terça-feira, 25 de junho de 2013

AS CHAVES DO COFRE


Quem venceu o poder monolítico do partido comunista da ex-União Soviética? A alfabetização universal e, na teoria, a informação generalizada de uma classe única dos trabalhadores, com os mesmos direitos, deveres e necessidades. Diante da real-politik, quando todos sabem ler, o próximo passo iniludível é começar a pensar. A força do pensamento derruba qualquer império. Oficializar os meios de informação é a sentença de morte do autoritarismo partidário e pessoal. A glasnost, a transparência dos fatos explode.
Quem estraçalhou o autoritarismo instalado no Brasil pelos militares? A abertura lenta, gradual e segura. O substantivo se impôs aos adjetivos e a volta à democracia se fez com atos de impressionante participação popular nas decisões tomadas em clima de insegurança, mas também de convicções em amadurecimento.
Quem esfrangalha, nas ruas, o autoritarismo do pensamento único que destruiu os canais de diálogo político nos últimos anos? O acesso à informação universal on line à população por meio de modernos meios e equipamentos de comunicação: cento e catorze milhões de celulares, computadores, internet (facebook, twitter, youtube, instagram, Google, Amazon...), TV, rádio, automóveis desonerados, pacotes aéreos a perder de vista. A população jovem penetrou nas caixas pretas do governo e suas dezenas de ministérios e secretarias, do Congresso Nacional, do STF, do TCU, das empresas de construção e de transporte, dos supermercados e bancos, e descobriu o caminho do pensar. Violou os segredos de Estado e jogou nas ruas as cartas que se escondiam nas mangas do poder.
Só os donos do poder não perceberam, por arrogância e pobreza mental, o que se passava nas redes de intercomunicação eletrônica. A Internet e os meios de comunicação eletrônica, invisível e silenciosa não serviam apenas para clonar cartões de crédito, assaltar contas bancárias ou desviar milhões de reais do erário público.
Os segredos da república foram revelados publicamente. Os guardiães dos segredos não compreenderam, tomados de surpresa e ainda adormecidos no leito autoritário, que lhes resta apenas reconhecer que a chave do cofre está em outras mãos. Nem é possível mudar a chave, pois não há segredos a guardar no cofre roto.
Assim caminha a humanidade. Avançamos graças aos erros dos que nos precedem.
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Nota: Sou sociólogo naturalista e escritor. Administro uma área liberada da opressão industrial e da tirania do consumo obsessivo, uma reserva natural de cerrado de 70 hectares (Sítio das Neves) para refúgio de variada fauna de ar e terra, reprodução espontânea da flora nativa (3.500 espécies), proteção de nascentes e recarga de aquíferos com captação de águas pluviais. Estudo a ocupação do espaço e a organização de algumas espécies da biocomunidade (mangabeiras, caliandras e catolé).


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