Trata-se de mudar os valores que a educação consagrada na reprodução da cultura inculca nas mentes, na busca de emoções e na prática de ações. Atenho-me a dois fenômenos do dia a dia.
No Brasil, as quarenta e cinco mil mortes anuais no trânsito rodoviário são o reflexo da importância essencial que se dá ao carro, um objeto material ao qual se atribui um status de sonho a ser realizado a qualquer custo. O tamanho, a potência, a marca, a velocidade, a pressa febril, a necessidade implícita de exibir-se pela força do valor do carro e não do condutor, obrigam-no a se expor ao risco e à morte. Recupera-se o carro. Enterra-se o proprietário.
Os valores em voga na educação cultural proclamam que não
basta ter um carro para auxiliar seu usuário a locomover-se. É preciso,
sobretudo, mostrar a diferença do objeto e ocupar um espaço de poder
inquestionável na rua, na autoestrada, no estacionamento. Está definido por
esses valores que, possuindo um Cherokee, um Honda, um Yundai, um Citroën ou
Toyota, significa ter dinheiro e ser aquela figura folclórica: “você não sabe
com quem está falando”.
Por isso, esses condutores sentem-se na obrigação
intransigente de estar acima das “ultrapassadas leis do trânsito” que não
acompanham a modernidade da máquina superpoderosa. Milhares de placas de
sinalização e advertência, semáforos, passagens de pedestre, câmeras de
controle de velocidade nada têm a ver com eles.Vamos ao lixo. Se observarmos o grau de limpeza e higiene das ruas, vias e estradas, o descalabro começa pela incúria do governo e se consolida pela ação do cidadão. Joga-se lixo pela janela da casa, do ônibus, do carro. Nas lixeiras, a confusão é fenomenal. Ainda não se aprendeu a distinguir lixo orgânico de garrafas, plásticos e metal. O elemento básico da educação que sobressai, neste campo, é que existem lixeiros, garis e varredores de rua. Lixo é com eles.
É hora de deseducar as pessoas, os cidadãos. É um apelo ao
grupo familiar, às escolas, às igrejas, à mídia. A tarefa é pesada e longa. A
desconstrução da educação terá que remover pedra por pedra. Gastou-se demais
para obter esses efeitos pernósticos da educação. É preciso inverter os sinais
da equação educativa do ter, do possuir. Agora, o trabalho é deseducar, isto é,
retomar o conjunto de valores que propiciem a convivência humana do ser.
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