quinta-feira, 26 de maio de 2011

SONHO DE ESCRITOR

A página literária do jornal francês Le Figaro publicou, em março de 2006, enorme título ocupando o espaço central do caderno: “Dois milhões e meio de franceses sonham ser escritores...e você”? A França possui 56 milhões de habitantes.

Não tenho informações de quantos brasileiros nutrem o mesmo sonho. Utilizando-se o percentual de sonhadores franceses (4,5%), o número de brasileiros que poderiam sonhar com ser escritores alcançaria a generosa soma virtual de aproximadamente oito milhões. Descontando, porém, a farta porção de analfabetos estruturais somados aos funcionais esse número cairia para pouco mais de três milhões.

A exemplo da Academia Brasileira de Letras, que reúne os beatificados por seus milagres literários, em todos os estados da federação existem academias, associações, sindicatos e centros literários. É comum a escritores pertencerem a duas ou três academias literárias no intuito de concretizar o sonho por meio da carteirinha que os identifica. Meus cálculos subjetivos, empíricos e por aproximação, indicam ao redor de dez mil escritores no gênero literário. Não incluo nele jornalistas e outras profissões que produzem notícias, comentários e obras científicas de distintos ramos e disciplinas ou manuais escolares. Porém, sondagens feitas em livrarias, editoras e academias literárias elevam esse número a vinte mil escritores muitos dos quais desconhecidos em sua própria cidade. Mas o número de sonhadores, segundo boas fontes, é imenso ao se contarem milhares de concursos literários anuais em escolas, bancos, empresas privadas e públicas em nosso vasto país.

Ao entrar em qualquer livraria depara-se com nomes novos, de grafias miscigenadas, grande parte jornalistas de periódicos diários e revistas importantes, estreando poesia, romances, contos com prefácios generosos e encômios exagerados. Por via das dúvidas e por ter publicado dez livros, dos quais quatro são narrativas longas (romances), ouso colocar-me entre os cem mil melhores escritores do Brasil. Estou em boa companhia ao observar que entre esses milhares estão Cristovão Tezza, João Ubaldo Ribeiro, Ana Miranda, Lia Luft, Affonso Romano de Sant’Anna.

Meu sonho, então, é estar situado, até 2050, entre os quarenta mil melhores escritores do meu país. Trata-se de um sonho que me inclui numa minoria que, de tão pequena (0,02% da população), é quase invisível. Daí se compreende porque sou um escritor desconhecido e sonhador. E não é de se espantar que um estudante universitário, da Faculdade de Letras da UnB, não saiba quem é o poeta João Carlos Taveira. Em compensação, dará detalhes sobre o futebolista Nilmar Honorato da Silva.

terça-feira, 24 de maio de 2011

SEJA FELIZ

No rebuliço causado entre as elites culturais de distintos matizes com a publicação do livro – POR UMA VIDA MELHOR – (Heloísa Ramos), como é comum no tratamento dos chamados grandes temas nacionais, a população alvo da palmatória gramatical ficou alheia. Colunas e crônicas de jornais e redes eletrônicas caíram em defesa da virgindade da língua, das regras e leis gramaticais que, como outras, nunca pegaram nesse país como costumava dizer um ex-presidente. Lei é lei. A lei existe. Tem que existir e, se possível e conveniente, será observada. A impunidade faz parte da lei ou da conveniência?

– A senhora é contra as regras e leis gramaticais e ortográficas? – perguntei a minha diarista?

– Ah! Meu senhor, do jeito que as coisa tá, as leis só vale pros pequeno.

Nesta resposta, a realidade gramatical e a realidade política não deixam dúvidas. A leniência linguística nascida nas ruas das cidades, nos fundões da pátria, na mescla de índio, negro, português, italiano, árabe ou japonês e na precariedade de nossas escolas acompanha a leniência política. Ambas formam a variedade de comportamentos, diversidade de costumes, desigualdades gritantes e discriminação preconceituosa.

Outras colunas e crônicas se apressaram em proteger os fora da lei sem esconder o complexo de pobrismo. Os fora da lei gramatical também têm direito à felicidade sem medo de esses e concordâncias nem temor da polícia armada das academias literárias. Trata-se de livrar a linguagem popular do complexo de inferioridade inconsciente diante da escorreita e impecável expressão vernácula dos privilegiados do sistema ortográfico. É a briga constante contra o irremovível e rochoso preconceito social.

“A classe dominante – diz o livro – utiliza a norma culta principalmente por ter maior acesso à escolaridade e por ser um sinal de prestígio.” E, para acalmar o complexo de culpa literário, acrescenta: “Por isso, um falante deve dominar as diversas variantes porque cada uma tem seu lugar na comunicação cotidiana”.

O telefone tocou.

– Alô! Minha mãe taí? É o Diogo.

– Tá. Rapidinho.

Ao despedir-me da diarista, perguntei-lhe:

– Quando é que você se sente feliz?

– Sou feliz quando chego em casa e posso cuidar de meus filho e das minhas coisa.

A felicidade linguística feita de plurais sem esses, de verbos no singular e pronomes oblíquos sujeitos da ação faz parte do cotidiano da imensa maioria da população antigramatical de nosso país. No Brasil, a unidade federativa convive com as variantes linguísticas, a diversidade cultural, a teimosa desigualdade social e a discriminação sorridente, mas com a esperança inabalável de uma vida melhor.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Tempo inconsútil


Os dias passam, eu fico.
Os anos correm, eu caminho.
As horas voam, eu olho o ar.
Os segundos escapam, eu paro.
Os minutos alertam, eu acordo.
O tempo vai, eu vou.
O tempo, naquele tempo, era meu.
O tempo, neste tempo, não é o meu.
O tempo me espera na esquina das horas e dos anos.
Eu ficarei pelo caminho
Abraçado ao tempo que foi meu
Por pouco tempo.
O tempo é bom.
Vou sair enquanto é tempo.
Não há mais tempo.
O tempo acabou.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

POR UMA VIDA MELHOR


Para estimular a leitura de livros e jornais e reduzir o complexo de analfabeto e inculto em grande parte da população brasileira, o MEC divulgou um livro escrito pela senhora Heloísa Ramos que é a cara do Brasil: Por uma vida melhor.
Parece-me que são poucos os cidadãos brasileiros que se expressam de forma primitiva e rústica, rompendo palavras e trocando a posição das letras, a escreverem e publicarem seus textos. A linguagem popular aprendida em família, na rua ou trabalho tem dimensão suficiente para compreender o que se diz ou para se fazer entender. Muitas vezes é uma linguagem em código, longe de qualquer regra gramatical.
Não consigo decifrar a razão do desejo da senhora Heloísa Ramos ao propor uma vida melhor aos que vão comprar “duas latra de tinta prá pintá as parede de fora da casa”. Ou à empregada que se inscreveu num curso de três meses e se alfabetizou “prá lê as praca de ômbus”. Ontem, estava numa farmácia e um cuidador de carros pediu ao atendente “um vrido vazio prá ponhá água”. Quanto melhoraria a vida de seu Elizeu ao trocar as “treis tauba do armário comido de cupim”? Qual será o acréscimo de melhora na vida de Teresa se sua consulta médica não pôde ser marcada em “mauço e foi adiada para abriu”? Certamente, melhora a vida de Gilson e Silveira “se nóis tivé sorte e peguemo bastante pexe”. Ou se Zé Mané conseguir, aos 52 anos, “tirar a indentidade e o titro de eleitor”.
Para comprovar a boa vontade da senhora Heloísa Ramos, saí à rua, perguntei a um número amostral de pessoas de todas as opções sexuais e simpatizantes como é que a vida poderia ser melhor. Nenhuma resposta incluiu a gramática da língua brasileira na receita de uma vida melhor. Tenho esperança de que uma vida melhor seja possível quando todos os brasileiros, de qualquer opção sexual, possam pedir ao garçom um chops e dois pastel e pagar com orgulho alegre os dez real.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Código de Manú:

Lá pelas tantas, refletindo sobre a pureza do mundo, diz o Código de Manú:
"Não há nada mais puro do que a luz do sol, a sombra de uma vaca, o ar, a água, o fogo e a respiração de uma jovem."
Eis um olhar de pura felicidade ao olhar para este mundo cão, mundo gato, mundo colibri, mundo cravo, mundo deserto, mundo floresta.

sábado, 14 de maio de 2011

UM MUNDO MELHOR


No filme MUNDO CÃO (Ghost World), de Terry Zwigoff, diz Seymur, colecionador de discos, solitário e tímido: “Não consigo me relacionar com 99% da humanidade”. O ser humano pode ser brutal e terno. Será ele diferente do leão ou do cisne?
Quando entramos num restaurante self-service com filhos e netos para cumprir um dos rituais da convivência, raramente nos lembramos da miséria e da fome que assolam a humanidade. Nem sequer sabemos o que sofrem milhares de crianças nos acampamentos de refugiados na África depois de centenas de anos de exploração econômica brutal preservada pelos investidores europeus.
Quando levamos nossos netos aos melhores centros de ensino, onde o termo educação é batido pelo termo conhecimento das ciências, nas escolas da periferia das cidades ou nas áreas rurais as crianças se sufocam em salas ou tugúrios apertados na esperança de se alimentar de merenda escolar já deteriorada.
Quando entramos num avião, felizes de poder gozar da “qualidade” do transporte rápido, achamos normal que os passageiros da Central do Brasil ou do metrô de São Paulo se espremam nos vagões a uma temperatura de 40 graus para garantir um ou dois salários mínimos.
Pagamos uma fortuna para nos submeter à tomografia do crânio ou do pulmão e filas de cidadãos comuns esperam o moroso atendimento a fim de detectar o dengue ou a pneumonia. Numa frase podemos registrar o otimismo e o pessimismo da vida real: algumas coisas melhoram com o tempo, outras pioram. Nesse jogo do melhor e do pior há uma habilidade intrínseca no ser humano: a possibilidade de sempre fazer o bem ou o que é bom. Disparar a tecla do bom senso para prevalecer contra a idiotice. A idiotice é uma ideia devastadora. Revidar o mal com o mal ou com indiferença é uma idiotice. O que Obama fez com Osama é uma idiotice histórica tão grande quanto a de Osama.
A humanidade caminha somando idiotices perigosas em atentados fatais contra o bom senso. Um mundo melhor e possível se fundamenta no diálogo, na conversa e na justiça. O grau de felicidade possível cada pessoa determina livremente para si.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

PLENO EMPREGO E PLENO ROUBO


      O delírio do consumo, uma das causas da inflação, agita a mente de jornalistas e analistas econômicos. A informação se resume em percentuais crescentes de compras. 53% das famílias brasileiras gastam mais por mês do que ganham. As dívidas dos consumidores alimentam a fome do governo e saciam a sede dos bancos. Uma comemoração emenda na outra. Sai-se da Páscoa, entra-se no Dia das Mães e corre-se para o dos Namorados. Em cada festa do consumo, espera-se um percentual maior de gastos em presentes e viagens.
O estímulo, dizem todos os noticiários, vem do aumento da renda e da desvalorização do dólar. A impressão que se tem é que a renda dos consumidores aumenta todos os dias. É um milagre exclusivamente brasileiro. As fortunas se multiplicam a olhos vistos. Concluo que o delírio do consumo deve ter como causas o pleno emprego associado ao pleno roubo. Ambos enfrentam galhardamente qualquer crise financeira e os ímpetos inflacionários. Lembre-se, inflação significa alto consumo e baixa produção de bens.
Nos últimos anos, propus-me a somar os valores resultantes de roubos ao erário, de desvios de verbas da educação e da saúde, do superfaturamento de obras inacabadas dos PAC’s, de contratações de laranjas fantasmas no Congresso Nacional, câmaras estaduais e municipais, do aumento generoso de ordenados e vencimentos da nova nomenclatura da máquina administrativa aparelhada, comissões, conselhos, Fundos de Pensão que formam a elite emergente da república, filhos, netos, sobrinhos, apadrinhados,
Perdi a conta, atropelado por descobertas diárias de roubos públicos. Mas a soma parcial dá para comprar centenas de casas que sobraram da explosão da bolha americana, a rede de supermercados Pão de Açúcar, a Linha Aérea Boliviana, a frota de automóveis de luxo produzidos num mês, milhares de ternos Armani, cem viagens de cruzeiro pelas ilhas gregas e do Caribe. De quebra, ainda sobra para multiplicar por dez o número de helicópteros particulares com o nobre fim de fugir aos engarrafamentos de São Paulo. Esses são apenas alguns lances do leilão frequentado pelos marajás do pleno roubo. Se a polícia ousasse invadir as mansões do pleno roubo como o fez nas dos traficantes do Rio de Janeiro ter-se-ia melhor ideia das desigualdades sociais e das fortunas ilícitas que alimentam o comércio e a inflação.
Já, o pleno emprego, falo só de Brasília, onde estão os maiores salários dos trabalhadores, pode-se constatar na rua. Está todo mundo empregado e embolsando dinheiro em espécie. Nada de cheque ou cartão. No quarteirão onde moro ou superquadra – note-se o superlativo – conto dezenas de pontos de manobristas uniformizados, à sombra de um toldo, que colaboram com a polícia para evitar multas a carros estacionados em fila dupla ou tripla em frente a restaurantes e bares de dia e de noite. Dezenas de cuidadores de carros de colete cor de abóbora dirigem a ocupação das vagas do estacionamento público nas ruas comerciais. Kombis estacionadas numa esquina ou na porta do Banco do Brasil oferecem biscoitos, mel, rapadura, queijo, granola a preços módicos. Nas calçadas, há vendedores de redes, colchas e tapetes. Nos caixas do supermercado, um exército de empacotadores recolhem as moedas deixadas por quem ainda compra com dinheiro vivo. A partir das 16h, surgem, em distintos pontos, barracas de churrasquinho e sanduiche para a nova classe média retirada da linha de pobreza. Vigias noturnos, em todos os blocos da cidade, complementam o salário diurno para pagar as 80 prestações do carro de segunda mão, a passagem aérea da mulher a Teresina, a reforma do banheiro, o sofá da sala e a TV a plasma. Quiosques de frutas, relojoeiros e sapateiros volantes completam o pleno emprego e a circulação do dinheiro acrescidos fortemente com o pleno roubo. Por último, mas não menos importante, inúmeros e discretos distribuidores de crack e oxi se misturam com vendedores de panos de chão, imaculadamente brancos, sacos plásticos ou frutas, nos incontáveis semáforos que detêm a fúria dos condutores.
A todas essas manifestações da loucura cotidiana se denomina crescimento econômico sustentável.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

DIREITO DE AMAR


DIREITO DE AMAR

Em 2002, a editora Movimento, Porto Alegre, publicou meu romance Em nome do sangue, cujo título original era O crime do padre Belmiro. Em 2003, o romance ganhou o Prêmio Açorianos de Literatura, em Porto Alegre.
Qual era o crime do jovem sacerdote Belmiro aos olhos da Cúria Romana, católica e apostólica? Ser homoafetivo e, crime dos crimes, expressar publicamente sua homossexualidade. No mosteiro,  com exercícios cotidianos, ensinaram-lhe a amar um homem, um herói, um modelo a ser copiado e reproduzido.
Foi o que fez Belmiro. Como Jesus, admirou as flores do campo e ouviu o cantar dos pássaros que não fiam nem ceifam, afagou crianças nas creches, visitou prostitutas em suas zonas restritas, cuidou de enfermos nos hospitais. Como Jesus, encontrou um discípulo a quem amou e em cujo regaço descansou a cabeça. E como Jesus, por ter amado muito, morreu assassinado.
Nesses passados dias, a alta Corte da justiça brasileira garantiu aos homoafetivos, contra a opinião de igrejas que falam em nome de Jesus, e de setores discriminatórios, os direitos de constituírem união civil a ser reconhecida pelas leis da sociedade. O veredito do Supremo Tribunal Federal não garante totalmente o respeito nem a compreensão aos homoafetivos, embora hipocritamente e com desprezo sejam tolerados.
O que me chama a atenção nessa boa vontade da alta Corte é que ainda se necessite, num país civilizado, uma legislação específica para reconhecer direitos fundamentais como a liberdade de amar. Direitos humanos e seu exercício nascem com as pessoas. Amar faz parte da natureza humana e integra o conjunto de leis naturais como as leis físicas. O equívoco fundamental das pessoas e das instituições que se arrogam o dever excepcional de orientar, dirigir e controlar a sociedade consiste em invocar leis divinas reveladas a espíritos alucinados ou condutores carismáticos. Não existem leis divinas. Existem imposições religiosas. As leis são naturais e governam as coisas e orientam o livre arbítrio das pessoas.

O JOGO



Dostoievski retratou o próprio fascínio ao escrever Um jogador. A preparação prévia para entrar na sala de jogos, a ansiedade ao dar as cartas, os blefes, os ganhos eventuais, as perdas irreparáveis, a volta irresistível a um nova rodada remoem o jogador.
O que é a administração de um país grande ou pequeno senão um jogo ou talvez um brinquedo no qual se ganha ou perde? É um embate de times tentando sobrepor-se ao adversário, embalados pelos gritos das galeras.
Em fim de 2010, visitei amigos em Lima, Peru. Durante o voo, folheei a revista de bordo feita para apresentar os lados mais interessantes do país e as informações aptas a atrair e tranquilizar o visitante. Um depoimento do então presidente Garcia não deixava dúvidas sobre as habilidades de seu time e as vitórias conquistadas. Dizia: “El Perú, quizá, há soportado la crisis financiera mejor que qualquier otro país”.
Frase de efeito semelhante havia sido cunhada, no Brasil, pelo então presidente Marola diante do tsunami mundial com o intuito de atrair jogadores estrangeiros e divertir a galera brasileira. “Fomos –proclamava ele -- os últimos a entrar e os primeiros a sair”.
Ao constatar os estádios sociais do Peru e conhecendo o Brasil profundo, com seus 16 milhões de miseráveis, compreende-se que os jogadores da administração pública jogam para a galera. Seguem algumas regras do jogo. Os árbitros têm seus instrumentos e os usam discricionariamente. As galeras podem discordar deles e frequentemente o fazem e os enchem de sublimes epítetos, mas o penalti está marcado, ou o gol anulado, ou o jogador expulso..
A regra do jogo mais visível e mais seguida e a de mentir, negar, esconder ou recriar a realidade dos acontecimentos dentro do campo. Para esconder, por exemplo, os efeitos da crise financeira que abalou as economias, da qual nosso país também é parte das causas, estendeu-se um espesso colchão de créditos subsidiados e reduziram-se temporariamente impostos. Os destroços da marola aparecem agora sob forma de inflação, de alto preço dos combustíveis, trânsito enervante nas cidades, sufocante emissão de dióxido de carbono que afeta a saúde dos cidadãos e enchem os hospitais transformados em armazéns de doentes.
Mas os jogadores oficiais negam as entradas desleais, reclamam ou ridicularizam o árbitro que marcou o pênalti. Convertido em gol o penalti, continuam negando o pênalti e o gol. Os técnicos colocarão os jogadores em campo outras vezes, confiantes na galera que já esqueceu as derrotas, os pênaltis e o jogo bruto. Entrevistados, os jogadores ignoram as derrotas, os pontapés, os pênaltis. Dizem respeitar os adversários e vão de cara lavada para mais uma pelada. Os jogadores entram em campo, confiantes na galera desmemoriada e sedenta de gooooool. 

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Romance HELIODORA

Comentário do escritor e crítico literário Edmilson Caminha.

Caro Eugênio,

Com um pedido de desculpas pelo atraso, somente agora lhe agradeço a fidalguia com que me ofereceu o belo romance Heliodora, com que Você se inclui entre as vozes mais expressivas da ficção brasileira contemporânea. Heliodora, a mulher, pertence à linhagem das nossas grandes personagens femininas, em que se encontram Luzia-homem, de Domingos Olímpio, Sinha Vitória, de Graciliano Ramos, e Maria Moura, de Rachel de Queiroz. Subscrevo a lúcida apreciação de Carlos Appel: "Heliodora é um sopro de vida na atual literatura brasileira."

Abraço fraterno do amigo e leitor

Edmílson Caminha

OLHO D’ÁGUA


    Escondido entre pedras, gramíneas, orquídeas e arbustos discretos, o olho d’água espiava uma nesga de céu azul. Vinha de longe, de profundidades silenciosas, retorcendo-se por entre camadas de rochas, infiltrando-se pelas veias da terra desde tempos imemoriais. Era um olho só na face enrugada, envelhecida pela pátina dos séculos, milênios ou anos-luz.
Era filho do gelo, da nuvem, da chuva. Borbulhava incansável. A pupila brilhava e cintilava mirando o sol. Quantas noites guardou na retina a palidez da lua! As lágrimas do olho d’água desciam pelas rugas do chão num choro suave e num cantarolar monótono, adormecendo as pedras. Corriam na direção do mar, levadas por riachos e rios, e quebravam-se nas areias da praia.
Um dia, notei que as sobrancelhas vegetais que circundavam o olho d’água perdiam a cor verde, amarelavam, secavam. Não longe dele, um trator arrasava plantas e o fogo deixava cadáveres em pé ou incinerados no chão. A esclerose do solo atacou o olho d’água. As lágrimas foram secando, a cegueira obscureceu o olho d’água. Uma pequena cova no rosto da terra era a cicatriz do golpe que arrancou o olho d’água. Ainda há sol e lua, nuvens e chuvas, mas o olho d’água não vê mais.
Arrancaram sem pena meu olho d’água. Por isso, há anos, protejo os olhos d’água que ainda restam no rosto belo da terra cerratense.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O XIXI DO JORNALISTA

O jornalista que não pensa e apenas repete o que ouve não informa, deforma.
Daniel Paese, jornalista, teve paciência para pôr os pingos sobre os muitos iis.

Ao colega José Pedro Goulart.
   Colunista de Zero Hora.
   Balneário de Camboriu – SC.
   
   Hoje, 04 de maio de 2011, ao ler o jornal Zero Hora como de costume, chamou minha atenção o conteúdo de sua coluna. O próprio título já denuncia sua posição de intolerância e de aplauso aos meios violentos para a solução de diferenças quer entre indivíduos, quanto entre povos e nações. Sua contribuição jornalística segue o tom dos comunicadores domesticados pela ideologia mais fácil e rendosa que aconselha sempre ficar ao lado do mais forte e não daqueles que buscam a verdade
   Até no linguajar faltou-lhe serenidade e dignidade. Os termos repetem a odiosa prepotência bruta do mais forte. A pessoa humana como valor supremo passou a ser na sua visão um saco de lixo. Osama Bin Laden, um dos grandes profetas reformadores modernos, ainda que em sua luta tenha cometido excessos, não merecia o tratamento que sua coluna lhe dedicou. Mas, é bom que se diga que por trás de sua coluna está uma pessoa humana  e que o colega não soube tratar com o devido equilíbrio e o necessário bom senso.
   Se alguém  “fizesse xixi “ em cima de sua coluna, ainda assim mereceria complacência, pois estaria menosprezando a utilidade e a nobreza natural de um pedaço de papel. Agora, recomendar “fazer xixi” em cima de uma pessoa humana, isso demonstra total perda respeito e indulgência.
   Por qual razão tanto ódio cantado em prosa e verso contra um homem que foi levado a buscar sua justiça quando viu seu povo e sua gente serem trucidados em nome de interesses meramente econômicos e em escala mundial? Quem poderia explicar a doentia alegria externada por governantes que formam o bloco mundial de opressores dos povos mais pobres e desarmados? Por quê sua alegria e a de tantos colegas que servem ao GRANDE IMPÉRIO, em troca de favores nem sempre bem explicados, diante da morte de um lutador pela paz?
   Para dialogar mais um pouco sobre o tema com o colega  basta que coloquemos sobre a mesa virtual que nos separa o princípio de que TODA A AÇÃO PROVOCA UMA REAÇÃO. Se o nobre articulista plantar uma roseira, na certa colherá rosas. Se plantar um pé de sucará, terá espinhos longos e venenosos. Assim acontece  nas ações individuais ou coletivas. Ou nas ações entre povos e entre  nações. Ao bem recebido sempre há um sorriso de resposta. Ao mal sofrido, normalmente, o troco levará a mesma marca. Então vejamos-
   Foram os EUA que, se supõe,pois não existem provas concretas, tiraram a vida de Osama Bin Laden, como represália a atentados a ele atribuídos e que tinham como alvo pessoas americanas e ou interesses americanos  e de seus aliados espalhados pelo mundo todo. Ninguém discute a supremacia americana sob o aspecto político-militar que se manifesta até mesmo nas decisões tomadas pela ONU e pelos países que a integram, só para preservar os próprios interesses, não se importando que os demais povos venham a sofrer as crueis conseqüência. Mesmo considerando o alcance dessa supremacia é necessário que se diga que o MODELO DE DESENVOLVIMENTO dos EUA, os métodos usados para atingir tão amplo poder político e de dominação internacional e o próprio modelo de vida de sua população, jamais será um exemplo a ser recomendado ou seguido para outros países. É um modelo egoísta e de humilhação para os demais países que não concordarem com os termos de sua cartilha geradora de exclusão direta ou indireta. A política externa americana de forte cunho militarista, sempre optou pela promoção de invasões injustas e sem motivo, guerras, atentados, intromissões na esfera da autodeterminação dos povos, acarretando milhões de mortes, sofrimentos, feridas e dores sem conta, especialmente no transcorrer dos últimos três séculos, XIX, XX e XXI.
   Do ponto de vista geopolítico, José Pedro, a ordem mundial advinda após a GUERRA FRIA, passou a ser liderada e comandada pela lógica de ferro dos interesses norte- americanos, respaldada por uma gigantesca máquina militar que só tem olhos para vantagens econômicas e dominação global. No início deste século a política externa dos EUA leva a marca odiosa do UNILATERALISMO  que não leva em conta as   necessidades de outros povos e países, desde que seus interesses sejam preservados e a supremacia mantida.
   Podemos citar aqui para esclarecer ao colega alguns exemplos de posições unilaterais adotas pelos EUA- A RECUSA em ratificar o Protocolo de Ky0t0, em 1998, alegando que iria inibir seu desenvolvimento econômico, devido às metas de redução dos gases nocivos. A RETIRADA de sua representação na Conferência Mundial contra a discriminação e o racismo, que teve lugar na Àfrica do Sul, em 2001. A RECUSA em assinar os termos para a criação do TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL. Aumento do PROTECIONISMO COMERCIAL de alguns produtos agrícolas, onerando e prejudicando as exportações de vários países, entre eles o Brasil. E por fim, invadiram militarmente o Iraque, junto com o Reino Unido e Europa, sem razão plausível para derrubar o governo de Saddam Hussein.
   Como resposta aos atentados de 11 de setembro de 2001 e em nome de movimentos bélicos preventivos, os Estados Unidos invadiram o Afeganistão onde até hoje permanecem cometendo todo tipo de crimes e com o apoio farisaico dos aliados e da mídia corrupta mundial, sob o pretexto de eliminar terroristas e, em especial Bin Laden. As intervenções militares no Afeganistão e posteriormente no Iraque se basearam em uma nova ´política que justificaria a ação dos EUA, independentemente da aprovação da ONU, chamada GUERRA PREVENTIVA. É a velha e velhaca teoria de Maquiavel quando afirma que os fins justificam os meios. Tanto a invasão do Afeganistão, quanto do Iraque, foi realizada sem nenhuma prova que a justificasse e muitos analistas afirmam que o ataque de 11 de setembro de 2001 apenas criou as condições favoráveis e serviu de alegação e desculpa para que os EUA atuassem de acordo com seus próprios interesses econômicos, assumindo presença e domínio em regiões estratégicas do planeta, sempre de forma unilateral. A forma como essa hegemonia tem sido assegurada é denominada de “ PAX AMERICANA”, EM COMPARAÇÃO COM A “ PAZ ROMANA “, adotada pelo imperador Romano Otávio Augusto. Roma estabeleceu a paz e a ordem dentro de suas fronteiras pela violência e forte repressão a qualquer tentativa de sublevação. Os outros povos deveriam se contentar com sua condição de escravos. Roma impôs as leis romanas a todos os territórios controlados pelo império. As intervenções militares americanas ao longo da história moderna e especialmente no século XXI, o poder de decisão sobre questões internacionais, inclusive aquelas que afetam diretamente a soberania dos Estados, a unipolaridade militar, a política recentemente adotada de guerra preventiva, a imposição de seus valores e a definição da forma de governo em outros países de tradições e culturas diferentes, como é o caso do ORIENTE MÉDIO, do AFEGANISTÃO e do IRAQUE, são as razões que justificam a PAX AMERICANA no contexto geopolítico do mundo atual. A justificativa normalmente dada pelos EUA de estarem agindo por questões humanitárias e defesa da paz entre os povos, não passam de balela como foi no império romano.
   Os fatos ilustram melhor que as palavras as afirmações acima. De 1846 a 1947, os EUA inspirados em sua idéia de tomar conta do mundo, realizaram entre invasões, atentados, guerras, genocídios e intromissões na vida de outras nações mais de 55 ações assassinas, levando ao sofrimento milhões  de pessoas, entre mortos,  feridos e inválidos, sem se falar na rapinagem dos recursos naturais, destruição do meio ambiente e na imposição dos males que a miséria, a ignorância e a escravidão geram. É só o colega compulsar os manuais que relatam a história do período citado ou os livros CONFISSÕES DE UM ASSASSINO ECONÕMICO, GLOBALIZAÇÃO DO CRIME  e MAcMAFIA.
   Existe exemplo mais elucidativo do que a guerra do Vietnã com todo o seu corolário de horrores, imposta a um povo miserável, onde milhões de pessoas inocentes e o próprio meio ambiente foram assassinados pelas mãos das forças americanas? E os americanos que ali morreram estupidamente, a mando de presidentes imbuídos e guiados por meros objetivos materiais? Nem do próprio povo eles têm pena. É a política do vale tudo. Resultado – morreram  dois milhões de vietnamitas, três milhões ficaram inválidos ou feridos, milhares de crianças órfãs e doze milhões de refugiados. Do lado do EUA morreram 57.685 mortos. 153.303 feridos e inválidos, 587 prisioneiros e 2.500 soldados perdidos em ação. E os Vietcongs apenas queriam defender sua casa e seus direitos contra um invasor insano e brutal que até hoje tem defensores.
   Realmente quem viveu a plantar sucarás por tanto tempo, não pode estar esperando colher rosas perfumadas. Colunista José Pedro Goulart, tua diatribe contra o maior e mais corajoso profeta moderna a se insurgir contra o Império do Mal –os EUA e seus aliados e acólitos menores da mídia, não passa de má fé ou de desconhecimento da verdade histórica. Será que Bin Laden e outros insurgentes não são derivações, decorrências de tantos anos de violência, corrupção, maldade e horrores praticados pelos EUA e seus capachos aliados?
   Que moral e legitimidade têm os americanos em querer justificar a morte de Bin Laden, quando eles mesmos não passam de assassinos covardes e que se escondem atrás de uma cortina de força bruta, como se não vivêssemos num mundo civilizado? Por qual razão um homem tão franzino e débil, tão  "desprezível”, segundo teu infeliz texto, seria tão temível a ponto de colocar em polvorosa o IMPÉRIO americano? OU os EUA e seus vassalos são um castelo de cartas ou o Bin Laden, realmente era o GRANDE CAVALEIRO DA ESPERANÇA na defesa dos mais fracos.
   Sem citar outros atores americanos, protagonistas de tragédias universais em nome de valores mesquinhos,  fiquemos com o BUSH pai e BUSH filho que levaram à morte, não 3 mil ou quatro mil pessoas, escondidos atrás do TERRORISMO DE ESTADO, mas milhões de pessoas no Iraque e no Afeganistão, o que escreveria o colega sobre os citados terroristas? Mataram Hussein e Bin Laden sem ao menos o benefício de um julgamento. E eles estão vivos e sendo homenageados. Dois pesos e duas medidas. Não vais escrever algo sobre os nomeados assassinos? E sobre o camaleônico e bandido Barack Obama que está a continuar a missão assassina dos BUSH, o que tens a dizer aos teus leitores?
Para concluir, colega José Pedro, digamos que da próxima vez sua pena respeite ao menos a verdade histórica se sua coragem não lhe permitir, já que terá de deixar de ser um mero peão dos que acham que são donos do mundo a qualquer preço.
Humanamente.

Jornalista – Daniel Paese.

terça-feira, 3 de maio de 2011

ÉTICA DO PASSADO




O Assessor da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, ex-comunista, meu contemporâneo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, nos anos 60, membro da cúpula da Federação de Estudantes do Rio Grande do Sul e, eu, secretário de Relações Sindicais, pensávamos, naqueles anos passados, um país justo e honesto.
Nós queríamos, ingenuamente, chegar ao poder pelas armas, na trilha da gloriosa revolução cubana, uma vez que pelas eleições parecia impossível. Garcia, porém, adaptando-se à camaleonice dos novos tempos do crescimento econômico, à sombra da bandeira da pobreza, chegou ao governo na companhia de velhas raposas que, antes, jurara de morte. A última vez que nos encontramos, casualmente, foi numa esquina de Paris, há mais de 12 anos. O tempo passou.
Nos nove anos de Casa Presidencial, Marco Aurélio Garcia tem dado entrevistas e expressado opiniões no limite da lucidez esquerdista que, por várias vezes, atingiu frontalmente o bom senso. O tempo passou. Passado é passado. Novos conceitos da história, fundamentados na fantasia do Brasil potência, embalados pela insensatez do crescimento econômico, tomaram todo o espaço do raciocínio da esquerda desvairada e esquizofrênica.
Ontem, 30 de abril de 2011, trinta anos depois do temerário incidente do Rio Centro, na reunião do conselho de ética petista se concretizou a reabilitação política de Delúbio Soares, amigo pessoal do ex-presidente Lula. Delúbio Soares é réu em processo que corre no Supremo Tribunal Federal. Marco Aurélio Garcia defendeu a acolhida de Delúbio pelo PT e sem constrangimento ou vergonha justificou os argumentos que recolheram o desafortunado companheiro da rua da amargura e da “execração pública”, segundo palavras de compaixão cristã da senadora Martha Suplicy. Para Marco Aurélio Garcia, o veredito da assembleia petista se ajusta à ética do futuro. “Não vejo – diz Garcia – que Delúbio seja uma pessoa corrupta. Não fez nada em benefício próprio. Houve gestão temerária que trouxe enormes prejuízos. Mas o tempo passou”.
As temerárias fogueiras da Inquisição, em nome de dogmas religiosos, trouxeram poucos benefícios próprios a Alexandre VI, Júlio II ou Leão X. Os temerários campos de concentração e os crematórios nazistas, em nome da pureza da raça, pouco ou nenhum benefício próprio trouxeram a Hitler. O temerário Gulag da ex-União Soviética, em nome da ideologia, poucos benefícios próprios trouxeram ao ex-seminarista Stalin. As temerárias torturas e os mortos nas masmorras do DOI/CODI, em nome do anticomunismo, poucos benefícios próprios trouxeram aos marechais e generais de nossos 25 anos de ditadura militar. O caso Delúbio não se relaciona aos mencionados pelo número de mortos, mas pela semelhança dos métodos de perversão mental, baseada na mentira e na negação dos fatos publicamente registrados, que achincalham gerações presentes e futuras. Mas o tempo passou.
Então, na sequência dos fatos inegáveis, há que se perguntar a Marco Aurélio Garcia e a todo o cabido da ética futura da política, por que manter presos os Battisti, os Cacciola, os Fernandinho Beira-Mar e os 450 mil presos em cárceres desumanos deste país. Em pouco tempo, estarão todos condenados ao passado.
O tempo passou. Os princípios passaram. A era do pensar passou com o tempo. A nova ética do tempo que ainda não passou produz ideólogos e vestais políticos escamoteadores, malabaristas, prestidigitadores, falsificadores da realidade, negociadores de estranhos valores capazes de extinguir o passado pela maquiagem do presente como nunca antes neste país. A que ponto de execração pública foi rebaixada a inteligência política de áulicos do governo, iludidos de exercerem o poder!
1.5.2011

segunda-feira, 2 de maio de 2011

COINCIDÊNCIAS DO PAC


Todo mundo sabe que a senhora Dilma, antes de ser eleita presidente, teve dois filhos, o PAC I e o PAC II. A testemunha ocular dos partos foi seu antecessor que declarou publicamente: Ela é a mãe. Não há informações de que, sendo presidente, Dilma poderá gerar outros, aumentando a família até 2014.
Esta sigla, milhares de vezes repetida nos últimos anos, está por PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO. Não entrarei no mérito da execução do Programa, pois essa é uma tarefa do Tribunal de Contas da União, órgão capaz de irritar presidentes por não aprovar as contas superfaturadas dos gastos em pontes, viadutos, represas, trem bala, aeroportos e portos.
A CNBB, com seu olhar crítico, apesar de aliada do governo, em suas reuniões de cúpula, recheadas de lições e opiniões de especialistas em economia e política, tratava ironicamente o PAC como Programa de Aceleração do Capitalismo.
Mas a mais contundente coincidência das siglas encontrei ao examinar de perto o imbróglio do escritor Cesare Battisti, refugiado no Brasil sob a pecha de criminoso, assassino, comunista e antigo membro do PAC italiano – PROLETÁRIOS ARMADOS PELO COMUNISMO – grupo de extrema esquerda atuante nos anos 70, também chamados anos de chumbo.
Cesare Battisti é simplesmente um escritor com 17 livros publicados, quase todos na França por editoras de renome como Gallimard e Flammarion. Entre outros, está traduzido para o português Minha fuga sem fim, (Martins editora), circulando nas livrarias do nosso país. Segundo informações extra-oficiais, o asilo político lhe foi dado pelo ex-presidente por ser escritor e não terrorista. Embora nos conselhos de segurança nacional se diga que um escritor é um terrorista em potencial e, por isso, seria perseguido na Itália.
O dilema que se põe ao STF é se o Brasil, com a união do PAC da Dilma com o PAC do Battisti e a ironia da CNBB, vai acelerar o crescimento, o capitalismo ou o comunismo.