(Foto: Gesticulação dramática de árvore em autodefesa)
Ao entrar no meu refúgio vegetal, Sítio das Neves, percebo
a quietude do ar e não resisto a gritar: estas árvores falam! Não é a fala da árvore
no sentido ontológico e antropomórfico, mas o que ela inspira ao observador que
a olha como ser vivo independente e interdependente.
Sem o respeito à vida das árvores elas continuam sendo
mudas e morrem mudas diante do machado ou do fogo. A linguagem das árvores se
manifesta na forma como se alimentam e se reproduzem. Elas precisam da
liberdade espacial para preparar a reprodução e configurar o ambiente no qual
convivem com outras plantas.
A sucessão evolutiva acompanha as variações de clima e
as modificações que outras espécies lhe impõem. A arborização natural é
polifônica. A limitação de vozes e de sucessão se opera na arborização urbana
criando-lhes um ambiente artificial. São árvores sem sucessão, sem cumprir a
tarefa natural de promoverem sua reprodução. São árvores aprisionadas, numa
espécie de zoo para nossa utilidade e desfrute. São árvores em cativeiro.
Escravas da espécie humana, esterilizadas sem os prazeres naturais da
reprodução e sucessão evolutiva.
Assumem tamanhos que não são de sua genética e seu crescimento
é dirigido por mutilações de podas irracionais.
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