domingo, 15 de janeiro de 2012

FELICIDADE VEGETAL


Este pedaço verde de cerrado, que eu chamo de Meu Sítio, enche-me de felicidade vegetal. Estas grandes árvores estendem sobre mim seus galhos formosos, espreguiçam-se para cima e para os lados. Dançam balé ao sopro do vento que passa, beija-as e corre para o sul.
E centenas e centenas de plantas e arbustos, anônimos para mim, trazem-me, em hieróglifos, a história milenar do universo. Elas me contam histórias de mares e vulcões. Um pelotão de bambus disciplinados, eretos, me observa. Todos trazem uma listra verde no corpo amarelo, de cima a baixo.
Um silêncio antigo e sempre novo move-se devagar na sombra espessa destes bosques. Assusta-se ele, aqui e ali, com o pio da jaó, o trinado do sabia, o grito espalhafatoso do joão-de-barro, ou o alerta vigilante do bem-te-vi. Mas, logo volta a se esconder por trás de jatobás, angicos e guapevas.
As árvores me olham, sorriem-me, aceitam-me e me injetam doses longas de felicidade vegetal extraída de seivas clandestinas. É segredo essa felicidade vegetal. É um código que só as árvores decifram. E pedem-me que não dê a senha.
Caminho entre as árvores. Não estou só. Há vidas outras que sugam delas essa felicidade vegetal. As borboletas azuis, em voos desajeitados, mas sublimes, equilibram-se no ar sobre as águas do riacho. Os saguis espicaçam e devoram mangas. Os coatis chupam graciosamente caroços de jaca. Os macacos-prego rompem as duras vagens de jatobá.
A floresta, com milhões de anos de paciência, é um laboratório de energias e variada felicidade. Uma usina de harmonias e melodias, de sinfonias e óperas, de danças e festas.
Nestes bosques, a vida e a morte se abraçam, riem e choram, amanhecem e anoitecem com a mesma despreocupação dos séculos que o tempo engoliu. É dessa milenar felicidade vegetal que é feita a alegria frágil e passageira da alma das pessoas.
Nem sempre me compreendem quando revelo que as árvores têm alma, detêm o código da felicidade, falam e, às vezes, choram.

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