Pergunto-me, em momentos de súbito emudecer de tudo em
volta, no ar, na rua, no horizonte, se tenho amigos e se eles me amam. Amar,
isto é, aceitar-me como sou e quantos sou.
Penso nisso porque eu não sou apenas um. Tentei insinuar, em
meu frágil romance Silêncio, que sou
trezentos e oitenta. Minha dúvida, lógica e metódica, é a de que meus amigos,
se houver, não percebam a maior parte de meus eus e me tomem apenas por aquele
que é visível.
A indagação gerada por essa dúvida metódica situa-se em
saber qual ou quais dos trezentos e oitenta eus foram escolhidos para serem
amados. Percebo que nem sempre o eu que gostaria de oferecer aos amigos é o que
eles levam consigo. Sobram eus pelo caminho.
E, nesses pensamentos, mesclados de alegrias e tristezas,
detenho-me a escutar os gritos que se levantam de todos os lados e pergunto ao
eco o que Mario de Andrade sondava:
“Eco, responda bem certo,
Meus amigos me amarão?E o eco me responde: sim.”
Um amigo a quem amamos é um múltiplo comum. Dividimos e
somos divididos.
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