terça-feira, 30 de dezembro de 2014

À BEIRA DO CAMINHO


Caminhei e cansei.
Parei e sentei numa pedra
à beira do caminho.
Olhei de onde vinha.
Uma curva ao longe
escondeu o precipício.
Olhei para onde iria.
Outra curva tapou
um sonhado horizonte.
Levantei-me da pedra.
Indecisão fatal.
Seguir adiante?
Voltar atrás?
Sentar na pedra e
esperar o amanhecer?

30.12.2014

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

A NATUREZA DAS COISAS



A natureza é um conjunto de partes interligadas que formam um sistema operativo universal. Neste conjunto há elementos inanimados associados a distintas formas de vida com diferentes funções interdependentes. O conjunto dos seres vivos forma a biocomunidade.
Todos os seres da biocomunidade são dotados geneticamente de virtudes e energias para garantirem sua sobrevivência e reprodução. Uns têm mais virtudes e energias que outros, mas suficientes para desempenhar sua função no conjunto, desde a bactéria até o elefante, da ameba ao ser humano.
Todos os seres da biocomunidade vivem no mesmo espaço planetário sem fronteiras rígidas e intransponíveis. Todos os seres vivos se alimentam das mesmas proteínas e minerais disponíveis e, pela diversidade das funções, usam suas virtudes e energias para manter as partes do conjunto em funcionamento. Os pássaros comem frutas e disseminam as sementes para ter mais alimentos para si e para seus descendentes.
Cada elemento do conjunto tem geneticamente a virtude de manter o sistema natural funcionando para sobreviver e se reproduzir. A espécie humana é um dos bilhões de componentes do conjunto. E parece ser a única a usar sua virtude e energia para interferir nas funções dos elementos do conjunto a fim de submetê-los a seus interesses de sobrevivência e reprodução. Desenvolveu, ao longo de milênios, suas virtudes e energias para manipular o sistema da natureza em benefício exclusivo de sua espécie.
As trágicas consequências de sua desorientada compreensão do funcionamento do sistema natural, que o poeta romano Lucrécio definiu como “natureza das coisas” (De rerum natura), não só perturbam a natureza. Elas ameaçam a própria sobrevivência da espécie exploradora e imperialista. Umas das piores tragédias dessa desorientação é a guerra de extermínio movida pelo ser humano contra sua própria espécie. Fez da guerra uma irracional estratégia de controle da expansão demográfica e apoderamento soberbo das riquezas naturais destinadas à sobrevivência e reprodução de todos os seres vivos.
Há mais de quatro décadas, porém, em vários pontos do planeta, esboçam-se gritos de alerta e socorro diante da catástrofe provocada pela espécie humana contra si mesma. Esses gritos e alertas da consciência humana propõem a canalização de sua virtude e energia no sentido da preservação do sistema natural. A consciência de parte da espécie humana se reorienta para a compreensão de suas falhas no funcionamento do sistema natural e correção gradativa dos erros praticados. A ação autoritária da espécie humana sobre o conjunto da natureza se manifesta não só na destruição de espécies vivas para sempre, como na degradação de suas funções na manutenção da ordem natural das coisas.
A preservação do funcionamento do sistema natural, para que todos os seres vivos desempenhem suas funções interdependentes no conjunto de virtudes e energias, começa na compreensão do elemento fundamental gerador de vida: a água.
Não pode haver preservação ambiental e reorientação ecológica sem respeito à fonte de vida. Da água surgem todas as formas de vida. E as árvores (as espécies vegetais) que nascem das águas são as que preservam os mananciais, os lagos e os rios. A associação da água com as plantas é a mais sólida empresa da natureza para a preservação de todas as formas de vida do planeta.
A preservação ambiental depende da imprescindível associação das funções da água e das plantas. É nestes dois elementos do conjunto que, infelizmente, se concentra a desorientação das virtudes e energias da espécie humana.
Essa desorientação se manifesta mais desastrosamente nas práticas inadequadas de produção de alimentos, de desflorestamento e defaunação, de construção de abrigos, na urbanização desordenada, nos parques industriais e na queima de lixo fóssil.
A natureza guardou, bem guardado, durante milhões de anos, tipos de lixo que poderiam danificar a vida no planeta. A espécie humana os descobriu e os desenterrou. Primeiro, o carvão, no começo da era industrial contaminando o ar com fumaça tóxica. Depois, certo óleo que se refugiava entre pedras denominado petróleo. A espécie humana não só queima lixo fóssil em quantidades alarmantes, destrutivas das condições de vida, como produz diariamente perigosos volumes de lixo que infestam o ar, matam plantas e poluem as águas.
O grito da Revolução Industrial deve ser substituído pelo grito revolucionário Plantar Árvores. As árvores propiciam a formação de rios superiores. Preservam os rios de superfície. Garantem a recarga dos rios subterrâneos. É o consórcio água-plantas.
A espécie humana tem, hoje, tecnologias adequadas para compreender melhor a natureza das coisas e conduzir sua virtude e energia na inteligente obra de preservação de todas as formas de vida.
A natureza das coisas convida a espécie humana a integrar-se como elemento do conjunto natural e desfrutar da interdependência de todos os seres vivos da biocomunidade do planeta Terra.

21.12.2014


quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

BRASÍLIA E SUAS ENCHENTES





Foto:Shopping de Brasília



Brasília tão nova e tão inundada.
Há mais de dez anos venho insistindo que uma das atitudes inteligentes do homo brasiliensis é atender à imperiosa necessidade de captação da água da chuva e armazená-la para o período seco. Três medidas: plantio racional de árvores, redução de áreas asfaltadas, galerias subterrâneas de armazenamento de águas, a exemplo de Tóquio. As inundações em Brasília se dão sobre superfícies impermeabilizadas em atenção ao carro individual e mal construídas. 18.12.2014

domingo, 14 de dezembro de 2014

A TECNOLOGIA PERIGOSA DOS PRIMOS





Ontem, 13 dezembro, 2014, no Sítio das Neves, um mico fêmea de cor dourada, perdida, expulsa, inexperiente da tecnologia dos primos, saltou da árvore para o poste do transformador. Agarrou-se ao conector (chicote), recebeu um choque de 500 volts e despencou. Estirada no chão, acudi. Passei-lhe a mão na cabeça e acariciei-lhe as costas. Disse-lhe palavras de coragem. Ela me olhava aturdida. 
Em menos de cinco minutos, a prima se refez. Mediquei-lhe a ferida da mão direita. Chorava de dor. 
Corajosa, ela não acreditou nos primos e, passados dez minutos, quis sua liberdade.

Essa espécie dourada foi vista, no Sítio, pela primeira vez em 42 anos.

Fotos: Eugênio Giovenardi
Sítio das Neves


sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

PRAZER SATÂNICO



É incompreensível!
Estou muito pouco satisfeito com o funcionamento do telefone fixo e da banda larga da operadora OI. Na maior parte das vezes que pretendo falar com outro usuário de telefone fixo, dá ocupado ou uma voz indiferente e seca diz: este número de telefone não existe.
Pelo celular da Vivo é comum não terminar a conversa. O sinal se interrompe. A linha “cai”. Minha filha já se incomodou com a Net, com a GVT e com a TIM. Agora, migrou para a Vivo por razões de custo, mas com tecnologia insegura e vacilante.
Meu amigo André Rivola, do Rio de Janeiro, aconselhou-me a entregar minha paciência à NET porque o mundo é dos NET. Ele se aborreceu com a OI e com a VIVO.
Minha secretária eletrônica sumiu misteriosamente. Abandonou meu aparelho sem aviso prévio, segundo a OI, por incompatibilidade da convivência da Internet móvel com a caixa de mensagens!
Os planos que me oferecem para pagar menos por impulso e falar mais, resultam em conta mais cara mesmo falando menos. Sempre excede os limites do plano.
Dramática decisão é a de falar com a operadora. É uma liturgia satânica. Tenho a impressão de ser vítima da maldade tecnológica. Aquele Eduardo virtual é um serelepe de circo, filho do diabo, prestidigitador, malabarista de truques com nítida intenção de provocar um ataque de nervos. É tão sarcástico que, depois de oferecer opções de 1 a 9, sugere voltar ao zero para ouvir tudo de novo.
No momento em que parece haver um final feliz: “vou transferir para um de nossos representantes” o ouvido é bombardeado por uma infame música neurotógena, seguida de tuc, tuc, tuc. A linha caiu. Começa tudo de novo.
Essa é a tecnologia avançada das comunicações brasileiras aceita por 130 milhões de usuários anestesiados pela publicidade. No item mediocridade tecnológica somos uma referência para o “resto” do mundo.

5.12.2014

domingo, 23 de novembro de 2014

DEZ RAZÕES PARA DIZER NÃO AOS TRANSGÊNICOS

Republico o artigo da pesquisadora Silvia Ribeiro sobre transgênicos.
As dúbias certezas e as reais incertezas de um programa genético.

Silvia Ribeiro

Los promotores de los transgénicos (organismos genéticamente transformados = OGT), prometen que éstos serán más nutritivos, aumentarán las cosechas y disminuirán el uso de químicos, y por ello, son la solución para el hambre en el mundo. Deberíamos, nos dicen, aceptar los riesgos que conllevan, ya que todas las tecnologías tienen riesgos y siempre hay quienes no comprenden la ciencia y se resisten a los cambios.
La realidad de los transgénicos nos muestra que no cumplen con ninguna de estas promesas. Por el contrario, producen menos, usan más químicos, generan nuevos problemas ambientales y de salud, crean más desempleo y marginación, concentran la propiedad de la tierra, contaminan cultivos esenciales de las economías y las culturas, como el maíz, aumentan la dependencia económica y son un atentado a la soberanía.

1. La ingeniería genética se basa en más incertidumbres que conocimientos
Los transgénicos son organismos a los que se les ha insertado material genético, generalmente de otras especies, por métodos que jamás podrían ocurrir en la naturaleza.
Estudios recientes, aparecidos en publicaciones científicas (1) postulan que los dogmas centrales de la genética desde la década de 1950, podrían estar fundamentalmente equivocados. Lo grave es que sobre este dogma central ¿equivocado? se están produciendo a gran escala organismos transgénicos que van a parar a nuestros alimentos, medicinas y a la biodiversidad circundante.

La tecnología de la ingeniería genética tiene tantas incertidumbres y efectos colaterales impredecibles, que no podría llamarse ingeniería ni tecnología. Es como construir un puente tirando bloques de una orilla a la otra, esperando que caigan en el lugar correcto. Durante el proceso aparecen todo tipo de efectos inesperados y los dueños de esta obra, aseguran que no hay evidencias de que tengan impactos negativos sobre la salud o el medio ambiente, y que los que los cuestionan no son científicos. La realidad es peor, porque los transgénicos no son inertes, sino organismos vivos que se reproducen en el ambiente, fuera de control de los que los han creado.

2. 
Conllevan riesgos para la salud
Si usted fuera a una tienda y viera un anuncio de galletas que dice “no hay pruebas de que sean malas para la salud”, ¿las compraría? Yo no. Y creo que nadie más. Por supuesto, la industria biotecnológica no está buscando estas pruebas. Científicos independientes, como el Dr. Terje Traavik de Noruega, han encontrado en 2004 resultados alarmantes: alergias en campesinos debido a que inhalaron polen de maíz transgénico (2).
Pero la verdadera Caja de Pandora, son los efectos impredecibles: ni los que construyen transgénicos saben qué efectos pueden tener en la salud humana y animal, al recombinarse, por ejemplo, con nuestras propias bacterias o ante la posibilidad de que nuestros órganos incorporen parte de estos transgénicos, como ya ha sucedido en pulmones, hígado y riñones de ratas y conejos. (3).

3. 
Tienen impactos sobre el medioambiente y los cultivos.
No hay casi estudios sobre los impactos en los cultivos y en el medioambiente. Sin embargo, es claro y tristemente demostrado con la contaminación transgénica del maíz en México, que una vez que los transgénicos sean liberados, contaminarán los demás cultivos, por polen, viento e insectos. Los cultivos insecticidas pueden afectar a otras especies que no son plaga de los cultivos,tal como se comprobó que el polen de maíz Bt afecta a las mariposas Monarca— y en países de gran biodiversidad, los riesgos se multiplican.
En varias de las plantas de maíz contaminadas que se han descubierto en México, se notaron deformaciones.

4. No solucionan el hambre en el mundo, las aumentan

Según los promotores de los transgénicos, deberíamos aceptar todos estos riesgos, porque necesitamos más alimentos para la creciente población mundial. Pero la producción de alimentos no es la causa del hambre en el mundo. Actualmente se producen el equivalente a 3,500 calorías diarias por habitante del planeta: cerca de 2 kilos diarios de alimentos por persona, lo suficiente para hacernos a todos obesos. (4) El hambre en el mundo no es un problema tecnológico. Es un problema de injusticia social y desequilibrio en la distribución de los alimentos y la tierra para sembrarlos. Los transgénicos aumentan estos problemas.

5. Cuestan más, rinden menos, usan más químicos

Desde que Estados Unidos comenzó con los transgénicos en 1996, el uso de agroquímicos aumentó en 23 millones de kilos.

Los cultivos transgénicos también producen menos. El cultivo más extendido, que es la soya tolerante a herbicidas (61% del volumen de transgénicos en el mundo) produce entre de 5 a 10% menos que la soya no transgénica. (5).

Las semillas transgénicas son más caras que las convencionales. Esto hace que en algunos casos, aun cuando provisoriamente haya un pequeño aumento de producción, éste no compensa el gasto extra en semilla. La industria biotecnológica arguye que esto no puede ser verdad (¡aunque lo sea!), porque entonces los agricultores estadunidenses no usarían estas semillas. Lo cierto es que la mayoría no pueden elegir, ya no tienen sus propias semillas, hay falta de opciones en el mercado y tienen fuertes ataduras con las multinacionales semilleras.

6. Son un ataque a la soberanía

Prácticamente todos los cultivos transgénicos en el mundo están en manos de cinco empresas transnacionales. Son Monsanto, Syngenta (Novartis + AstraZeneca), Dupont, Bayer (Aventis) y Dow. Monsanto sola controla más de 90% de las ventas de agrotransgénicos. Las mismas empresas controlan la venta de semillas y son las mayores productoras de agrotóxicos. (6) Lo cual explica porqué más de las tres cuartas partes de los transgénicos que se producen en realidad —no en la propaganda— son tolerantes a herbicidas y aumentan el uso neto de agrotóxicos.

Aceptar la producción de transgénicos significa entregar a los agricultores, de manos atadas, a las pocas transnacionales que dominan el negocio y enajenar la soberanía alimentaria de los países.

7. Privatizan la vida

Todos los transgénicos están patentados, la mayoría en manos de las mismas empresas que los producen. Esto significa un atentado ético, en tanto son patentes sobre seres vivos, y además son una violación flagrante a los llamados “Derechos de los Agricultores” reconocidos en Naciones Unidas como el derecho de todos los agricultores a guardar su semilla para la próxima cosecha. Las patenten impiden esto y obligan a los agricultores a comprar semillas nuevas cada año. Si no lo hacen, se convierten en delicuentes. Las empresas multinacionales de transgénicos tienen iniciados cientos de juicios a campesinos de Norteamérica, por “uso indebido de patente".

8. Lo que viene: semillas suicidas y cultivos tóxico

La próxima generación de transgénicos incluye cultivos manipulados para producir sustancias no comestibles como plásticos, espermicidas, abortivos, vacunas. En Estados Unidos hay más de 300 experimentos secretos (pero legales) de producción transgénica de sustancias no comestibles en cultivos: fundamentalmente en maíz. Se nombra la producción de vacunas en plantas como si esto fuera algo positivo: ¿pero qué sucedería con estos farmacultivos si se colaran inadvertidamente en la cadena alimentaria? La mayoría de nosotros ha sido vacunado contra algunas enfermedades -¿pero se vacunaría usted todos los días? ¿qué efectos tendría esto?. Ya se han producido escapes accidentales de estos cultivos.

En México, la siembra de maíz transgénico está prohibida y sin embargo desde el 2001 se ha encontrado contaminación del maíz campesino en varios estados de la república, al Norte, Centro y Sur del país (7). ¿Cómo sabremos que no sucederá con estos maíces? ¿Quién lo va a controlar, si las propias autoridades de la Secretaría de Agricultura firmaron en noviembre del 2003 un acuerdo con Estados Unidos y Canadá que les autoriza hasta un cinco por ciento de contaminación transgénica en cada cargamento de maíz importado que entra a México.

Las empresas que producen transgénicos están desarrollando diversos tipos de la tecnología “Terminator”, para hacer semillas “suicidas” y obligar a comprarlas para cada siembra.

9. La coexistencia no es posible ni el control tampoco

Tarde o temprano, los cultivos transgénicos contaminarán todos los demás y llegarán al consumo, sea en los campos o en el proceso post-cosecha. Según un informe de febrero 2004 de la Unión de Científicos Preocupados de Estados Unidos, un mínimo de 50 por ciento de las semillas de maíz y soya, de ese país que no eran transgénicas, están contaminadas. El New York Times (1-3-04) comentó sobre esto “Contaminar las variedades de cultivos tradicionales es contaminar el reservorio genético de las plantas de las que ha dependido la humanidad en gran parte de su historia. (…) El ejemplo más grave es la contaminación del maíz en México. La escala del experimento en el que se ha embarcado a este país —y los efectos potenciales sobre el medio ambiente, la cadena alimentaria y la pureza de las semillas tradicionales— demanda vigilancia en la misma escala”.

Para detectar si hay transgénicos, dependemos de que la propia empresa que los produce nos entregue la información, cosa que son renuentes a hacer, y por la que ponen altos costos que cargan a las víctimas de la contaminación. “Casualmente”, luego de que se han sucedido los escándalos de contaminación, se ha hecho cada vez más difícil detectarlos. (8).

10. Ataque al corazón de las culturas

La contaminación del maíz en México, su centro de origen, concentra todos los problemas que describimos hasta aquí, pero además es un ataque violento al corazón mismo de las culturas mexicanas: a su vasta cultura culinaria y los mil usos que se le dan al maíz, a sus economías campesinas, a las bases de la autonomía indígena. Con esta guerra biológica al maíz tradicional, las transnacionales podrían apropiarse y privatizar este tesoro milenario y colectivo de los mesoamericanos, obligando a los creadores del maíz a pagar para seguir usándolo en el futuro. 

Las empresas multinacionales productoras y distribuidoras de transgénicos, así como los que favorecen las importaciones de maíz OGT, los que quieren levantar la moratoria que impide sembrar maíz OGT, o aprobar una ley de bioseguridad para legalizarlos, asumen una inmensa deuda histórica que los pueblos de México no van a permitir ni olvidar.  Aldo González zapoteco de Oaxaca, resume: “…somos herederos de una gran riqueza que no se mide en dinero y de la que hoy quieren despojarnos: no es tiempo de pedir limosnas al agresor. Cada uno de los indígenas y campesinos sabemos de la contaminación por transgénicos de nuestros maíces y decimos con orgullo: siembro y sembraré las semillas que nuestros abuelos nos heredaron y cuidaré que mis hijos, sus hijos y los hijos de sus hijos las sigan cultivando. (…) No permitiré que maten el maíz, nuestro maíz morirá el día en que muera el sol.

Notas
(1) Wayt Gibbs,W, “The Unseen Genome” en Scientific American, noviembre 2003. Ver también grain, “Blinded by the Gene”, en Seedling, Setiembre 2003,www.grain.org
(2) Ribeiro, Silvia, “Transgénicos, salud y contaminación” en La Jornada, México, 20-03-2004
(3) New Health Dangers of Genetically Modified Food Discovered, Boletín de prensa del Institute for Responsible Technology, citando los estudios de Terje Traavik, del Norwegian Institute for Gene Ecology, Malasia, 24-02-2004
(4) Moore Lappé. F, Collins J y Rosset Peter, World Hunger: 12 Myths, Food First Books, Estados Unidos, Oct. 1998.
(5) Benbrook, Charles, Tiempos problemáticos en medio del éxito comercial de la soja Roundup Ready, Northwest Science and Environmental Policy Center, AgBioTech InfoNet, Technical Paper # 4, Estados Unidos, 2001. http://www.biodiversidadla.org/arti
(6) Grupo etc, etc Communiqué # 82: Oligopolio sa, Nov/Dic 2003, http://www.etcgroup.org/article.asp
(7) Contaminación del maíz en México: mucho más grave. Boletín de prensa colectivo de comunidades indígenas y campesinas de Oaxaca, Puebla, Chihuahua, Veracruz, ceccam, cenami, Grupo etc, casifop, unosjo, ajagi, Oct 2003
(8) Heinemann, Jack A. gm Corn in New Zealand: a case study in detecting purposeful and accidental contamination of food. Ponencia en el seminario científico para delegados al Protocolo Internacional de Cratagena sobre Bioseguridad de la Red del Tercer Mundo y el Institute de Gene Ecology, Malasia, 22-02-2004

* Silvia Ribeiro, investigadora

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

A ÁRVORE DA SERRA


HOMENAGEM A MANOEL DE BARROS
(Foto: Eugênio Giovenardi, Sítio das Neves, DF)

Se não quiserem ouvir especialistas, desmatadores,
ouçam os golpes certeiros do poeta e envergonhem-se.


A ÁRVORE DA SERRA

– As árvores, meu filho, não têm alma!
E esta árvore me serve de empecilho...
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!

–  Meu pai, por que sua ira não se acalma?
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?1
Deus pôs almas nos cedros... no junquilho...
Esta árvore, meu pai, possui minh’alma!...

– Disse – e ajoelhou-se, numa rogativa:
“Não mate a árvore, pai, para que eu viva!”
E quando a árvore, olhando a pátria serra,

Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!


Augusto dos Anjos

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A CAMINHO DO PRECIPÍCIO

Para os governos porem os pés no chão e administrar obedecendo as leis da natureza.

No mês de outubro de 2013, o DF teve um volume de chuvas de 179,55 mm, isto é, 179,55 litros por metro2 (multiplique esse número pela extensão do DF: 5,82 bilhões de m2). No mês de outubro de 2014, o volume foi de 54,0 mm, isto é, 54,0 litros por m2, três vezes menos. Refaça a multiplicação e verá qual é o atual déficit hídrico. (Dados reais do pluviômetro do Sítio das Neves/DF). Estamos a caminho do precipício ou do "matadouro", como advertiu o pesquisador e especialista Antonio Nobre. As invasões dos irresponsáveis cidadãos brasilienses aproveitam o hiato administrativo sem controle nem fiscalização.

OUTUBRO
DIA 01 -     2,2 mm
DIA 02 -     1,5 mm
DIA 20 -     3,8 mm
DIA 23 -   12,0 mm
DIA 25 -     1,5 mm
DIA 26 -     3,8 mm
DIA 27 -     3,8 mm
DIA 28 -   12,5 mm
DIA 29 -   10,0 mm
DIA 31 -     2,9 mm

Total  –  54,0 mm
Volume de água no Sítio das Neves, no mês de outubro de 2014:
37.800.000 de litros (37,8 mil metros cúbicos).


No mês de outubro de 2013:
Total        – 179,55 mm
Volume de água no Sítio das Neves, no mês de outubro de 2013: 12.567.500.000 de litros (12,5 milhões de metros cúbicos).


domingo, 12 de outubro de 2014

CANTO UNIVERSAL



Sou a pedra, sou a terra
Sou o arbusto, sou a planta
Sou a flor, a íris, a caliandra
Sou a aranha e a ameba
Sou a serpente e o tatu-peba
Sou o pântano e o olho d’água
Sou o fruto da mangaba
Do pequi e do bacupari
Sou a ave, o gavião, o sabiá,
Sou o peixe, a tartaruga, o caracol
Sou o gato, o cão, o rato
Sou o cordeiro, sou o lobo
Sou você, sou o outro
E ambos somos todos
E todos somos a vida
Para um canto universal.


27/9/2014

DA MORTE À VIDA


Sou neto de imigrantes do norte da Itália. Enfrentaram o Atlântico. Três semanas a bordo de um navio. Subiram a Serra Gaúcha. Aculturaram-se numa terra bravia. Misturaram seu idioma à esquiva língua de açorianos.
Tudo estava por fazer a seu redor. Eles o fizeram. Povoaram as casas, as roças, os vinhedos, os vales, as montanhas, as cidades.
As madrugadas os encontravam na lide que se interrompia ao cair do sol.
Mulheres grávidas, filhos no colo, crianças depois da escola, homens jovens e velhos estavam no trabalho enquanto houvesse luz.
Às quatro horas da manhã, meu pai me despertava. Tinha eu oito anos. O boi já estava na mangueira para o sacrifício. Levávamos o animal ao cepo do matadouro. Eu segurava firme o laço. Meu pai acertava a jugular do boi. O sangue jorrava e escorria pelo chão. O animal bufava. Virava os olhos. Caia.
Vi a morte quase todas as manhãs. Era a luta pela sobrevivência. A vida dependia da morte.
Amanhecia. O sol iluminava a floresta. Eu andava dois quilômetros ao lado de colegas até a escola primária. Fui o único dos nove filhos de dona Agnese a entrar para a universidade. Nela aprendi que a morte precede a vida. E a vida é um tempo dado para ser feliz.
Por isso escrevo. Para não esquecer que, mesmo sem governos paternais, pode-se ganhar a cidadania e prestar serviços à sociedade das pessoas. Olho para o ribeirão que leva as águas ao mar. Percebo-me uma gota a encher o oceano.
Hoje, precisa-se de bolsas e de cotas para construir uma nação temerariamente desigual. E o ribeirão é feito de gotas solidárias que correm para encher o mar.


12.10.2014

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

LEVARAM MEU CELULAR



Nasci num lugarejo e num tempo em que não havia ladrões. As portas das casas não tinham chaves. Lembro-me de uma tramela frouxa na porta da cozinha que nem sempre se mantinha na posição projetada. As roupas, à noite, permaneciam no varal. Sapatos, botas e chinelos descansavam na soleira da porta.
As galinhas ciscavam livremente. Dormiam no galinheiro aberto e ali botavam e chocavam seus ovos. O galinheiro foi, desde tempos imemoriais, a tentação do inofensivo ladrão de galinhas, denunciado por elas em ruidosos protestos em plena noite de sábado.
Dandão costumava convidar amigos ao risoto do domingo para o jogo do quatrilho regado a vinho bordô da cantina Milani. Dandão só deixou o sagrado hábito do risoto quando o dono do galinheiro armou uma arapuca que lhe prendeu a perna. Vociferou de dor e vomitou meia dúzia de blasfêmias impublicáveis em coro com o desespero de galos, galinhas e pintinhos perdidos.
Hoje, são raros os ladrões de galinhas. O que mais se ouve é: levaram meu celular, roubaram meu carro, assaltaram os caixas eletrônicos do Banco do Brasil, sequestraram o casal, saquearam a joalheria do Conjunto Nacional.
A modalidade mais eficaz de roubo (também dito desvio de dinheiro público) sem violência nem derramamento de sangue é a que o senhor Costa, premiado por ter feito um afano espetacular, revelou aos juízes e delegados do Paraná. A fórmula é simples: o governo arrecada parte do dinheiro dos cidadãos (confisco legal imposto) sobre salários, produtos, vendas, compras, serviços, investimentos, empréstimos com o fim de construir o orçamento. Com esse dinheiro, o administrador da república contrata empresas privadas para executar uma obra qualquer (exploração de poços de petróleo, construção de metrô, transposição do Rio São Francisco etc...). Prepostos do governo negociam com as empresas contratadas o retorno de um percentual do valor contratado a um caixa provisório para garantir novos contratos.
Uma parte do dinheiro do governo é devolvida ao governo pelas empresas por meio desses prepostos. Eles guardam o que lhes cabe em suas contas na Suíça. Outros milhões rumam para os facilitadores da burocracia e para os partidos políticos se manterem no comando da administração da coisa pública. Há tempos, os valores eram baixos e o percentual, alto. Hoje, os valores são bilionários e 1% pode significar milhões de reais.
Como o Estado tem arapucas independentes do governo, previstas na Constituição (tribunais, polícias), os cozinheiros do risoto financeiro são presos pelas pernas bambas da contabilidade, pela ostentação do patrimônio pessoal e familiar, pelos jatinhos que voam de flor em flor, pelos automóveis de luxo dez vezes mais valiosos do que uma casa popular na periferia longínqua, pelas mansões faraônicas no país e no exterior.
Uma ínfima parte das contribuições de todos os cidadãos se destina a programas sociais (renda, educação, saúde) para contrabalançar a gangorra da desigualdade sem prejudicar as fortunas de empresas bilionárias. Uma farsa consentida.

Sofisticou-se o ladrão de galinhas. Aperfeiçoaram-se as arapucas. As quadrilhas não tem mais risoto para seu quatrilho dominical.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

DEFAUNAÇÃO

(Foto: Eugênio Giovenardi, Sítio das Neves)

A preocupação ecológica mais em voga de administradores e políticos conscientes, e mesmo de ambientalistas, refere-se ao desmatamento com fins de produção de alimentos e urbanização.
A perda das florestas da Amazônia e do Cerrado associada à destruição quase total da Mata Atlântica ao longo de séculos, o aquecimento regional e global, o secamento de nascentes e córregos estão relacionados sistemicamente ao desaparecimento gradativo da fauna aquática e selvagem.
Animais que perderam seu habitat e sua comida são surpreendidos em plena rua urbana, nas garagens de edifícios, no interior de casas e apartamentos. Esses são os que sobraram.
Poucos sabem ou percebem o desastroso fenômeno da defaunação, isto é, a extinção de aves, animais de terra e anfíbios. Abatem-se árvores, queima-se a madeira, matam-se ou expulsam-se os bichos, limpa-se a área, secam-se nascentes e córregos. Inicia-se a desertificação.
Nos últimos dez anos, na reserva Sítio das Neves, transformada em Área de Preservação Permanente, tenho percebido que houve um acréscimo de vidas selvagens. Novos habitantes, expulsos de outros lugares, descobriram este refúgio e aqui se abrigam para a sobrevivência e reprodução. Entre os novos moradores estão o jacu, a curicaca, o tucano, o coati, o ouriço, o gato-do-mato, o tamanduá-bandeira. Vieram fazer parte da biocomunidade na qual já viviam o macaco-prego, o sagui, o mão-pelada, a paca e outros de menor porte.
As áreas vizinhas estão depredadas, com sistemas primitivos de exploração, com circulação intensiva de pessoas, automóveis e máquinas, além de caçadores. Esse ambiente tumultuado não é propício à vida selvagem. Os bichos gostam de silêncio e tranquilidade para se reproduzir e sobreviver regidos pela lei irrevogável da interdependência dos seres vivos.
A Reserva Legal, obrigatória em todas as propriedades, em razão de pequenas áreas, nem sempre é suficiente para a preservação da fauna. Os serviços de extensão rural deveriam, além de engenheiros agrônomos e técnicos agrícolas, dispor de um serviço ambiental para orientar os agricultores a preservar de maneira comunitária pequenos bosques para a fauna local. Corredores ecológicos ligando propriedades, com estímulos governamentais, têm sido sugeridos por ambientalistas, mas pouco se fez. Por falta de orientação e vigilância, os condomínios rurais, a cada dia mais frequentes, são verdadeiros corredores de destruição da fauna e da flora.
Caminho durante horas pelo cerrado de meu Sítio das Neves, área de preservação sistêmica. Vejo, ouço e fotografo a biodiversidade. Variedade de flores e frutos alimentam abelhas, moscas e lagartas. Aranhas fiam suas armadilhas. Insetos saltam à minha frente. Pássaros voam vigilantes e cantam ao redor de seus ninhos.


Hoje, a ciência ensina: as árvores salvaram a vida do  planeta quando um gigantesco meteorito, há mais de 60 milhões de anos, subverteu a Terra. Hoje, tenho certeza: só elas poderão operar a salvação ecológica em benefício de todos os seres vivos.

29.9.2014

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O PRECONCEITO ESTÁ VIVO

Por ter completado os primeiros oitenta anos, não tenho obrigação de votar. Mas como cidadão livre não escondo minha opinião.
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Opositores à candidatura de Marina questionam sarcasticamente: será ela capaz de governar? Perguntaram isso de Sarney? De Fernando Henrique Cardoso? De Collor de Melo? Adversários em outra época não duvidavam de Lula? Importaram-se os eleitores com a inexperiência de Dilma eleita presidente na primeira aventura eleitoral? Todos eles chegaram ao governo. Todos eles governaram como nunca antes neste país.
Agora, volta-se a perguntar de Marina se ela será capaz de governar. O preconceito social disfarçado é usado por intelectuais, jornalistas, ex-companheiros de partido, opositores de esquerda, especialmente por quem não quer perder o poder. Esse mesmo preconceito é usado hoje por aqueles a quem essa mesma flecha fez tanto mal.
Marina, meio índia, meio negra, brasileira do Acre, nasceu no seringal amazônico. Como milhões de brasileiros leu a realidade do país sem saber ler. Sem saber ler em livro, percebeu as raízes do Brasil. Ela foi capaz de vencer o analfabetismo, a leishmaniose, a malária, os grileiros da Amazônia. Foi capaz de ser vereadora. De ser deputada estadual. De chegar ao Senado Federal. Foi capaz de ser ministra do Meio Ambiente. Só Marina e José Lutzenberger foram, até o presente, ministros qualificados para o Ministério do Meio Ambiente.
Todas as contradições do Brasil estão reunidas em Marina. Ela é, entre todos os candidatos, a única que viveu essas contradições. Pede-se coerência a Marina. FHC pôde ser incoerente. O torneiro mecânico sindicalista Lula pôde ser incoerente. A ex-guerrilheira Dilma pôde ser incoerente.
O que exigem de Marina seus adversários? Que vença o imperialismo financeiro internacional? Qual governo o venceu? Que empobreça os bancos? Qual governo os empobreceu nesses últimos vinte anos? Que faça a reforma agrária? Quem a fez até hoje?
Por que Marina não será capaz de usar o dinheiro do orçamento para pôr comida no prato dos famintos da nova classe média? Por que Marina não será capaz de usar o dinheiro público para o salto de qualidade da educação fundamental? Por que Marina não será capaz de usar o nosso dinheiro do BNDS para equipar hospitais onde morrem brasileiros na fila de espera? Por que Marina não será capaz de humanizar nossas cidades com transporte decente, eficiente e confortável com menos queima de combustível fóssil? Por que Marina não será capaz de extirpar o câncer corruptor que espalhou metástase na Petrobrás? Por que Marina não será capaz de usar o dinheiro público para proteger nossas florestas, nossas árvores, nossos rios, nossas nascentes e fazer da agricultura ecológica uma resposta inteligente às mudanças climáticas?
Se o país teve generais no governo, um eminente sociólogo, um torneiro mecânico, uma ex-guerrilheira, por que não há de ter uma seringueira presidente do Brasil?
O preconceito poderá derrotar Marina, mas não apagará de seu rosto moreno os sinais inconfundíveis da realidade brasileira vivida por três quartos da população. E como milhões de brasileiros, Marina é frágil, doente e capaz.

Sim, Marina é capaz!

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

BIODIVERSIDADE VERSUS FOGO




(Foto: Cerrado em chamas)

Diário do filósofo Abelardo:
Numa discussão, o outro nem sempre tem razão, mas dirá sempre a última palavra.

A fauna e a flora do cerrado dependem da passagem do fogo. No Brasil, vamos ter que aprender a usar o fogo como ferramenta de manejo, agora que a lei prevê a prática para o bem do ecossistema.
Giselda Durigan, engenheira florestal, pesquisadora.

Reagi a propósito de afirmações da pesquisadora e engenheira florestal Giselda Durigan (revista Pesquisa-Fapesp, edição no. 219/220) sobre a relação entre queimadas e manutenção da biodiversidade em áreas de cerrado. Acompanho, há anos, discussões, debates e conselhos de especialistas em agricultura e zootecnia sobre “queimadas programadas” para alimentação do gado.
Os efeitos visíveis da passagem do fogo em áreas de cerrado apontam mais malefícios do que benefícios. Por um lado, há uma surpreendente brotação de gramíneas e flores, depois do fogo, para alimentação do gado em criação extensiva. Por outra parte, qual é o custo-benefício ecológico e ambiental com perda de milhares de espécies, com atraso no crescimento de pequenos arbustos, com expulsão e incineração de milhões de vidas visíveis e invisíveis que compõem a biodiversidade do cerrado? Acrescente-se a intensa secura do ar pela escassa evaporação arbórea durante o período da estiagem mais aguda e o declínio dos mananciais quando não seu desaparecimento em razão das queimadas.
A revista Pesquisa (Fapesp) no 222, por intermédio da pesquisadora Giselda Durigan, respondeu às dúvidas que expressei sobre suas conclusões, afinadas com as da especialista em savanas africanas Caroline Lehmann, da Universidade de Edimburgo, Escócia, a respeito do uso de fogo no cerrado como ferramenta de manejo.
Supostamente, segundo especialistas de savanas, a passagem do fogo mantém a biodiversidade do bioma. Informa a pesquisadora paulista que essa prática é levada com sucesso, há algumas décadas, na África e Austrália. Os propósitos imediatos, econômicos, ecológicos e ambientais, para a manutenção dessa prática não foram mencionados. Apenas indica que é para manter a biodiversidade das savanas de lá que têm semelhanças com o cerrado brasileiro.
A pesquisadora Giselda Durigan ironiza minha afirmação de que, em quarenta anos de observação, estudo e proteção da vegetação sistêmica nativa, houve um adensamento das árvores e da colcha espessa de gramíneas (capim) em toda a extensão da propriedade de 70 hectares (Sítio das Neves, DF). Também classificou o processo utilizado nessa propriedade como influenciado pelo “movimento conservacionista das últimas décadas, centrado nas florestas (mas não nas savanas) e nas árvores (em detrimento de capins, ervas e arbustos)”.
A investigadora justifica a prática do fogo: “Embora os cientistas que estudam o manejo do fogo ainda não tenham chegado a uma fórmula que seja ideal em todas as situações, há uma certeza: não queimar é a pior opção”. Se os cientistas não citados ainda estudam os efeitos do fogo sobre a biodiversidade, a afirmação de que “não queimar é a pior opção” soa leviana e imprudente.
Parece que um dos sucessos da pesquisadora é ter encontrado, na região pastoril de Santa Bárbara (SP), um exemplar do arbusto Galium humile, da família do café, nunca mais visto desde 1918. Ela atribui o achado às queimadas frequentes na área para estimular a regeneração de pastagens necessárias à alimentação do gado.
Todos os demais efeitos de uma queimada são relegados a um plano sem importância. A biodiversidade do bioma e da biota está intrinsecamente relacionada com a interdependência de todos os seres vivos com inclusão da espécie humana.
Por conhecimento geográfico e com vivência cerratense de 40 anos, observo que há diferenças climáticas entre regiões do estado de São Paulo e do Planalto Central onde se localiza do Distrito Federal. E é evidente a diferença entre áreas frequentemente queimadas e áreas protegidas em termos de flora, fauna e resistência dos mananciais.
As queimadas anuais de nosso cerrado, cuja função rudimentar e essencial é “limpar os campos” e provocar o surgimento imediato de algumas espécies de gramíneas para alimentação tradicional do gado zebu mestiçado, deixam sequela de milhares de mortes. Milhares de espécies da fauna e da flora jazem carbonizadas no chão.
Então, em que aspecto a biodiversidade é mantida? Não só as sementes de árvores e arbustos como ninhadas de pássaros, milhões de insetos e pequenos animais são incinerados. Agregue-se a essas perdas o volume de carbono que se espalha pela atmosfera e a queda do nível de umidade pela ausência de evaporação arbórea, sabendo-se que uma árvore pode jogar diariamente, no ar, dezenas de litros de água, segundo cientistas renomados como Antônio Donato Nobre.
Ao contrário do que insinua a pesquisadora Durigan em sua resposta, dezenas de espécies de capins do cerrado povoam densamente a área que preservo em consequência da opção de não queimar, situação diferente das propriedades vizinhas cuja opção é queimar.
Não só é constatada por especialistas a presença massiva de capins nessa área protegida, como a existência de bacuparis, muricis, mangabeiras, variedades de mirtáceas, curriolas, pequis, guarirobas, catolés, mama-cadela, araticuns, marmelo-do-cerrado, canelas-de-emas e orquídeas. Uma incontável variedade de flores e frutos silvestres garantem a comida de macacos-prego, saguis, quatis e mão-pelada.
Por convivência de 40 anos no Planalto Central, por razões biológicas, pela lei da interdependência dos seres vivos, por respeito à biodiversidade e pela sorte de fazer parte desta biocomunidade, continuo com a convicção de que não queimar é a melhor opção para todas as espécies vivas do cerrado.

1/9/2014

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

CARTA AOS VIZINHOS


Senhores vizinhos.

Tenho a satisfação de saudar os senhores proprietários de áreas vizinhas do Sítio das Neves, situado na BR-060, Km 26 (direção Goiânia/Brasília).
Apraz-me igualmente informar que a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), o Instituto Brasília Ambiental (Ibram), o Ibama/DF e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) aprovaram, pelo Certificado no 105/2012, de 25/10/2012, a Reserva Legal e a Área de Proteção Ambiental do Sítio das Neves.
Durante 40 anos – 1974-2014 – foram tomadas precauções para evitar queimadas e desmatamento. Foram construídas dezenas de barragens em vários pontos do Sítio para captação da água da chuva e proteção de nascentes.
Hoje, o Sítio das Neves está se credenciando junto ao Ibram para receber animais silvestres perdidos, ou presos ilegalmente na área urbana, especialmente pássaros, recapturados pela Polícia Ambiental, a fim de serem reintegrados à natureza como medida de proteção à fauna do Cerrado.
Agradeço a colaboração dos senhores vizinhos no sentido de impedir queimadas, caça de qualquer animal, descarga de lixo e entulho, atos que estão sujeitos a pesadas multas estabelecidas pelo Código Florestal.
O reflorestamento nativo e a proteção de nascentes de água transformam nossas propriedades em paraísos ambientais e refúgio de pássaros e animais.
A natureza agradece a colaboração de todos para o bem comum.


terça-feira, 26 de agosto de 2014

40 ANOS DE ARBORIZAÇÃO

(Foto, Sítio das Neves, DF, Eugênio Giovenardi)

Há quarenta anos um pedaço do bioma Cerrado se pôs no meio de meu caminho. Éramos desconhecidos um para o outro. Foi o Cerrado que se dirigiu a mim. Sua mensagem me fascinou.
O invisível nele me atraiu mais do que o visível que eu podia ver. Seu grito inaudível foi mais forte do que eu podia ouvir.
Aprendi a olhá-lo e a vê-lo. Aprendi a escutá-lo e ouvi-lo. Aprendi a viver com ele para compreendê-lo.
A primeira lição que o bioma Cerrado me deu foi humilhante e dolorosa. Eu pertencia, disse-me, à família de predadores mais audaz, mais insensível, mais imprudente e mais arrogante chamada espécie humana. E para cúmulo das desgraças e desastres traz consigo uma confiante arrogância tecnológica para consertar a alto custo os erros que podem ser evitados.
Compreendi que eu mesmo dera demonstração de predador ignorante ao introduzir, afoitamente, árvores e animais inadequados (eucaliptos e vacas, em lugar impróprio), conforme confessei em meu livro A saga de um Sítio.
Olhei, então, para as árvores retorcidas. Entrei pelas grotas secas que, no período chuvoso, despejavam toneladas de água e terra no Ribeirão das Lajes. Consternado, naquele agosto de 1974, nada pude contra o fogo a devorar plantas, expulsar aves, carbonizar pequenos animais, cobras e milhões de insetos.
Arrasado o solo, um resignado espelho de água refletia o azul do céu. A água desprotegida refletia os cristais do oceano azul de cima. Vi a água cristalina.
Olhei para trás. Vi uma trajetória de 300 anos. Uma caravana de predadores em marcha forçada. Cortavam árvores. Queimavam campos e florestas. Matavam aves e animais. Construíram a economia da destruição, do desperdício, do abandono, receita eficaz para fazer um deserto. Os fazedores de desertos, como os definiu Euclides da Cunha, atacaram a alma do Cerrado: a água. As águas se retiraram ou morreram por falta de árvores.
Compreendi que este bioma tinha aqui duas estações: a chuvosa e a seca. A organização física das árvores, determinada pela lei biológica, administra com eficiência as condições das duas estações. As árvores se abastecem de água durante o período chuvoso e devolvem à atmosfera milhões de litros durante os meses de estiagem.
Hoje, temos duas estações: a seca e a mais seca. As chuvas que antes se abrigavam nas cobertas espessas das árvores, hoje, disparam velozes para os rios e depositam neles a terra desprotegida. A água que jorrava de milhares de nascentes, agora virá de longe, cara e suja. E, nesse ritmo, estamos consolidando o deserto urbano e rural. É mais adequado ao deserto existente autorizar a plantação de edifícios de 15 a 30 andares nas cidades satélites do Distrito Federal do que incentivar o plantio de árvores.
Quarenta anos de convivência com o Cerrado me ajudaram a compreendê-lo e a ele me associar.
Compreendi sua mensagem: devolver-lhe as árvores para reviver as nascentes de água.
Passaram-se quarenta anos de convivência. Protegi pacientemente a arborização nativa captando e detendo a água da chuva em grotas e socavões. Em quarenta anos, o deserto reverdeceu. As árvores retorcidas testemunham a depredação cometida. As grandes árvores que se elançam à altura, copadas e floridas, atestam que se pode recuperar desertos.
As mensagens que recebo ao entrar no pedaço de cerrado que me acolheu, me dão a certeza intuitiva, empírica e científica de que se pode recuperar todos os desertos construídos pela mão do predador dotado de cérebro inteligente, ironicamente alcunhado de homo sapiens.
Estou comprometido com este minúsculo pedaço de cerrado. Ele recuperou a paz vegetal em apenas quarenta anos. Nele, todas as formas de vida, e são milhões, têm os mesmos direitos à sobrevivência e reprodução como determina a lei da interdependência de todos os seres vivos.
Nada mais simples para salvar a vida existente no planeta do que arborizar cada metro quadrado de chão disponível.
O Cerrado me ensinou que todos dependem de todos, que a vida depende da vida. E a vida é um fruto que pende da árvore.

terça-feira, 29 de julho de 2014

CHUVA DA MANGA

(Foto: Sítio das Neves, flor da Falsa Íris. Eugênio Giovenardi)


Há quarenta anos, nos primeiros quinze dias de julho, esperava-se a chuva da manga ou do caju. Tempo frio. Roupas de inverno. Meias grossas.
O céu se cobria de nuvens finas e escuras. Fechava-se pouco a pouco. As primeiras gotas não chegavam ao chão. Evaporavam-se no ar ressequido. Aos poucos, a quase neblina se esparramava com suavidade sobre a vegetação sedenta.
Nos últimos anos, não foi rotineira a chuva da manga sobre as mangueiras floridas. Com bastante atraso, nos derradeiros dias de julho deste ano, na região sul do Distrito Federal, caiu a chuva da manga. Poucos milímetros.
O terreno preparado com vegetação abundante para receber a chuva, o pouco somado tornou-se muito. Três milímetros sobre 700 mil metros quadrados, no Sítio das Neves, somam 2,1 milhões de litros de água sobre a vegetação.
A alegria foi geral. Dançaram as folhas das árvores. Cantaram as seriemas e as saracuras. Coaxaram sapos e rãs à beira do riacho. A felicidade vegetal inundou o cerrado.



quinta-feira, 24 de julho de 2014

TAMBÉM TU BRUTUS



É estranho que, numa sociedade pretensamente evoluída como a nossa, e assim se considera, um percentual criado por métodos estatísticos seja invocado como uma ameaça à ordem política e econômica.
Em outros comentários, declarei-me favorável ao crescimento econômico zero, com a ressalva de experimentar novas formas para a conquista da prosperidade como recompensa do trabalho criativo.
Dos 200 milhões de brasileiros, pode-se afirmar que 150 milhões não sabem o que é PIB. Se sobe ou desce, não os impede de comer e fazer filhos.
Milhares de espécies de árvores e animais de nossas florestas, se consultados, aprovariam um PIB zero. Qualquer avanço do PIB é uma ameaça fatal às plantas, aos animais e, por consequência, à sobrevivência da espécie humana.
O Produto Interno Bruto é, por definição, bruto. E poucos são os artistas econômicos e políticos capazes de modelá-lo. Um bloco de mármore bruto esconde futura estátua ou sólido edifício. Escultor nenhum que tenha ideias e intenções a comunicar, esculpindo o mármore bruto, despreza-o por ser duro e coberto de camadas a serem eliminadas por seu trabalho árduo.
Diante de um bloco de mármore bruto, pequeno ou grande, não se é autorizado a desdenhá-lo por seu tamanho. Ninguém é tão insensato que só queira escalpelar imensos blocos de mármore e dar-lhes uma única forma ideal ao gosto de espectadores. É possível dar uma forma excepcional a um pequeno bloco de mármore bruto para ser visto com admiração por visitantes. Ou decorar brilhantemente uma sala de encontros.
Um grande bloco de mármore de Carrara pode se transformar em um Davi. Raros, porém, são os Davi. Aparecem escassamente. Exigem anos de trabalho e seu deslocamento causa enormes transtornos.
Por que certos escultores da economia querem um imenso bloco de mármore bruto? Um gigantesco produto interno bruto? O que pretendem fazer com ele? Embora, hoje, esse número pequeno, inferior a 1, seja desprezado e vilipendiado como desmancha-prazeres da felicidade consumista, o que se observa desmente os detratores do minúsculo PIB.
Outrora ditos estádios, as arenas da Copa da infortunada derrota da seleção brasileira se encheram de diferentes torcidas a preços salgados.
Os aeroportos continuam acolhendo milhares de aviões que transportam milhões de passageiros, carregados de malas, indo e vindo de norte a sul.
As estações rodoviárias despacham milhares de ônibus interurbanos que percorrem milhares de quilômetros de estradas asfaltadas.
Constroem-se estacionamentos para o descanso de milhões de automóveis. Levantam-se viadutos sobre abismos e no bojo de cidades, demolidos por obsolescência prematura, desperdício de material e mortes de transeuntes.
As agências de automóveis estão em permanente festa, promocionando vendas com esquisitíssimas formas de publicidade cansativa e cara.
O governo e seus agentes do fisco recolhem bilhões de reais dos contribuintes. Os bancos demonstram parte dos lucros bilionários nos balanços publicados em cadernos de jornais.
Pelos portos e aeroportos do país exportam-se toneladas de alimentos e importam-se caríssimos produtos de alta tecnologia.
Os restaurantes de bares exibem diariamente superlotação de clientes. Os caixas de supermercados enfrentam longas e irritantes filas de fregueses. Os hospitais regurgitam pacientes dia e noite. As universidades públicas e privadas recrutam duas vezes ao ano milhares de jovens.
A nova classe média e os extraídos da fossa da pobreza disputam com sua renda, assegurada por generosos programas sociais, os melhores lugares nas arquibancadas do consumo. Milhões de desempregados e jovens desinteressam-se de buscar novo ou o primeiro emprego sem deixar de consumir o necessário e o supérfluo.
É raro ver um cidadão com mais de cinco anos de idade, na rua, nos consultórios, nas filas de qualquer coisa, sem operar um celular ou brincar no tablet ou fazer pesquisa escolar no Google.
Miami, Nova Iorque e Paris arrecadam bilhões de dólares de brasileiros em compras, diárias de hotel, restaurantes, museus e passagens.
Por que vilipendiar o pequeno PIB se ele satisfaz necessidades, desejos, prazeres, ambições e sonhos dos que têm pouco e dos que têm muito? Se o PIB minúsculo garante aos 200 milhões de brasileiros a alegria de ter sombra e água fresca, por que políticos, economistas e analistas econômicos, agraciados com alto poder de compra, querem que ele cresça e intumesça ao embalo de suas mãos?
Não será o PIB um substituto de ordem freudiana?


23.7.2014