sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

DESEDUCAR

Não estranhe o título desta crônica. Também me assustei quando ele me apareceu ao refletir sobre nossos comportamentos cotidianos. Desconstruir a educação é expressão mais adequada. Mas, a palavra que me ocorreu, ao observar os fatos que produzimos diariamente, foi deseducação. E deve ser imediata e progressiva.
Trata-se de mudar os valores que a educação consagrada na reprodução da cultura inculca nas mentes, na busca de emoções e na prática de ações. Atenho-me a dois fenômenos do dia a dia.
No Brasil, as quarenta e cinco mil mortes anuais no trânsito rodoviário são o reflexo da importância essencial que se dá ao carro, um objeto material ao qual se atribui um status de sonho a ser realizado a qualquer custo. O tamanho, a potência, a marca, a velocidade, a pressa febril, a necessidade implícita de exibir-se pela força do valor do carro e não do condutor, obrigam-no a se expor ao risco e à morte. Recupera-se o carro. Enterra-se o proprietário.
Os valores em voga na educação cultural proclamam que não basta ter um carro para auxiliar seu usuário a locomover-se. É preciso, sobretudo, mostrar a diferença do objeto e ocupar um espaço de poder inquestionável na rua, na autoestrada, no estacionamento. Está definido por esses valores que, possuindo um Cherokee, um Honda, um Yundai, um Citroën ou Toyota, significa ter dinheiro e ser aquela figura folclórica: “você não sabe com quem está falando”.
Por isso, esses condutores sentem-se na obrigação intransigente de estar acima das “ultrapassadas leis do trânsito” que não acompanham a modernidade da máquina superpoderosa. Milhares de placas de sinalização e advertência, semáforos, passagens de pedestre, câmeras de controle de velocidade nada têm a ver com eles.
Vamos ao lixo. Se observarmos o grau de limpeza e higiene das ruas, vias e estradas, o descalabro começa pela incúria do governo e se consolida pela ação do cidadão. Joga-se lixo pela janela da casa, do ônibus, do carro. Nas lixeiras, a confusão é fenomenal. Ainda não se aprendeu a distinguir lixo orgânico de garrafas, plásticos e metal. O elemento básico da educação que sobressai, neste campo, é que existem lixeiros, garis e varredores de rua. Lixo é com eles.
É hora de deseducar as pessoas, os cidadãos. É um apelo ao grupo familiar, às escolas, às igrejas, à mídia. A tarefa é pesada e longa. A desconstrução da educação terá que remover pedra por pedra. Gastou-se demais para obter esses efeitos pernósticos da educação. É preciso inverter os sinais da equação educativa do ter, do possuir. Agora, o trabalho é deseducar, isto é, retomar o conjunto de valores que propiciem a convivência humana do ser.

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