição ambiental provocada por 1,5 milhão de automóveis? Talvez, o pior efeito ambiental da enorme produção de lixo urbano indiscriminado se dá sobre a qualidade da água, associado à destruição de mananciais pela desertificação urbana.
A preservação ambiental e a conservação ecológica do bioma que nos abriga estão longe das políticas e práticas da população brasiliense, das instituições públicas e privadas e da administração distrital e federal.
Há, em curso, um processo de deseducação ecológica e ambiental, travestido de crescimento econômico sustentado pela população extraída da miséria e da pobreza material pelo fórceps da renda sem produção.
Seria desejável que a miséria e a pobreza material fossem vencidas com a mesma soma de dinheiro aplicada em processo de educação fundamental, formação profissional alternativa e uso racional dos bens finitos da natureza. Ultrapassados conceitos de educação conduzem a obsoletos comportamentos e costumes redesenhados.

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ÁGUAS DE JANEIRO 2014


 
No mês de janeiro de 2014, a precipitação no Sítio das Neves medida pelo pluviômetro instalado pela Agência Nacional de Águas foi de 169,8mm, ou seja, 169,8 litros por m2, somando 118,9 milhões de litros ou 118,9 mil m3. Esse volume dá uma média diária de 5,47 litros por metro quadrado. Os primeiros 15 dias do mês foi de forte estiagem. A maior precipitação foi no dia 22 alcançando 58,4mm (58,4 litros por m2).
O volume total de água, no mês de janeiro, 2014, representa menos da metade da precipitação de janeiro de 2013 que foi de 457,8mm, isto é, 457,8 litros por metro quadrado. A média diária do mês de janeiro de 2013 alcançou 15,2 litros por m2,três vezes mais do que em janeiro de 2014.

COMPARATIVO 2013/2014 (em mm) no Sítio das Neves
JANEIRO 2013
JANEIRO 2014
FEVEREIRO 2013
FEVEREIRO 2014
457,8
169,8



SEQUÊNCIA DE CHUVAS 2013/2014 (em mm)
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Janeiro
TOTAL
3,1
42,3
179,55
304,44
311,6
169,8
1.009,89







Memória de cálculo: 1.009,89mm X 700.000 m2


De agosto 2013 até o fim de janeiro de 2014, o Sítio das Neves recebeu 706.823.000 litros de água (706.823m3) proporcionando a recarga dos aquíferos graças à vegetação intensa regenerada e ao sistema de barragens para captação, contenção e retenção das águas em todas as vertentes e canais de esgotamento ou grotas.