segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A FOLHA OU A JANELA



Pergunto-me por que estou diante desta folha de diário. Que pretendo? Devo dizer o que a quem? Quem está disposto a ouvir ou ler o que digo e escrevo?

Olho pela janela. Da janela, vejo o universo. Bem-te-vis e sabiás, anus pretos e caturritas faladoras saltam de galho em galho e deixam no ar seus voos de liberdade. Vão do ninho ao armazém de comida, no afã da sobrevivência. Vou à estante em busca de socorro. Cecília, Hannah, onde estão?

Ruído febril entra pela janela. Automóveis, nesta manhã de sábado, como em todas as manhãs, rodam para todas as direções em desabalada correria contra as orientações de velocidade das pistas. Para um lado e para outro. Não importa. Todos querem chegar em tempo mínimo a algum lugar. A maior parte deles não vai ao ninho. Que farão, lá, aonde vão? Operam máquinas. Abrem gavetas. Empilham pastas e papeis. Falam ao telefone. Conversam sobre futebol ou a compra do carro para a o filho, ou filha, que passou no vestibular. Enquanto o computador se arma para provocar no funcionário um ataque de nervos, toma um cafezinho e visita o colega no andar de cima. Dizem que o sistema está fora do ar.

Centenas de outras pessoas saem de seus carros e entram no supermercado, caminham pelo centro comercial, sobem e descem por escadas rolantes. Param diante de vitrinas. Olham sapatos, camisas, sofás, geladeiras, a parafernália eletrônica. Lancham no Café Marietta. Voltam ao automóvel, dão um real ao cuidador, de sandálias havaianas e pano vermelho. Ligam o som e rodam novamente por avenidas esburacadas. Criticam o governo. Maldizem a incompetência, a desorganização, a falta de conservação das vias. Que fazem com o dinheiro das multas alcaguetadas pelos pardais?

Vou à janela. Lá está o bem-te-vi na ponta do galho seco. Então, volto à folha do diário e penso na grandeza do universo. O universo é imenso. Não cabe numa folha de diário.

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