O poeta gaúcho Daniel Paese restituiu a alma à montanha com estes primorosos versos que o OBSERVADOR oferece aos leitores. As montanhas também choram ao lhe arrancarem a alma.
A MONTANHA FERIDA.
Ali na minha frente
está a enorme
montanha
com fisionomia estranha
toda colorida
pelo belo sol da
manhã.
Bem ali
ante meus olhos extasiados
está a majestosa
montanha
abrigando com cuidado
verdejante floresta
com mil
ninhos
canções de pássaros
gritos espantados de ventanias
e
segredos
que só as nuvens brancas conhecem.
Quem disse
que as
montanhas não falam
não sentem
e não choram?
Claramente escuto
a
voz da bela e alta montanha
que senhora de si mesma
proclama aos quatro
ventos
que sua idade é de milhões de anos
e sua alegre missão
carregar
nos ombros verdes
com alegria e muito suor
florestas
pássaros
ninhos
e nuvens.
Um ar de secreta magia
delineia e marca na verde paisagem
a
IMAGEM
da misteriosa montanha
que parece viver
em estado de permanente
meditação.
Olhando melhor
para a altiva montanha
vejo-a ferida de
morte
e suas entranhas expostas
por criminosa cratera
que em mim dói e
dilacera!
Pessoas aos milhares passam
e em cúmplice
silêncio
contemplam a dolorosa
FERIDA
que mãos assassinas
abriram em
seu coração
com brocas de aço
e dentes de ferro.
De nada
servem
suas lágrimas e sangue
seus gritos de dor
e seu
pranto!
As mãos assassinas
os braços de aço
com nada se
comovem
e seguem dia e noite
na arte louca de rasgar
e triturar
as
vestes verdes
e a alma da enorme montanha.
Sua dor
seu coração
selvagemente aberto
a ninguém enternece!
Os assassinos
derramaram
seu sangue
sujaram seu encantamento
riram de seus gemidos
desprezaram
sua dor
e seguiram adiante
com estúpido ar de inocência!
Ao cair da
tarde
a silenciosa montanha ferida
de silhueta aflita
geme e chora
baixinho
expondo
a todos os viandantes
que por ali passam
seu verde
coração rasgado
que desde a criação do mundo
somente conhecera vozes de
pássaros
cantos de fontes
afagos de ventos perfumados
e abraços de
nuvens passageiras.
Meu coração não entende
os que passam diante de
ti
e nem param e nem choram
ao ver-te de coração
aberto e
sangrando!
Por que será
que as vozes de tua dor infinita
a ninguém
irritam
e se perdem
nos labirintos tristes
do áspero moinho da
indiferença?
DANIEL PAESE
Palhoça,l2 de fevereiro 2003-Sc.
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