quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

PORQUE ME UFANO DE MEU PAÍS



(O livro de Affonso Celso foi publicado em 1900)

Para Affonso Celso, o primeiro motivo de superioridade do Brasil era a possibilidade de alcançar, com a mesma densidade populacional de Portugal, à época, 400 milhões de habitantes, ou um bilhão se alcançasse a das ilhas britânicas. Ali, está desvendado o mistério do Salário Mínimo. O mínimo multiplicado por bilhões resulta em trilhões.
Neste fim de ano, o Brasil acordou com o badalar do sino de sexta potência econômica mundial com um PIB de 2,5 trilhões de dólares. No PIB patriótico de Affonso Celso, uma das razões de superioridade do Brasil, no desfile das nações, era sua beleza. Citava a inigualável Amazônia, as cachoeiras, as florestas virgens, os rios, as deliciosas praias.
Hoje, o PIB patriótico reduziu-se a um mero índice econômico no qual se somam automóveis, usinas atômicas, aparelhos eletrônicos, hidrelétricas, viadutos inacabados, pontes que a água das chuvas derruba e centenas de outras obras orçadas, mas não concluídas ou sequer começadas. E o mais glorioso motivo deste novo ufanismo é a ciranda financeira que roda o crédito fácil e os juros escorchantes para incentivar o consumo. Nesse PIB econômico está também metade das dívidas dos consumidores a serem pagas em prestações carregadas de agiotagem e usura. É um PIB endividado, mas que sustenta o ufanismo dos novos tempos brasileiros.
Assim, confiantes na facilidade de agregar riquezas às tantas que Affonso Celso via no antigo país, dá-se valor ao número de consumidores em razão do que podem proporcionar em aumento do PIB. O salário mínimo de 2,8 reais por hora trabalhada é um réplica da escravidão. Mas, no entender dos economistas submissos ao PIB, não há que se olhar para o exíguo valor da hora trabalhada e, sim, para os milhões de trabalhadores que o transformam em bilhões nos caixas dos supermercados.
“Temos, pois, o estado mais propício ao progresso da riqueza pública. No Brasil, o trabalho anda à procura do homem e não o homem à procura do trabalho. Ninguém, querendo trabalhar, morrerá de fome. Parece país de milionários, tão  largamente se gasta”, escreveu Affonso Celso.
Portanto, a sobrevivência da população está garantida e, com ela, o crescimento do PIB. E assegurada por ambos a superioridade do Brasil que se ufana de ser a sexta potência pibeana do planeta. A superioridade do Brasil que, antes, estava nos pés de alguns jogadores geniais passou às mãos de banqueiros que se ufanam de não ter país.
E nossa superioridade educacional, literária, musical, artística e cultural em que posição está nas listas internacionais do planeta?

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