segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

MÁGICAS DA PREVENÇÃO

<<   PEQUENA BARRAGEM EM CANAL DE ESCOAMENTO PARA CAPTAR. CONTER E DETER A VELOCIDADE DA ÁGUA DA CHUVA. (Sítio das Neves, DF)

Prevenir quer dizer antecipar-se a fenômeno natural em razão de possíveis consequências desastrosas para os cidadãos ou a comportamentos humanos que possam causar distúrbios à sociedade. Um sistema inteligente de prevenção não impede, por exemplo, que a natureza derrame sobre nossas cidades, campos e montanhas milhões de metros cúbicos de água. Mas pode impedir que elas invadam residências.
As medidas naturais de prevenção relativas a chuvas torrenciais anuais previsíveis consistem em proteger a vegetação desde a nascente dos rios até a desembocadura final no oceano. As florestas, especialmente as que originalmente cobriam as montanhas e as margens dos rios, detinham parte considerável das águas pluviais. Há cálculos que estimam terem as plantas capacidade para deter um quarto da água da chuva, isto é, 250 litros a cada mil que caem sobre uma região.
Em determinados pontos dos canais de esgotamento próximos às nascentes e ao longo de grotas, a construção de pequenas barragens pode ajudar na prevenção de inundações. As cidades anualmente inundadas têm mais de cem anos de existência e todas elas estão situadas em regiões degradadas pela exploração agrícola intensa e inconsequente sob o aspecto ambiental. As monoculturas e as grandes explorações que devastaram imensas regiões provocaram o descontrole das águas pluviais. É necessário que se revisem esses métodos de exploração agrícola e se construam corredores vegetais para minorar os efeitos das trombas de água que parecem ser a constante dos próximos anos.
As modificações do clima do planeta tornam as consequências das grandes chuvas ainda mais desastrosas. Pode-se prever que as medidas tradicionais de prevenção, sem atentar para o reflorestamento das regiões onde se situam as cidades inundadas, não terão efeito satisfatório. Nos próximos trinta anos, essas populações terão que convier com os desastres. É o tempo necessário para recompor as florestas.
O dinheiro previsto no orçamento para prevenção de desastres causados por fenômenos naturais é apenas um número sem destino certo. É uma operação mágica de caráter político e eleitoral que incentiva a solidariedade emocional aos danificados. Nada tem a ver com os fenômenos naturais previsíveis e determinados pelas leis físicas. O montante destacado para a prevenção é absolutamente insuficiente para ser utilizado na reconstrução das cidades alagadas. É um absurdo aritmético compatível com o absurdo do manejo político do dinheiro que devia ser aplicado na prevenção. Seria talvez suficiente se tivesse sido dirigido no tempo certo à prevenção.
Depois do desastre, isto é, das consequências de um fenômeno natural previsível, a correria, as entrevistas, as acusações mútuas, os sobrevoos de helicópteros para avaliar prejuízos, as decisões categóricas de ordenar o envio de milhões que se perderão pelo caminho fazem parte da mágica de transformar um real para prevenção em milhões para recuperação.

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