Milhares de passageiros, da noite para o dia, enchem os estacionamentos
e os aeroportos. Eesperam buliçosos em longas filas nos guichês de atendimento.
A passageira que está à minha frente é nova. O conjunto de
malas amarelas é novo, limpo, impecável. A roupa e os tênis são novos. O
nervosismo e a alegria incontida também são de primeira viagem.
Chegam as amigas, companheiras de viagem. Explosão de ôis,
abraços, beijos. Todas de malas novas, em cores, roupa e tênis novos. A festa,
presumo, começou no shopping. A indústria aérea do turismo pensou na classe média
emergente e preparou linha completa de artigos para os mínimos e máximos
detalhes: malas com rodinhas deslizantes, bolsões, bolsas, bolsinhas, carteiras
para cartões de crédito, dólares, euros e bilhetes eletrônicos. Não há lugar
para o livro.
No avião, as câmeras, Iphones, celulares de última geração registram
esses momentos mágicos. Paris, Miami, Roma via Lisboa, Nova Iorque. Quinze dias
depois, volta a Classe Média à casa. As malas, repletas de lembranças, perdem-se
nas conexões ou desaparecem nos aeroportos. As doze prestações da passagem aguardam
na agência de viagem. As cotas do cartão de crédito engordam o banco.
A nova Classe Média surpreendeu os planejadores do tráfego aéreo
e os administradores públicos que a tiraram da pobreza. Esqueceram dos
aeroportos, dos aviões e dos estacionamentos.
Ainda faltam chegar aos aeroportos cem milhões de
brasileiros. Malas coloridas sobre rodas há em larga escala nos centros
comerciais. Só faltam aviões, aeroportos e espaços urbanos para assentá-los.
Nenhum comentário:
Postar um comentário