(Foto: Eugênio Giovenardi, Buriti bebê, denominado Agojeretés que em guarani quer dizer gratidão. Gratidão da natureza)
A diversidade da vegetação e da arborização do Sítio
das Neves, nesses 40 anos de preservação, se consolida. Gramíneas, arbustos,
flores de muitas cores e tamanhos, árvores grandes e médias deixam a área
coberta de verde.
O consórcio árvores e água trouxe o nascimento do
buriti, habitante de veredas, que denominei Agojeretés (gratidão, em guarani) e
expandiu a marcela chyrocline satureoides.
Esta variedade de marcela aparecia em pontos isolados e em pequenos tufos.
Hoje, ocupa uma enorme área em volta do brejo que dá origem à nascente Água
Azul.
Uma área de preservação está em descanso, em pousio,
para a regeneração da fertilidade depois de uso e desgaste agrícola. A
preservação e o pousio, para produzir resultados eficazes, devem abranger uma
área contínua, metro a metro. A natureza é um corpo orgânico e sistêmico, por
isso deve ser tratada por inteiro.
O conjunto da área se beneficia harmônica e
simultaneamente da incidência das chuvas, do sol, do vento, do orvalho. O
período de pousio, que pode ou deve se estender por vários anos, depende da
gravidade da degradação. Um tempo suficiente para regenerar as espécies
sacrificadas pelo uso do solo.
O cerrado é abundante em leguminosas, normalmente
consumidas por várias espécies de animais selvagens e domésticos ou destruídas
por máquinas agrícolas e queimadas. No período de repouso elas reaparecem, como
a fava-de-anta, o jatobá e muitas outras. São variedades, como ensinam os
livros de agronomia, com capacidade de fixar o azoto, elemento essencial para a
vida vegetal e o carbono que contribui a compensar as emissões atmosféricas. É
a regeneração dos ecossistemas naturais.
Apesar da regeneração da flora, ainda que lenta e
rodeada de obstáculos (queimadas, lixo, poluição atmosférica, irregularidade das
chuvas) a diversidade da fauna, no Sítio das Neves, não teve o mesmo êxito. O
uso intenso e invasivo da terra e as práticas primitivas da exploração do solo,
como queimadas, aração, desmatamento, lixo, pisoteio de grandes rebanhos
desequilibram o ecossistema natural. Ainda, em 2015, no Distrito Federal,
capturam-se e matam-se pássaros pequenos e grandes.
A captura, a matança de aves e animais, ou a
expulsão deles de seu habitat, dificultam a busca de alimentos e alteram o
processo de reprodução. Rompe-se a cadeia trófica e o complexo equilíbrio
predatório natural.
Não só morrem lobos-guarás, tatus, cobras, raposas
atropeladas nas rodovias, como também algumas espécies diversificaram seu
cardápio. Coatis, que se alimentavam tradicionalmente de frutas e brotos,
atacam pintos, galinhas e ovos competindo com raposas e mãos-peladas. Os
saguis, em falta de bananas e goiabas, roubam ninhos de pássaros e comem os
filhotes. Gaviões sobrevoam as chácaras e agarram pintinhos distraídos sem medo
das valentes mães, do cão vigilante ou do agricultor ocupado na limpeza da
horta.
Suspeita-se que a extinção de pássaros e animais
silvestres é acelerada pelo desalojamento, pela frustração das ninhadas, pela
tristeza e desânimo diante da perda dos filhotes ou do companheiro. Essas
circunstâncias adversas afetam o sistema nervoso, causam a perda da fertilidade
e inibem o instinto da reprodução. Pode ser um dos caminhos da extinção de
espécies.
A matança de machos ou fêmeas em postura, o
desmatamento provocado pela urbanização rural, o ruído de tratores e carros,
sons indiscretos de músicas tresloucadas são obstáculos que se associam para
deter a diversidade da fauna e até provocar a defaunação criminosa. São
insistentes os alertas da gradual perda da biodiversidade do bioma Cerrado.
O desequilíbrio e a desestabilização devem ser
corrigidos com a preservação, o repouso e o pousio de grandes áreas contínuas
por longos anos para a regeneração dos ecossistemas em benefício da
biocomunidade da qual a espécie humana é apenas um integrante.