terça-feira, 11 de junho de 2013

EXTREMOS SE TOCAM


 
As relações ser humano/natureza tendem a definir-se por extremos. Um deles é fundamentado somente nos interesses humanos. Antropocentrismo. Tudo o que a natureza tem de bom é para a realização de todos os seus desejos, expectativas, felicidade material e artística. Nesta posição privilegiada, os conflitos se dão entre os humanos no exercício da satisfação de seus interesses individuais, sociais, grupais e intergrupais.
A natureza é o campo de batalha onde se encontra o butim finito ou renovável. A luta humana durará enquanto houver butim. A tecnologia será usada para produzir butim suplementar para os que sobreviverem social e politicamente dessa guerra.
O outro extremo é tratar a natureza como ente intocável, divino, cenário para a contemplação mística. A natureza não tem interesses a satisfazer. Os seres vivos que fazem parte da natureza, entre eles a espécie humana, necessitam elementos nutritivos para manter-se vivos. Pode-se perceber e examinar a contraposição da necessidade e do interesse. As plantas necessitam de terra, solo, água, sol, ar, dióxido de carbono para alimentar a vida, reproduzir-se e garantir a sucessão da espécie.
O homem, além da necessidade de alimentos, expressa interesses conscientes que ultrapassam a simples sobrevivência e sucessão da espécie. Todos os seres estão no ventre da natureza e se alimentam de sua placenta. Há inter-relação orgânica entre todos e interdependência molecular de origem genética e indissolúvel.
A origem da vida une umbilicalmente todos os seres vivos. A ecologia profunda está baseada nessa raiz comum. Na satisfação da necessidade natural e do interesse consciente é preciso investigar com que e como cada espécie viva participa dessa interdependência. O que e como cada uma dá, repõe, substitui segundo a necessidade e o interesse satisfeitos.
O poder do ser consciente pode criar situações de deslealdade com a natureza ao tratá-la apenas como serva de seus interesses. Pode devastar um território para construir uma cidade e selecionar algumas espécies decorativas, enfeitá-la com arboretos ou parques estéreis proibidos de se reproduzirem. Pouca atenção se dá ao conflito entre os interesses da espécie humana e as necessidades próprias da diversidade vegetal e animal na busca de alimentos para sua sobrevivência e reprodução. 

Nota: Sou sociólogo naturalista e escritor. Administro uma reserva natural de cerrado de 70 hectares (Sítio das Neves) para refúgio de variada fauna de ar e terra, reprodução espontânea da flora nativa (3.500 espécies), proteção de nascentes e recarga de aquíferos com captação de águas pluviais. Estudo a ocupação do espaço e a organização de algumas espécies da biocomunidade (mangabeiras, caliandras e catolé).


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