sábado, 14 de janeiro de 2012

A MONTTANHA FERIDA

O poeta gaúcho Daniel Paese restituiu a alma à montanha com estes primorosos versos que o OBSERVADOR oferece aos leitores. As montanhas também choram ao lhe arrancarem a alma.

A MONTANHA FERIDA.



Ali na minha frente
está a enorme montanha
com fisionomia estranha
toda colorida
pelo belo sol da manhã.

Bem ali
ante meus olhos extasiados
está a majestosa montanha
abrigando com cuidado
verdejante floresta
com mil ninhos
canções de pássaros
gritos espantados de ventanias
e segredos
que só as nuvens brancas conhecem.

Quem disse
que as montanhas não falam
não sentem
e não choram?

Claramente escuto
a voz da bela e alta montanha
que senhora de si mesma
proclama aos quatro ventos
que sua idade é de milhões de anos
e sua alegre missão
carregar nos ombros verdes
com alegria e muito suor
florestas
pássaros
ninhos e nuvens.
Um ar de secreta magia
delineia e marca na verde paisagem
a IMAGEM
da misteriosa montanha
que parece viver
em estado de permanente meditação.

Olhando melhor
para a altiva montanha
vejo-a ferida de morte
e suas entranhas expostas
por criminosa cratera
que em mim dói e dilacera!

Pessoas aos milhares passam
e em cúmplice silêncio
contemplam a dolorosa
FERIDA
que mãos assassinas
abriram em seu coração
com brocas de aço
e dentes de ferro.

De nada servem
suas lágrimas e sangue
seus gritos de dor
e seu pranto!

As mãos assassinas
os braços de aço
com nada se comovem
e seguem dia e noite
na arte louca de rasgar
e triturar
as vestes verdes
e a alma da enorme montanha.

Sua dor
seu coração
selvagemente aberto
a ninguém enternece!
Os assassinos
derramaram seu sangue
sujaram seu encantamento
riram de seus gemidos
desprezaram sua dor
e seguiram adiante
com estúpido ar de inocência!

Ao cair da tarde
a silenciosa montanha ferida
de silhueta aflita
geme e chora baixinho
expondo
a todos os viandantes
que por ali passam
seu verde coração rasgado
que desde a criação do mundo
somente conhecera vozes de pássaros
cantos de fontes
afagos de ventos perfumados
e abraços de nuvens passageiras.

Meu coração não entende
os que passam diante de ti
e nem param e nem choram
ao ver-te de coração
aberto e sangrando!
Por que será
que as vozes de tua dor infinita
a ninguém irritam
e se perdem
nos labirintos tristes
do áspero moinho da indiferença?

DANIEL PAESE

Palhoça,l2 de fevereiro 2003-Sc.

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