quarta-feira, 24 de junho de 2020

CARTAS DA PRISÃO - BIODIVERSIDADE


CARTAS DA PRISÃO

BIODIVERSIDADE

Amigos, não sou biólogo, nem infectologista, nem virologista. Apenas ecossociólogo e escritor plebeu. Observo, há cinco décadas, o comportamento dos seres vivos do planeta. Aprendi nos velhos bancos escolares da natureza que, há milhões de anos, ela estabeleceu, como - primeiro mandamento, a biodiversidade; - segundo mandamento, a interdependência de todos os seres vivos; - terceiro mandamento, o ecossistema adequado para viver; - quarto mandamento, a luta dos seres vivos pela sobrevivência e reprodução; - quinto mandamento, os seres vivos se alimentam de outras vidas; - sexto mandamento, um sistema de predação para controlar a reprodução das vidas e os conflitos da interdependência.
Entre 2019/2020, um vírus novo está se manifestando entre nós. É um ser vivo. Faz parte da biodiversidade e da interdependência. Uma ou mais espécies vivas podem ter bulido com ele. Ele, então, luta pela própria vida. Defende-se de possível agressão. Nessa defesa, ele busca uma vida para se alimentar, sobreviver e reproduzir. A espécie humana não tem nacionalidade. Pertence ao planeta e à biodiversidade. O vírus encontrou nela um habitat acolhedor. É provável que, para se alimentar de outras vidas, a espécie humana tenha rompido, em algum ponto, o equilíbrio do sistema de interdependência dos seres vivos. A natureza acionou  o sexto mandamento e um guarda universal agiu para proteger e recompor a interdependência e a biodiversidade. A revolução da espécie humana no âmbito da biodiversidade provocou uma contrarrevolução. Desta vez, o líder contrarrevolucionário se chama Covid19. O armistício será longo e doloroso. A reconstrução da paz entre os seres vivos requer uma nova engenharia e uma nova arquitetura com novos engenheiros e novos arquitetos. Uma nova engenharia da regeneração da biodiversidade.
23.6.2020



terça-feira, 23 de junho de 2020

CARTAS DA PRISÃO - BILHETE DA ÍNDIA


CARTAS DA PRISÃO

BILHETE DA ÍNDIA

Amigos, nesta quarentena, neste isolamento com rosto de prisão voluntária, recebem-se mensagens de todos os lugares e em todos os idiomas. Até pedi ajuda do Prof. Ricardo Farret para interpretar uma mensagem que me chegou em árabe.
Recebo, hoje, sabedoria popular da Índia, via amigo que morou, nesse país, por dez anos. Diz o bilhete: “O cego pensa que todos ao redor sejam cegos. O surdo pensa que todos sejam surdos. O mudo, que todos sejam mudos. O louco, que todos sejam loucos. O idiota tem certeza que todos são idiotas.”
Pareceu-me, com algumas exceções, que os governantes e políticos do Brasil chegaram à mesma conclusão. Pandemia, pandemônio, nosocômio, manicômio.
#FIQUEM EM CASA E LEIAM!
#LAVEM AS MÃOS E TOMEM UM VINHO!

7.6.2020



CARTAS DA PRISÃO - NOVA REPÚBLICA


CARTAS DA PRISÃO

NOVA REPÚBLICA

Amigos, leio Florestan Fernandes (1920-1995), à sombra de um angico. Depois do período de governos militares, sinônimo de ditadura,  seis governos eleitos trouxeram na bagagem a bandeira de uma Nova República. O sociólogo, em 1985, escreveu um pequeno e substancioso livro interrogativo: NOVA REPÚBLICA? Aponta uma questão fundamental: democracia é um conceito abstrato, ideal ou operativo? Vivemos, neste quatriênio, uma Nova República. Nunca se falou tanto em democracia e ordem democrática. Três poderes independentes, mas harmônicos! Uma das conclusões a que cheguei é que a ignorância sobre democracia operativa está custando caro ao povo brasileiro. A nova república é comandada por um capitão eleito pelo povo. “A Constituição sou eu”, disse. O capitão está cercado de cinco generais. Três no palácio, um é ministro da saúde e um, na armada. No MEC, um ideológico contador financeiro tem na cartilha a ordem de prender os #$* ministros do STF e do Congresso Nacional. Quem os prenderia? A ignorância é cara, Não a educação. Na área ambiental, um jovem advogado, analfabeto em códigos da natureza, aproveita o descuido da imprensa para “passar a boiada” na selva amazônica. No Ministério da mulher, da família e dos direitos humanos, a vidente pretende “pegar pesado e mandar prender governadores e prefeitos” por cuidarem da vida dos cidadãos. Etecetera. Caro Florestan, ficamos com a democracia virtual, com desigualdades, com discriminação, com racismo, com desemprego, com assassinatos esquecidos, com corrupção consciente, com líderes políticos medíocres?  Por cúmulo, o invisível V19 não reconhece fronteiras, não pede identidade, nem CPF, nem CEP. Não quer saber com quem está falando e zomba da vacina do ano 2022, da cloroquina, do ventilador, do testador, da máscara, da quarentena. A democracia é resiliente, flexível, elástica, persistente, paciente, tolerante, libertária. Sua maior inimiga é a ignorância democrática em qualquer nova república.
15.6.2020



CARTAS DA PRISÃO - HEMORROIDA GOVERNAMENTAL


CARTAS DA PRISÃO

HEMORROIDA GOVERNAMENTAL

Amigos,
Há anos, tive um chefe, ao mesmo tempo meigo e irritadiço. A bronca tinha o mesmo valor do elogio. Ambos imprevisíveis. Um dia, percebendo meu receio de me dirigir a ele, me confidenciou: “Desculpe! Hoje, minha hemorroida me tirou do sério!” Compreendi melhor os rompantes do chefe. Contou-me, depois, frustrações no passado, perdas irrecuperáveis que disturbaram suas emoções diante de contrariedades do dia a dia. No vídeo apresentado na TV aberta, dando ciência de uma reunião ministerial do governo, o presidente gritou uma frase que me deu melhor compreensão de suas explosões rotineiras: “o que eles querem é a nossa hemorroida”! Esse desabafo suscitou-me uma atitude de simpatia diante da franqueza do presidente e pensei nas possíveis perdas que o acometeram em tempos passados. Ele revelou com sinceridade que o governo e a presidência sofrem de hemorroida emocional.

22.6.2020

quarta-feira, 17 de junho de 2020

CARTAS DE PRISÃO - NOVA REPÚBLICA

CARTAS DA PRISÃO
NOVA REPÚBLICA
Amigos, leio Florestan Fernandes (1920-1995), à sombra de um angico. Depois do período de governos militares, sinônimo de ditadura, seis governos eleitos trouxeram na bagagem a bandeira de uma Nova República. O sociólogo, em 1985, escreveu um pequeno e substancioso livro interrogativo: NOVA REPÚBLICA? Aponta uma questão fundamental: democracia é um conceito abstrato, ideal ou operativo? Vivemos, neste quatriênio, uma Nova República. Nunca se falou tanto em democracia e ordem democrática. Três poderes independentes, mas harmônicos! Uma das conclusões a que cheguei é que a ignorância sobre democracia operativa está custando caro ao povo brasileiro. A nova república é comandada por um capitão eleito pelo povo. “A Constituição sou eu”, disse. O capitão está cercado de cinco generais. Três no palácio, um é ministro da saúde e um, na armada. No MEC, um ideológico contador financeiro tem na cartilha a ordem de prender os #$* ministros do STF e do Congresso Nacional. Quem os prenderia? A ignorância é cara, não a educação. Na área ambiental, um jovem advogado, analfabeto em códigos da natureza, aproveita o descuido da imprensa para “passar a boiada” na selva amazônica. No Ministério da mulher, da família e dos direitos humanos, a vidente pretende “pegar pesado e mandar prender governadores e prefeitos” por cuidarem da vida dos cidadãos. Etecetera. Caro Florestan, ficamos com a democracia virtual, com desigualdades, com discriminação, com racismo, com desemprego, com assassinatos esquecidos, com corrupção consciente, com líderes políticos medíocres? Por cúmulo, o invisível V19 não reconhece fronteiras, não pede identidade, nem CPF, nem CEP. Não quer saber com quem está falando e zomba da vacina do ano 2022, da cloroquina, do ventilador, do testador, da máscara, da quarentena. A democracia é resiliente, flexível, elástica, persistente, paciente, tolerante, libertária. Sua maior inimiga é a ignorância democrática em qualquer nova república.
15.6.2020