sábado, 19 de março de 2016

AÇÕES PARA A GESTÃO DA ÁGUA

(Continuação da postagem anterior, com vistas ao II SEMINÁRIO ÁGUAS ACIMA, 21.3.2016, NO IHGDF, 14H30, 703/903 ASA SUL, BRASÍLIA)

POPULAÇÃO: PLANEJAMENTO FAMILIAR 

A redução gradativa da população em âmbito nacional e mundial requer ações imediatas com generosos investimentos em educação mediante programas nacionais, regionais e locais de planejamento familiar.
Esperar passivamente apenas nos efeitos da urbanização, na melhoria do ensino primário, nas ofertas de novos motivos de recreação ou nas dificuldades decorrentes de educação, de emprego e moradia, o decrescimento da população será lento e as dificuldades de administrar grandes populações serão quase insuperáveis.
 Brasil ainda cresce à proporção de uma cidade de dois milhões de habitantes, com problemas crescentes de emprego, moradia, educação e saúde. A ocupação do espaço geográfico é limitada e afrontar sua capacidade de suporte provoca sérios desgastes ambientais que multiplicam esforços e investimentos de recuperação de longuíssimo prazo.
O programa de planejamento familiar cuja meta visa ao equilíbrio entre necessidades básicas e oferta de bens limitados da natureza deve envolver a sociedade civil, ser democrático e entregue às mulheres não só pela função orgânica da maternidade como pela educação da prole e gestão da casa.
O ideal aponta para uma taxa de reprodução que não supere, em média a reposição simples ou manutenção de uma população cujas necessidades básicas possam ser individualmente satisfeitas. 

DEMANDA: REDUÇÃO DO CONSUMO DE ÁGUA 

Diante da situação hídrica mundial e das crescentes dificuldades de acesso à água no Brasil, impõe-se crescente e inteligente redução do consumo de água no âmbito individual, na produção de alimentos, no consumo de energia e na fabricação de bens duráveis (madeira, têxtil, aço, vidro).
O consumo per capita deverá entrar num amplo acordo social de interesse da sociedade para democratizar o acesso à água, estabelecer um teto além do qual serão impostas sanções proporcionais à não observância da lei. Controles administrativos, fiscais e financeiros terão que ser aperfeiçoados e sua difusão deve abranger não só os funcionários contratados como toda a população.
A extração de água mediante poços artesianos sem expressa autorização pública dos órgãos de controle deve ser fiscalizada por meio de sensores e imagens de satélites dirigidas sobre condomínios e áreas prováveis de exploração.
Investimentos em tecnologia e pesquisas biológicas serão necessários para produzir alimentos e bens de consumo duráveis com menor volume de água do que atualmente se usa.
A redução do consumo de água deve acontecer por pessoa, por unidade doméstica, por unidade de produção (empresa, órgão público) e por produto. A redução do uso de água em variadas atividades produtivas demonstrará o custo-benefício dos investimentos supérfluos, a possibilidade de restrições, sanções, racionamento, alternância na distribuição e o sobrepreço acima de determinado limite em períodos de estiagem. 

OFERTA: CAPTAÇÃO E FLORESTAMENTO

       Dada a limitação cada dia maior do acesso à água pela população mundial e, especificamente, do Distrito Federal em razão do superpovoamento, a sociedade civil e o governo distrital devem atuar em duas direções: garantir a quantidade e a qualidade da água.
Uma das medidas urgentes a serem viabilizadas pela sociedade e pela administração pública é a captação das águas pluviais no âmbito da cidade de Brasília e na área rural. Distintas tecnologias de custos variáveis e algumas delas com custos mínimos podem ser imediatamente aplicadas para esse fim. Há dois mil anos, na região montanhosa de Gansu, no leste da China, a população consome, para todas as atividades sociais e econômicas, água captada da chuva e do derretimento das geleiras por meio de cisternas. A conservação da vegetação nativa constitui o mais eficaz fator de preservação dos cursos de água.
Metas anuais progressivas deverão ser fixadas de captação e uso de águas pluviais para limpeza urbana, irrigação de gramados e jardins e para produção de alimentos. Se a sociedade se mobiliza por suas próprias forças e recursos, em cinco anos a fisionomia do Distrito Federal terá um visual densamente verde.
O reflorestamento no DF deve ser intensificado por todos os meios, tanto na preservação de espaços verdes, quanto no plantio de árvores ao longo de rodovias e na multiplicação de pequenos parques para a purificação do ar, refúgio de pássaros e repouso dos habitantes.
A qualidade da água da chuva, das nascentes, córregos e rios do DF depende do tratamento de lixo urbano e das águas usadas.
Ao longo de rodovias devem ser construídos pontos de coleta de lixo que atualmente é jogado em grandes quantidades no meio da vegetação e levado aos córregos e rios pela chuva que desce das vias asfaltadas. A qualidade da água não depende apenas do tratamento químico que a encarece. Ela pode ser consequência mais econômica de atitudes e comportamentos civilizados da cidadania.

 Brigadas contra incêndios, móveis e temporárias, no período seco, precisam ser localizadas em áreas que abrigam mananciais ou nascentes para orientar a população a não atear fogo na vegetação e, em casos acidentais, prontamente debelá-lo.

sexta-feira, 18 de março de 2016

ARITMÉTICA DA ÁGUA


ARITMÉTICA DA ÁGUA

(Foto: Eugênio Giovenardi, Sítio das Neves) 

A água é necessária para assegurar a sobrevivência e a reprodução de todos os seres vivos do planeta. Para compreender a importância da água para todos os seres vivos, convém ater-se a algumas realidades do dia a dia. A fila da água é longa. O único ser vivo que desperdiça água pertence à espécie humana. Nenhum outro ser vivo desperdiça água.
No Brasil, há muita água onde não há gente e muita gente onde a água é escassa.


1ª. REALIDADE:
 A fila da água.

Não é só a espécie humana que precisa de água.
Quando se fala em água, a torneira, a geladeira, o chuveiro, o vaso sanitário, a cozinha, a máquina de lavar, o asseio da casa, o lava-jato são preocupações da espécie humana.
Quando falta água, a gente lembra da represa vazia, volume morto, chuvas, racionamento, rodízio, torneira seca. Surgem alternativas, soluções individuais, estratagemas, reuso.
- Uma pessoa leva no corpo 70% de água. (pessoa de 60 kg leva 42 l de água). Mais da metade de nosso corpo é água.
- Uma árvore de 1.000 kg pode conter 1.000 litros, volume igual a 100% do peso.
- Um animal de 400 kg contém 280 litros, suficiente para abastecer 2 pessoas num dia.
- Uma pessoa requer 110 l/dia como volume ideal (OMS)
- Um bovino que, ao longo de 4 anos, alcança 300 kg, consumiu 4.5 milhões de litros, média de 3.082 por dia, contando o desgaste ambiental para sua reprodução. 212 milhões é a população bovina no Brasil.

Esses bilhões de litros de água que bilhões de pessoas, bilhões de animais e bilhões de plantas carregam em seus corpos, chama-se consumo consuntivo e não estarão disponíveis para encher represas, nem voltam com a chuva. É como comer uma laranja. Acaba e não volta para a laranjeira. A gente tira da conta da água e não repõe. Só a chuva e o degelo podem repor.

Não se tem notícia de que, no país, alguém morreu de sede. Mas como não estamos sozinhos na fila, no NE, centenas de animais morrem por falta de água.
A espécie humana é o único ser vivo que seca nascentes, lagos e rios, corta árvores, destrói a vegetação nativa preservadora de água. Dificulta o acesso à água poluindo rios, lagos e represas. Os investimentos águas abaixo não resolveram o acesso democrático à água.
O Rio Grande e o Colorado na Califórnia, EE UU, não chegam mais ao mar Caribe. O Rio Doce, Brasil, em 2014, pela primeira vez, não desembocou suas águas no oceano

Uma pessoa precisa de 110 litros diários de água (OMS), para atender suas necessidades e só parte volta aos rios e ao mar.
Um bovino consome 15.000 litros de água para ganhar um kg de carcaça. Essa água não volta para o mar.
As árvores precisam de água para sobrevier, se reproduzir e contribuir para a recarga dos aquíferos. Parte dessa água que fica nas árvores não volta para compor a próxima chuva. Mas as árvores retêm mais de 35% das águas da chuva e alimentam os lençóis subterrâneos.
A aliança inteligente da espécie humana é com as árvores e não com os bovinos.


2ª REALIDADE:

 População e água:

A população do DF cresce além do razoável.
Demora-se em tomar medidas racionais para conter a população. A natureza das coisas cria um mosquito para alertar sobre os perigos da superpopulação e a super-reprodução.
O DF registra 3.200 nascimentos por mês (106/dia), cuja soma é de 38.400 novos habitantes por ano. Somados os imigrantes que vêm residir no DF, o número chega a 45.000, o que equivale a um Núcleo Bandeirante/ano.
Esse crescimento explosivo é uma das principais causas do caos administrativo na saúde, na educação, no transporte somado ao desmatamento, à impermeabilização do solo e ao desafio permanente ao acesso à água nos próximos dez anos.
Cada criança que nasce precisa de 110 litros de água/dia, creche, escola, energia elétrica, comida, transporte. Não é por nada que, o DF mantém 237.000 desempregados, seis vezes o número de nascimentos, ou seja, milhares de crianças já nascem desempregadas, com sede, com fome e sem lar.
O alerta da superpopulação já foi dado. A densidade populacional sugerida por Lucio Costa era de 11.740 m2 por habitante, num total de 500.000 habitantes em seu projeto de cidade-parque e, hoje, é de apenas 1.956 m2, para uma população de quase 3 milhões.  A desigualdade ecológica se consolida, ao lado da desigualdade estrutural.
A população cresce e o volume de água é sempre o mesmo. A advertência é cuidar, proteger, fortalecer as nascentes, córregos acima. O nosso aliado são as árvores.  
O controle do crescimento da população é condição imprescindível para a sustentabilidade hídrica.

3ª REALIDADE:
Água por habitante – DF

Vivemos, no DF, uma situação hídrica de permanente escassez.
O consumo médio oficial por habitante, informado pelo órgão competente, é de 190 litros/dia. (média é um argumento estatístico). O consumo humano direto diário de água, no DF, situa-se ao redor de 600.000.000 de litros, sem contar o consumo agrícola. No período de estiagem, o consumo é maior do que a vazão. Parte da água vem de fora do DF.
Uma das medidas administrativas seria estabelecer um volume mínimo: 110 litros dia a custo moderado e democrático. Ou estabelecer a média, hoje estimada em 190 litros. Ultrapassado o mínimo até a média, cobrar um valor pelo excedente. Mais de 190 litros, o valor deveria ser acrescido de 100 ou 200%.

Vazão. A disponibilidade diária de água para o brasiliense é de 1,4 m3 (1.400 litros). Situação preocupante. O ideal, segundo a ONU, para segurança hídrica é de 4,8 m3 (4.800 litros). Isto significa manter na conta da poupança de água volume suficiente para as épocas de escassez. Nesta escala:
500 m3 hab/ano (1,4 m3 situação de Brasília) = escassez
500 m3 a 1.700 m3 hab/ano = situação apertada
> de 1.700 m3 hab/ano = situação confortável.
Quando o uso consuntivo da água, isto é, o volume de água que não volta ao rio, representa apenas 5% de toda a retirada, considera-se excelente economia.
Entre 5 e 10%, é confortável
Entre 10 e 20%, situação do DF, é preocupante, pois sobram 80% da disponibilidade para o retorno aos rios. O superpovoamento torna mais intensa a busca de água secando poços e causando o racionamento ou o rodízio.
Entre 20 e 40%, situação crítica, quando há grandes investimentos em agricultura e outras atividades.
> Acima de 40%, situação fora de controle.
(Caderno de Recursos Hídricos, ANA, maio 2005, MMA, Marina Silva)

Água e energia.
A média de consumo/dia de energia por habitante é de 3 KW. Para gerar um KW de energia são necessários 6.660 litros de água, ou 3 x 6.660 = 19.980 litros  gastos em energia. Essa água está armazenada nas represas longe de Brasília. Multiplicando-se por 3.000.000 de habitantes obtém-se um respeitável volume de 59.940.000.000. Essa água volta ao mar, mas as represas se esvaziam a ponto de chegar ao volume morto se não chover.
Racionamento e black out são as consequências.
Se quiser poupar água, apague a luz.

4ª REALIDADE:
ÁGUA DA CHUVA

A precipitação anual no DF varia entre 1.650 e 1.700 mm, ou 1.700 litros por m2. Ano mais, ano menos. (Dados do pluviômetro da ANA instalado do Sítio das Neves, DF.
A vazão média da Bacia do Paranaíba é de 11.453 m3/seg. Na estiagem pode baixar a um terço, 4.647 m3/seg.
A oferta total de água no DF é de 9 m3 p/seg. O consumo urbano, segundo a WWF, se iguala à oferta. Algumas áreas do DF têm escassez de água e muitos poços tubulares e artesianos secaram.
A precipitação irregular, a formação geológica, a impermeabilização intensiva, o desmatamento, as queimadas dificultam a infiltração para recarga dos aquíferos. A água que chega aos aquíferos apenas representa 5 a 12 % das precipitações.
1 mm = l litro/m2
150 mm equivalem a uma lâmina de água de 15 cm por m2. Se não houver bom escoamento, como no estreitamento dos córregos de nossas cidades, a inundação é fatal.
Precipitações em mm equivalentes em litros por m2, registrado no pluviômetro da ANA, instalado no Sítio das Neves, BR 060, Km 26, Engenho das Lajes, Recanto das Emas são as seguintes:
2013 – 2.255 mm ou 2.255 l/m2. Lâmina de 2,2 m/altura
2014 – 1.677 mm ou 1.677 l/m2. Lâmina de 1.6 m/altura
2015 – 1.642 mm ou 1.642 l/m2. Lâmina de 1.6 m/altura
A diminuição do volume pluvial e a irregularidade das precipitações evidenciam a necessidade de captação de águas pluviais, na área rural e urbana.
A precipitação anual no DF pode alcançar 4,6 trilhões de litros, com média diária de 13 bilhões de litros. Estima-se que 80% dessa água rola rios abaixo.

Poços artesianos.
É a saída mais fácil para contornar a escassez de água, mas pode causar dificuldades futuras para a população. Poços tubulares, artesianos e cacimbas também secam. Medidas de prudência indicam que a captação de águas da chuva pode diminuir o risco de se ter, no futuro, água escassa e cara.
A Adasa registra a existência de 36.500 poços artesianos dos quais apenas 6.500 são registrados. Novas normas foram expedidas pela Adasa para licença e outorga de uso de água proveniente de poços artesianos.


5ª REALIDADE:
Água e Lixo

Lixo no chão: baixo indicador de educação e civilidade
A população de Brasília produz 3 milhões de kg de lixo por dia, o equivalente a um kg por habitante.
Para onde vai o lixo?
Céu aberto      (beira de rodovias         113 toneladas
Aterro controlado                              2.159 toneladas
Aterro sanitário                                      228 toneladas
Compostagem                                        521 toneladas
Incineração                                               23 toneladas

Como exemplo: do km zero da BR-060 ao km 9 há 23 pontos de lixo, além do esgoto a céu aberto. Por que não construir pontos de coleta em linha, de dois em dois km para, orientar a população a levar o lixo nesses abrigos?
Águas usadas, esgotos, lixo à beira das rodovias poluem córregos, rios, lagos e aquíferos.
Se ainda temos água, e cada dia menos, sua qualidade preocupa e as doenças dela proveniente trazem preocupação ao serviço de saúde pública. A proliferação do mosquito Aedes Aegypti e outras espécies é consequência de lixo e esgotos não tratados.


6ª REALIDADE:
Consórcio árvores-água.

As árvores captam aproximadamente um terço das águas da chuva
Aumentam a conta de poupança de água com a recarga dos aquíferos
Oxigenam o ar e melhoram a umidade
Dão sombra ao caminhante e são abrigo de pássaros.


GRITO REVOLUCIONÁRIO DO SÉC. XXI:
PLANTAR ÁRVORES!
Nas cidades satélites, nas margens das rodovias, à beira de nascentes, às margens dos córregos.

Leituras:
ÁGUA NO SÉCULO XXI, José Galizia Tundisi
ÁGUA NO TERCEIRO MILÊNIO, Vários Autores
ÁGUA COMO MATRIZ PEDAGÓGICA, Vera Catalão
EM BUSCA DA ÁGUA, Brian Richter
O RETORNO DAS ÁGUAS, Eugênio Giovenardi

(CONTINUAÇÃO DA POSTAGEM  ANTERIOR PARA O SEGUNDO SEMINÁRIO ÁGUAS ACIMA, NO INSTITUTO HISTÓRICO GEOGRÁFICO DO DF, DIA 21.3.2016, A PARTIR DE 14H30)

Brasil, Rússia, Canadá, China, Indonésia e Colômbia abrigam metade da água doce do planeta. Só o Brasil possui 12% de toda a água doce. Por ironia da natureza ou por sua sabedoria, há muita água onde pouca gente mora e pouca água nas regiões mais povoadas.
Esta distribuição geográfica da água é um risco permanente. Qualquer erro humano que cause dificuldades ao curso das águas, as populações são afetadas por secas, por inundações ou por degeneração da qualidade da água. Em São Paulo, 6 a 7 milhões de pessoas ficaram, em 2014, sem água por longo período. Em Minas Gerais, a atividade da mineração por empresas ligadas à Vale causou não só a morte de pessoas e animais como a degradação quase mortífera do Rio Doce. A lama dos minérios foi semeando a morte ao longo de vales e rios. Conclui-se que não é suficiente ter grande quantidade de água. É preciso que ela chegue igualitariamente, todos os dias, a todas as pessoas e que sua qualidade garanta a saúde da população.
De onde vem a água? O ciclo da água é uma rotina da natureza: evaporação do mar e das florestas, formação de nuvens e chuvas que se armazenam nas nascentes, nos rios que voltam ao mar para retomar o ciclo.
A oferta de água é um ato exclusivo da natureza e obedece ao funcionamento do ciclo antes descrito. O que todas as formas de vida necessitam é a disponibilidade diária de água. Como todos os seres vivos, a espécie humana se fixa nas proximidades das fontes, cursos ou reservas de água.
As árvores penetram suas raízes na terra em busca de água, mas também abrem caminho para a infiltração das águas da chuva que reabastece os aquíferos. As águas dos aquíferos brotam nas nascentes e formam riachos, rios e lagos. É das florestas e das águas que milhares de espécies de animais obtêm seu sustento para a reprodução da vida.
O abastecimento de água oferecido à população pelos órgãos públicos se origina de represas ao longo de rios ou diretamente deles. A espécie humana, principalmente nos últimos 15 mil anos, aprendeu a construir reservatórios de água. E, nas últimas décadas, monstruosas barragens mudaram o fluxo natural dos rios. Vastas regiões foram inundadas, causando alterações no clima com frequentes desastres ambientais. O crescimento explosivo da população e as formas diferentes de organização social desembocaram em estratagemas econômicos para a alimentação e reprodução da espécie humana.
As florestas, os rios e o mar se revelaram insuficientes para alimentar a vida no planeta. A devastação das florestas para produzir alimentos em favor da espécie humana extinguiu a fonte nutritiva de muitas espécies que, há milênios, constituíam a base da interdependência dos seres vivos.
No entanto, foi com o advento da produção agrícola irrigada – Revolução Verde – que grandes, longos e caudalosos rios passaram a correr secos em alguns períodos do ano e até para sempre. O Indus e o Mekong, na Ásia, o Colorado e o Rio Grande, nos Estados Unidos da América, e dezenas de rios, no Brasil, correm secos por longos trechos ou simplesmente desapareceram.
Hoje, no Brasil e em outros países, há regiões que dependem quase só da água da chuva. As principais ofertas de água são a chuva e o degelo. A estratégia mais inteligente que se possa administrar para garantir a disponibilidade de água é captar essas águas quando se apresentam. Mas, para isso e ao mesmo tempo, reflorestar intensa e ordenadamente os espaços para que parte das águas voltem aos aquíferos de reserva subterrânea.
Há que distinguir, no manejo da água, aumento da oferta de aumento da disponibilidade da água com qualidade necessária à saúde humana.
A oferta da água é inelástica e está a cargo da natureza. O ciclo das águas e o regime de chuvas é variável, mas a quantidade é a que o planeta guarda em seus armazéns sem intervenção humana. A oferta de água não tem mercado cativo. Destina-se indistintamente a todas as espécies vivas. A espécie humana é única que pode alterar o uso dessa oferta e causar a morte de outras espécies pelo direcionamento exclusivo a seus interesses. A mão humana, na prática de suas atividades econômicas, sociais e de saúde, é capaz de construir reservatórios para facilitar a distribuição da água aos usuários. Para essa função de levar água a quilômetros de distância, o ser humano abre poços a grandes profundidades, interrompe o fluxo dos rios ou os desvia. É de se notar que essas represas monstruosas não se destinam só ao abastecimento de água. Geram eletricidade. São áreas de lazer e esporte e fontes de alimentação humana.
Sobre as consequências ambientais e ecológicas dessas barragens há estudos científicos e manifestações de habitantes expulsos de suas terras que demonstram a atitude autoritária da espécie humana sobre si mesma e outras formas de vida.
A mais complicada dificuldade humana de prover-se regularmente de água é o próprio crescimento da população ao longo e largo do planeta. A sobrevivência e a reprodução da espécie humana dependem de sua limitada capacidade de abastecer-se de água a qualquer distância em que dela se encontre. Em segundo lugar, dependem de sua limitada capacidade de produzir, sem água, o variado cardápio de alimentos necessários à manutenção de suas funções orgânicas. As proteínas e vitaminas animais e vegetais demandadas pela população mundial dependem fundamentalmente do uso de água.
No Brasil, não são só os 204 milhões de habitantes que usam diariamente água potável. Os 212 milhões de bovinos, outros milhões de ovinos, caprinos e aves domésticas juntos consomem rios de água que ingerimos na forma de carne. (Alguns milhões de bichos de estimação requerem importante volume de água para distintas finalidades.) O que sobra para plantas e para toda a variedade da fauna é cada vez menos.
Qualquer ação destinada a compreender e respeitar a essência ecológica do planeta – água – deve incluir medidas que controlem o crescimento populacional da espécie humana. Em consequência, diminuir-se-iam milhões de consumidores de água mantidos vivos para desfrute humano. Em outras palavras, com menos consumidores de carne animal teríamos menos rebanhos secando florestas e rios. É bom lembrar que para produzir um quilograma de carne bovina se necessitam 15 mil litros de água. Compra-se água virtual e invisível extraída de fontes desconhecidas da maior parte dos que clamam por água na torneira.
A preservação do ambiente não corre risco por parte de beija-flores, borboletas e peixes do mar e dos rios. O risco e o fato de se extinguirem vidas se originam na espécie humana. A busca do equilíbrio populacional é uma obrigação da espécie humana consciente e deve ser de seu interesse. A interdependência de todos os seres vivos é uma lei natural compreendida por todas as espécies que formam a cadeia trófica.



quinta-feira, 17 de março de 2016

CONSUMO DE ÁGUA

NO PRÓXIMO DOMINGO, 20.3.2016, COMEÇA A SEMANA MUNDIAL DA ÁGUA. O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO CELEBRA COM O SEGUNDO SEMINÁRIO ÁGUAS ACIMA, DIA 21.3.2016, 14H30.

O consumo de água, na cidade, varia de lugar para lugar e depende fortemente da renda dos consumidores. A variação dos volumes consumidos é demonstrada por região, bairro e atividades sociais e econômicas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece 110 litros/dia como valor mínimo para satisfazer às necessidades de cada pessoa.  Na cidade de Brasília, segundo estatísticas da CAESB, o consumo varia de 90 a 640 litros por habitante, discrepância que demonstra a desigualdade ecológica da população. O consumo estimado da população de Brasília (2,9 milhões/hab.) é de, aproximadamente, 640 milhões de litros diários. A extração e o consumo de água proveniente de poços artesianos estão fora de controle. O número de poços artesianos autorizados e os não autorizados pode chegar a 40 mil cujo volume utilizado pelos usuários é ainda desconhecido. Não foram encontradas informações sobre a profundidade dos poços para atingir os aquíferos, nem medidas compensatórias para a recarga dos armazéns interiores.
O consumo de água é medido basicamente pela quantidade distribuída e pelo volume consumido registrado nos relógios. É estimado um percentual de perdas no trajeto feito pela água na intrincada rede de distribuição. A margem de erro nessas medições pode não dar o volume realmente utilizado pela população em suas diversificadas atividades. Estima-se uma perda diária de líquido maior que 30%, o que revela deficiências das redes de distribuição. E as perdas por consumo consuntivo estimadas em 20%.   
As estatísticas demostram um consumo estático previsível, com variações medíveis que flutuam entre um máximo e um mínimo. O teto recomendado pela OMS nem vale para os que consomem mais nem para os que não atingem esse volume. É um indicador político da administração para diferentes usos em documentos e programas de governo. Nem o governo nem a sociedade civil determinaram, diante do crescimento da população e da escassez da distribuição de água potável um consumo diário com critérios ecológicos e de bom senso.
Os órgãos ou empresas de captação e distribuição de água no meio urbano registram o consumo estático por bairros, por grupos, por firmas industriais e comerciais. O uso de água na agricultura irrigada com captação em rios ou poços artesianos é medido por outros critérios: vazão por hora, volume por m2 ou hectare.
O volume de água embutido no consumo de energia é raramente divulgado. Especialistas apontam um volume de 6.660 litros para gerar um (01) KW de energia. Dependendo das regiões onde estão localizadas as represas e da irregularidade das chuvas, o consumo de energia pode esvaziá-las ou deixá-las com menor capacidade para rodar as turbinas geradoras. Um consumo de 3 KW por pessoa/dia requer a disponibilidade de 19.900 litros que se somam ao volume de água consumida pelo cidadão a cada dia. Umas das formas de poupar água é apagar lâmpadas e aparelhos eletrônicos.
É necessário informar permanentemente a sociedade sobre o uso e o consumo de água por pessoa/dia, por empresa industrial ou comercial e por unidade produzida em suas diversas formas de uso: volume de água por kg de soja, kg de carne, montagem de um carro, construção de um edifício de 10 andares, um km de asfalto, um m2 de jardim ou parque.



quarta-feira, 16 de março de 2016

ÁGUA LIMITADA



Para onde caminha o planejamento e a gestão da água que temos no DF e arredores?
Destaco três elementos fundamentais para esse trabalho administrativo que envolve a sociedade civil e os administradores delegados por ela para aplicar os impostos e o dinheiro arrecadados em favor da coisa pública.

POPULAÇÃO E ÁGUA


População é a razão de ser da administração pública. É ela, em nossa organização social e econômica, que oferece os meios financeiros para criar as condições de sobrevivência, reprodução e convivência social com o objetivo de trazer felicidade à espécie humana.
O aumento quantitativo da população está diretamente ligado à quantidade e variedade de alimentos que podem ser obtidos da natureza. Esses bens e riquezas naturais – água e alimentos – são limitados. Esses limites naturais indicam limites na reprodução de todos os seres vivos. Interdependência de todos os seres vivos – plantas e animais - é uma lei da natureza. Quando esta lei é rompida, todos os seres vivos são solidariamente afetados.
Está implícita na execução biológica de todos os seres uma taxa variável de reprodução. A taxa de reprodução pode ser intensa, em determinadas circunstâncias e precisa ser controlada em outras condições de escassez de bens naturais.
Tendo como critério a precedência ecológica – limites de bens e riquezas naturais – o crescimento da população humana, em todas as regiões do planeta, precisa ater-se à taxa simples de reposição. A taxa de crescimento demográfico não pode ser, hoje, igual à de épocas em que a abundância de bens convidava à reprodução generosa. Uma taxa de crescimento, hoje, acima da simples reposição, amplia a necessidade de maior ocupação dos espaços e intenso uso de bens e riquezas naturais.
A água é um dos elementos vitais mais frágeis da natureza e dela depende a sobrevivência e a reprodução de todas as espécies vivas. Não é igualitário nem democrático o acesso à água. A gestão pública e privada da água é discriminatória. Para planejadores e gestores a ecologia, na prática, está subordinada à economia. O racional é inverter a ordem do planejamento e da gestão dando precedência à ecologia como determinadora do que pode ser feito segundo o princípio da precaução. No Brasil, o crescimento da população é mais veloz do que o avanço da capacidade do governo e da sociedade para administrar o conjunto de necessidades no curto e no longo prazo.


(Continua ) 

quarta-feira, 2 de março de 2016

SEGUNDO SEMINÁRIO ÁGUAS ACIMA



MENSAGEM DO SEGUNDO SEMINÁRIO 

ÁGUAS ACIMA A SE REALIZAR NO DIA 

21.3.2016, NO INSTITUO HISTÓRICO E 

GEOGRÁFICO/DF, Q-703/903, ASA 

SUL, BRASÍLIA, A PARTIR DE 14H30.