No chão, na sarjeta, na calçada,
sobre os gramados,
pela janela do carro ou do ônibus,
o cidadão joga o toco de cigarro,
o papel do bombom,
o copo do cafezinho,
o saco plástico do biscoito, a garrafa de água vazia
ou a lata de cerveja,
a casca de fruta ou o caroço,
a pazinha do picolé
ou a caixinha de sorvete.
Tem certeza de que o melhor lugar
para depositar o entulho da reforma da casa,
o lixo depois da pescaria
ou do camping
é à beira da estrada.
Fala alto em qualquer lugar,
em qualquer hora do dia ou da noite
com ou sem celular,
na fila do banco
ou à mesa do restaurante.
Transforma bares em feira livre
ou praça de comércio.
Assiste ao filmeou ouve a Nona Sinfonia de Beethoven,
na Sala Villa Lobos do Teatro Nacional,
recebendo e enviando
mensagens pelo celular.
Desfila pelo Teatro,
no meio da peça,
aclamado pelos olhares atônitos da plateia.
O cidadão brasileiro
reclama de tudo e de todos.
Tem opinião segura sobre qualquer assunto.
Tem extrema dificuldade
para dizer que não sabe.
Mente por impulso,
se não descaradamente.
É um pedinte nato.
Pede com a mão,
pede com o olhar,
com palavras comoventes
e mentiras óbvias.
Tem orgulho de ser brasileiro
porque o Brasil é exemplo para o mundo.
Tem a música mais fascinante,
a dança mais africana
e os pobres mais felizes.
Tudo o mais é secundário.
As cadeias superlotadas
e os hospitais de luxo,
ambos são para a minoria.
O cidadão comum pertence à galera
em qualquer situação.
O cidadão brasileiro
aprecia multidão nas praças,
nas manifestações,
nos estádios,
nas procissões.
É isto a democracia.
Adora enterros
e chora pela morte da mãe do guarda.
Sua fé sem limites
o torna privilegiado de um milagre
entre centenas de mortos.
O olho de Deus só vê a ele
no meio da multidão.
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